"Você está bem?"
Emanuele continuou a olhar fixamente para o rosto de Joshua; sua respiração estava ofegante e difícil.
"Você está bem?!" Ele repetiu mais uma vez, prestando atenção nos detalhes: a blusa quase aberta, o fluxo de sangue escorrendo, a jaqueta jogada (e molhada) a alguns centímetros de distância.
A mulher tentou falar, mas não conseguiu. Em vez disso, um murmúrio saiu de seus lábios, misturado com o que parecia ser um lamento ou choro.
Joshua imediatamente arrancou um pedaço de sua própria camisa de debaixo da jaqueta, pressionando-a contra o pescoço.
"Eles não vão voltar", disse Joshua. Seus olhos brilhavam com uma emoção desconhecida. "Não feridos como estão. Isso se eles sobreviverem." O homem respirou fundo e continuou: "Vou levá-la ao hospital".
A ruiva finalmente conseguiu dizer alguma coisa.
"Não... Dormir. Hotel."
"Você não vai dormir em um hotel, Emanuele."
A garota solta um ruído agonizante de protesto e dor, e Joshua coloca sua mão grande e quente em seu ombro.
"Eu sou o irmão de Alexandra... Eu fui atrás de você quando você saiu. Depois vi aqueles bastardos arrastando você para cá. Me desculpe, eu... Eu deveria ter sido mais rápido."
"Você me salvou", Emanuele diz rapidamente, como se estivesse finalmente absorvendo o que acabou de acontecer. Seus olhos estão vidrados.
"Tarde demais. Veja o que eles fizeram com você", Joshua aponta com o queixo para o pescoço dela.
"Eu poderia estar em uma situação pior... Eu poderia estar..."
"Não, não diga isso. Por favor."
Por alguns instantes, tudo o que eles fazem é ficar ali, parados na chuva, olhando um para o outro. Emanuele vê cada detalhe em seu rosto: as linhas finas de expressão, a mandíbula quadrada, os olhos escuros que parecem entrar em sua alma. Seu corpo inteiro parece uma verdadeira máquina de matar. Mas, aparentemente, ele era uma boa pessoa. Uma pessoa muito, muito boa.
Ele realmente deveria ser o irmão de Alexandra.
Um completo estranho não a salvaria sem mais nem menos... ou salvaria?
"Tem certeza de que não quer ir para o hospital? Ou para a delegacia?"
"Eu... eu só quero ir para casa", Emanuele quase chora ao falar.
Rapidamente, Joshua pega seu casaco molhado e a mala que estava no chão. Ele então a olha fixamente antes de perguntar:
"Você consegue andar?"
Emanuele não sabia. Então, ela ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.
No entanto, antes que ela pudesse verbalizar qualquer coisa, Joshua colocou o casaco em um dos ombros, colocou a menina em seu colo e, de alguma forma, conseguiu alcançar a alça da mala.
Encostada no peito enorme e quente do homem, a garota sentiu suas bochechas esquentarem de vergonha, mas não pôde protestar.
Lentamente, Joshua começou a sair do beco, tomando o caminho de volta para o apartamento.
Felizmente, tanto o saguão quanto o primeiro andar estavam abençoadamente vazios. Isso poupou Emanuele de passar por outra situação embaraçosa, provavelmente porque eles achariam a cena estranha: um homem forte carregando-a como se ela fosse um bebê.
Dentro do elevador, Joshua não fez nenhuma menção de soltá-la. Na verdade, ele nem sequer olhou para ela, apenas para o pescoço cortado. O sangue já estava coagulado.
Quando chegaram ao número quarenta e quatro e finalmente entraram, Joshua a soltou lentamente. As pernas de Emanuele estavam mais firmes, e ela ainda segurava o pedaço de pano em sua garganta.
O homem apoiou a mala em um canto da sala de estar, e a garota mal conseguia prestar atenção nos detalhes e na decoração. O casaco molhado foi direto para a secadora. Joshua voltou e a guiou até o sofá. Ela não disse uma palavra nem tentou resistir.
