Depois de uma manhã intensa, repleta de flashbacks emocionais e debates profissionais com Enzo, o almoço com Murilo foi a única pausa de sanidade do meu dia. Estava ali, sentada à mesa, rindo horrores com meu amigo, quando ele olhou para mim e sorriu.— Amiga, a gente precisa ir pra balada.Levantei uma sobrancelha, levando o garfo à boca.— Balada? De onde veio essa agora?— De mim, do universo, da necessidade de viver. Sua mãe chega esses dias com o pequeno Nandinho, não é? Então é nossa última chance de aproveitar antes de você virar mãezona em tempo integral.Pensei por um momento. Ele não estava errado. Assim que minha mãe chegasse, tudo giraria em torno deles. E eu queria, precisava estar presente.— Ok, você venceu. Vamos hoje. Uma saídinha só pra espantar o tédio e renovar o estoque de fofocas.Murilo bateu palmas como uma criança animada.— Sabia que você não ia me decepcionar! E a Bea? Vai estar livre?Soltei uma risadinha.— Bea topa qualquer parada. Ela não precisa nem de
Enzo AlbuquerqueEstava jogado no sofá da sala, camisa aberta, o controle remoto largado no chão e a mente… bem longe dali. Por mais que eu tentasse focar em qualquer outra coisa, minha cabeça insistia em voltar pra ela. Ana Luiza.Ela estava linda hoje. Aliás, linda era pouco. Tinha algo nela que… sei lá. Um brilho. Uma força. Uma energia que me fazia perder o chão. Era impossível não lembrar.Fechei os olhos e me vi, anos atrás, com ela na minha cama, enrolada no meu lençol, o rosto suado pelo calor do verão e o olhar cheio de amor.— Eu te amo — ela dizia, com aquele sorrisinho tímido e a voz baixa, como se fosse um segredo só nosso.Eu sorria de volta e beijava sua testa, sem saber que o tempo levaria aquilo embora. Sem saber que seria idiota o suficiente pra deixar Ana Luiza escapar por entre os dedos como areia fina.Suspirei. Um suspiro pesado, arrastado. E foi aí que ouvi a porta se abrindo de supetão.— Que cara de cu é essa, meu irmão?Abri os olhos e encarei Rafaela entrand
Ana LuizaJá tinham sido quantos drinks mesmo? Três? Quatro? Não, espera... cinco. Ou seis? Já nem sabia mais. Tudo que tinha certeza é que o mundo tava girando do jeito mais gostoso possível. As luzes da balada dançavam junto com a gente, e o som da música vibrava no meu peito como um segundo coração. Beatriz e Murilo riam alto, os rostos corados pela bebida e pela euforia da noite, e eu? Bem, eu me sentia viva. Livre. Sexy. E absolutamente incontrolável.A gente dançava no meio da pista, se empurrando de leve, rindo de qualquer besteira. Era como voltar no tempo e ao mesmo tempo ser uma nova versão de mim mesma. Mais ousada. Mais segura. Mais... perigosa.Quando a música deu uma trégua, fomos todos para o bar, tropeçando um no outro, rindo como adolescentes em viagem escolar.— Um shot de tequila pra cada um! — gritou Murilo, batendo a mão no balcão como um rei decretando a próxima rodada.O barman, um moreno de cabelo raspado, barba rala e um sorriso cafajeste, piscou pra gente e c
Sabia que ia me arrepender. Que no dia seguinte, com a cara amassada no travesseiro e o gosto da tequila ainda na garganta, o peso das escolhas cairia sobre mim como um piano de cauda. Mas naquele momento... nesta maldita e deliciosa noite... não existia culpa. Não existia razão. Só existia desejo. Ardente. Incontrolável. Quase desesperado.A cada passo rumo ao seu apartamento, Enzo do meu lado, sua mão firme na minha cintura, meu corpo parecia esquentar mais. Ele não falava muito. Apenas me olhava como se quisesse me devorar. Como se não acreditasse que eu estava ali, de novo, com ele.Entramos no carro que ele chamou, e o silêncio entre nós era cheio de tensão. Não era incômodo. Era carregado de intenções não ditas. De vontades antigas. De lembranças que queimavam na memória e no corpo.Ele pagou o motorista antes que eu pudesse protestar, como se quisesse deixar claro que aquela noite era dele. Que eu era dele.O elevador chegou e entramos juntos. Assim que as portas se fecharam, E
