Joguei meu corpo na cama, enfiei os fones no ouvido, coloquei a playlist no aleatório e a música "Nós 2 - Jade Baraldo" começou a tocar bem baixinho. Fechei os olhos, respirei fundo e deixei a batida da música me envolver. Minha mente atravessou as paredes de tijolos e visitou o quarto da Sarah, me imaginei batendo na porta, ela abrindo vestindo apenas um hobby transparente, dei um passo para frente ficando a centímetros do seu rosto. Ela levantou os olhos me devorando silenciosamente, mordeu o lábio inferior como se tentasse controlar seus desejos, enfiei a mão dentro de seu hobby, deslizei os dedos nas suas costas e a puxei contra meu corpo, toquei seus lábios com um beijo apaixonado. Ela abriu o hobby e o deixou se desmanchar no chão, levantou o rosto e soltou um gemido abafado enquando meus lábios deslizavam por seu pescoço, desci as mãos desenhando as curvas de sua bunda e a empurrei sobre a cama. Tirei minha blusa jogando para trás, subi na cama sobre ela, toquei seu seio com meus lábios, ela empurrou minha cabeça para baixo. Deslizei meus lábios por sua barriga até sua virilha, passei a língua por cima da calcinha e ela soltou um gemido, deslizei minha mão por seu corpo até o seio acariciando gentilmente. Puxei sua calcinha vermelha para baixo e encostei meus labios como se beijasse sua boca. De repente ouvi um barulho alto que me tirou de meu devaneio, uma batida na porta, tirei os fones e acendi a luz. A maçaneta da porta se movia como se alguém tentasse desesperadamente abrir. Saltei da cama, enfiei a chave no trinco, girei e puxei a porta. Camila caiu ao chão e bateu o lado direito do rosto.
-Você está bem? - perguntei.
Ela não respondeu, enfiei a cabeça no corredor procurando por Chance.
-Onde está seu namorado idiota? - perguntei.
Virei o corpo dela deixando seu rosto virado para cima, me inclinei, encostei o ouvido em sua boca e respirei aliviada. Enfiei os braços pelas axilas dela e arrastei seu corpo para trás. Empurrei a porta que se trancou ao bater. Puxei o corpo dela até a cama, levantei seu troco sobre o lençol, depois puxei o quadril e por fim os pés. Desci o zíper das botas de couro e retirei de seus pés, puxei o cobertor sobre seu corpo. Percebi que um líquido esbranquiçado escorria no canto de sua boca, agarrei uma blusa azul que estava pendurada na cabeceira da cama e coloquei em baixo de sua boca. Abri o armário, apanhei uma toalha e um saco plástico, caminhei até a cama, puxei seu corpo a virando de lado. Esperei até que terminasse de vomitar e joguei a blusa suja dentro da sacola, dobrei a toalha e enfiei em baixo de seu rosto. Puxei a cortina da janela a fechando, limpei seu rosto com lenço umidecido e quando me afastei percebi uma mancha roxa em seu peito. Me inclinei, puxei a blusa para baixo com a ponta do dedo indicador, a mancha era maior do que eu tinha visto e se estendia até o pescoço. Apertei a sobrancelha e arrastei os olhos para seu rosto.
-Como você se machucou desse jeito? - perguntei.
Apanhei a sacola e sai do quarto, desci as escadas até o banheiro, lavei a blusa na pia mas não consegui tirar o cheiro azedo. Joguei a sacola no lixo e desci até a lavanderia, joguei a blusa na máquina de lavar, coloquei sabão em pó da maquina e esperei o ciclo terminar. Depois joguei a blusa na secadora, enfiei uma moeda na máquina e aguardei. Assim que o ciclo terminou, dobrei a blusa, subi as escadas até o refeitório, comprei uma garrafa de água e um chocolate com amendoim. Subi as escadas, empurrei a porta do quarto e Camila ainda estava inconsciente. Pendurei a blusa na cabeceira, coloquei a garrafa de água e o chocolate na mesa próximo a Camila, abri minha mala e pequei um copo de plástico e uma cartela de aspirina efervescente. Deitei na minha cama e passei mais uma noite acordada, preocupada com a Camila e pensando na Sarah. Assim que o dia clareou fui até a cafeteria, bebi um capuccino e um muffin de mirtilo, comprei um lanche natural e uma garrafa de suco de laranja. Voltei ao quarto, Camila estava acordando, ainda sonolenta.
-Bom dia
-Bom dia - ela respondeu.
Abri a garrafa de água, entornei no copo, joguei dois comprimidos de aspirina.
-Bebe, vai ajudar com a dor de cabeça.
Camila empurrou o tronco para cima se sentando, apanhou o copo e esperou o comprimido dissolver. Entreguei um comprimido branco.
