Ana LuizaJá tinham sido quantos drinks mesmo? Três? Quatro? Não, espera... cinco. Ou seis? Já nem sabia mais. Tudo que tinha certeza é que o mundo tava girando do jeito mais gostoso possível. As luzes da balada dançavam junto com a gente, e o som da música vibrava no meu peito como um segundo coração. Beatriz e Murilo riam alto, os rostos corados pela bebida e pela euforia da noite, e eu? Bem, eu me sentia viva. Livre. Sexy. E absolutamente incontrolável.A gente dançava no meio da pista, se empurrando de leve, rindo de qualquer besteira. Era como voltar no tempo e ao mesmo tempo ser uma nova versão de mim mesma. Mais ousada. Mais segura. Mais... perigosa.Quando a música deu uma trégua, fomos todos para o bar, tropeçando um no outro, rindo como adolescentes em viagem escolar.— Um shot de tequila pra cada um! — gritou Murilo, batendo a mão no balcão como um rei decretando a próxima rodada.O barman, um moreno de cabelo raspado, barba rala e um sorriso cafajeste, piscou pra gente e c
Sabia que ia me arrepender. Que no dia seguinte, com a cara amassada no travesseiro e o gosto da tequila ainda na garganta, o peso das escolhas cairia sobre mim como um piano de cauda. Mas naquele momento... nesta maldita e deliciosa noite... não existia culpa. Não existia razão. Só existia desejo. Ardente. Incontrolável. Quase desesperado.A cada passo rumo ao seu apartamento, Enzo do meu lado, sua mão firme na minha cintura, meu corpo parecia esquentar mais. Ele não falava muito. Apenas me olhava como se quisesse me devorar. Como se não acreditasse que eu estava ali, de novo, com ele.Entramos no carro que ele chamou, e o silêncio entre nós era cheio de tensão. Não era incômodo. Era carregado de intenções não ditas. De vontades antigas. De lembranças que queimavam na memória e no corpo.Ele pagou o motorista antes que eu pudesse protestar, como se quisesse deixar claro que aquela noite era dele. Que eu era dele.O elevador chegou e entramos juntos. Assim que as portas se fecharam, E
Enzo AlbuquerqueEra difícil fechar os olhos e tentar descansar com ela ali. Ana Luiza. A mulher que eu sempre amei. A mulher que eu feri.O silêncio do quarto contrastava com o turbilhão dentro de mim. O lençol cobria parte do seu corpo, mas as costas nuas dela estavam completamente expostas à minha vista. Cada curva, cada respiração tranquila... parecia um castigo e uma dádiva ao mesmo tempo. Como alguém podia dormir com tanta serenidade depois de uma noite como aquela?Não consegui me conter. Peguei o celular na mesinha de cabeceira e, sem pensar muito, digitei para a única pessoa que entenderia meu pedido sem fazer mais perguntas do que eu estava disposto a responder:“Compra um café da manhã reforçado e leva aqui pra casa. Por favor.”A resposta não demorou:“Você passou a noite com a Ana Luiza?”Soltei um suspiro pesado. Eu sabia que ela ia perguntar.“Sim.”“Vocês voltaram?”Olhei para Ana novamente, dormindo ali tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante.“Ainda é cedo pra pens
Ana Luiza MartinelliA cidade passava por mim embaçada enquanto o carro seguia seu rumo pelas ruas do Rio de Janeiro. Meu corpo ainda carregava resquícios da noite passada. Uma noite que jurei que nunca aconteceria de novo. Uma noite que tentei evitar de todas as formas, mas que, no fim, aconteceu. E foi intensa. Real. Confusa.Fechei os olhos por um instante e a imagem do Enzo veio como um raio na minha mente. O jeito como ele me olhava. Como se ainda houvesse algo entre a gente. Como se eu fosse tudo o que ele precisava pra respirar. Aquilo deveria me deixar lisonjeada, eu acho. Mas só me deixava com raiva. Porque não era justo.Não era justo ele voltar, depois de tudo o que aconteceu, e me fazer sentir de novo. Me fazer lembrar.Meus dedos apertaram o tecido da calça jeans sobre meu joelho com força. Eu odiava isso. Odiava não ter mais controle sobre mim mesma quando ele estava por perto. Odiava como meu corpo parecia traidor, esquecendo todas as dores antigas quando ele me tocava