Já acomodado no móvel, o irmão de Alexandra pediu silenciosamente o tecido da camiseta.
"Vamos jogá-la fora. Seu sangramento já parou".
Hesitando, a ruiva obedeceu. Apesar de a mancha agora ser marrom em vez de vermelha, o pedaço de tecido era pesado e pegajoso.
"Vamos ao banheiro e lavar isso", disse Joshua.
O banheiro era um cômodo relativamente grande, pois se tratava de um apartamento. O espelho fixado na parede mostrava o reflexo da garota, que estava seriamente abatida: seu rosto estava pálido, com olheiras, um verdadeiro terror estampado em seu rosto. Uma pequena linha marcava sua garganta, mas não era um ferimento grave. Se bem cuidada, não deixaria cicatriz.
Joshua abriu a torneira cuja água fumegava de tão quente e, sem cerimônia, mas meticulosamente, começou a enxaguar o excesso de sangue que havia secado do pescoço de Emanuele. A garota arfou de dor.
"Desculpe."
Depois de lavar o corte, Joshua abriu as portas do pequeno armário do banheiro.
"Minha irmã se preocupa muito com sua saúde, mas odeia ir ao médico. Então ela teve a brilhante ideia de ter uma farmácia dentro de casa."
Ele fala em tom de brincadeira, mas sua expressão é séria.
"Aqui", ele diz. "Deixe-me fazer um curativo."
Com gaze, algodão e esparadrapo na mão, Joshua cuida rapidamente do ferimento de Emanuele. A garota está perdida em seus pensamentos e não consegue parar de olhar para ele.
O homem percebe o olhar dela e para o que está fazendo.
Os dois se olham fixamente por segundos intermináveis.
Emanuele sente o calor do rubor que se espalha para as bochechas dela, então finalmente quebra o contato visual olhando para baixo.
"Você precisa tirar essa roupa."
A garota olha tão rapidamente para Joshua que ele se assusta com o movimento, depois levanta as duas mãos em um gesto autoexplicativo.
"Suas roupas estão molhadas. Você vai pegar um resfriado."
Emanuele abre a boca para responder, mas a vergonha a impede.
Ele se aproxima dela. A atmosfera está carregada de magnetismo. Ela pode até sentir as faíscas. Então Joshua inclina a cabeça, perguntando suavemente:
"Você está bem?"
"... Eu vou ficar."
"Sim. Sim, você ficará."
Ele dá dois passos em direção à porta, mas Emanuele fala:
"Espere."
Joshua se volta para a garota.
A ruiva faz o possível para abrir um sorriso, que sai trêmulo e vacilante.
"Obrigada."
"Não precisa me agradecer." Ele vira as costas novamente, mas é interrompido mais uma vez.
"Você não estava com medo?"
Joshua parece ter sido impactado pela pergunta, permanecendo em silêncio por alguns segundos antes de respondê-la. Sua expressão agora é distante, talvez um pouco contida.
"Não."
"Mas..."
"Um homem com medo é um homem morto. E eu estou muito vivo. Não estou?"
Emanuele franze a testa.
"E você também está muito viva. Se eu sentisse medo, nossos dois corpos estariam naquele beco agora mesmo."
"Mas..."
Os olhos de Joshua se arregalam e ele praticamente empurra Emanuele contra a parede. Ele parece bastante irritado.
Ele a encara de cima, com as narinas dilatadas. Que cara bipolar!
A garota apenas fecha os olhos, esperando a explosão que pode ou não terminar em agressão física.
