A surpresa deixada por Susana foi colocada no quarto do bebê.. Aquele aposento foi o primeiro que eles haviam preparado juntos durante a primeira gravidez dela. Após a perda do bebê, Susana jamais conseguiu retornar ali, embora ele ainda visitasse o local de vez em quando. Com o passar do tempo, até mesmo Nathan deixou de frequentar aquele espaço.Quando finalmente se aproximou da porta, Nathan sentiu um tremor tomar conta de suas mãos. A chave lhe escapou por duas vezes antes que conseguisse destrancar a entrada. Ao cruzar o umbral, seus olhos imediatamente capturaram o envelope pousado sobre a mesa. Na pressa, quase derrubou uma caixa de armazenamento ali colocada. Uma avalanche de exames médicos e centenas de seringas se esparramaram pelo chão. Aqueles objetos, que ele vinha guardando meticulosamente ao longo dos anos, representavam apenas uma fração de toda sua jornada. As palavras escritas na caixa há quatro anos, embora já desbotadas, continuavam gravadas em seu coração: [Nath
Solitária ao lado da fotografia, Susana aparecia na imagem, testemunhando toda a cena.Foi naquele instante que a derradeira fagulha de esperança de Nathan se extinguiu completamente.Susana havia presenciado tudo com seus próprios olhos. Que justificativa ele poderia oferecer agora?Nathan sempre acreditou que conseguiria ocultar a verdade, que mantinha tudo sob seu domínio, que jamais nutria sentimentos reais por Ivana. A realidade crua era que a escolhia apenas por sua semelhança com Susana.Num lampejo de lucidez, todas as questões que ele vinha ignorando emergiram com nitidez avassaladora.Teria Susana descoberto sobre ele e Ivana naquela noite do jantar na residência da família Fonseca? Ou sabia antes disso?E desde então... Quantas noites ela teria atravessado em silêncio, carregando sozinha aquela dor imensa?Ele a amava profundamente. Um amor como jamais sentia por qualquer outra pessoa. Havia jurado nunca fazê-la sofrer. Em que momento tudo desmoronou?Os olhos de Nathan ardi
— Não... Susana não pode ter feito isso comigo. — Nathan balbuciou, se recusando a aceitar aquela realidade. Susana sempre era tão doce e gentil... Como poderia agir com tamanha crueldade?Seu coração apertou ao relembrar o documento que ela lhe havia dado para assinar na manhã anterior. O que, diabos, ele havia assinado sem sequer ler?Com as mãos trêmulas, ele ligou para a médica de Susana.— O senhor não estava ciente? Sua esposa veio sozinha ontem pela manhã para realizar o aborto. — Revelou a médica.Os olhos de Nathan ficaram injetados de vermelho. Sua voz saiu entrecortada:— Ela... Ela disse alguma coisa?A médica hesitou por um momento antes de responder:— Antes do procedimento, ela apenas quis saber se o bebê sentiria dor. E parece também que a Sra. Fonseca não sabia que a perda anterior foi causada por um erro com os medicamentos.Nathan desabou pesadamente na cadeira, o gosto amargo do sangue invadindo sua boca.Ao seu lado, Paula estava pálida como papel.— Que tipo de m
Com passos cambaleantes, Nathan foi até ela e a envolveu num abraço desesperado.— Por favor, não vá embora... — Implorou ele, com uma voz embargada pela angústia.— Como eu poderia te deixar, Nathan? — Respondeu Ivana, suas palavras caindo sobre ele como água gelada. — Dona Paula me disse que você se trancou aqui e não saiu para nada. Fiquei tão preocupada e... Ah!Antes que pudesse completar a frase, as mãos de Nathan envolveram seu pescoço num movimento brusco. Os olhos dele, tomados por um ódio selvagem, pareciam querer destroçá-la.— Como tem coragem de aparecer na minha frente? — Ele vociferou. — Foi você quem contou tudo para Susana, não é mesmo?Paula irrompeu no quarto e tentou separá-los.— Solta ela já! Ela está esperando um filho seu!Mas Nathan manteve o aperto. — E se você a matar? Isso vai trazer Susana de volta? — O pânico se estampou no rosto de Paula.Aquelas palavras atravessaram Nathan como uma lâmina. Sua força se esvaiu por completo e seus dedos afrouxaram.Caída