-Isso é para o enjoo.
Camila jogou o comprimido na boca e bebeu a água com a aspirina de uma vez.
-Trouxe um lanche natural e um suco de laranja - eu disse entregando a sacola de papel - tenta comer.
Camila virou o rosto sentindo o cheiro do amaciante na blusa.
-Você lavou minha blusa?
-Sim - respondi.
-Por quê?
-Você vomitou nela - respondi.
-Ah, desculpe por isso.
-Sem problemas, você se lembra como chegou aqui? - perguntei.
-Chance me trouxe.
-Não, você chegou aqui sozinha - comentei.
Ela me lançou um olhar confuso, passou os olhos ao redor como se buscasse as lembranças que lhe faltava.
-Você se lembra de ter brigado com alguém ou caído? - perguntei.
-Não, por que?
Apontei para a mancha roxa, ela desceu o rosto, puxou a blusa com a ponta dos dedos e sua feição mudou, sua pele esbranquiçou, seus olhos se arregalaram como se lembrasse de algo ruim.
-Você se lembra? - perguntei.
-Não.
Sua resposta foi rápida de mais, como se não quisesse me dar corda para manter a conversa. Ela sabia o que tinha acontecido, mas não estava a vontade para falar.
-Eu vou ler na praça, se precisar, pode me m****r uma mensagem - eu disse me afastando.
Camila moveu o rosto positivamente, abriu a embalagem do lanche e começou a comer. Desci as escadas, segui a rua até uma longa escada, caminhei até o centro da praça, me sentei em baixo de uma árvore, apoiei o notebook nos joelhos, coloquei o fone de ouvido para abafar o som e comecei a ler.
-Oi Mack.
Levantei o rosto e Alice estava diante de mim com um largo sorriso.
-Oi - respondi.
-Encontrei o vídeo, se você quiser ver.
-Qual vídeo? - perguntei.
-Da Sarah.
-Me desculpe, mas não quero ver esse vídeo - comentei.
-Você precisa ver, talvez te ajude a ver quem a Sarah realmente é.
Apanhei o celular, deslizei o dedo na tela e respirei fundo me preparando para o que estava prestes a ver. A tela estava escura e ao fundo o som de alguém vomitando.
-Você é muito viado cara - disse uma voz conhecida.
-Chance - Sussurrei.
-Para Cara - uma outra voz respondeu - Não posso fazer isso, é desumano.
Chance gargalhou, de repente a tela do celular clareou e duas pessoas surgiram, uma garota nua deitada com o rosto voltado para cima, com os joelhos dobrados e as pernas separadas. Um garoto estava em cima dela, movendo seu corpo violentamente contra o corpo dela. Chance se aproximou revelando o rosto do garoto.
-Daniel - Sussurrei.
Chance desceu o celular e se aproximou do rosto da Sarah que estava de olhos abertos mas não parecia estar totalmente consciente. Daniel apoiou a mão no colchão ao lado do ombro da Sarah que agarrou seu braço com as unhas. Sarah levantou o queixo para cima empurrando sua cabeça para trás, uma veia saltou de seu pescoço como se estivesse segurando um gemido ou sentindo dor e apertou os dentes com forca. Ela soltou um gemido abafado, Alice puxou o celular das minhas mãos por um impulso.
-Viu, ela é promíscua e estava adorando dar para o Daniel.
Eu não tive a mesma perspectiva que Alice, não consegui ver a intenção da Sarah em nenhum momento. Ela parecia estar paralisada, sem reação, e agarrou o braço do Daniel com as unhas como se tentasse machucá-lo. Senti meu estômago revirar, minhas mãos ficaram geladas, meu rosto queimou, senti a raiva se misturar em minha corrente sanguínea, desejei matar Daniel e Chance.
-Eu tenho ir - eu disse ficando sobre os pés.
Caminhei em direção ao dormitório, empurrei a porta do quarto e lancei um olhar furioso para Camila que estava estava na cama mexendo no celular.
-Onde está o inútil do seu namorado?
-Não sei - Cama respondeu - o que houve?
-Ele é um abusador escroto - gritei.
Camila saltou da cama e empurrou a porta.
-Não conta pra ninguém - disse ela com as mãos em meu peito.
-Como eu não vou falar? Ele é nojento.
-Não - ela respondeu - Ele nunca tinha levantado a mão para mim antes, ele não é um cara ruim, só estava bêbado.
Definitivamente não estamos falando da mesma coisa.
-Ele te bateu? - perguntei.
-Ué, não é disso que você está falando?
-Sim - respondi desfazendo minha feição assustada.
