Camila apresentou o garoto que dirigia o carro como Chance, seu namorado. Ele vestia o casaco oficial do time de futebol da universidade, vermelho com as mangas cinzas e o logotipo da universidade em branco. Sua pele negra combinava gentilmente com o casaco, cabelo preto penteado para cima, e um piercing transversal na orelha direita. Ele me lançou um sorriso pelo espelho retrovisor mas se manteve em silêncio o caminho todo. Estacionamos diante de uma mansão isolada em uma estrada arborizada, saltamos do carro, Camila e Chance sussurravam de forma agressiva como uma briga sufocada, dei as costas e caminhei até a porta de entrada da casa, cruzei os braços e aguardei. De repente ouvi um som de impacto, como se alguma coisa pesada se chocasse com a lataria do carro, virei o rosto e Camila caminhou até mim olhando para o chão e esfregando os braços como se estivesse com frio, Chance passou por ela e jogou um sorriso forçado.
-Você é a melhor amiga da Zuri? - Chance perguntou.
-Na verdade eu fui melhor amiga da melhor amiga dela.
-Então você é a melhor amiga Agora - disse Chance entrando na casa.
Qual parte da minha explicação ele não entendeu? Camila me puxou pelo braço, entramos em uma sala grande e luxuosa, atravessamos uma porta de vidro que dava acesso a piscina, descemos alguns degraus e caminhamos por entre os bêbados até uma mesa de vidro. No som tocava a música "Bumbum de ouro - Glória Groove", a letra me fez sorrir.
Uma mulher saltou da cadeira e me abraçou com muita intensidade, eu conhecia esse perfume.-Zuri? - perguntei.
-Oi Mack, estava com tanta saudade.
-Uau - Sussurrei procurando as palavras - você está linda.
Ela voltou a me abraçar. Zuri tem a pele negra, seios fartos, cabelo Black, estava sobre um salto de quinze centímetros e um vestido preto justo ao corpo.
-Deixa eu te apresentar meus amigos - disse ela puxando um garoto pela lapela do casaco - esse é meu namorado, Daniel.
O garoto tem pele negra, cabelos penteados para trás com gel, casaco do time de futebol e uma camisa preta de botão. Ele balançou a cabeça me cumprimentando.
-A Camila e o Chance você já conhece. Esse é o Michel - disse ela apontando para um garoto.
Michel é alto, com ombros largos, pele negra, cabelo raspado, olhos pequenos, lábios grandes. Vestia o casaco do time de futebol, sem camisa mostrando o peitoral definido, calça jeans e tênis.
-Essa é Alice - disse ela puxando uma garota pelo braço.
Alice tem a pele branca, cabelo tingido de verde, um vestido verde solto e sandálias. Ela me lançou um sorriso malicioso como se tentasse ler minha mente.
-A gente tem muito o que conversar - disse Zuri - mas agora você tem que pegar uma cerveja e se divertir.
Os meninos se aproximaram de um grupo do outro lado da piscina, Camila e Zuri foram a mesa de bebidas.
-Zuri passou semanas falando de você - disse Alice.
-Coisas boas?
-Com certeza - disse Alice - Vocês estudaram juntas?
-Sim.
-Ela disse que você a salvou - disse Alice.
-Não foi tão dramático.
Apertei os lábios observando Zuri virar uma garrafa de cerveja como se fosse água.
-Ela pode parecer superficial com todas essas bebidas e o falatório - disse Alice - Mas ela gosta de você de verdade.
-Na verdade eu tô surpresa, a melhor amiga dela era a Sarah e não eu.
-Sarah Miller? - Alice perguntou.
-Sim.
-Então a melhor amiga dela é você - disse Alice entornando a garrafa de cerveja.
Zuri mudou muito, deixou sua timidez e o corpo miúdo no passado. Mas algo me incomodava, Zuri não fazia nada sem a Sarah, a amizade delas parecia relacionamento entre irmãs e elas até se intitulavam assim, e hoje Zuri nem mencionou o nome dela.
-O que aconteceu entre elas? - perguntei.
-Existem muitas versões com diferentes detalhes sobre o que aconteceu, o importante é que Sarah não é uma boa amiga.
-O que ela fez? - perguntei.
-Há dois meses, os meninos do futebol deram uma festa no dormitório deles, Sarah bebeu todas e deu para o time todo.
-Todos? - perguntei.
-Sim e eles filmaram tudo.
Isso não parecia ser algo que a Sarah faria.
-Zuri descobriu o vídeo no celular do Daniel e mandou para a universidade toda.
Fiquei sem palavras, Sarah era gentil, inteligente, carinhosa e protetora. Sempre usou a sabedoria para equilibrar nossa amizade. Minha mente me levou há cinco anos atrás, quando nossa amizade começou, Sarah era muito carinhosa comigo e bastante protetora com a Zuri, isso nos confundiu. Zuri desenvolveu uma dependência emocional por Sarah e morria de medo de perdê-la, e eu desenvolvi interesse amoroso por Sarah e tentava conquistá-la. Nós começamos a disputar a atenção e a amizade dela, mesmo que discretamente, na frente dela nossos sorrisos escondiam as faíscas de nosso conflito. Sarah sentiu a sutileza de nossa disputa, nos convidou para uma festa do pijama, sentamos no chão de carpete ao lado de sua cama, vestiamos pijamas coloridos, demos as mãos como em uma irmandade.
