O coração de Emanuele parecia que ia sair pela boca. A mão que segurava a alça de sua bolsa se soltou imediatamente. Um verdadeiro pesadelo, infernal e terrível, tomou conta de sua consciência.
Dentro de si, ela tentou encontrar alguma centelha de calma, de tranquilidade. Algo a que pudesse se agarrar enquanto um enorme furacão de desgraça se alastrava dentro dela. Mas, em vez disso, além da pura letargia, havia medo. Um medo gelado, escuro e vazio, como a boca de uma enorme fera prestes a devorar tudo em seu caminho.
Seria esse... seria esse o dia em que ele finalmente morreria?
Aqueles seriam seus últimos minutos, aqueles em que as lembranças de nossa vida passariam diante de nossos olhos como um curta-metragem?
Ela não conseguia ver seu agressor, nem reconhecer sua voz. O hálito que exalava de sua boca profana era horrível, uma mistura de álcool e dentes podres. A lâmina gelada estava encostada em seu pescoço, e Emanuele sentiu uma fina gota de sangue escorrendo por seu colo.
Logo outros ruídos tomaram conta do beco. Risadas ásperas e malignas, bem como o barulho de botas no chão. Em meio ao pânico, a garota não sabia se eram duzentos ou trezentos homens. As lágrimas de raiva de alguns minutos atrás haviam se transformado em puro pânico. Ela sabia o que acontecia com as mulheres na cidade grande; não que isso fosse novidade em cidades pequenas.
O agressor que estava segurando a faca grunhiu mais uma vez:
"Ok, gatinha. Vou lhe dizer o que precisa fazer. Se você gritar, você morre. Se correr, você morre. Se quiser ser engraçada e usar spray de pimenta, você morre. Tudo o que você precisa fazer é ficar bem quieta. Está entendendo?"
Mesmo que ela pudesse responder, a lâmina era tão afiada que poderia cortar sua garganta com um simples movimento. Emanuele sentiu tremores tão violentos que poderia desmaiar.
"Eu e meus meninos estamos há algum tempo sem... Você sabe."
Um coro sinistro de risadas soou mais uma vez.
Por fim, as vozes atrás deles se transformaram em seres reais: dois homens com rostos malignos, cujas faces estavam petrificadas em uma expressão sombria. Seus olhos enlouquecidos prometiam violência e também morte. Mas não uma morte rápida.
Como isso poderia estar acontecendo? Por que com ela? A garota não conseguia conter seus gritos de agonia.
Não era justo.
Mesmo que ela quisesse lutar por sua vida, mesmo que quisesse desesperadamente completar seu objetivo e superar as tempestades internas... Ela não podia. Não podia...
Quem era ela contra aqueles estranhos armados e perigosos?
Ninguém.
O grito amargo da garota ficou mais alto. A lâmina pressionou com mais força seu pescoço.
"O que foi que eu lhe disse, sua vagabunda? Fique quieta!", o homem sussurrou em seu ouvido.
Tentando engolir seu choro, Emanuele finalmente caminhou alguns passos até o fim do beco. Dali, mal se podia ver a rua principal. As grossas gotas de chuva caíam sem piedade sobre o corpo frio já preparado para a morte da garota.
Um dos estupradores se aproximou dela e arrancou seu casaco. O outro estava prestes a desabotoar sua blusa.
"Não se preocupe, seremos verdadeiros cavalheiros. Não é mesmo, rapazes?"
A risada vil que saiu de sua boca foi acompanhada por outras imediatamente. Emanuele não reagiu.
Ela estava acabada.
Ela fechou os olhos.
Antes que ela pudesse tentar entender o que estava acontecendo, a mão que segurava a faca em seu pescoço simplesmente afrouxou. Os rapazes à sua frente arregalaram os olhos e começaram a lutar com um quarto homem que havia aparecido.
Ele era muito alto e forte. Um enorme capuz cobria seu rosto, e tudo o que podia ser visto eram lábios grossos e uma fina barba. Em segundos, o estranho arrancou a faca das mãos do agressor principal e a brandiu contra ele.
Emanuele tropeçou em seus próprios pés ao tentar correr e ficou parada enquanto observava a luta confusa, mas heroica.
O estranho sabia como lutar. Muito bem, de fato. Depois de derrubar dois dos atacantes, eles decidiram que estavam em desvantagem e saíram correndo.
O homem não os seguiu.
Ele apenas olhou para ela.
Emanuele estava ofegante de ansiedade, medo, pânico e ódio. Suas pernas simplesmente não se moviam.
Então, ele se agachou ao lado dela, tomando cuidado para não se aproximar demais e assustá-la. Lentamente, o homem removeu o capuz, revelando seu rosto.
A garota abriu a boca sem emitir nenhum som.
Era Joshua.