Emanuele abre os olhos e olha para o teto. A cama é confortável e um pouco bagunçada. O ferimento em seu pescoço dói, embora não pareça grave, e a madrugada tem sido terrível por causa dos pesadelos.Na noite anterior, depois que Joshua saiu do banheiro após encurralá-la contra a parede, deixando-a com uma montanha de perguntas, ela tentou tomar um banho. Suas mãos tremiam por causa da adrenalina, e várias vezes ela teve de conter as lágrimas enquanto se limpava.Quando terminou, a garota percebeu que suas roupas ainda estavam em sua mala, que estava na sala de estar. Sem querer incomodar seu anfitrião, Emanuele se enrolou na toalha e foi para a sala de estar, agradecendo silenciosamente a Joshua por não estar lá. Aparentemente, ele havia voltado para seu próprio quarto.Isso a desestabilizou. Na verdade, mais do que ela já estava desestabilizada. Ele a salvou em um momento e, no outro, a deixou sozinha?A garota de pele escura se levantou. Apesar do grande risco que havia corrido na
"Joshua me disse que você viria hoje de manhã, e a irmã dele disse a mesma coisa. Mas você chegou tarde ontem à noite. Por quê?" O tom acusatório e a total diferença de atitude em relação ao momento anterior de Thabata causam total angústia em Emanuele, que não consegue sequer formular uma frase. Mas a loira não deixa nem que ela consiga organizar seus próprios pensamentos. Andando lentamente pela sala, Thabata continua: "Meu namorado é uma pessoa muito boa. Ele se jogaria de uma ponte para salvar uma pessoa indefesa. Mas não coloque nenhuma ideia nessa sua cabeça, está me ouvindo?" "... O quê?" "O quê?", Thabata repete debochadamente. Em seguida, ela volta ao seu semblante irritado. "Ele não vai ficar aqui por muito tempo, é só até minha cunhada voltar de viagem. E eu vou ficar de olho em você." "Mas..." "Ele é muito bonito, não é? Atraente, charmoso, corajoso.... Tudo o que uma garota como você provavelmente nunca viu na vida." Emanuele fica parada, ouvindo sem parar as ofens
As duas garotas ficam estáticas, olhando para Joshua. O homem coloca a embalagem em cima da mesa, e então pergunta mais uma vez: "O que está acontecendo?" O rosto de Thabata se modifica completamente: a hostilidade antes mostrada se transforma em contemplação, educação e preocupação. "Oi, querido. Obrigada por trazer o que eu pedi!" Ela o abraça, mas Joshua não retribui com entusiasmo. "Eu e Emanuele estávamos conversando sobre a noite horrível que ela passou ontem. Ela veio me pedir desculpas por ter se trancado no quarto." Emanuele poderia derrubar uma parede de tanto ódio, mas resolveu entrar no jogo. Tudo o que não precisava agora era ser inimiga do irmão da dona do apartamento. "Sim, eu... Vim comer algo e aproveitei para me desculpar. Mas vi que você tinha saído. Então vou te pedir desculpas agora. Foi muito indelicado da minha parte fazer o que eu fiz... Sinto muito." Joshua levanta a mão em um gesto apaziguador. "Não foi nada. Está tudo bem." Então ele se volta para Thab
Joshua murmura baixinho."Emanuele."A ruiva parece estar meio sonhando, meio acordada. A voz dele era profunda, grave e relaxante. Ela permaneceu no mesmo lugar."Emanuele".Mais uma vez, ela apenas escutou o chamado. As mãos dele permaneciam em seus ombros.Mas então a garota finalmente volta a si.Joshua está com o cenho franzido enquanto a observa. Rapidamente, sentindo muita vergonha, a garota sai de cima do professor. Que humilhante! Por quanto tempo ela ficou ali, parada como uma tola? E o que será que ele estava pensando dela agora?"Foi um tombo e tanto. Você está bem?"O homem não parecia zangado ou ofendido. Na verdade, era preocupação que reluzia em seus olhos enquanto se levantava. Mas também não havia sinal de faísca, devaneio ou qualquer uma das coisas que Emanuele havia sentido. Que desastre."Estou bem", ela respondeu, tentando em vão retomar a compostura. "Desculpe... Eu acho que não consigo mesmo fazer esse tipo de coisa. Não sou boa.""A culpa foi minha. Acho que
