Pietro Castellane: — Vamos nos casar. Depois de amanhã. As palavras escapam dos meus lábios antes que eu tenha qualquer controle sobre elas, antes que eu consiga pensar no real peso delas. Não foram pensadas. Nem planejadas. Simplesmente... aconteceram. Um impulso. Cru e perigoso. O silêncio que se instala logo depois corta o ar como uma lâmina gelada. Sinto o peso da frase me desabar sobre os ombros, e meu cérebro entra em colapso, paralisado. O que caralho eu acabei de dizer? Por quê? Não importa o quão perdido eu pense estar, a resposta grita na minha mente clara e precisa. Raiva. Raiva de cada maldita palavra que ela disse hoje, me provocando até a beira da insanidade. Do jeito como esse vestido abraça cada maldita curva deliciosa do corpo dela, me tirando o ar. Do batom vermelho nos lábios, tão indecente quanto o gosto que ainda guardo na boca. E, principalmente, do beijo. O mais lascivo, mais carregado de desejo e desafio que já trocamos até agora. Mas não apena
Pietro Castellane:O mundo gira em câmera lenta.Desprevenido, o impacto explode no meu maxilar antes mesmo que eu registre qualquer movimento. Um gancho de direita perfeito, que pelo jeito foi aprimorado ainda mais desde a época da faculdade, de quando treinávamos box juntos.O estalo é seco contra a minha mandíbula, os dentes rangem com força suficiente para fazer minha visão escurecer por um microssegundo.O gosto de sangue invade minha boca, metálico e quente. Meu corpo recua instintivamente, os calcanhares escorregando no piso encerado dois passos para trás. O ar escapa dos meus pulmões num sopro quente, mas não caio. Também não revido.Levanto os olhos e encaro Fernando.Fecho minhas mãos em punhos, eu já esperava por essa reação, só não esperava que esse momento fosse agora.Eles não deveriam descobrir assim.Não dessa forma.Mas agora é tarde demais.— SEU FILHO DA PUTA!Fernando rosna, a voz carregada de ódio, o punho ainda cerrado pronto para bater de novo, os nos dos dedos
Pietro Castellane:O silêncio que se instala após a declaração de Fernanda é tão absoluto que posso ouvir o zumbido insistente do ar-condicionado na parede.Fernando abre a boca, fecha... depois abre de novo. Parece um peixe fora d’água, sufocado pelo ar denso da sala. Seu rosto atravessa todas as fases do luto em questão de segundos — negação, raiva, incredulidade, barganha e... caos.— O quê? — A palavra sai engasgada, como se ele tivesse engolido uma pedra.— Você vai… o quê? — Laura questiona, um olhar surpreso e confuso para Fernanda.— Você enlouqueceu?! — a voz de Fernando explode antes mesmo que Fernanda possa responder à cunhada. — Vai se casar com quem, Fernanda?Ela dá um passo à frente, sem hesitar. Vem até mim em silêncio e, sem dizer uma única palavra, entrelaça seus dedos nos meus. Aperta minha mão com firmeza. Meu olhar se fixa ali, em nossas mãos juntas.— Vamos nos casar, amanhã — fala com firmeza.Fernanda sorrir, seus olhos fixos nos meus, dizem muito mais do que p
Fernanda Castellane:Castellane.Agora eu sou Fernanda Mendonça Castellane.Quantas vezes sonhei com esse dia...Quantas vezes desejei esse sobrenome, silenciosamente, olhando para as estrelas cadentes, acreditando que se fechasse os olhos com força, o universo me ouviria.E agora está feito.Mas não da forma como imaginei.Mas isso não vem ao caso.— Já transferir para sua conta — confirmo, minha voz cortando o silêncio espesso que domina a casa de praia onde nos escondemos.Enquanto todos acreditam que estamos viajando em uma super e chique lua de mel pelo mundo, usando o dinheiro que meus pais guardaram para meu casamento. — Cumprir com a minha parte do acordo.Pietro não responde.Ele continua de costas para mim, concentrado demais em cortar a carne sobre a taboa, para o jantar. A lâmina desliza sobre o alimento, mas o som parece ecoar em meio a tanto silêncio.Meus dedos se entrelaçam no colo, ansiosos. O cheiro do mar invade pela janela aberta, misturando-se ao perfume cítrico d
