Capítulo 8
Susana virou com antecedência para a última página do contrato de divórcio. Sem nem ao menos correr os olhos pelo documento, Nathan o pegou e assinou rapidamente.

— Não vai nem verificar o conteúdo? — Indagou ela, o observando com curiosidade.

— É só sobre os ajustes do tratamento, não é? — Respondeu ele com naturalidade. — Olha, se você acha que está certo, para mim também está. Confio totalmente em você.

Quando ele saiu, Susana não conseguiu conter uma risada amarga. Que irônico. Até nos momentos finais, ele continuava fingindo que tudo era por ela.

Com um suspiro, ela pegou o medicamento que repousava na mesa há quase uma semana e o engoliu. Sua mão deslizou instintivamente para o ventre enquanto um nó se formava em sua garganta.

— Me perdoe, meu pequeno. — Ela murmurou para si mesma.

Tantas oportunidades ela havia dado a Nathan, mas ele jamais aproveitou qualquer uma delas.

Após arrumar suas malas com determinação, Susana se dirigiu sozinha ao hospital.

— Quatro semanas de gestação e o coraçãozinho já está batendo forte. — Explicou a médica enquanto analisava o monitor. — Tudo parece normal. Tem certeza de que deseja interromper?

— Absoluta. — Afirmou Susana, sem hesitar.

A médica suspirou pesarosa.

— Que pena... Da última vez, aquele incidente com o medicamento tradicional provocou a perda do bebê, e agora que finalmente conseguiu engravidar novamente, decide desistir... Saiba que depois pode ser ainda mais complicado.

Susana levantou o olhar abruptamente, sentindo a garganta ressecar.

— Como assim? — Susana perguntou com dificuldade. — Eu perdi meu bebê por causa do medicamento tradicional?

A médica franziu o cenho, visivelmente confusa.

— Sim... O Sr. Nathan nunca te contou isso?

Uma revelação devastadora. Ele sabia. Sempre soube.

Um zumbido tomou conta dos ouvidos de Susana. Durante sua primeira gravidez, Paula trazia ervas semanalmente, garantindo que ajudariam a manter o bebê. O medicamento tinha gosto amargo, quase impossível de engolir, mas Nathan estava sempre presente, com paciência infinita, se assegurando de que ela bebesse cada gota.

E depois, quando perdeu o bebê, a dor física e emocional a consumiu completamente. A culpa, o peso insuportável...

Cinco anos se passaram. Seis tratamentos. Cinco fracassos.

E Nathan acompanhou tudo de perto, testemunhando sua autodestruição enquanto ela carregava uma culpa que nunca foi sua.

Ele disse que não era culpa dela. Mas ele nunca disse uma vez que realmente não foi culpa dela.

— Srta. Susana, está tudo bem? — Questionou a médica, preocupada.

Ela aceitou o lenço oferecido, só então percebendo as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

— Quer refletir um pouco mais? Pode esperar até se sentir segura quanto à sua decisão...

— Não será necessário. — Ela respondeu, enxugando as lágrimas com firmeza. — Vamos prosseguir com o procedimento.

Enquanto a anestesia começava a fazer efeito, Susana fitou a médica com olhos angustiados.

— Ele vai sentir dor? — Ela perguntou num fio de voz.

A médica hesitou, sem encontrar palavras adequadas.

E então, Susana mergulhou na inconsciência.

Horas depois, ao despertar, precisou reunir todas as suas forças para se levantar e deixar o hospital.

No trajeto para a saída, ao passar pela ala de obstetrícia, seus passos involuntariamente pararam.

Nathan saía de um consultório acompanhando Ivana.

— Conseguiu sentir? — Dizia ela com ternura. — Ele está dando oi para você. Obrigado por nos proteger.

Ivana segurou a mão dele e a posicionou sobre sua barriga proeminente, com os olhos marejados.

— Nathan, fiquei tão assustada com aquela dor há pouco... — Confessou ela com voz trêmula.

— Boba. — Tranquilizou ele, lhe beijando a testa carinhosamente. — Jamais vou permitir que algo aconteça com você ou nosso bebê.

Ela se acomodou contra o peito dele e, naquele exato momento, seus olhares cruzaram com os de Susana.

Um sorriso vitorioso brotou nos lábios de Ivana.

— Fica comigo esta noite? — Ela pediu em voz propositalmente alta.

Nathan hesitou visivelmente.

— Você ainda terá muitas chances de ver os fogos com ela. Mas nosso filho está quase nascendo... E se eu sentir dor novamente? Estou com tanto medo, Nathan. — Implorou Ivana.

Um silêncio pesado pairou no ar. Então, ele cedeu.

— Tudo bem.

— Eu sabia que você não me deixaria sozinha. — Respondeu Ivana, triunfante.

Enquanto se afastavam pelo corredor, Susana apenas observou, com olhos gélidos como o inverno.

O escândalo dominou as redes sociais por mais de três semanas.

A cidade inteira aguardava o espetáculo de fogos que Nathan havia prometido a ela.

Ele sabia de tudo. E mesmo assim, a abandonou.

Com dedos firmes, Susana digitou uma última mensagem para Nathan: [Sua surpresa já está pronta.]

Em seguida, pediu um carro para levá-la ao aeroporto.

Antes de embarcar, desligou o celular e o entregou a um funcionário dos correios, anotando cuidadosamente o endereço da família Fonseca no pacote.

Às sete horas da noite.

O céu se iluminou com fogos de tonalidade azulada. O brilho se refletia nos rostos entusiasmados da multidão.

Sob aplausos e exclamações de admiração, Susana puxou sua mala com determinação e embarcou no avião, sem jamais olhar para trás.
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