Capítulo 3: Por Que Você?

Pietro Castellane:

Ela está pálida, o rosto marcado por uma expressão que mistura cansaço, nervosismo e algo mais... culpa? Por um instante, fico paralisado pela surpresa de vê-la ali, mas a preocupação com Marina e o bebê rapidamente me tira do transe.

— Minha esposa... — meus olhos caem para suas mãos cheias de sangue.

Ela respira fundo, os lábios se comprimindo como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. O silêncio dela é ensurdecedor.

— Seu filho... — ela começa, a voz baixa e hesitante. — Ele nasceu. Está na UTI neonatal agora. Mas...

Meu mundo gira. A palavra "mas" ecoa na minha mente como uma sentença. Minha garganta aperta, e preciso reunir todas as forças para perguntar:

— E Marina? Ela está bem?

Fernanda desvia o olhar, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Meu coração para. Cada músculo do meu corpo fica tenso, esperando pelo golpe.

— Eu sinto muito, Pietro. Fizemos tudo o que pudemos... — ela diz, e sua voz falha no final.

As palavras me atingem como uma lâmina. Meu peito arde, como se todo o ar tivesse sido arrancado dos meus pulmões. Não consigo acreditar. Não quero acreditar.

— Não... — murmuro, minha voz quebrada. — Não, ela não pode... não pode ter partido. Eu deveria estar lá! — A dor explode em mim, e dou um passo para trás, como se precisasse de espaço para respirar.

Fernanda dá um passo à frente, hesitando antes de colocar uma mão no meu ombro.

— Sinto muito, Pietro. Marina lutou até o fim, mas... — ela para, incapaz de continuar.

A raiva, o desespero e a impotência se misturam dentro de mim. Olho para Fernanda, e por um momento, tudo o que vejo é a confirmação daquilo que não queria ouvir.

— Pietro... — Sua voz é baixa, quase um sussurro, carregada de hesitação.

Levanto a cabeça lentamente, sentindo o peso esmagador da dor que transborda em lágrimas quentes e incessantes. Meu olhar encontra o dela, cheio de raiva e desespero.

— Por que você? — Minha voz sai áspera, quase acusatória, cortando o silêncio entre nós. — Por que mandaram você me dar essa notícia?

Vejo-a engolir em seco, seus olhos vacilando antes de desviar o olhar. Há um brilho de culpa neles, mas isso só alimenta o fogo que queima dentro de mim.

Isso não é justo. Mas, droga, nada mais importa agora.

Ela ficou três anos sem sequer responder uma mensagem minha! E agora está aqui, neste momento... Não consigo entender.

Fernanda fecha as mãos em punhos, como se lutasse contra algo dentro de si. Minhas próprias mãos tremem, fechadas, enquanto luto contra o impulso de segurá-la pelos ombros, forçando uma explicação que não consigo encontrar.

— A médica... ela não tinha condições de vir... — Fernanda começa, a voz trêmula, quase inaudível. — Eu... eu não sabia que era sua esposa, Pietro. Eu só... — Ela hesita, sua voz falhando no meio da frase, o peso do momento transbordando.

Antes que eu possa responder a Fernanda, um som abrupto corta o ar: passos firmes. Viro o rosto e vejo Adélia -tia da minha esposa- entrando apressada pelo corredor. Seu sembalnete está séro, as mãos cerradas em punhos. 

Ela passa por mim como se não estivesse me vendo.

— Onde está meu sobrinho? Quero vê-lo agora! — Ela exige, sua voz áspera e alta, preenchendo o espaço vazio.

Fernanda se vira para ela, tentando manter a calma diante da tempestade que Adélia traz consigo.

— Infelizmente, não pode vê-lo ainda... — Fernanda é interrompida abruptamente.

— Quem você pensa que é para dizer que eu não posso vê-lo? — Adélia avança, o olhar cheio de indignação.

— Senhora, por favor, entenda que isso é pelo bem dele — Fernanda tenta explicar, mantendo a voz calma, mas firme. — O bebê nasceu muito frágil, ele precisa de cuidados intensivos agora. A equipe já está...

Antes que eu possa reagir, a mão de Adélia mão voa em direção ao rosto de Fernanda, o som do tapa ecoando pelo corredor e algo dentro de mim quebra.

Fernanda leva a mão o rosto, seus olhos arregalados. Meu corpo se move antes que minha mente possa registrar. Dou um passo à frente, mas Fernanda, apesar da surpresa, mantém a postura firme. Ela se coloca entre Adélia e a porta da sala de parto, protegendo a entrada como uma barreira inquebrável.

— A senhora não pode entrar — Fernanda declara, sua voz firme, apesar da marca vermelha que começa a aparecer em sua bochecha.

— Não me diga o que fazer! Esse bebê é meu sobrinho, e eu exijo vê-lo! — Adélia grita, avançando novamente, contudo, Fernanda não se move, não a deixando passar.

Vejo sua mão subir mais uma vez, pronta para outro golpe, mas minha paciência se esgota de vez com essa velha. Seguro seu pulso no ar, minha força controlada apenas o suficiente para impedi-la.

— Basta, Adélia! — digo, meu tom duro e sem espaço para discussão. — Você não vai encostar nela de novo.

Ela me encara, os olhos arregalados de choque, mas não solto o braço dela. Antes que qualquer um de nós possa dizer mais alguma coisa, a porta da sala se abre novamente.

A obstetra aparece, sua postura exausta e o olhar quebrado tão visivelmente quanto o meu. Ela não precisa dizer nada para que todos no corredor sintam o peso do momento.

— Pode ir, enfermeira. Eu assumo daqui — diz ela, sua voz carregada de cansaço e dor. Seus olhos passam brevemente por mim, e vejo o esforço que ela faz para manter a compostura.

Fernanda dá um passo para trás, seus olhos encontrando os meus por um breve momento antes de desviar. Por um instante, parece que ela quer dizer algo, mas a presença da médica é sua permissão para sair. Ela se vira rapidamente e desaparece pelo corredor, deixando apenas o silêncio pesado entre nós.

Adélia puxa o braço com força da minha mão e vira o rosto em indignação, mas não diz mais nada.

— Vamos conversar.

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