Ao meio-dia, Nathan conduziu Susana até a residência da família Fonseca para o almoço familiar.Paula, mãe dele, jamais havia demonstrado simpatia por Susana. Tão grande era sua desaprovação que nem mesmo compareceu à cerimônia quando os dois se casaram.Após o casamento, o casal se estabeleceu em outro bairro, retornando à casa materna apenas nos finais de cada mês.— Meu amor, não esquenta com o que minha mãe falar, tá? — Sussurrou Nathan, apertando suavemente a mão dela enquanto se aproximavam da porta. — Vou estar sempre ao seu lado. É só comer e depois caímos fora.Mal haviam entrado quando a risada estridente de Paula alcançou os ouvidos de Susana.— Que criança mais linda do mundo! Olha só essas mãozinhas, esses pezinhos tão pequenos... Ai, meu Deus, meu coração não aguenta de tanta fofura!O sangue fugiu do rosto de Susana, a deixando imobilizada na entrada.Ao lado de Paula estava ela, a mesma mulher da mensagem.— Esta é Ivana, filha de uma grande amiga minha. — Explicou Paul
A luz do celular se extinguiu sozinha.Com gestos suaves, Nathan envolveu Susana em seus braços, deslizando as mãos pelas suas costas num carinho protetor.— Acalma esse coração, meu amor. — Sussurrou ele com voz embargada. — Não chora assim, cada lágrima sua é uma facada em mim. A culpa é toda minha. Jamais devia ter te exposto a isso. Minha mãe é problema meu, não seu. Se quiser descontar em mim, me xingar, até me bater, tudo bem... Só quero ver você melhor.Durante todo o retorno, Nathan não parou de tentar confortá-la com palavras doces.Mergulhada em seu próprio silêncio, Susana mantinha os olhos fechados, fingindo dormir enquanto sua mente fervilhava.De tempos em tempos, notificações pipocavam no celular dele, quebrando o silêncio pesado que dominava o interior do carro. Na metade do caminho, Nathan já se dividia entre a direção e as mensagens urgentes que respondia.Quando finalmente chegaram em casa, ele afagou os cabelos dela, hesitante.— Olha só, meu amor. — Ele murmurou, c
O sistema do hospital enviava alertas diretamente ao celular de Nathan, já que o cartão médico de Susana estava vinculado ao número dele. Foi assim que ele ficou sabendo da consulta e dos medicamentos retirados por ela.— Pelo amor de Deus, diz alguma coisa! Fiquei feito um louco te procurando! — Exclamou Nathan, visivelmente agitado.Com um gesto cansado, Susana estendeu a sacola com os remédios na direção dele.— O médico recomendou um tratamento novo. — Murmurou ela, sem o encarar. — Disse que pode melhorar as chances na próxima tentativa de fertilização.— O que importa é você estar bem. Quase morri de preocupação. — Respondeu ele, passando a mão pelos cabelos.Nathan nem sequer olhou para o conteúdo da sacola, a jogando displicentemente sobre a mesa de centro como se fosse qualquer coisa banal.Uma risada seca escapou dos lábios de Susana.Antes, qualquer medicamento que entrasse em casa virava motivo de preocupação. Ele fazia questão de ler cada bula minuciosamente, sempre atento
Tarde da noite Susana finalmente se entregava ao sono e, como resultado natural, despertava quando a manhã já ia alta.Mal havia deixado o quarto naquela manhã quando Nathan irrompeu pela porta, trazendo consigo um sorriso esperançoso.— Olha só o que eu trouxe, meu bem. — Anunciou ele com entusiasmo, retirando da jaqueta um pacote como quem revela um tesouro precioso. — Passei na sua confeitaria preferida. Era sempre assim. Quando Nathan pisava na bola, logo aparecia com um bolo para Susana. Um padrão que se repetia como ritual de redenção.Na verdade, ela nunca tinha sido tão apaixonada assim por doces, mas aceitava as oferendas por amor.Mas hoje? Qual seria o motivo?"Será que está tentando aplacar a consciência depois de passar a noite nos braços de outra?", pensou ela, enquanto observava o pacote.— Ei, você viu a mensagem que te mandei antes de sair? — Questionou ele, inquieto. — Quando acordou?Nos últimos dias, algo em Susana havia mudado, e isso deixava Nathan visivelmente p