-Estou muito feliz de ter vocês duas em minha vida - disse Sarah com um sorriso gentil - mas percebi que vocês estão em um impasse. Eu amo as duas da mesma forma mas são amores diferentes. Zuri, eu te amo como uma irmã.
Zuri sorriu, ela tinha perdido sua irmã mais velha para um acidente de carro, e sentia falta de um amor protetor pois seus pais se perderam no luto e esqueceram que além das bebidas alcoólicas e do pó tinha uma criança assustada precisando de proteção e cuidado.
-Mack, eu te amo como minha namorada - disse Sarah apertando minha mão - mesmo que sentimentos diferentes, amo vocês com a mesma força.
Eu também fiquei satisfeita, afinal, estava interessada de forma romântica. Mas hoje eu percebo que Sarah falou o que nós queríamos ouvir, para evitar que o conflito aumentasse. Minha amizade com a Sarah continuou igual, não tivemos contato físico e o beijo só aconteceu meses depois antes de me mudar para outra cidade. Me vi novamente na festa observando Zuri se embebedar descaradamente, aquela garotinha assustada e introvertida que conheci se perdeu na espuma da cerveja e nas bolhas da água gaseificada dos drinks. Como que a Sarah se tornou uma garota promíscua e a Zuri se tornou a garota popular e sem limites? O que eu perdi nesses cinco anos?
-Você deu sorte - disse Alice - Zuri vai te apresentar pessoas interessantes e te levar à lugares incríveis, só não j**a tudo fora por causa da Sarah.
-Eu estou confusa, elas mudaram muito.
-Todos nós mudamos com o tempo - disse Alice.
-Não faz sentido, a Sarah que eu conhecia não faria algo assim.
-Talvez, você não a conhecia tão bem quanto pensa - disse Alice.
-É, talvez.
No som a música "Ginga - Iza com participação especial Ricon Sapiência", tocava no último volume. Alice dançava diante de mim, movendo seu corpo suavemente com a batida da música, sensualizando sem ser vulgar. Eu joguei um sorriso malicioso, meus olhos passeavam por suas curvas e fazia minha mente deslizar por seu corpo. De repente uma garota bateu o ombro no meu peito perdendo o equilíbrio, seu corpo desceu como se perdesse a consciência. Inclinei meu corpo para baixo e agarrei a blusa da garota puxando seu corpo para cima.-Carson? - perguntei.Ela jogou seus olhos vazios para meu rosto, como se não estivesse totalmente consciente. Empurrei o corpo dela para trás sobre uma cadeira, ela levantou o rosto e passou os olhos ao redor como se não soubesse onde está.-Carson - gritei sobre seu rosto.Ela não reagiu, estava totalmente aeria.-Fica aqui, vou pegar uma garrafa de água - Sussurrei.Dei as costas e caminh
Joguei meu corpo na cama, enfiei os fones no ouvido, coloquei a playlist no aleatório e a música "Nós 2 - Jade Baraldo" começou a tocar bem baixinho. Fechei os olhos, respirei fundo e deixei a batida da música me envolver. Minha mente atravessou as paredes de tijolos e visitou o quarto da Sarah, me imaginei batendo na porta, ela abrindo vestindo apenas um hobby transparente, dei um passo para frente ficando a centímetros do seu rosto. Ela levantou os olhos me devorando silenciosamente, mordeu o lábio inferior como se tentasse controlar seus desejos, enfiei a mão dentro de seu hobby, deslizei os dedos nas suas costas e a puxei contra meu corpo, toquei seus lábios com um beijo apaixonado. Ela abriu o hobby e o deixou se desmanchar no chão, levantou o rosto e soltou um gemido abafado enquando meus lábios deslizavam por seu pescoço, desci as mãos desenhando as curvas de sua bunda e a empurrei sobre a cama. Tirei minha blusa jogando para trás, subi na cama sobre ela, toquei seu seio com
Joguei meu corpo na cama, lancei meus olhos para o teto, senti uma pontada no topo da cabeça que se estendeu para a testa. Camila se sentou na cama dela em silêncio, esfregou a palma das mãos na calça. Virei o rosto para ela.-Está tudo bem? - perguntei.Camila balançou a cabeça de forma positiva. O celular dela acendeu a tela, ela virou o rosto e soltou um suspiro desanimado.-Você precisa denunciá-lo - comentei.-Não posso.-Por quê? - perguntei.-Ele é o melhor amigo do Daniel.-É daí? - perguntei.-Se eu fizer qualquer coisa contra o Chance - Camila fez uma pausa - Daniel vai fazer da minha vida um inferno.-Você prefere apanhar? - perguntei.-Eu prefiro que ninguém saiba o que aconteceu.-Se você não denunciá-lo, vai fazer ele ac
