Convencer Crimson a entrar no banco de dados da polícia para achar o endereço do pai dela não foi tão difícil.Na verdade, Emanuele ficou bem surpresa quando teve que usar apenas um dos seis argumentos ensaiados. O velho deu de ombros e disse que, àquela altura, não valia mais a pena tentar fingir que não agia extraoficialmente de vez em quando.O que realmente exigiu muita lábia da ruiva foi convencer Joshua a não ir com ela. A garota sabia que ele só queria protegê-la, mas Emanuele foi bastante assertiva em seus argumentos. Ela precisava fazer aquilo sozinha, enfrentar aquela parte de seu passado, e ver se havia alguma possibilidade de fixá-la em seu futuro.Sarah havia dito que ele se encontrava numa espiral depressiva, e que quando a viu, não conseguiu reagir adequadamente, e que aquilo havia a magoado.Emanuele então se preparou emocionalmente. Ela não se decepcionaria ou ficaria ressentida se, por um acaso, o homem que em algum momento lhe ensinou uma linda canção de ninar não s
O velho cai de joelhos no mesmo instante. Emanuele corre até ele e o abraça apertado, mas Joseph não corresponde. Ao invés disso, ele parece estar fazendo o possível para não gritar o mais alto que consegue.“Pai!” A garota diz.“Adriele morreu? Eu tive duas filhas, e uma delas morreu? É isso?! É isso o que você está me dizendo?!’Emanuele tenta conter os soluços, mas não consegue. Ao invés disso, ela diz:“Sim, pai. Eu sinto, sinto muito mesmo. Foi tudo tão rápido! Eu perdi minha mãe, minha irmã e agora… Agora você é tudo o que me resta. É literalmente tudo o que eu tenho como família!”Joseph não consegue falar nada durante um tempo, apenas chorar. Os dois estão tremendo muito. Sarah, quando viva, disse que Morgan não conseguiu ter a reação adequada, que estava quebrado demais por dentro. Mas agora ele parecia bastante emotivo. O que será que tinha acontecido?O cheiro do pai, que envolve as narinas de Emanuele, é calmante e familiar. Num estalo, ela se lembra que o mesmo aroma a e
. . . . . . . . CINCO MESES DEPOIS . . . . . . . .Emanuele olhou-se no enorme espelho de corpo inteiro. A moça mal sabia para onde olhar, para qual detalhe se importar primeiro.Não sabia se olhava para o lindo penteado no cabelo agora castanho escuro; a cor natural.Não sabia se reparava na maquiagem impecável de seu rosto, que a deixava ainda mais bonita e radiante do que estava se sentindo.E também não sabia se olhava para o lindo vestido branco, de corte simples, enfeitado com pequenas madrepérolas. Apesar da simplicidade da roupa, era inegável dizer que a noiva estava divina naquele dia.Sorrindo, ela deu uma volta diante do próprio reflexo. Seu coração retumbava de felicidade, e ela sentiu as estrelas do céu noturno lá fora desejando-na boa sorte. A cortina de trás da porta se abriu. Uma moça baixinha e rechonchuda sorriu simpaticamente ao entrar no cômodo, admirando-a abertamente.“Senhorita Parker, está linda!”Emanuele sorriu.“Obrigada! Mas em breve deixarei de ser a se
Olhando para o belo mar diante deles em meio à madrugada escura, Emanuele disse para Joshua, que estava deitado nu ao seu lado:“Eu nunca tinha feito isso antes.”O homem ergue uma das sobrancelhas ao olhar para ela:“Sexo na praia?”“Ter uma noite de lua de mel.”Ele ri.“Bom, dependendo da frequência, perde a graça.”Ela também o acompanha na risada, também nua, e se encosta mais no corpo quente dele. Aquele lugar era um paraíso sem igual. Uma bela praia deserta numa das muitas ilhas do Caribe. Naquela época do ano, era bom que ficassem ao relento daquele jeito, já que o calor não ia embora mesmo quando o sol sumia. Ela tinha amado aquele lugar.Mas o que ela realmente amou foi quando Joshua a tomou nas areias quentes, fazendo-a gritar e chamar o nome dele, como sempre foi, desde que tiveram a primeira noite de amor. Por mais que a frequência tivesse aumentado, cada uma das transas era tão ou mais intensa quanto a última. Parecia mágico. A jovem escritora suspirou e então se sento
