03. Um homem sem medo

"Você está bem?"

Emanuele continuou a olhar fixamente para o rosto de Joshua; sua respiração estava ofegante e difícil. 

"Você está bem?!" Ele repetiu mais uma vez, prestando atenção nos detalhes: a blusa quase aberta, o fluxo de sangue escorrendo, a jaqueta jogada (e molhada) a alguns centímetros de distância.

A mulher tentou falar, mas não conseguiu. Em vez disso, um murmúrio saiu de seus lábios, misturado com o que parecia ser um lamento ou choro.

Joshua imediatamente arrancou um pedaço de sua própria camisa de debaixo da jaqueta, pressionando-a contra o pescoço.

"Eles não vão voltar", disse Joshua. Seus olhos brilhavam com uma emoção desconhecida. "Não feridos como estão. Isso se eles sobreviverem." O homem respirou fundo e continuou: "Vou levá-la ao hospital".

A ruiva finalmente conseguiu dizer alguma coisa.

"Não... Dormir. Hotel."

"Você não vai dormir em um hotel, Emanuele."

A garota solta um ruído agonizante de protesto e dor, e Joshua coloca sua mão grande e quente em seu ombro.

"Eu sou o irmão de Alexandra... Eu fui atrás de você quando você saiu. Depois vi aqueles bastardos arrastando você para cá. Me desculpe, eu... Eu deveria ter sido mais rápido."

"Você me salvou", Emanuele diz rapidamente, como se estivesse finalmente absorvendo o que acabou de acontecer. Seus olhos estão vidrados.

"Tarde demais. Veja o que eles fizeram com você", Joshua aponta com o queixo para o pescoço dela.

"Eu poderia estar em uma situação pior... Eu poderia estar..."

"Não, não diga isso. Por favor."

Por alguns instantes, tudo o que eles fazem é ficar ali, parados na chuva, olhando um para o outro. Emanuele vê cada detalhe em seu rosto: as linhas finas de expressão, a mandíbula quadrada, os olhos escuros que parecem entrar em sua alma. Seu corpo inteiro parece uma verdadeira máquina de matar. Mas, aparentemente, ele era uma boa pessoa. Uma pessoa muito, muito boa.

Ele realmente deveria ser o irmão de Alexandra.

Um completo estranho não a salvaria sem mais nem menos... ou salvaria?

"Tem certeza de que não quer ir para o hospital? Ou para a delegacia?"

"Eu... eu só quero ir para casa", Emanuele quase chora ao falar.

Rapidamente, Joshua pega seu casaco molhado e a mala que estava no chão. Ele então a olha fixamente antes de perguntar:

"Você consegue andar?"

Emanuele não sabia. Então, ela ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder.

No entanto, antes que ela pudesse verbalizar qualquer coisa, Joshua colocou o casaco em um dos ombros, colocou a menina em seu colo e, de alguma forma, conseguiu alcançar a alça da mala.

Encostada no peito enorme e quente do homem, a garota sentiu suas bochechas esquentarem de vergonha, mas não pôde protestar.

Lentamente, Joshua começou a sair do beco, tomando o caminho de volta para o apartamento.

Felizmente, tanto o saguão quanto o primeiro andar estavam abençoadamente vazios. Isso poupou Emanuele de passar por outra situação embaraçosa, provavelmente porque eles achariam a cena estranha: um homem forte carregando-a como se ela fosse um bebê.

Dentro do elevador, Joshua não fez nenhuma menção de soltá-la. Na verdade, ele nem sequer olhou para ela, apenas para o pescoço cortado. O sangue já estava coagulado.

Quando chegaram ao número quarenta e quatro e finalmente entraram, Joshua a soltou lentamente. As pernas de Emanuele estavam mais firmes, e ela ainda segurava o pedaço de pano em sua garganta. 

O homem apoiou a mala em um canto da sala de estar, e a garota mal conseguia prestar atenção nos detalhes e na decoração. O casaco molhado foi direto para a secadora. Joshua voltou e a guiou até o sofá. Ela não disse uma palavra nem tentou resistir.

Já acomodado no móvel, o irmão de Alexandra pediu silenciosamente o tecido da camiseta.

"Vamos jogá-la fora. Seu sangramento já parou".

Hesitando, a ruiva obedeceu. Apesar de a mancha agora ser marrom em vez de vermelha, o pedaço de tecido era pesado e pegajoso. 

"Vamos ao banheiro e lavar isso", disse Joshua.

O banheiro era um cômodo relativamente grande, pois se tratava de um apartamento. O espelho fixado na parede mostrava o reflexo da garota, que estava seriamente abatida: seu rosto estava pálido, com olheiras, um verdadeiro terror estampado em seu rosto. Uma pequena linha marcava sua garganta, mas não era um ferimento grave. Se bem cuidada, não deixaria cicatriz.

Joshua abriu a torneira cuja água fumegava de tão quente e, sem cerimônia, mas meticulosamente, começou a enxaguar o excesso de sangue que havia secado do pescoço de Emanuele. A garota arfou de dor.

"Desculpe."

Depois de lavar o corte, Joshua abriu as portas do pequeno armário do banheiro.

"Minha irmã se preocupa muito com sua saúde, mas odeia ir ao médico. Então ela teve a brilhante ideia de ter uma farmácia dentro de casa."

Ele fala em tom de brincadeira, mas sua expressão é séria. 

"Aqui", ele diz. "Deixe-me fazer um curativo."

Com gaze, algodão e esparadrapo na mão, Joshua cuida rapidamente do ferimento de Emanuele. A garota está perdida em seus pensamentos e não consegue parar de olhar para ele. 

O homem percebe o olhar dela e para o que está fazendo.

Os dois se olham fixamente por segundos intermináveis.

Emanuele sente o calor do rubor que se espalha para as bochechas dela, então finalmente quebra o contato visual olhando para baixo.

"Você precisa tirar essa roupa."

A garota olha tão rapidamente para Joshua que ele se assusta com o movimento, depois levanta as duas mãos em um gesto autoexplicativo.

"Suas roupas estão molhadas. Você vai pegar um resfriado."

Emanuele abre a boca para responder, mas a vergonha a impede.

Ele se aproxima dela. A atmosfera está carregada de magnetismo. Ela pode até sentir as faíscas. Então Joshua inclina a cabeça, perguntando suavemente:

"Você está bem?"

"... Eu vou ficar."

"Sim. Sim, você ficará."

Ele dá dois passos em direção à porta, mas Emanuele fala:

"Espere."

Joshua se volta para a garota.

A ruiva faz o possível para abrir um sorriso, que sai trêmulo e vacilante.

"Obrigada."

"Não precisa me agradecer." Ele vira as costas novamente, mas é interrompido mais uma vez.

"Você não estava com medo?"

Joshua parece ter sido impactado pela pergunta, permanecendo em silêncio por alguns segundos antes de respondê-la. Sua expressão agora é distante, talvez um pouco contida.

"Não."

"Mas..."

"Um homem com medo é um homem morto. E eu estou muito vivo. Não estou?"

Emanuele franze a testa.

"E você também está muito viva. Se eu sentisse medo, nossos dois corpos estariam naquele beco agora mesmo."

"Mas..."

Os olhos de Joshua se arregalam e ele praticamente empurra Emanuele contra a parede. Ele parece bastante irritado.

Ele a encara de cima, com as narinas dilatadas. Que cara bipolar! 

A garota apenas fecha os olhos, esperando a explosão que pode ou não terminar em agressão física.

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