Enzo AlbuquerqueEra difícil fechar os olhos e tentar descansar com ela ali. Ana Luiza. A mulher que eu sempre amei. A mulher que eu feri.O silêncio do quarto contrastava com o turbilhão dentro de mim. O lençol cobria parte do seu corpo, mas as costas nuas dela estavam completamente expostas à minha vista. Cada curva, cada respiração tranquila... parecia um castigo e uma dádiva ao mesmo tempo. Como alguém podia dormir com tanta serenidade depois de uma noite como aquela?Não consegui me conter. Peguei o celular na mesinha de cabeceira e, sem pensar muito, digitei para a única pessoa que entenderia meu pedido sem fazer mais perguntas do que eu estava disposto a responder:“Compra um café da manhã reforçado e leva aqui pra casa. Por favor.”A resposta não demorou:“Você passou a noite com a Ana Luiza?”Soltei um suspiro pesado. Eu sabia que ela ia perguntar.“Sim.”“Vocês voltaram?”Olhei para Ana novamente, dormindo ali tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante.“Ainda é cedo pra pens
Ana Luiza MartinelliA cidade passava por mim embaçada enquanto o carro seguia seu rumo pelas ruas do Rio de Janeiro. Meu corpo ainda carregava resquícios da noite passada. Uma noite que jurei que nunca aconteceria de novo. Uma noite que tentei evitar de todas as formas, mas que, no fim, aconteceu. E foi intensa. Real. Confusa.Fechei os olhos por um instante e a imagem do Enzo veio como um raio na minha mente. O jeito como ele me olhava. Como se ainda houvesse algo entre a gente. Como se eu fosse tudo o que ele precisava pra respirar. Aquilo deveria me deixar lisonjeada, eu acho. Mas só me deixava com raiva. Porque não era justo.Não era justo ele voltar, depois de tudo o que aconteceu, e me fazer sentir de novo. Me fazer lembrar.Meus dedos apertaram o tecido da calça jeans sobre meu joelho com força. Eu odiava isso. Odiava não ter mais controle sobre mim mesma quando ele estava por perto. Odiava como meu corpo parecia traidor, esquecendo todas as dores antigas quando ele me tocava
— Anda logo, Gaby! — provoquei, jogando a cabeça para o lado e cruzando os braços enquanto esperávamos próximo à saída do desembarque.— Ana Luiza, já falei pra parar com esse apelido — ele resmungou, ajeitando a gola da camisa. — Desse jeito eu pareço um viado.— Ah, mas é que você tem uma vibe toda sensível, Gaby. — Pisquei para ele, rindo.— Você é insuportável. — Gabriel revirou os olhos, mas não conseguiu disfarçar o riso que escapou dos lábios. — Se mamãe não tivesse me obrigado a vir, eu tinha ficado em casa.— Você me ama e sabe disso — retruquei com um sorriso vitorioso.Não demorou muito até vermos uma movimentação familiar no meio das pessoas que saíam do portão de desembarque. Meus olhos se iluminaram assim que vi dona Fátima empurrando um carrinho e, ao lado dela, vinha o meu pequeno raio de sol: Nandinho.— Mamãããããe! — ele gritou, soltando a mão da avó e correndo em disparada.Soltei um gritinho emocionado e abri os braços, me abaixando para recebê-lo. O peguei no colo
Ainda estava com a cabeça no ombro da minha mãe quando ela se levantou abruptamente.— Ah! Já ia esquecendo! — ela foi até a mala. — Trouxe uns presentinhos.Nandinho parou imediatamente o desenho e correu até ela.— Vovó, dá o presente que comprei pra mamãe — disse ele, animado.— Trouxe presente pra mim, filho? — perguntei, e ele assentiu com entusiasmo.Ele me entregou o pacote e, quando abri, era uma pulseira artesanal com o pingente de uma mãe e um menino. Olhei para o meu filho e o puxei para perto.— Achei a coisa mais linda do mundo. Obrigada, meu amor.— Eba! A mamãe gostou, vovó! — minha mãe sorriu para o menino.— Esse é o meu pra você, mocinha — ela me entregou uma caixinha menor. — Um colar que vi e achei a sua cara.— Mãe... — abri a caixinha e vi um delicado pingente em forma de estrela. — É lindo! Obrigada!Ela sorriu, orgulhosa, enquanto voltava a se acomodar no sofá.— E o meu presente? — Gabriel surgiu com uma xícara de café na mão.— O seu é saber que eu voltei em