-Eu te agradeço por ter cuidado de mim, você fez mais por mim do que o Chance ou a Zuri. Eu nunca vou esquecer isso, mas você precisa me prometer que não vai contar para ninguém, por favor.
Balancei a cabeça de forma positiva e joguei meu corpo sobre a cama, esfregue as mãos no rosto tentando afastar o mau estar, apertei o travesseiro contra o rosto e dei um grito abafado, senti as lágrimas deslizaram em meu rosto como em uma cachoeira. Enfiei o fone no ouvido e estava tocando a música "Eco - Jade Baraldo", abracei o travesseiro e chorei como uma criança perdida, solucei por entre a melodia, minha mente saltou de mim e se expalhou por entre as nuvens. Eu tentava afastar o gemido da Sarah e as palavras da Camila mas parecia uma tatuagem infiltrada em minha pele. Virei o rosto e Camila estava de joelhos com as mãos no rosto, saltei da cama, abracei seu corpo a apertando como se empurrasse sua dor para as paredes. Ela puxava o ar como se estivesse em uma crise de pânico.
-Vai ficar tudo bem - Sussurrei.
Camila soltou o corpo apoiando a cabeça em meu peito, eu apertei meus braços ao redor de seu corpo. Nos ficamos por horas sentadas no chão, com a música repetindo e nos envolvendo. Naquele momento nosso quarto se tornou um abrigo contra tudo.
-O que vamos fazer? - Camila perguntou.
-Eu não sei - Sussurrei apertando seu corpo - Mas sinto que tudo vai ficar bem.
-Tomara.
-É - Sussurrei - tomara.
Joguei meu corpo na cama, lancei meus olhos para o teto, senti uma pontada no topo da cabeça que se estendeu para a testa. Camila se sentou na cama dela em silêncio, esfregou a palma das mãos na calça. Virei o rosto para ela.-Está tudo bem? - perguntei.Camila balançou a cabeça de forma positiva. O celular dela acendeu a tela, ela virou o rosto e soltou um suspiro desanimado.-Você precisa denunciá-lo - comentei.-Não posso.-Por quê? - perguntei.-Ele é o melhor amigo do Daniel.-É daí? - perguntei.-Se eu fizer qualquer coisa contra o Chance - Camila fez uma pausa - Daniel vai fazer da minha vida um inferno.-Você prefere apanhar? - perguntei.-Eu prefiro que ninguém saiba o que aconteceu.-Se você não denunciá-lo, vai fazer ele ac
Camila empurrou a porta e entrou sorrindo, apanhou o copo de café da Alice e bebeu um gole.-Zuri vai chegar daqui a pouco - disse Camila apoiando o copo na mesa - Vai pegar seu biquíni.Alice saltou da cama, se inclinou e me deu um beijo suave, apanhou o copo de café e saiu do quarto. Camila me lançou um olhar malicioso.-Você é lésbica - Disse Camila com uma feição de espanto - E está com a Alice.-Sim.-Aquele abraço que nós demos é de amizade, tá? - Camila perguntou.-Tá bom.-Apenas estou esclarecendo para que não haja nenhum conflito de interesses - disse Camila.-Não se preocupe, você não faz meu tipo.-Que bom - Camila suspirou - Qual é seu tipo?-O tipo que gosta de mulher.-Ah, sim, isso é importante. - disse Camila com um sorriso tímido.-Ser heterossexual não te faz querer transar com todos os homens que você conhece. Você tem su
Dormi muito bem durante a noite, acordei animada e ansiosa tanto para ver a Sarah quando para meu primeiro dia de aula. Saltei da cama antes do celular despertar, vesti a roupa que eu mais gosto, passei perfume, enfiei a carteira e o notebook na mochila e desci as escadas pulando os degraus. Atravessei a porta e me surpreendi, a rua estava lotada de estudante caminhando em direção ao prédio da universidade, desci a rua até o banco de pedra próximo a escada da praça e aguardei. Sarah surgiu entre a multidão, saltei do banco e me aproximei com um sorriso apaixonado.-Oi.-Oi - Sarah Sussurrou.Ela apertou os lábios e me lançou uma expressão fria, separei os braços e apertei a sobrancelha confusa. Ela passou por mim se encolhendo dentro do casaco, eu corri e saltei diante dela.-O que aconteceu? - perguntei.-Voltamos para a realidade.-Do que você está falando? - perguntei.Sarah arrastou os olhos para