Camila empurrou a porta e entrou sorrindo, apanhou o copo de café da Alice e bebeu um gole.-Zuri vai chegar daqui a pouco - disse Camila apoiando o copo na mesa - Vai pegar seu biquíni.Alice saltou da cama, se inclinou e me deu um beijo suave, apanhou o copo de café e saiu do quarto. Camila me lançou um olhar malicioso.-Você é lésbica - Disse Camila com uma feição de espanto - E está com a Alice.-Sim.-Aquele abraço que nós demos é de amizade, tá? - Camila perguntou.-Tá bom.-Apenas estou esclarecendo para que não haja nenhum conflito de interesses - disse Camila.-Não se preocupe, você não faz meu tipo.-Que bom - Camila suspirou - Qual é seu tipo?-O tipo que gosta de mulher.-Ah, sim, isso é importante. - disse Camila com um sorriso tímido.-Ser heterossexual não te faz querer transar com todos os homens que você conhece. Você tem su
Dormi muito bem durante a noite, acordei animada e ansiosa tanto para ver a Sarah quando para meu primeiro dia de aula. Saltei da cama antes do celular despertar, vesti a roupa que eu mais gosto, passei perfume, enfiei a carteira e o notebook na mochila e desci as escadas pulando os degraus. Atravessei a porta e me surpreendi, a rua estava lotada de estudante caminhando em direção ao prédio da universidade, desci a rua até o banco de pedra próximo a escada da praça e aguardei. Sarah surgiu entre a multidão, saltei do banco e me aproximei com um sorriso apaixonado.-Oi.-Oi - Sarah Sussurrou.Ela apertou os lábios e me lançou uma expressão fria, separei os braços e apertei a sobrancelha confusa. Ela passou por mim se encolhendo dentro do casaco, eu corri e saltei diante dela.-O que aconteceu? - perguntei.-Voltamos para a realidade.-Do que você está falando? - perguntei.Sarah arrastou os olhos para
Abri os olhos lentamente, estava deitada em uma cama com o rosto voltado para cima, paredes brancas, alguns aparelhos acoplados a parede soltando um ruído agudo. Meu corpo estava pesado, com frio e levemente dolorido. Levantei a cabeça com dificuldade, minhas mãos estavam enfaixadas com sinais de sangue. Meu braço esquerdo estava enfaixado desde a ponta do dedo até o cotovelo. Virei o rosto e minha mãe estava sentada em uma poltrona de couro preta, apoiada em uma grande janela com grades que permitiam a entrada da luz do dia. Minha mãe estava com o rosto inclinado para baixo e os olhos fechados. De repente uma mulher entrou no quarto, com uniforme verde, com uma bandeja nas mãos e algumas seringas. Ela me lançou um sorriso gentil como se estivesse feliz em me ver.-Olá.-Oi - respondi.-Você está sentindo dor?-Não - respondi.Ela enfiou a agulha no suporte do soro e jogou um líquido amarelado a substância.-Iss
Não sei por quanto tempo dormi, mas quando abri os olhos Sarah ainda estava sentada na poltrona, com os braços cruzados sobre o peito, o rosto um pouco inclinado para baixo e os olhos fixos no meu rosto. Seu olhar parecia distante, acima de nós, por entre as lembranças claramente difíceis, uma expressão de sofrimento estampava seu rosto delicado. De repente desviou o olhar.-Está tudo bem? - perguntei.-Sim.Sua voz estremeceu, suas mãos agarraram o braço da poltrona, seus dedos afundaram o couro, seus olhos se arrastavam no chão para longe do meu rosto como um rato fugindo de um gato feroz. Sua pele como seda deu lugar a um tom de rosa claro, uma gota de suor deslizou por sua testa e explodiu na gola de sua blusa preta, seus olhos arregalados percorriam a linha do piso em direção a porta. Ela passou a lingua suavemente por entre os lábios, e mordiscou seu lábio inferior enquanto apertava a sobrancelha.-O que está te incomodando? - pe
Me escondi no quarto do hotel por uma semana, para me recuperar física e emocionalmente, ou apenas tentar lidar com as dores da carne e do peito. Minhas feridas estavam cicatrizando lentamente, as dores aos poucos se tornaram suportáveis, minhas mãos se fechavam com dificuldade, mas o hospital se tornou uma lembrança distante. Minha mãe precisava retornar para nossa cidade, por questões de trabalho, já que é a melhor dentista da cidade. Frustrada por não conseguir me convencer a retornar, decidiu me acompanhar para a universidade e conferir pessoalmente minha adaptação. Fomos direto até a sala da coordenação, nos sentamos diante de uma mesa de madeira envernizada. A Cordenadora é uma mulher de meia idade, cabelos loiros na altura dos ombros, pele clara com marcas de expressão, olhos grandes esverdeados, óculos redondo apoiado na ponta do nariz, blaser de linho cinza, camisa social branca, maquiagem discreta e longos brincos de ouro. Ela se inclinou e apoiou os cotovelos e antebraços