Capítulo 5: Isso Não Acaba Aqui

Pietro Castellane:

Adélia.

Ela entra como um furacão, trazendo consigo uma presença que preenche a sala de maneira sufocante. Seus saltos ressoam no chão frio, e seu olhar varre o ambiente, passando por Fernanda como se ela não existisse, antes de fixar-se em mim.

— Pietro, finalmente te encontrei — sua voz é firme, seria, imediatamente fico em alerta.

Respiro fundo, tentando conter o incômodo que cresce no peito.

— Adélia, agora não é um bom momento — meu tom é controlado, mas sei que ela não vai aceitar um “não” tão facilmente.

Ela ergue uma sobrancelha, desdenhosa, então avança, ignorando minhas palavras.

— Não é um bom momento? — O sarcasmo em sua voz me faz cerrar os punhos. — Meu herdeiro está nessa incubadora, e você acha que não é um bom momento para discutirmos o futuro dele? Acha que pode me impedir de vê-lo?

Sinto o sangue ferver, mas mantenho a calma.

— Adélia — meu tom soa baixo, como um aviso. — Não tem nem vinte e quatro horas que perdi a minha esposa, respeite o meu luto. Você não tem o direito de estar aqui.

Ela ri, mas é um som frio, desprovido de qualquer empatia.

— Eu tenho mais direito do que você! — Adélia rebate, cruzando os braços com arrogância, seus olhos carregado de superioridade. — Esse bebê é tudo o que sobrou da minha sobrinha. Ele pertence a minha família. É a nossa parte do acordo.

A palavra "acordo" faz meu estômago revirar.

M*****a! — Fecho os olhos por um instante, respirando fundo para conter a raiva que sobe pelo meu corpo como uma onda incontrolável.

— Senhora — antes que possa responder, a voz de Fernanda ecoa, ela dá um passo à frente, sua postura firma, bem diferente de segundos atrás. — Com todo respeito, o bebê está sob cuidados médicos, e é o pai dele quem decide quem pode ou não o visitar — termina, sua voz soando firme, mas ao mesmo tempo educado.

Adélia se vira lentamente para Fernanda, como se ela fosse uma mosca que ousou cruzar seu caminho, irritante e nojenta.

— E quem é você para me dizer alguma coisa? — rosna. — Como ousar me dirigir a palavra, sua...

— Fernanda está certa — a impeço de continuar dando um passo à frente. — Você não pode entrar aqui sem a minha permissão. E, para deixar claro, você nunca, nunca terá a guarda de Gabriel, meu filho. A mãe dele foi muito clara ao dizer que não queria você ou seu marido perto dele, e eu vou honrar a vontade dela.

Adélia me encara com um olhar afiado, seus olhos queimando com raiva. O canto da boca dela se franze em desprezo.

— Seu moleque ingrato. Já esqueceu qual foi o combinado entre as nossas famílias? Se não fosse por mim e meu marido, você e sua família estariam na sarjeta! Pare de agir com essa prepotência e assine logo a merda dos papéis!

Minha paciência chega no limite.

— Nunca! — Minha voz ecoa pelo ambiente, mais alta do que eu pretendia. Puxo o ar com força, tentando não deixar a raiva transbordar ainda mais. Não posso esquecer de onde estamos.

Adélia dá um passo à frente, mas antes que ela consiga se aproximar mais de mim, Fernanda se coloca entre nós, erguendo a mão em um gesto protetor, o que só parece atiçar ainda mais a fúria da velha.

— Senhora Adélia, com todo respeito, estamos num local que precisa de tranquilidade, o bebê...

— Cale a boca! — Adélia grita, interrompendo-a com uma fúria que gela o ambiente. Seus olhos brilham de ódio ao encarar Fernanda. — Não quero ouvir sua voz, garota. Jamais vou esquecer que a minha única filha e verdadeira neta estão mortas por causa do seu irmão. Não ouse falar comigo, garota. No seu sangue corre o DNA de um maldito assassino!

Fernanda dá um passo para trás, atordoada, como se as palavras fossem um golpe direto em seu peito. Seus ombros tremem, e vejo o impacto das palavras de Adélia se espalhando como rachaduras em sua expressão.

Sinto meu corpo reagir antes mesmo de pensar. Dou um passo à frente e coloco minha mão nas costas dela, firme, protetor. Uma forma silenciosa de passar forças para ela, mesmo não me restando muitas.

— Saia do meu hospital, Adélia — minha voz é baixa, mas carregada de ameaça. — Esta será a última vez que eu pedirei.

— Isso ainda não acabou, Pietro — a promessa é palpável em suas palavras. — Você vai se arrepender disso, Dr. Castellane — ela pronuncia meu sobrenome com nojo, e me encara por mais alguns segundos, a raiva em seus olhos palpável.

Com um bufar irritado, ela vira nos calcanhares e sai da sala, batendo a porta com força.

O silêncio que fica é pesado, cortante. Sinto Fernanda tremer sob minha mão, e minha raiva se mistura com um estranho sentimento de culpa por ela ter sido envolvida nisso.

Merda!

— Está tudo bem? — Pergunto, minha voz agora mais suave.

Fernanda apenas assente, mas seu olhar continua perdido, como se estivesse presa nas palavras venenosas de Adélia. Vejo o brilho de algo não dito em seus olhos, uma dor silenciosa que me faz apertar os punhos.

Sinto um peso familiar crescer no meu peito. Pena por ela, mas também uma raiva latente. Fernando nunca se defendeu das acusações dessa mulher, nunca se deu ao trabalho de revelar a verdade. Ele leva a culpa em silêncio, e, por extensão, deixa Fernanda exposta a ataques que ela não deveria suportar.

Respiro fundo, tentando acalmar minha própria tempestade interna antes que ela transborde.

— Não escute nada do que ela disse — digo, minha voz firme. As palavras saem como uma ordem, mas o tom carrega um pedido implícito, quase uma súplica.

Fernanda levanta os olhos para mim. Há algo ali — hesitação, talvez até uma vontade de responder, de dividir o que está passando por sua mente. Mas, no final, ela não diz nada. Apenas assente de novo, um movimento quase imperceptível.

Sem dizer mais uma palavra, ela sai, me deixando sozinho com o meu filho. Olho para ele novamente, e eu sei que aquela velha ainda irá aprontar mais.

— Papai vai te proteger, meu menino.

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