Tarde da noite Susana finalmente se entregava ao sono e, como resultado natural, despertava quando a manhã já ia alta.Mal havia deixado o quarto naquela manhã quando Nathan irrompeu pela porta, trazendo consigo um sorriso esperançoso.— Olha só o que eu trouxe, meu bem. — Anunciou ele com entusiasmo, retirando da jaqueta um pacote como quem revela um tesouro precioso. — Passei na sua confeitaria preferida. Era sempre assim. Quando Nathan pisava na bola, logo aparecia com um bolo para Susana. Um padrão que se repetia como ritual de redenção.Na verdade, ela nunca tinha sido tão apaixonada assim por doces, mas aceitava as oferendas por amor.Mas hoje? Qual seria o motivo?"Será que está tentando aplacar a consciência depois de passar a noite nos braços de outra?", pensou ela, enquanto observava o pacote.— Ei, você viu a mensagem que te mandei antes de sair? — Questionou ele, inquieto. — Quando acordou?Nos últimos dias, algo em Susana havia mudado, e isso deixava Nathan visivelmente p
— Me perdoa, por favor. — Nathan a abraçou com força. — Pode me bater, me xingar, fazer o que quiser comigo, mas não chora assim. Falei merda, fui um completo imbecil. Não tenho desculpa para o que disse.As lágrimas escorriam pelo rosto de Susana enquanto ela lutava em vão para se desvencilhar dos braços dele. No fundo do seu coração, a verdade gritava: Nathan não tinha simplesmente falado sem pensar. Era tudo calculado para jogar a culpa nela.Uma maneira conveniente de justificar a traição dele.— Vou conversar com minha mãe, juro. — Insistia ele, enxugando as lágrimas dela com o polegar. — Quando ela aprender a te respeitar como merece no futuro, você pode desbloquear ela. O que acha?Um sorriso triste brotou nos lábios de Susana, os olhos ainda marejados."Nathan, entre nós dois, não existe mais futuro.", pensou.Nos dois dias seguintes, Nathan não colocou o pé para fora de casa.Mesmo com Susana o tratando como se fosse invisível, ele se desdobrava na cozinha preparando os pratos
— Nathan foi esquentar seu leite. Disse que você não deve tomar nada gelado. — Comentou Gabriel, com um sorriso casual. — Olha, não sou eu quem está falando, mas onde mais você encontraria um homem tão atencioso quanto ele? Preciso ainda buscar mais algumas bebidas, então vou aproveitar para apressá-lo um pouco.Um ardor intenso tomou conta dos olhos de Susana. Suas unhas, involuntariamente, se cravaram na palma da mão com força.Quantas vezes havia a enganado para conseguir mentir daquela forma tão natural, sem ao menos piscar?A sensação de sufocamento era tanta que ela não conseguia permanecer ali nem mais um segundo sequer.— Estou exausta. — Murmurou ela, se levantando. — Vou para casa.— Quer que Nathan te leve? — Indagou Gabriel, com falsa preocupação.Susana fitou o irmão nos olhos, com um olhar cortante.— Não precisa. Não quero interromper a diversão dele. — Respondeu com voz firme, mas cheia de ironia.Gabriel hesitou ao perceber a intensidade no olhar dela.— Então eu peço
Susana virou com antecedência para a última página do contrato de divórcio. Sem nem ao menos correr os olhos pelo documento, Nathan o pegou e assinou rapidamente.— Não vai nem verificar o conteúdo? — Indagou ela, o observando com curiosidade.— É só sobre os ajustes do tratamento, não é? — Respondeu ele com naturalidade. — Olha, se você acha que está certo, para mim também está. Confio totalmente em você. Quando ele saiu, Susana não conseguiu conter uma risada amarga. Que irônico. Até nos momentos finais, ele continuava fingindo que tudo era por ela.Com um suspiro, ela pegou o medicamento que repousava na mesa há quase uma semana e o engoliu. Sua mão deslizou instintivamente para o ventre enquanto um nó se formava em sua garganta.— Me perdoe, meu pequeno. — Ela murmurou para si mesma.Tantas oportunidades ela havia dado a Nathan, mas ele jamais aproveitou qualquer uma delas.Após arrumar suas malas com determinação, Susana se dirigiu sozinha ao hospital.— Quatro semanas de gestaçã