Emanuele tem certeza de que Joshua também a quer.Há um brilho em seus olhos escuros, algo que cintila como um diamante. A garota simplesmente sabe; ela entende que ele a quer. Mesmo que eles mal se conheçam.Ou... Não.Na verdade, Joshua está a uma distância respeitável dela, ainda com um sorriso amigável nos lábios. Cortês, até. Mas sem sombra de flerte ou qualquer sinal que denote algo mais.Emanuele se inclinou para a frente, é verdade, mas nem tanto. Em sua mente, coisas incríveis estavam prestes a acontecer. Mas tudo não passava de um devaneio.Como ela era estúpida!E os segundos de tensão? Aparentemente, tinham sido reais, mas ainda assim completamente fora do contexto em que ela os imaginou."Emanuele.""Hã?", a ruiva deu um pequeno pulo de susto, mantendo as costas eretas novamente."Eu sei que não é uma boa ideia perguntar isso, mas... Tem certeza de que está bem?""O que você quer dizer com isso?""Você sabe. Depois de ontem.""Estou bem."A voz de Emanuele saiu trêmula. O
A primeira surpresa que Emanuele teve foi ao notar que o ambiente urbano foi desaparecendo lentamente.A enorme quantidade de prédios, carros buzinando, pessoas aqui e ali com seus afazeres simplesmente foi ficando para trás, cada vez mais longe, e em seu lugar árvores e estradas de terra se fizeram ver.A moça olhou para Joshua com uma sobrancelha erguida, perguntando a ele silenciosamente o que estava acontecendo. O moço explicou:."As reuniões deles costumam ser na casa de Amora e Amanda. Ou melhor, na casa de festa das duas.""Casa de festa?""É."Na cidade natal de Emanuele, a coisa mais próxima a uma casa de festa que ela conheceu foi um pequeno rancho onde os mais velhos se reuniam para beber e comer churrasco. Mas ela tinha quase certeza de que essa reunião, e com esse grupo, seria completamente diferente.E ela estava totalmente certa.Quando desceram do táxi, eles viram a alguns metros de distância uma enorme casa de fazenda. As janelas estavam todas abertas, e era possível
O beijo é rápido, breve e quente. Por segundos, os dois permanecem apenas com os lábios encostados um no outro. As mãos de Johnny seguram as mãos de Emanuele, suavemente e carinhosamente. Então ele afasta o rosto do dela, olhando fixamente em seus olhos. A moça não sabe o que dizer ou fazer. Apenas olha ele de volta, procurando as palavras certas. Se é que havia qualquer palavra certa a ser dita. Johnny é o primeiro a falar, a voz rouca. "Desculpa. Isso foi muito precipitado?" Emanuele responde, um tanto afobada: "Precipitado? Precipitado?! Isso depende. As regras da cidade grande devem ser bem diferentes das cidades pequenas, não é? Quer dizer, talvez você já tenha bebido algumas doses antes de eu chegar e por isso se desinibiu. Não que você seja desinibido. Quer dizer, as pessoas costumam ser mais soltas por aqui, né? Ou não? É preconceito da minha parte falar isso? Claro que não, né? Será que é preconceito achar que é preconceito eu falar isso?" Johnny se segura para não garg
Antes que Emanuele possa se defender ou sequer reagir, a mão espalmada de Thabata vai direto até seu rosto. Ou quase. Segurando fortemente a mão da namorada louca e possessiva de Joshua, Johnny diz: "Você só pode ter enlouquecido." Thabata rosna para ele. "Não se meta, fedelho. Isso é um acerto de contas." "Não. Isso é pura e completa loucura. O que foi que ela te fez pra você atacá-la dessa forma?" "Não é da sua conta, moleque. Larga a minha mão agora." Ela começa a tentar se desvencilhar, mas o rapaz não a solta. Emanuele dá dois passos para trás, e acaba esbarrando em uma garota que estava dançando. Ela pede desculpas, mas percebe que ela nem a ouviu. Assim como outras pessoas, ela reparou em Thabata e Johnny, que agora estavam claramente muito irritados um com o outro. "Essa ladra de namorados vai ter o que merece", diz a louca, fazendo um esforço monumental para se soltar do aperto de ferro de Johnny. Ele não cede. "Ela não está nem aí pro seu namorado, Thabata. Você que