Abri os olhos lentamente, estava deitada em uma cama com o rosto voltado para cima, paredes brancas, alguns aparelhos acoplados a parede soltando um ruído agudo. Meu corpo estava pesado, com frio e levemente dolorido. Levantei a cabeça com dificuldade, minhas mãos estavam enfaixadas com sinais de sangue. Meu braço esquerdo estava enfaixado desde a ponta do dedo até o cotovelo. Virei o rosto e minha mãe estava sentada em uma poltrona de couro preta, apoiada em uma grande janela com grades que permitiam a entrada da luz do dia. Minha mãe estava com o rosto inclinado para baixo e os olhos fechados. De repente uma mulher entrou no quarto, com uniforme verde, com uma bandeja nas mãos e algumas seringas. Ela me lançou um sorriso gentil como se estivesse feliz em me ver.
-Olá.
-Oi - respondi.
-Você está sentindo dor?
-Não - respondi.
Ela enfiou a agulha no suporte do soro e jogou um líquido amarelado a substância.
-Iss
Não sei por quanto tempo dormi, mas quando abri os olhos Sarah ainda estava sentada na poltrona, com os braços cruzados sobre o peito, o rosto um pouco inclinado para baixo e os olhos fixos no meu rosto. Seu olhar parecia distante, acima de nós, por entre as lembranças claramente difíceis, uma expressão de sofrimento estampava seu rosto delicado. De repente desviou o olhar.-Está tudo bem? - perguntei.-Sim.Sua voz estremeceu, suas mãos agarraram o braço da poltrona, seus dedos afundaram o couro, seus olhos se arrastavam no chão para longe do meu rosto como um rato fugindo de um gato feroz. Sua pele como seda deu lugar a um tom de rosa claro, uma gota de suor deslizou por sua testa e explodiu na gola de sua blusa preta, seus olhos arregalados percorriam a linha do piso em direção a porta. Ela passou a lingua suavemente por entre os lábios, e mordiscou seu lábio inferior enquanto apertava a sobrancelha.-O que está te incomodando? - pe
Me escondi no quarto do hotel por uma semana, para me recuperar física e emocionalmente, ou apenas tentar lidar com as dores da carne e do peito. Minhas feridas estavam cicatrizando lentamente, as dores aos poucos se tornaram suportáveis, minhas mãos se fechavam com dificuldade, mas o hospital se tornou uma lembrança distante. Minha mãe precisava retornar para nossa cidade, por questões de trabalho, já que é a melhor dentista da cidade. Frustrada por não conseguir me convencer a retornar, decidiu me acompanhar para a universidade e conferir pessoalmente minha adaptação. Fomos direto até a sala da coordenação, nos sentamos diante de uma mesa de madeira envernizada. A Cordenadora é uma mulher de meia idade, cabelos loiros na altura dos ombros, pele clara com marcas de expressão, olhos grandes esverdeados, óculos redondo apoiado na ponta do nariz, blaser de linho cinza, camisa social branca, maquiagem discreta e longos brincos de ouro. Ela se inclinou e apoiou os cotovelos e antebraços
Virei o rosto e avistei Zuri com um grupo de amigas no topo da escada, saltei da mesa e caminhei lentamente até o grupo.-Preciso falar com você em particular.Zuri balançou a cabeça de forma positiva, deu as costas para o grupo e desceu as escadas em silêncio. Sentei sobre a mesa de pedra e Zuri sentou-se a meu lado.-Você se lembra que está me devendo um favor, não é? - perguntei.-Você prometeu que nunca mais tocaria no assunto.-Esperava não precisar chegar a esse ponto - comentei.-O que você quer? Dinheiro? Drogas? Sexo?-Eu quero que você reverta o estrago que fez com aquele vídeo - respondi.Zuri me lançou um olhar confuso.-Faça o vídeo desaparecer - eu disse com voz firme - e faça as pessoas respeitarem a Sarah.-Como?-Use sua influência - respondi.-Eu te dei tudo Mack, dei amigos, festas, popularidade, até uma namorada.