Nathan respondeu à mensagem de Susana: [Meu bem, estou correndo para chegar aí! Mal vejo a hora de descobrir qual é essa surpresa especial!]O céu já explodia em cores quando os fogos de artifício começaram seu espetáculo, e o silêncio do celular de Nathan o deixava cada vez mais inquieto. Nenhuma resposta de Susana.Com dedos nervosos, ele tentou discar o número da esposa, mas sentiu o toque suave de Ivana segurando seu pulso.— Você me prometeu esta noite, Nathan. — Sussurrou ela com voz melodiosa.— Não posso abandonar Susana desse jeito. — Contestou ele, franzindo a testa enquanto seus pensamentos gravitavam apenas em torno da esposa.A culpa o corroía por dentro. Seu quinto aniversário de casamento, e ele havia falhado em estar ao lado dela para contemplarem juntos os fogos que iluminariam aquela noite especial.— Mesmo saindo agora, você não chegará a tempo. — Argumentou Ivana, sua voz fluindo como mel. — Que diferença fará esperar mais um pouquinho?Com movimentos calculados, el
A surpresa deixada por Susana foi colocada no quarto do bebê.. Aquele aposento foi o primeiro que eles haviam preparado juntos durante a primeira gravidez dela. Após a perda do bebê, Susana jamais conseguiu retornar ali, embora ele ainda visitasse o local de vez em quando. Com o passar do tempo, até mesmo Nathan deixou de frequentar aquele espaço.Quando finalmente se aproximou da porta, Nathan sentiu um tremor tomar conta de suas mãos. A chave lhe escapou por duas vezes antes que conseguisse destrancar a entrada. Ao cruzar o umbral, seus olhos imediatamente capturaram o envelope pousado sobre a mesa. Na pressa, quase derrubou uma caixa de armazenamento ali colocada. Uma avalanche de exames médicos e centenas de seringas se esparramaram pelo chão. Aqueles objetos, que ele vinha guardando meticulosamente ao longo dos anos, representavam apenas uma fração de toda sua jornada. As palavras escritas na caixa há quatro anos, embora já desbotadas, continuavam gravadas em seu coração: [Nath
Solitária ao lado da fotografia, Susana aparecia na imagem, testemunhando toda a cena.Foi naquele instante que a derradeira fagulha de esperança de Nathan se extinguiu completamente.Susana havia presenciado tudo com seus próprios olhos. Que justificativa ele poderia oferecer agora?Nathan sempre acreditou que conseguiria ocultar a verdade, que mantinha tudo sob seu domínio, que jamais nutria sentimentos reais por Ivana. A realidade crua era que a escolhia apenas por sua semelhança com Susana.Num lampejo de lucidez, todas as questões que ele vinha ignorando emergiram com nitidez avassaladora.Teria Susana descoberto sobre ele e Ivana naquela noite do jantar na residência da família Fonseca? Ou sabia antes disso?E desde então... Quantas noites ela teria atravessado em silêncio, carregando sozinha aquela dor imensa?Ele a amava profundamente. Um amor como jamais sentia por qualquer outra pessoa. Havia jurado nunca fazê-la sofrer. Em que momento tudo desmoronou?Os olhos de Nathan ardi
— Não... Susana não pode ter feito isso comigo. — Nathan balbuciou, se recusando a aceitar aquela realidade. Susana sempre era tão doce e gentil... Como poderia agir com tamanha crueldade?Seu coração apertou ao relembrar o documento que ela lhe havia dado para assinar na manhã anterior. O que, diabos, ele havia assinado sem sequer ler?Com as mãos trêmulas, ele ligou para a médica de Susana.— O senhor não estava ciente? Sua esposa veio sozinha ontem pela manhã para realizar o aborto. — Revelou a médica.Os olhos de Nathan ficaram injetados de vermelho. Sua voz saiu entrecortada:— Ela... Ela disse alguma coisa?A médica hesitou por um momento antes de responder:— Antes do procedimento, ela apenas quis saber se o bebê sentiria dor. E parece também que a Sra. Fonseca não sabia que a perda anterior foi causada por um erro com os medicamentos.Nathan desabou pesadamente na cadeira, o gosto amargo do sangue invadindo sua boca.Ao seu lado, Paula estava pálida como papel.— Que tipo de m