"Você está bem?"Emanuele continuou a olhar fixamente para o rosto de Joshua; sua respiração estava ofegante e difícil. "Você está bem?!" Ele repetiu mais uma vez, prestando atenção nos detalhes: a blusa quase aberta, o fluxo de sangue escorrendo, a jaqueta jogada (e molhada) a alguns centímetros de distância.A mulher tentou falar, mas não conseguiu. Em vez disso, um murmúrio saiu de seus lábios, misturado com o que parecia ser um lamento ou choro.Joshua imediatamente arrancou um pedaço de sua própria camisa de debaixo da jaqueta, pressionando-a contra o pescoço."Eles não vão voltar", disse Joshua. Seus olhos brilhavam com uma emoção desconhecida. "Não feridos como estão. Isso se eles sobreviverem." O homem respirou fundo e continuou: "Vou levá-la ao hospital".A ruiva finalmente conseguiu dizer alguma coisa."Não... Dormir. Hotel.""Você não vai dormir em um hotel, Emanuele."A garota solta um ruído agonizante de protesto e dor, e Joshua coloca sua mão grande e quente em seu ombr
Emanuele abre os olhos e olha para o teto. A cama é confortável e um pouco bagunçada. O ferimento em seu pescoço dói, embora não pareça grave, e a madrugada tem sido terrível por causa dos pesadelos.Na noite anterior, depois que Joshua saiu do banheiro após encurralá-la contra a parede, deixando-a com uma montanha de perguntas, ela tentou tomar um banho. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina, e várias vezes ela teve de conter as lágrimas enquanto se limpava.Quando terminou, a garota percebeu que suas roupas ainda estavam em sua mala, que estava na sala de estar. Sem querer incomodar seu anfitrião, Emanuele se enrolou na toalha e foi para a sala de estar, agradecendo silenciosamente a Joshua por não estar lá. Aparentemente, ele havia voltado para seu próprio quarto.Isso a desestabilizou. Na verdade, mais do que ela já estava desestabilizada. Ele a salvou em um momento e, no outro, a deixou sozinha?A garota de pele escura se levantou. Apesar do grande risco que havia corrido na
"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?" O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase. Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua: "Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?" "... O quê?" "O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você." "Mas..." "Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida." Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofens
As duas garotas ficam estáticas, olhando para Joshua. O homem coloca a embalagem em cima da mesa, e então pergunta mais uma vez: "O que está acontecendo?" O rosto de Thabata se modifica completamente: a hostilidade antes mostrada se transforma em contemplação, educação e preocupação. "Oi, querido. Obrigada por trazer o que eu pedi!" Ela o abraça, mas Joshua não retribui com entusiasmo. "Eu e Emanuele estávamos conversando sobre a noite horrível que ela passou ontem. Ela veio me pedir desculpas por ter se trancado no quarto." Emanuele poderia derrubar uma parede de tanto ódio, mas resolveu entrar no jogo. Tudo o que não precisava agora era ser inimiga do irmão da dona do apartamento. "Sim, eu... Vim comer algo e aproveitei para me desculpar. Mas vi que você tinha saído. Então vou te pedir desculpas agora. Foi muito indelicado da minha parte fazer o que eu fiz... Sinto muito." Joshua levanta a mão em um gesto apaziguador. "Não foi nada. Está tudo bem." Então ele se volta para Thab
Joshua murmura baixinho."Emanuele."A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar."Emanuele".Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.Mas então a garota finalmente volta a si.Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. Que desastre."Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa.""A culpa foi minha. Acho que
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O
A primeira surpresa que Emanuele teve foi ao notar que o ambiente urbano foi desaparecendo lentamente.A enorme quantidade de prédios, carros buzinando, pessoas aqui e ali com seus afazeres simplesmente foi ficando para trás, cada vez mais longe, e em seu lugar árvores e estradas de terra se fizeram ver.A moça olhou para Joshua com uma sobrancelha erguida, perguntando a ele silenciosamente o que estava acontecendo. O moço explicou:."As reuniões deles costumam ser na casa de Amora e Amanda. Ou melhor, na casa de festa das duas.""Casa de festa?""É."Na cidade natal de Emanuele, a coisa mais próxima a uma casa de festa que ela conheceu foi um pequeno rancho onde os mais velhos se reuniam para beber e comer churrasco. Mas ela tinha quase certeza de que essa reunião, e com esse grupo, seria completamente diferente.E ela estava totalmente certa.Quando desceram do táxi, eles viram a alguns metros de distância uma enorme casa de fazenda. As janelas estavam todas abertas, e era possível
O beijo é rápido, breve e quente. Por segundos, os dois permanecem apenas com os lábios encostados um no outro. As mãos de Johnny seguram as mãos de Emanuele, suavemente e carinhosamente. Então ele afasta o rosto do dela, olhando fixamente em seus olhos. A moça não sabe o que dizer ou fazer. Apenas olha ele de volta, procurando as palavras certas. Se é que havia qualquer palavra certa a ser dita. Johnny é o primeiro a falar, a voz rouca. "Desculpa. Isso foi muito precipitado?" Emanuele responde, um tanto afobada: "Precipitado? Precipitado?! Isso depende. As regras da cidade grande devem ser bem diferentes das cidades pequenas, não é? Quer dizer, talvez você já tenha bebido algumas doses antes de eu chegar e por isso se desinibiu. Não que você seja desinibido. Quer dizer, as pessoas costumam ser mais soltas por aqui, né? Ou não? É preconceito da minha parte falar isso? Claro que não, né? Será que é preconceito achar que é preconceito eu falar isso?" Johnny se segura para não garg