Emanuele abre os olhos e olha para o teto. A cama é confortável e um pouco bagunçada. O ferimento em seu pescoço dói, embora não pareça grave, e a madrugada tem sido terrível por causa dos pesadelos.
Na noite anterior, depois que Joshua saiu do banheiro após encurralá-la contra a parede, deixando-a com uma montanha de perguntas, ela tentou tomar um banho. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina, e várias vezes ela teve de conter as lágrimas enquanto se limpava.
Quando terminou, a garota percebeu que suas roupas ainda estavam em sua mala, que estava na sala de estar. Sem querer incomodar seu anfitrião, Emanuele se enrolou na toalha e foi para a sala de estar, agradecendo silenciosamente a Joshua por não estar lá. Aparentemente, ele havia voltado para seu próprio quarto.
Isso a desestabilizou. Na verdade, mais do que ela já estava desestabilizada. Ele a salvou em um momento e, no outro, a deixou sozinha?
A garota de pele escura se levantou. Apesar do grande risco que havia corrido na noite anterior, ela ainda estava disposta a fazer as coisas darem certo. Ela tinha que fazer isso. Caso contrário, tudo teria sido em vão.
De pijama e chinelos, Emanuele entrou em seu próprio banheiro para tomar um banho. Assim que terminou, ela saiu do quarto de hóspedes, ou melhor, de seu novo quarto, e foi para a cozinha.
Mas, antes mesmo de chegar, a garota se deparou com Joshua tomando café alegremente com uma estranha.
Os dois pararam de conversar assim que ela olhou para eles.
"Que bom que você acordou, Emanuele", disse Joshua. Ele não parecia hostil ou taciturno como na noite anterior. "Está se sentindo melhor?"
"Ele me contou o que aconteceu", disse a mulher que o acompanhava. Então ele se levantou, indo em direção à ruiva. "Está tudo bem?"
Emanuele mal conseguia prestar atenção às palavras da garota. Ele só notou como ela era bonita. Ela tinha cabelos ondulados cor de trigo, olhos azuis marcantes e lábios rosados. Parecia uma modelo de revista.
"Eu..." Emanuele murmurou.
Joshua se levantou rapidamente, parecendo culpado:
"Perdoe-me, deixe-me apresentar vocês dois. Emanuele, esta é Thabata. Minha namorada".
Thabata sorri, mas ainda há preocupação em seus olhos quando Joshua continua:
"E Thabata, como você já sabe, este é a nova inquilina. Aquele que Alexandra disse que viria hoje de manhã".
"Eu tive que vir mais cedo", murmurou a jovem. Ela estava completamente envergonhada.
"Bem, você está aqui agora. Gostaria de se juntar a nós para tomar um café?"
O convite foi educado, até mesmo entusiasmado, mas o estômago de Emanuele parecia estar fortemente embrulhado. E ela não tinha ideia do motivo.
"Obrigada, mas preciso dar uma volta agora".
"Agora?"
"Sim. Eu sempre dou uma caminhada quando acordo", Emanuele mentiu rapidamente.
"Mas você não comeu nada", Thabata claramente se preocupa, "e ontem foi uma noite difícil para você." A loira olha para o corte em seu pescoço, o que só aumenta ainda mais o desconforto da ruiva.
"Estou bem."
"Se Alexandra estivesse aqui, ela não deixaria você sair assim", Joshua fala meio sério, meio brincando. Aparentemente, ele gosta de fazer isso.
"Bem, mas ela não está aqui, está?" O tom de voz de Emanuele sai muito mais agudo e acusatório do que ela pretendia. O casal olha para ela e fica em silêncio.
Não permitindo que a culpa a atingisse, Emanuele simplesmente voltou para o quarto em passos rápidos.
Uma vez dentro do quarto, respirando profundamente, a garota tenta se acalmar. Ela não sabia por que tinha ficado tão nervosa. Ela não precisava ser rude daquele jeito, mas também não conseguia se imaginar sentada em uma mesa com dois estranhos e fingir que não havia um evento apocalíptico acontecendo em sua cabeça.
Os ecos do quase estupro ainda estavam presentes em sua mente. Ela queria falar sobre isso com alguém, talvez ter uma conversa de verdade, mas não com Joshua. Ele era o seu salvador, sim, mas aquela atitude na noite anterior havia lhe dado uma certa desconfiança.
E Thabata parecia muito simpática, mas ela era uma completa estranha. E, aparentemente, Joshua não guardava nenhum segredo de sua namorada. Será que ele se gabou enquanto contava tudo a ela?
Emanuele pegou seu celular e tentou ligar para Alexandra. Correio de voz. A garota estava começando a se perguntar se o verdadeiro proprietário daquele apartamento havia existido ou se era apenas uma ilusão coletiva.
Meia hora depois, a garota da cidade pequena, sentindo-se tão insegura e envergonhada, finalmente saiu do quarto para se desculpar. Mas não havia ninguém na sala de estar. Será que eles estavam chateados e decidiram ir embora? Mas ela ainda não tinha uma cópia das chaves. Eles não fariam isso com ela.... Ou fariam?
"Ele foi comprar algo para mim."
A voz de Thabata está muito mais fria do que antes. A garota está encostada na porta da cozinha, com os braços cruzados e uma expressão totalmente irritada.
Emanuele se encolhe ao vê-la assim. Thabata fala um pouco mais alto dessa vez.
"Agora, vamos ter uma conversa séria por um segundo."