Cada passo que Emanuele dava pelo enorme corredor no quarto andar do apartamento era doloroso, cansativo e absolutamente infernal.A chuva torrencial lá fora também não ajudava. A pesada mala que ela arrastava estava encharcada, assim como a própria Emanuele, e já passava das onze horas da noite. Ela havia alugado um quarto naquele prédio, e a proprietária devia estar dormindo. A garota tentou ligar para o celular de Alexandra, mas aparentemente ele estava desligado.O cabelo tingido de vermelho da garota estava grudado em seu rosto, misturado não apenas com as gotas de chuva, mas também com suor. Quase rosnando de frustração, morrendo de vergonha, frio e irritação, a garota de pele bronzeada tocou a campainha. Um estrondo de trovão soou. Será que a proprietária ficaria irritada por ela ter chegado àquela hora?Alguns segundos se passaram. Bem, não seria nada surpreendente se ela estivesse dormindo. As mãos de Emanuele estavam tremendo de cansaço, fome e apreensão. As últimas horas tin
O coração de Emanuele parecia que ia sair pela boca. A mão que segurava a alça de sua bolsa se soltou imediatamente. Um verdadeiro pesadelo, infernal e terrível, tomou conta de sua consciência. Dentro de si, ela tentou encontrar alguma centelha de calma, de tranquilidade. Algo a que pudesse se agarrar enquanto um enorme furacão de desgraça se alastrava dentro dela. Mas, em vez disso, além da pura letargia, havia medo. Um medo gelado, escuro e vazio, como a boca de uma enorme fera prestes a devorar tudo em seu caminho. Seria esse... seria esse o dia em que ele finalmente morreria? Aqueles seriam seus últimos minutos, aqueles em que as lembranças de nossa vida passariam diante de nossos olhos como um curta-metragem? Ela não conseguia ver seu agressor, nem reconhecer sua voz. O hálito que exalava de sua boca profana era horrível, uma mistura de álcool e dentes podres. A lâmina gelada estava encostada em seu pescoço, e Emanuele sentiu uma fina gota de sangue escorrendo por seu colo. L
"Você está bem?"Emanuele continuou a olhar fixamente para o rosto de Joshua; sua respiração estava ofegante e difícil. "Você está bem?!" Ele repetiu mais uma vez, prestando atenção nos detalhes: a blusa quase aberta, o fluxo de sangue escorrendo, a jaqueta jogada (e molhada) a alguns centímetros de distância.A mulher tentou falar, mas não conseguiu. Em vez disso, um murmúrio saiu de seus lábios, misturado com o que parecia ser um lamento ou choro.Joshua imediatamente arrancou um pedaço de sua própria camisa de debaixo da jaqueta, pressionando-a contra o pescoço."Eles não vão voltar", disse Joshua. Seus olhos brilhavam com uma emoção desconhecida. "Não feridos como estão. Isso se eles sobreviverem." O homem respirou fundo e continuou: "Vou levá-la ao hospital".A ruiva finalmente conseguiu dizer alguma coisa."Não... Dormir. Hotel.""Você não vai dormir em um hotel, Emanuele."A garota solta um ruído agonizante de protesto e dor, e Joshua coloca sua mão grande e quente em seu ombr
Emanuele abre os olhos e olha para o teto. A cama é confortável e um pouco bagunçada. O ferimento em seu pescoço dói, embora não pareça grave, e a madrugada tem sido terrível por causa dos pesadelos.Na noite anterior, depois que Joshua saiu do banheiro após encurralá-la contra a parede, deixando-a com uma montanha de perguntas, ela tentou tomar um banho. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina, e várias vezes ela teve de conter as lágrimas enquanto se limpava.Quando terminou, a garota percebeu que suas roupas ainda estavam em sua mala, que estava na sala de estar. Sem querer incomodar seu anfitrião, Emanuele se enrolou na toalha e foi para a sala de estar, agradecendo silenciosamente a Joshua por não estar lá. Aparentemente, ele havia voltado para seu próprio quarto.Isso a desestabilizou. Na verdade, mais do que ela já estava desestabilizada. Ele a salvou em um momento e, no outro, a deixou sozinha?A garota de pele escura se levantou. Apesar do grande risco que havia corrido na