Capítulo 2
Ao meio-dia, Nathan conduziu Susana até a residência da família Fonseca para o almoço familiar.

Paula, mãe dele, jamais havia demonstrado simpatia por Susana. Tão grande era sua desaprovação que nem mesmo compareceu à cerimônia quando os dois se casaram.

Após o casamento, o casal se estabeleceu em outro bairro, retornando à casa materna apenas nos finais de cada mês.

— Meu amor, não esquenta com o que minha mãe falar, tá? — Sussurrou Nathan, apertando suavemente a mão dela enquanto se aproximavam da porta. — Vou estar sempre ao seu lado. É só comer e depois caímos fora.

Mal haviam entrado quando a risada estridente de Paula alcançou os ouvidos de Susana.

— Que criança mais linda do mundo! Olha só essas mãozinhas, esses pezinhos tão pequenos... Ai, meu Deus, meu coração não aguenta de tanta fofura!

O sangue fugiu do rosto de Susana, a deixando imobilizada na entrada.

Ao lado de Paula estava ela, a mesma mulher da mensagem.

— Esta é Ivana, filha de uma grande amiga minha. — Explicou Paula. — A família dela mora fora do país e me pediram para acolhê-la durante a gravidez. Inclusive, hoje cedo fomos juntas ao médico para o pré-natal.

Com um olhar carregado de malícia, Paula estendeu a imagem da ultrassonografia para Nathan, indagando:

— Dá uma olhada... O bebê se parece com os pais?

Nathan enrijeceu visivelmente, sua voz saindo tensa entre os dentes:

— Mãe, para com isso. Como eu poderia saber? Acabei de conhecer a Ivana.

Lançando um olhar de desprezo na direção de Susana, Paula empurrou Ivana gentilmente para frente.

— Bom, então vamos fazer as apresentações formais. Ivana, este é meu filho, Nathan.

O rosto de Ivana ganhou um tom rosado enquanto ela murmurava timidamente:

— Oi, Nathan. Prazer.

Ele apenas acenou com a cabeça, num gesto rápido, enquanto puxava Susana para mais perto, envolvendo sua cintura num abraço protetor.

— Esta é Susana, minha esposa.

— Oi, Susana. — Cumprimentou Ivana.

O estômago de Susana se revirou em náusea. Suas mãos, pendendo soltas ao lado do corpo, tremiam incontrolavelmente.

Estava claro agora. Todos na família Fonseca sabiam sobre Ivana. Todos. Apenas ela havia sido mantida na ignorância.

— O que foi? — Perguntou Nathan, notando sua palidez. — Está com hipoglicemia de novo?

Com gestos apressados, ele retirou do bolso um doce que sempre carregava, o desembrulhou e o levou delicadamente aos lábios trêmulos dela.

Susana abriu a boca quase sem consciência, como um autômato.

Era doce, mas deixava na língua um sabor profundamente amargo.

— Vamos servir o almoço. — Anunciou Nathan, a conduzindo até a mesa. — Você mal tocou no café da manhã. Precisa se alimentar direito.

Susana pegou o copo d'água em silêncio. Nathan, vigilante, o substituiu rapidamente por outro com água morna.

— Seu ciclo está chegando, não pode tomar nada gelado. — Ele explicou com voz baixa. — Vai ter cólica depois, igual da última vez. Esse camarão hoje está uma delícia, deixa que eu descasco para você.

Durante toda a refeição, Nathan mal tocou em seu próprio prato. Enquanto isso, cuidava para que o de Susana nunca ficasse vazio, a servindo constantemente.

— Nathan, o jeito como você cuida da sua esposa me deixa com tanta inveja da Susana. — Sussurrou Ivana, enquanto seus lábios se curvavam num sorriso malicioso. — Adoro camarão também. Será que poderia descascar um para mim?

Com um gesto suave, ela deslizou o prato na direção dele, mas Nathan nem se dignou a olhar.

— Se quiser camarão descascado, faça você mesma. Esse privilégio é exclusivo da minha esposa. — Respondeu ele secamente.

Lutando contra a náusea que subia pela garganta, Susana tomou mais um gole da água morna antes de declarar:

— Pode dar para ela. Perdi o apetite.

O rosto de Nathan endureceu num bico quase infantil, enquanto seus ombros se tensionavam.

— Nem pensar... Então eu mesmo como. Não vou permitir que os camarões que descasquei para você acabem no prato de outra pessoa.

Sarcasmo brilhou nos olhos de Susana enquanto pensava: "Dormiu com ela e agora quer bancar o marido devoto?"

Paula bateu os talheres na mesa com força deliberada, seu rosto transbordando desprezo.

— Susana, já é a sexta tentativa fracassada de fertilização, não é mesmo? Aproveita a presença da Ivana para pegar algumas dicas. — Alfinetou ela com veneno na voz.

— Dona Paula, não tenho muita experiência nisso... — Confessou Ivana com uma risada nervosa, o rubor subindo pelo seu rosto. — Na verdade, eu e meu namorado conseguimos na primeira tentativa.

Ela baixou o olhar, brincando distraidamente com os dedos sobre a mesa.

— Aconteceu no meu aniversário. Talvez o estado de espírito influencie, não acha?

— Obviamente... — Paula sorriu com frieza cortante. — Minha nora já tem uma década a mais que você. Impossível fazer qualquer comparação. De qualquer forma, a Ivana vai se mudar para nossa casa. Assim posso cuidar dela pessoalmente e quem sabe absorver um pouco dessa fertilidade... Estou ansiosa para ter a casa repleta de netos.

Antes que alguém pudesse elaborar uma resposta, Nathan cortou o ar com palavras diretas:

— Não concordo com isso.

Paula lhe lançou um olhar fulminante.

— Como assim? Agora certas pessoas, que não conseguem engravidar, ficam ofendidas ao ver outras tendo filhos?

— Já basta! — A voz de Nathan saiu gélida como uma lâmina. — Mãe, se a senhora quer que eu desapareça de vez desta casa, é só continuar nesse caminho.

— Me perdoem. — Ivana se levantou, os olhos já marejados. — Nunca quis causar conflitos na família.

Ela saiu correndo da sala de jantar.

Por instinto, Nathan deu um passo em sua direção, mas logo percebeu o que estava fazendo e paralisou a meio caminho.

— Terminei. — Anunciou Susana com expressão impenetrável, antes de se levantar e se retirar em silêncio.

Ao cruzar os portões da mansão da família Fonseca, seu celular vibrou entre seus dedos trêmulos.

Era uma mensagem de Ivana.

[Meu aniversário é 5 de março. Foi nossa primeira vez juntos. Ele não me deixou sair da cama o dia inteiro.]

Naquele mesmo dia, Susana havia enfrentado sua quinta falha na fertilização. Ela se trancou no quarto, se recusando a comer ou beber, por vinte e quatro horas completas. Quando finalmente reuniu forças para abrir a porta, encontrou Nathan do lado de fora, com as roupas amarrotadas e desalinhadas. Naquela época, ela sentiu compaixão por ele e ofereceu consolo.

Agora, a verdade esmagava seu peito como uma pedra.

Ele tinha acabado de deixar a cama de Ivana.

Era ridículo e patético.

Tantas injeções dolorosas ao longo dos anos, sem jamais reclamar do sofrimento físico.

Mas agora... A dor em seu coração era tão intensa que mal conseguia respirar.

— Amor, por que está chorando? — Indagou Nathan ao alcançá-la, o desespero estampado em seu rosto ao notar as lágrimas.

Instintivamente, seus olhos desceram até a tela iluminada do celular dela.
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