Capítulo 2: Não Os Leve

Pietro Castellane:

— Sei que o momento é delicado para o senhor — minha secretaria começa. — Mas os novos estagiários chegaram ontem, você ainda não se apresentou a...

A frase dela é interrompida pelo som agudo do meu celular vibrando em meu bolso.

— Um momento, Emile — tiro o aparelho do bolso e vejo o nome da médica da minha esposa na tela. Meu coração acelera. — O que aconteceu? — Atendo imediatamente, minha voz soando mais firme do que me sinto por dentro.

O silêncio do outro lado dura uma fração de segundo, mas é longo o suficiente para que meu estômago se contraia em um nó.

— Senhor Castellane, o estado da sua esposa piorou. A pressão dela está perigosamente alta. Precisamos fazer o parto de emergência agora. Não há tempo, ou perderemos os dois.

O peso das palavras atravessa o meu peito como um soco. A sala ao meu redor desaparece em um turbilhão de vozes abafadas e formas indistintas, como se o mundo tivesse perdido o foco. A única coisa que ouço, clara como um trovão, é o som do meu próprio coração batendo descontroladamente.

O celular parece escorregar da minha mão, mas consigo segurá-lo. Não consigo pronunciar nenhuma palavra, apenas desligo e guardo o celular.

Corro pelos corredores com passos rápidos, forçando minhas pernas ao limite, os sons ao meu redor se transformam em um zumbido. As palavras da Dra. ecoam na minha mente como um mantra: "Não há tempo a perder, ou perderemos os dois." O elevador parece lento demais. Aperto o botão repetidamente, como se isso pudesse apressar as portas.

Por favor, Deus… não os leve — suplico baixinho, sentindo o meu peito se comprimir.

Quando finalmente chego à ala obstétrica, meu peito arde com a falta de ar, mas eu não paro. A médica está na porta, com o rosto tenso e as mãos cruzadas diante do corpo, como se tentasse conter a urgência.

— A pressão arterial dela disparou, e os rins estão entrando em falência. Não temos tempo a perder.

Um arrepio percorre minha espinha. A sala parece girar por um instante, mas eu balanço a cabeça, forçando-me a focar.

— Faça o que for necessário. Salve-os!

— Prometo, Pietro, farei tudo ao meu alcance! — acredito em suas palavras, já que são amigas. — Já solicitamos uma equipe da ala de cardiologia pediátrica, faremos tudo ao nosso alcance.

~~

As luzes da sala cirúrgica de parto são intensas, quase cegantes. O ambiente é um caos controlado — vozes apressadas, máquinas apitando, instrumentos cirúrgicos brilhando sob o brilho frio das lâmpadas.

— Vocês vão ficar bem — digo, tentando manter minha voz firme.

Aperto a mão da minha esposa entre as minhas, o rosto dela está pálido, os olhos semicerrados enquanto tenta manter o foco em mim.

 

—  Marina, não importa o que aconteça, estou aqui — sussurro, minha voz falhando ligeiramente.

Marina tenta sorrir, mas o esforço é evidente, um gesto tão pequeno que parece roubar toda a sua energia.

Relutantemente, solto sua mão, mesmo quando tudo dentro de mim grita para não a deixar. Dou um passo para trás, minhas mãos tremendo.

— Onde está a equipe de cardiologia pediátrica? — pergunto, minha voz carregada de urgência ao não os ver na sala.

— Estão a caminho, doutor. Por favor, vá para a sala de espera. Deixe o resto conosco — a obstetra responde, sem nem desviar o olhar do que está fazendo.

Engulo em seco, minha garganta apertada. Quero insistir, mas sei que não posso. Tento reunir forças para confiar na equipe.

Dou meia-volta e saio da sala, mas a sensação de impotência me consome.

No corredor, sento-me em um banco, mas o assento é duro demais, desconfortável demais. Me levanto, começo a andar de um lado para o outro, cada passo ecoando nos corredores vazios.

Olho para o relógio na parede, mas o tempo parece ter parado. Segundos se arrastam como horas, e o zumbido distante das máquinas na ala cirúrgica apenas intensifica minha ansiedade.

Cada som — o estalar de passos, uma porta abrindo, o clique de um botão do elevador — faz meu coração disparar, na esperança de que seja alguém trazendo notícias.

Mas ninguém aparece. Apenas o vazio.

Passo as mãos pelo cabelo, respirando fundo, tentando afastar os piores cenários que insistem em se formar na minha mente. Meus dedos tremem, e as memórias de Marina sorrindo, ainda grávida, tornam-se um golpe ainda mais doloroso.

De repente, um som rompe o silêncio: um choro fraco vindo de dentro da sala.

Meu coração dispara, minhas pernas quase falham. Lágrimas inundam meus olhos, quentes e incontroláveis. Por um instante, aquele som frágil e desesperado reacende algo em mim: esperança. Meu filho... ele está aqui. Mas por que ninguém veio ainda?

Aguardo, ansioso, para que alguém me chame. Fico em pé, esperando a porta se abrir, mas os minutos se arrastam, intermináveis, e o silêncio ao meu redor só amplifica o som do meu coração batendo descontrolado.

Então, o choro cessa.

O som, que antes era a única certeza de vida, desaparece abruptamente, deixando um silêncio ensurdecedor. Meu peito aperta como se algo estivesse me esmagando, e cada célula do meu corpo entra em alerta.

Algo está errado.

— Por que estão demorando tanto!? — minha voz explode enquanto soco a parede ao meu lado, tentando conter a vontade de invadir a sala e descobrir o que está acontecendo.

O silêncio continua. Cada segundo parece uma eternidade. Meu olhar fixa-se na maçaneta, esperando, implorando para que ela se mova.

Finalmente, a porta se abre.

Minha respiração fica presa no peito enquanto corro em direção à mulher que surge. Sua cabeça está baixa, os ombros curvados em um gesto que não traz boas notícias.

— Meu filho nasceu? Minha mulher está bem? — Minha voz sai apressada, quase desesperada, enquanto meus olhos buscam qualquer indício na expressão dela.

A mulher levanta o olhar, e reconheço imediatamente a jovem à minha frente.

Fernanda Mendonça.

A irmã caçula do meu melhor amigo.

A minha Naninha...

O que a expressão dela significa?

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