"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?" O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase. Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua: "Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?" "... O quê?" "O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você." "Mas..." "Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida." Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofens
As duas garotas ficam estáticas, olhando para Joshua. O homem coloca a embalagem em cima da mesa, e então pergunta mais uma vez: "O que está acontecendo?" O rosto de Thabata se modifica completamente: a hostilidade antes mostrada se transforma em contemplação, educação e preocupação. "Oi, querido. Obrigada por trazer o que eu pedi!" Ela o abraça, mas Joshua não retribui com entusiasmo. "Eu e Emanuele estávamos conversando sobre a noite horrível que ela passou ontem. Ela veio me pedir desculpas por ter se trancado no quarto." Emanuele poderia derrubar uma parede de tanto ódio, mas resolveu entrar no jogo. Tudo o que não precisava agora era ser inimiga do irmão da dona do apartamento. "Sim, eu... Vim comer algo e aproveitei para me desculpar. Mas vi que você tinha saído. Então vou te pedir desculpas agora. Foi muito indelicado da minha parte fazer o que eu fiz... Sinto muito." Joshua levanta a mão em um gesto apaziguador. "Não foi nada. Está tudo bem." Então ele se volta para Thab
Joshua murmura baixinho."Emanuele."A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar."Emanuele".Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.Mas então a garota finalmente volta a si.Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. Que desastre."Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa.""A culpa foi minha. Acho que
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O
A primeira surpresa que Emanuele teve foi ao notar que o ambiente urbano foi desaparecendo lentamente.A enorme quantidade de prédios, carros buzinando, pessoas aqui e ali com seus afazeres simplesmente foi ficando para trás, cada vez mais longe, e em seu lugar árvores e estradas de terra se fizeram ver.A moça olhou para Joshua com uma sobrancelha erguida, perguntando a ele silenciosamente o que estava acontecendo. O moço explicou:."As reuniões deles costumam ser na casa de Amora e Amanda. Ou melhor, na casa de festa das duas.""Casa de festa?""É."Na cidade natal de Emanuele, a coisa mais próxima a uma casa de festa que ela conheceu foi um pequeno rancho onde os mais velhos se reuniam para beber e comer churrasco. Mas ela tinha quase certeza de que essa reunião, e com esse grupo, seria completamente diferente.E ela estava totalmente certa.Quando desceram do táxi, eles viram a alguns metros de distância uma enorme casa de fazenda. As janelas estavam todas abertas, e era possível
O beijo é rápido, breve e quente. Por segundos, os dois permanecem apenas com os lábios encostados um no outro. As mãos de Johnny seguram as mãos de Emanuele, suavemente e carinhosamente. Então ele afasta o rosto do dela, olhando fixamente em seus olhos. A moça não sabe o que dizer ou fazer. Apenas olha ele de volta, procurando as palavras certas. Se é que havia qualquer palavra certa a ser dita. Johnny é o primeiro a falar, a voz rouca. "Desculpa. Isso foi muito precipitado?" Emanuele responde, um tanto afobada: "Precipitado? Precipitado?! Isso depende. As regras da cidade grande devem ser bem diferentes das cidades pequenas, não é? Quer dizer, talvez você já tenha bebido algumas doses antes de eu chegar e por isso se desinibiu. Não que você seja desinibido. Quer dizer, as pessoas costumam ser mais soltas por aqui, né? Ou não? É preconceito da minha parte falar isso? Claro que não, né? Será que é preconceito achar que é preconceito eu falar isso?" Johnny se segura para não garg
Antes que Emanuele possa se defender ou sequer reagir, a mão espalmada de Thabata vai direto até seu rosto. Ou quase. Segurando fortemente a mão da namorada louca e possessiva de Joshua, Johnny diz: "Você só pode ter enlouquecido." Thabata rosna para ele. "Não se meta, fedelho. Isso é um acerto de contas." "Não. Isso é pura e completa loucura. O que foi que ela te fez pra você atacá-la dessa forma?" "Não é da sua conta, moleque. Larga a minha mão agora." Ela começa a tentar se desvencilhar, mas o rapaz não a solta. Emanuele dá dois passos para trás, e acaba esbarrando em uma garota que estava dançando. Ela pede desculpas, mas percebe que ela nem a ouviu. Assim como outras pessoas, ela reparou em Thabata e Johnny, que agora estavam claramente muito irritados um com o outro. "Essa ladra de namorados vai ter o que merece", diz a louca, fazendo um esforço monumental para se soltar do aperto de ferro de Johnny. Ele não cede. "Ela não está nem aí pro seu namorado, Thabata. Você que
"Joshua", murmura Emanuele, tentando intervir antes que algo sério aconteça."Eu já falo com você". Ele sequer olha para a moça enquanto diz isso. Os olhos escuros estão fixos em Johnny, que permanece ao lado da ruiva.Por alguns segundos, os três fazem silêncio, avaliando um ao outro. Então Jhonny dá um passo à frente e coloca as mãos nos bolsos."Você quer falar, então fale."Joshua inclina a cabeça para o lado."Eu prefiro escutar antes de falar qualquer coisa. O que aconteceu?"Emanuele olha para baixo, desconfortável. Johnny diz em alto e bom som:"Sua namorada está com ciúmes da Emanuele."Para a total surpresa da ruiva, o homem mais velho não tenta negar nem dá qualquer sinal de estar inclinado a discordar da frase certeira de Johnny. Ele continua:"Ela contou a todos que estavam ouvindo que você a salvou de um quase estupro, e que Emanuele usou isso como pretexto para tentar te seduzir."Joshua não diz nada. Emanuele também não consegue encarar nenhum dos dois. Ela simplesmen