Abri os olhos lentamente, estava deitada em uma cama com o rosto voltado para cima, paredes brancas, alguns aparelhos acoplados a parede soltando um ruído agudo. Meu corpo estava pesado, com frio e levemente dolorido. Levantei a cabeça com dificuldade, minhas mãos estavam enfaixadas com sinais de sangue. Meu braço esquerdo estava enfaixado desde a ponta do dedo até o cotovelo. Virei o rosto e minha mãe estava sentada em uma poltrona de couro preta, apoiada em uma grande janela com grades que permitiam a entrada da luz do dia. Minha mãe estava com o rosto inclinado para baixo e os olhos fechados. De repente uma mulher entrou no quarto, com uniforme verde, com uma bandeja nas mãos e algumas seringas. Ela me lançou um sorriso gentil como se estivesse feliz em me ver.-Olá.-Oi - respondi.-Você está sentindo dor?-Não - respondi.Ela enfiou a agulha no suporte do soro e jogou um líquido amarelado a substância.-Iss
Não sei por quanto tempo dormi, mas quando abri os olhos Sarah ainda estava sentada na poltrona, com os braços cruzados sobre o peito, o rosto um pouco inclinado para baixo e os olhos fixos no meu rosto. Seu olhar parecia distante, acima de nós, por entre as lembranças claramente difíceis, uma expressão de sofrimento estampava seu rosto delicado. De repente desviou o olhar.-Está tudo bem? - perguntei.-Sim.Sua voz estremeceu, suas mãos agarraram o braço da poltrona, seus dedos afundaram o couro, seus olhos se arrastavam no chão para longe do meu rosto como um rato fugindo de um gato feroz. Sua pele como seda deu lugar a um tom de rosa claro, uma gota de suor deslizou por sua testa e explodiu na gola de sua blusa preta, seus olhos arregalados percorriam a linha do piso em direção a porta. Ela passou a lingua suavemente por entre os lábios, e mordiscou seu lábio inferior enquanto apertava a sobrancelha.-O que está te incomodando? - pe
Me escondi no quarto do hotel por uma semana, para me recuperar física e emocionalmente, ou apenas tentar lidar com as dores da carne e do peito. Minhas feridas estavam cicatrizando lentamente, as dores aos poucos se tornaram suportáveis, minhas mãos se fechavam com dificuldade, mas o hospital se tornou uma lembrança distante. Minha mãe precisava retornar para nossa cidade, por questões de trabalho, já que é a melhor dentista da cidade. Frustrada por não conseguir me convencer a retornar, decidiu me acompanhar para a universidade e conferir pessoalmente minha adaptação. Fomos direto até a sala da coordenação, nos sentamos diante de uma mesa de madeira envernizada. A Cordenadora é uma mulher de meia idade, cabelos loiros na altura dos ombros, pele clara com marcas de expressão, olhos grandes esverdeados, óculos redondo apoiado na ponta do nariz, blaser de linho cinza, camisa social branca, maquiagem discreta e longos brincos de ouro. Ela se inclinou e apoiou os cotovelos e antebraços
Virei o rosto e avistei Zuri com um grupo de amigas no topo da escada, saltei da mesa e caminhei lentamente até o grupo.-Preciso falar com você em particular.Zuri balançou a cabeça de forma positiva, deu as costas para o grupo e desceu as escadas em silêncio. Sentei sobre a mesa de pedra e Zuri sentou-se a meu lado.-Você se lembra que está me devendo um favor, não é? - perguntei.-Você prometeu que nunca mais tocaria no assunto.-Esperava não precisar chegar a esse ponto - comentei.-O que você quer? Dinheiro? Drogas? Sexo?-Eu quero que você reverta o estrago que fez com aquele vídeo - respondi.Zuri me lançou um olhar confuso.-Faça o vídeo desaparecer - eu disse com voz firme - e faça as pessoas respeitarem a Sarah.-Como?-Use sua influência - respondi.-Eu te dei tudo Mack, dei amigos, festas, popularidade, até uma namorada.
O sol pincelou o horizonte de laranja como em um lindo quadro, a noite puxou seu véu negro e se curvou ao esplendor do novo dia. Saltei da cama, tomei um longo banho, vesti as roupas com as cores da universidade, passei perfume e corri até o quarto da Sarah. Bati na porta com o dedo indicador dobrado, Sarah abriu a porta e me lançou um sorriso animado, estava radiante, com calça jeans azul marinho, blusa de moletom com zíper no peito, cabelos presos com elástico e uma bolsa de couro preta.-Bom dia-Bom dia - ela respondeu com uma voz suave.Agarrei sua mão e a puxei para o corredor, descemos as escadas, atravessamos a porta principal e saltamos para a rua, por entre a multidão. Hoje é dia de campeonato de futebol, por essa razão não teremos aula mas todos somos obrigados a assistir o jogo. O time oficial da universidade vai enfrentar o time de uma universidade Alemã, a qual eu não consigo pronunciar o nome. Descemos a rua lentamente seguindo os g