02. Um herói?

O coração de Emanuele parecia que ia sair pela boca. A mão que segurava a alça de sua bolsa se soltou imediatamente. Um verdadeiro pesadelo, infernal e terrível, tomou conta de sua consciência.

Dentro de si, ela tentou encontrar alguma centelha de calma, de tranquilidade. Algo a que pudesse se agarrar enquanto um enorme furacão de desgraça se alastrava dentro dela. Mas, em vez disso, além da pura letargia, havia medo. Um medo gelado, escuro e vazio, como a boca de uma enorme fera prestes a devorar tudo em seu caminho.

Seria esse... seria esse o dia em que ele finalmente morreria?

Aqueles seriam seus últimos minutos, aqueles em que as lembranças de nossa vida passariam diante de nossos olhos como um curta-metragem?

Ela não conseguia ver seu agressor, nem reconhecer sua voz. O hálito que exalava de sua boca profana era horrível, uma mistura de álcool e dentes podres. A lâmina gelada estava encostada em seu pescoço, e Emanuele sentiu uma fina gota de sangue escorrendo por seu colo.

Logo outros ruídos tomaram conta do beco. Risadas ásperas e malignas, bem como o barulho de botas no chão. Em meio ao pânico, a garota não sabia se eram duzentos ou trezentos homens. As lágrimas de raiva de alguns minutos atrás haviam se transformado em puro pânico. Ela sabia o que acontecia com as mulheres na cidade grande; não que isso fosse novidade em cidades pequenas.

O agressor que estava segurando a faca grunhiu mais uma vez:

"Ok, gatinha. Vou lhe dizer o que precisa fazer. Se você gritar, você morre. Se correr, você morre. Se quiser ser engraçada e usar spray de pimenta, você morre. Tudo o que você precisa fazer é ficar bem quieta. Está entendendo?"

Mesmo que ela pudesse responder, a lâmina era tão afiada que poderia cortar sua garganta com um simples movimento. Emanuele sentiu tremores tão violentos que poderia desmaiar.

"Eu e meus meninos estamos há algum tempo sem... Você sabe."

Um coro sinistro de risadas soou mais uma vez. 

Por fim, as vozes atrás deles se transformaram em seres reais: dois homens com rostos malignos, cujas faces estavam petrificadas em uma expressão sombria. Seus olhos enlouquecidos prometiam violência e também morte. Mas não uma morte rápida.

Como isso poderia estar acontecendo? Por que com ela? A garota não conseguia conter seus gritos de agonia.

Não era justo.

Mesmo que ela quisesse lutar por sua vida, mesmo que quisesse desesperadamente completar seu objetivo e superar as tempestades internas... Ela não podia. Não podia...

Quem era ela contra aqueles estranhos armados e perigosos?

Ninguém.

O grito amargo da garota ficou mais alto. A lâmina pressionou com mais força seu pescoço.

"O que foi que eu lhe disse, sua vagabunda? Fique quieta!", o homem sussurrou em seu ouvido.

Tentando engolir seu choro, Emanuele finalmente caminhou alguns passos até o fim do beco. Dali, mal se podia ver a rua principal. As grossas gotas de chuva caíam sem piedade sobre o corpo frio já preparado para a morte da garota.

Um dos estupradores se aproximou dela e arrancou seu casaco. O outro estava prestes a desabotoar sua blusa.

"Não se preocupe, seremos verdadeiros cavalheiros. Não é mesmo, rapazes?"

A risada vil que saiu de sua boca foi acompanhada por outras imediatamente. Emanuele não reagiu.

Ela estava acabada.

Ela fechou os olhos.

Antes que ela pudesse tentar entender o que estava acontecendo, a mão que segurava a faca em seu pescoço simplesmente afrouxou. Os rapazes à sua frente arregalaram os olhos e começaram a lutar com um quarto homem que havia aparecido.

Ele era muito alto e forte. Um enorme capuz cobria seu rosto, e tudo o que podia ser visto eram lábios grossos e uma fina barba. Em segundos, o estranho arrancou a faca das mãos do agressor principal e a brandiu contra ele.

Emanuele tropeçou em seus próprios pés ao tentar correr e ficou parada enquanto observava a luta confusa, mas heroica.

O estranho sabia como lutar. Muito bem, de fato. Depois de derrubar dois dos atacantes, eles decidiram que estavam em desvantagem e saíram correndo. 

O homem não os seguiu.

Ele apenas olhou para ela.

Emanuele estava ofegante de ansiedade, medo, pânico e ódio. Suas pernas simplesmente não se moviam.

Então, ele se agachou ao lado dela, tomando cuidado para não se aproximar demais e assustá-la. Lentamente, o homem removeu o capuz, revelando seu rosto.

A garota abriu a boca sem emitir nenhum som.

Era Joshua.

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