Pietro Castellane:Entro no quarto com a calma calculada de um predador que sabe, sem sombra de dúvida, que a presa já se rendeu.Fecho a porta atrás de mim. O som seco da fechadura se trancando ecoa como um aviso final: daqui, ninguém sai. Nem ela. Nem eu.Ajoelha bem diante de mim, a menos de um passo de distância.Nua.“Pronta para te servir, marido” As palavras que saíram de sua boca há segundos ainda vibram dentro da minha mente, reverberando como um sussurro sujo e delicioso que atiça cada parte do meu corpo.Fernanda abaixa a cabeça, em submissão e essa atitude envia ondas quentes de fluxo sanguíneo diretamente para o meu pau.As mãos dela entrelaçadas repousando sobre as coxas, tão quietas e obedientes, apenas esperando e esperando, o momento se estende, e não me importo, preciso beber dessa imagem deliciosa.Quantas vezes, em silêncio, no escuro do meu quarto, fantasie exatamente com essa cena? Ela exatamente assim... sem medo, sem hesitação, apenas esperando por mim.Sem ne
Pietro Castellane:— Sabe... — começo, a voz baixa, como um sussurro que roça a pele. — Quando privamos o corpo de um sentido, todos os outros ficam mais alertas.Dou mais um passo ao redor de Fernanda, a observando, a tira de pano vermelho em contraste perfeito com sua pele branca. Seu corpo exposto apenas a minha mercê. — Sua audição fica mais aguçada — sussurro em seu ouvido, deixando meu hálito tocar sua pele. Ela estremece. — O olfato, mais atento. O paladar... mais exigente.Dentro da gaveta do criado mudo ao lado da cama, pego uma garrafa de vinho e o saca rolhas. Fernanda vira o rosto da direção do som, que com certeza está ecoando ainda mais alto que o normal. Abro a garrafa.— Abra a boca — ordeno, minha voz deslizando com firmeza.Céus, a quanto tempo eu não dou uma ordem como essa?Ela obedece sem questionar, os lábios entreabertos, e isso me faz sorrir. Melo meu dedo com o liquido rubro e encosto suavemente contra sua língua. Ela envolve o meu dedo com os lábios, inundand
Fernanda Castellane:Minhas costas arquejam contra a parede fria. A textura gélida contrasta com o calor avassalador que me consome por dentro. A corda que prede meus pulsos roça contra minha pele fazendo eu cravar as unhas contra a palma enquanto uma das minhas pernas repousa sobre o ombro de Pietro – firme, quente, meu. A outra treme incontrolavelmente, mal sustenta meu peso, porque ele já tirou de mim qualquer resistência.O rosto dele enterrado na junção entre as minhas pernas e de longe a vista mais erótica que já vi em toda a minha vida. Ele aperta minha coxa, pressionando ainda mais seu rosto, como se ali fosse o único lugar do mundo onde ele desejasse estar.Meu corpo inteiro vibra.Pietro não me come – ele devora. Cada movimento é calculado, cada sucção uma sentença em um idioma que meu corpo aprende antes mesmo de minha mente entender me fazendo perder o ar.A língua dele é quente, precisa, habilidosa.Cada lambida é um incêndio.Cada sugada no meu clitóris é um colapso.Cad
Fernanda Castellane:A manhã nasce preguiçosa, arrastando luz suave pela janela da cozinha. O cheiro de café recém passado mistura-se ao da massa assada sobre o balcão.Continuo mexendo lentamente com a colher de madeira a calda de chocolate na panelinha para que ela esfrie mais rápido.Uma das sensações que ele me causou ainda permanece, como se algo em mim finalmente tivesse despertado, e agora, exige por mais.Tento me concentrar no som do mar, manter minha mente focada em outra coisa, mas nada funciona. O café, o bolo, a calda. Nada é capaz de tira-lo na minha mente, nada é capaz de me deixar em paz.Meu corpo ainda lembra.Ainda pulsa.A primeira noite com Pietro me marcou de uma forma que eu não sei nomear. A língua dele, as mãos, a forma que ele me segurou como se eu fosse mais leve do que o ar... tudo isso me acompanhou a noite inteira.Ou teria acompanhado, se ele tivesse ficado.Agr! Mesmo com o dia já amanhecido, o gosto amargo ainda está em minha boca. A forma carinhosa co