— Anda logo, Gaby! — provoquei, jogando a cabeça para o lado e cruzando os braços enquanto esperávamos próximo à saída do desembarque.— Ana Luiza, já falei pra parar com esse apelido — ele resmungou, ajeitando a gola da camisa. — Desse jeito eu pareço um viado.— Ah, mas é que você tem uma vibe toda sensível, Gaby. — Pisquei para ele, rindo.— Você é insuportável. — Gabriel revirou os olhos, mas não conseguiu disfarçar o riso que escapou dos lábios. — Se mamãe não tivesse me obrigado a vir, eu tinha ficado em casa.— Você me ama e sabe disso — retruquei com um sorriso vitorioso.Não demorou muito até vermos uma movimentação familiar no meio das pessoas que saíam do portão de desembarque. Meus olhos se iluminaram assim que vi dona Fátima empurrando um carrinho e, ao lado dela, vinha o meu pequeno raio de sol: Nandinho.— Mamãããããe! — ele gritou, soltando a mão da avó e correndo em disparada.Soltei um gritinho emocionado e abri os braços, me abaixando para recebê-lo. O peguei no colo
Ainda estava com a cabeça no ombro da minha mãe quando ela se levantou abruptamente.— Ah! Já ia esquecendo! — ela foi até a mala. — Trouxe uns presentinhos.Nandinho parou imediatamente o desenho e correu até ela.— Vovó, dá o presente que comprei pra mamãe — disse ele, animado.— Trouxe presente pra mim, filho? — perguntei, e ele assentiu com entusiasmo.Ele me entregou o pacote e, quando abri, era uma pulseira artesanal com o pingente de uma mãe e um menino. Olhei para o meu filho e o puxei para perto.— Achei a coisa mais linda do mundo. Obrigada, meu amor.— Eba! A mamãe gostou, vovó! — minha mãe sorriu para o menino.— Esse é o meu pra você, mocinha — ela me entregou uma caixinha menor. — Um colar que vi e achei a sua cara.— Mãe... — abri a caixinha e vi um delicado pingente em forma de estrela. — É lindo! Obrigada!Ela sorriu, orgulhosa, enquanto voltava a se acomodar no sofá.— E o meu presente? — Gabriel surgiu com uma xícara de café na mão.— O seu é saber que eu voltei em
A noite estava silenciosa, com o som suave preenchendo o ar enquanto a taça de vinho nas mãos da minha mãe refletia a luz fraca da sala. Nandinho já dormia há algum tempo, e Gabriel já havia ido embora. Eu sentia meu coração apertado, o peso da verdade me consumindo. Precisava contar. Precisava dividir o que estava me sufocando.— Filha, eu te conheço e sei que tem algo te afligindo. Me conta o que é — ela disse, me encarando como só mães sabem fazer.Soltei um suspiro longo, como se estivesse liberando parte do medo que me prendia.— Estou com medo de você brigar comigo quando souber...Ela manteve o olhar firme, mas a voz saiu calma.— Prometo que só vou escutar.Aquelas palavras me deram o empurrão que faltava. Engoli em seco, abaixei os olhos e comecei:— Mãe… Eu dormi com o Enzo.O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Ela me encarou por alguns segundos que pareceram horas. Sem expressão. Sem palavras. Apenas me olhava.O incômodo foi crescendo dentro de mim.— Mãe… fala algum
Fátima Maria MartinelliPassamos horas conversando, até que percebi que já estava bem tarde e que, se eu não encerrasse a noite, Ana Luiza iria trabalhar sem ter descansado um pouco.— Agora vai dormir, minha filha — falei, alisando seus cabelos. — Amanhã você tem que acordar cedo para o trabalho.— Boa noite, mãe... Te amo.— Também te amo, Ana. E nunca se esqueça disso.Ela foi para o quarto, e eu fiquei ali na sala por mais alguns minutos, com o coração apertado, mas cheio de amor.No dia seguinte, preparei o café para ela, que ficou animada, parecendo uma criança.— Filha, vou ficar com o Nando hoje, mas você tem que contratar uma babá.— Eu sei, mãe! A Lídia só está esperando eu ligar para ela, mas eu também vou colocá-lo em uma escola em horário integral. Ele vai fazer seis anos e precisa de atividades extracurriculares, além de fazer amizades com crianças da idade dele.— Isso é verdade! Como estou livre, posso ver isso pra você.— Obrigada, mãe. Se a senhora puder levá-lo junt