O sol pincelou o horizonte de laranja como em um lindo quadro, a noite puxou seu véu negro e se curvou ao esplendor do novo dia. Saltei da cama, tomei um longo banho, vesti as roupas com as cores da universidade, passei perfume e corri até o quarto da Sarah. Bati na porta com o dedo indicador dobrado, Sarah abriu a porta e me lançou um sorriso animado, estava radiante, com calça jeans azul marinho, blusa de moletom com zíper no peito, cabelos presos com elástico e uma bolsa de couro preta.-Bom dia-Bom dia - ela respondeu com uma voz suave.Agarrei sua mão e a puxei para o corredor, descemos as escadas, atravessamos a porta principal e saltamos para a rua, por entre a multidão. Hoje é dia de campeonato de futebol, por essa razão não teremos aula mas todos somos obrigados a assistir o jogo. O time oficial da universidade vai enfrentar o time de uma universidade Alemã, a qual eu não consigo pronunciar o nome. Descemos a rua lentamente seguindo os g
A noite demorou a passar, a cada segundo minha mente mergulhava na expressão confusa de Sarah, parecia um iceberg, onde eu conhecia apenas a ponta fora da água, mas o corpo maior em baixo da água é um grande mistério. De repente ouvi duas batidas tímidas na porta, foi tão baixo que achei que foi o efeito da noite em claro. Então a batida surgiu novamente, agora mais alta. Saltei da cama, girei a chave no trinco e puxei a porta, Sarah surgiu diante de mim, com um sorriso tímido, segurando dois copos descartáveis e a sacola de papel da cafeteria.-Está com fome?-Sim - respondi.Sarah deu um passo a frente, apoiou os copos e a sacola na mesa, sentou-se na cadeira.-Trouxe capuccino e um muffin de banana para você.-Obrigada - comentei - Vou tomar um banho e já volto.Desci a escada pulando os degraus, entrei no banheiro, tomei um banho rápido, escovei os dentes, passei perfume, vesti calça jeans e uma blusa com o
Passamos a tarde toda brincando nas águas do lago, mas ainda sentia dores nas costas e nas mãos, então decidi sair antes de anoitecer. Subi as escadas, tirei o biquíni, tomei um banho rápido, vesti o moletom pois estava esfriando, tomei um analgésico e desci para ajudar na cozinha. Phelipe me lançou um sorriso largo e animado, mas recusou minha ajuda, como é um chefe que está prestes a se formar em gastronomia, tem suas preferências na cozinha. Sentei no banco próximo a ilha no centro da cozinha, Phelipe me serviu uma taça de vinho tinto.-Você está bem?-Sim - respondi - estou me recuperando de algumas facadas.-Nossa, mas quem te esfaqueou?-Chance - respondi.Phelipe arregalou os olhos, parecia realmente surpreso com a informação.-Sinto muito por sua amiga.-Obrigada - respondi.O silêncio se deitou sobre nós como uma névoa densa, Phelipe deu as costas e se preocupou com o jantar, eu
Sarah estacionou diante de meu dormitório, me deu um beijo macio com sabor de menta, apanhei a bolsa e saltei do carro. Subi os degraus, empurrei a porta e deixei meu corpo cair sobre a cama. Agarrei um copo que estava sobre a mesa, lancei dois comprimidos de aspirina efervescente, bebi em apenas um gole. Deixei meu corpo relaxar aos poucos, o cansaço me trazia mais dor nas costas e nas mãos, parecia que apanhei outra vez. Fechei os olhos e deixei o sono me abraçar, sonhei com os lábios da Sarah sorrindo de forma maliciosa, mergulhando em seus olhos verdes como oceano, seus braços protetores me apertando com força. De repente o celular acendeu e me trouxe a realidade, saltei da cama, tomei banho, vesti roupas confortáveis e quentes, passei perfume e segui até o quarto da Sarah que já estava me esperando. Descemos a rua por entre a multidão enfrentando rajadas de ventos que vinham de todas as direções. De longe avistei Zuri de braços cruzados conversando com Cassie, ambas me lançaram
Depois de espernear como uma criança, apoiei os braços no volante, apoiei a testa e chorei em silêncio. Minha mente confusa girava sobre a vida da Sarah, agora que sei o que me escondia, entendo sua dificuldade em me contar. Mas inexplicavelmente não pensei em fugir, desistir dela ou desaparecer. Meu peito doía como um golpe de uma lâmina de dois gumes, a raiva e o medo se misturavam e deslizaram por meu rosto suavemente, O que devo fazer? De repente ouvi duas batidas no vidro, joguei meu corpo para trás com o susto e apertei as mãos no peitos. Nanda apontava para baixo com o dedo indicador pedindo para baixar a janela. Balancei a cabeça de forma negativa, não estou pronta para lidar com o namorado dela agora. Nanda insistiu, bateu outra vez no vidro e falou alguma coisa sobre droga. Minha curiosidade foi maior que o sentimento de raiva, apertei o portão e o vidro baixou.-Lucca também foi drogado no dia do vídeo, por isso estava vomitando - disse Nanda - Você precisa ou