Paula e Pietro se apaixonaram ainda na juventude e sempre foram vistos como o casal perfeito. No entanto, o vídeo que se desenrolava na tela mostrava Pietro, sempre tão devoto a ela, abraçado a uma jovem moça. A garota mal parecia ter vinte e poucos anos e, ao sorrir, trazia à memória a imagem de Paula em seus tempos de juventude.Com passos furiosos, Paula avançou pela sala e deu um tapa no rosto de Pietro. Lívida, com o rosto banhado em lágrimas, ela bradou: — Como você teve a audácia de me fazer isso? Responda!— Apenas segui seu exemplo, não foi? — Devolveu Pietro com impaciência, afastando Paula que tentava alcançá-lo novamente. — Ivana foi um presente que você mesma deu ao nosso filho. No final das contas, fui até mais respeitoso que você, pelo menos não gerei uma criança que te chame de mãe.E com essas palavras cortantes, ele se virou e partiu.Tomada por tremores, Paula desabou em pranto:— Estive ao lado do seu pai por quarenta e três anos! Somos casados desde sempre! O que
Ivana havia enviado uma fotografia da gravidez. Foi ela quem atraiu Susana até o jardim de rosas. Susana estava ciente dos encontros noturnos dele com Ivana. Conhecia cada detalhe do que aconteceu na residência da família Miranda naquela noite.Cada minúcia que Nathan ignorou nos últimos tempos agora retornava com dolorosa nitidez.Momentos antes de Susana bloquear Paula, esta a humilhou afirmando que ocupava um lugar que não merecia. E ele? Acreditou ingenuamente que Susana jamais veria aquela mensagem. Que seria melhor evitar confrontos. Pouco depois, ainda repreendeu Susana por ter bloqueado Paula.Nathan comprimiu o peito com força. Uma dor lancinante o consumia. Se estivesse em seu lugar, ele já teria perdido completamente a sanidade. Nem ousava imaginar o sofrimento que Susana havia enfrentado. E ela carregava um filho no ventre.Ele... O que foi que ele fez?Todo aquele sofrimento tinha sido causado por suas próprias mãos.O telefone tocou. Era Ivana chamando. Um ódio profundo
Um tremor percorreu o corpo de Nathan e, por reflexo, ele afrouxou o aperto em suas mãos. O sangue escorria de sua testa, cobrindo metade de seu rosto com uma máscara escarlate.O medo paralisou Ivana por completo. Sentindo as pernas cederem, tentou se arrastar para longe, em desespero. Foi em vão. Nathan a puxou de volta.Sem alternativas, Ivana jogou sua última carta.— Primeiro você acabou com os dois filhos de Susana, e agora quer destruir o terceiro também?As palavras atingiram Nathan como um golpe físico.Percebendo a oportunidade, Ivana parou de lutar e ergueu o olhar, o encarando com um sorriso vitorioso.— O que foi? — Provocou ela. — Agora que ela sumiu, resolveu dar valor? Infelizmente, tarde demais.O sangue continuava a escorrer pela testa dele, criando um contraste assustador com a palidez mortal de seu rosto. Seus olhos pareciam dois buracos vazios. Cambaleando, se dirigiu para fora da casa.Assim que ele cruzou a porta, Ivana correu para trancá-la.O celular vibrou em
O corpo de Gabriel estremeceu ao ouvir aquelas palavras.— Fiz isso pensando no bem dela. — Ele balbuciou, tentando se justificar. — Durante quatro anos, Susana se submeteu a tratamentos de fertilização sem sucesso, e sua saúde só piorava. Sua mãe exercia uma pressão insuportável sobre ela. Temia que não resistisse. Com a adoção do filho de Ivana, sua família deixaria ela em paz.A resposta de Nathan veio na forma de um soco violento no rosto dele, seguido de um chute que o lançou ao chão.Não houve misericórdia. Cada golpe, calculado e potente, transbordava fúria. Só interrompeu o ataque depois de um longo tempo.— Foi mesmo por ela ou por interesse próprio? — Indagou Nathan, friamente.— É claro que foi para...Uma risada carregada de desprezo cortou sua fala.— Financiei seu negócio e você se embriagou com o sabor do sucesso. — Acusou Nathan. — Me ajudou a esconder a verdade da Susana para ganhar minha aprovação e mais vantagens. Seja sincero, Gabriel... Acha mesmo que Susana concor