— Me perdoa, por favor. — Nathan a abraçou com força. — Pode me bater, me xingar, fazer o que quiser comigo, mas não chora assim. Falei merda, fui um completo imbecil. Não tenho desculpa para o que disse.As lágrimas escorriam pelo rosto de Susana enquanto ela lutava em vão para se desvencilhar dos braços dele. No fundo do seu coração, a verdade gritava: Nathan não tinha simplesmente falado sem pensar. Era tudo calculado para jogar a culpa nela.Uma maneira conveniente de justificar a traição dele.— Vou conversar com minha mãe, juro. — Insistia ele, enxugando as lágrimas dela com o polegar. — Quando ela aprender a te respeitar como merece no futuro, você pode desbloquear ela. O que acha?Um sorriso triste brotou nos lábios de Susana, os olhos ainda marejados."Nathan, entre nós dois, não existe mais futuro.", pensou.Nos dois dias seguintes, Nathan não colocou o pé para fora de casa.Mesmo com Susana o tratando como se fosse invisível, ele se desdobrava na cozinha preparando os pratos
— Nathan foi esquentar seu leite. Disse que você não deve tomar nada gelado. — Comentou Gabriel, com um sorriso casual. — Olha, não sou eu quem está falando, mas onde mais você encontraria um homem tão atencioso quanto ele? Preciso ainda buscar mais algumas bebidas, então vou aproveitar para apressá-lo um pouco.Um ardor intenso tomou conta dos olhos de Susana. Suas unhas, involuntariamente, se cravaram na palma da mão com força.Quantas vezes havia a enganado para conseguir mentir daquela forma tão natural, sem ao menos piscar?A sensação de sufocamento era tanta que ela não conseguia permanecer ali nem mais um segundo sequer.— Estou exausta. — Murmurou ela, se levantando. — Vou para casa.— Quer que Nathan te leve? — Indagou Gabriel, com falsa preocupação.Susana fitou o irmão nos olhos, com um olhar cortante.— Não precisa. Não quero interromper a diversão dele. — Respondeu com voz firme, mas cheia de ironia.Gabriel hesitou ao perceber a intensidade no olhar dela.— Então eu peço
Susana virou com antecedência para a última página do contrato de divórcio. Sem nem ao menos correr os olhos pelo documento, Nathan o pegou e assinou rapidamente.— Não vai nem verificar o conteúdo? — Indagou ela, o observando com curiosidade.— É só sobre os ajustes do tratamento, não é? — Respondeu ele com naturalidade. — Olha, se você acha que está certo, para mim também está. Confio totalmente em você. Quando ele saiu, Susana não conseguiu conter uma risada amarga. Que irônico. Até nos momentos finais, ele continuava fingindo que tudo era por ela.Com um suspiro, ela pegou o medicamento que repousava na mesa há quase uma semana e o engoliu. Sua mão deslizou instintivamente para o ventre enquanto um nó se formava em sua garganta.— Me perdoe, meu pequeno. — Ela murmurou para si mesma.Tantas oportunidades ela havia dado a Nathan, mas ele jamais aproveitou qualquer uma delas.Após arrumar suas malas com determinação, Susana se dirigiu sozinha ao hospital.— Quatro semanas de gestaçã
Nathan respondeu à mensagem de Susana: [Meu bem, estou correndo para chegar aí! Mal vejo a hora de descobrir qual é essa surpresa especial!]O céu já explodia em cores quando os fogos de artifício começaram seu espetáculo, e o silêncio do celular de Nathan o deixava cada vez mais inquieto. Nenhuma resposta de Susana.Com dedos nervosos, ele tentou discar o número da esposa, mas sentiu o toque suave de Ivana segurando seu pulso.— Você me prometeu esta noite, Nathan. — Sussurrou ela com voz melodiosa.— Não posso abandonar Susana desse jeito. — Contestou ele, franzindo a testa enquanto seus pensamentos gravitavam apenas em torno da esposa.A culpa o corroía por dentro. Seu quinto aniversário de casamento, e ele havia falhado em estar ao lado dela para contemplarem juntos os fogos que iluminariam aquela noite especial.— Mesmo saindo agora, você não chegará a tempo. — Argumentou Ivana, sua voz fluindo como mel. — Que diferença fará esperar mais um pouquinho?Com movimentos calculados, el