Capítulo 4
O sistema do hospital enviava alertas diretamente ao celular de Nathan, já que o cartão médico de Susana estava vinculado ao número dele. Foi assim que ele ficou sabendo da consulta e dos medicamentos retirados por ela.

— Pelo amor de Deus, diz alguma coisa! Fiquei feito um louco te procurando! — Exclamou Nathan, visivelmente agitado.

Com um gesto cansado, Susana estendeu a sacola com os remédios na direção dele.

— O médico recomendou um tratamento novo. — Murmurou ela, sem o encarar. — Disse que pode melhorar as chances na próxima tentativa de fertilização.

— O que importa é você estar bem. Quase morri de preocupação. — Respondeu ele, passando a mão pelos cabelos.

Nathan nem sequer olhou para o conteúdo da sacola, a jogando displicentemente sobre a mesa de centro como se fosse qualquer coisa banal.

Uma risada seca escapou dos lábios de Susana.

Antes, qualquer medicamento que entrasse em casa virava motivo de preocupação. Ele fazia questão de ler cada bula minuciosamente, sempre atento aos possíveis efeitos colaterais. Repetia sem parar que, mesmo não podendo sentir a dor dela, precisava ter consciência de cada sacrifício que ela fazia por ele.

E agora? Ela lhe entregava na mão um remédio para cuidados pós-aborto, e ele nem se dignava a verificar.

O aroma de perfume desconhecido misturado ao cheiro adocicado de rosas no ar revirou seu estômago. Uma pontada dolorosa começou a irradiar pelo baixo ventre, a fazendo apertar a região com a mão.

— Será que você pegou algum resfriado por causa do ciclo? — Perguntou Nathan, se inclinando para aquecer as mãos dela entre as suas.

Com um movimento brusco, Susana afastou o toque.

— Não aguento esse cheiro em você. — Declarou, franzindo o nariz em desagrado.

Nathan cheirou a própria camisa e abriu um sorriso despreocupado.

— Deve ser das rosas, né? — Ele se justificou. — Estou tão focado no nosso aniversário de casamento que fui ao jardim de rosas várias vezes hoje, com medo de não organizar tudo direito. Vou tomar um banho já.

Susana engoliu em seco. Mais cedo, ele havia dito que estava preso no escritório o dia todo.

Ela nem se deu ao trabalho de confrontá-lo com a mentira.

— Tudo bem. — Ela respondeu secamente.

Assim que ele desapareceu no corredor, Susana pegou o celular. A realidade amarga a atingiu como um soco. Nos últimos cinco anos, sua vida social tinha se resumido ao círculo de amigos de Nathan. Amizades próprias? Nenhuma.

Se desaparecesse, quase ninguém sentiria sua falta.

A única exceção era Gabriel Miranda, seu irmão e último elo familiar que lhe restava.

Ao encontrar o contato dele na agenda, porém, hesitou com o dedo sobre a tela. Gabriel sempre demonstrou grande admiração por Nathan. Contar a verdade agora só complicaria as coisas.

Melhor esperar pelo momento certo.

Naquela noite, Nathan se deitou ao seu lado e começou a massagear delicadamente sua barriga.

— Passei todos os compromissos dos próximos dias para frente, viu? — Sussurrou próximo ao seu ouvido. — Sei que o início do ciclo sempre te derruba. Não quero que você fique sozinha nessa.

Susana respondeu apenas com um murmúrio desinteressado. Já não acreditava mais em promessas.

Foi despertada na madrugada pelo som insistente de notificações no celular dele.

— Desculpa, te acordei? — Murmurou Nathan, se ajeitando na cama. — Ainda tenho uns pepinos para resolver. Vou colocar no silencioso, volta a dormir, vai.

De olhos fechados, Susana permaneceu em silêncio. Mas o sono havia evaporado completamente.

Nathan mantinha uma mão pousada sobre seu ventre, num gesto aparentemente protetor. Ao mesmo tempo, com a outra mão, digitava mensagens.

O calor daqueles dedos contra sua pele, os risinhos contidos, cada suspiro abafado... Era como se cada um desses sons fosse uma pequena lâmina cortando sua alma em pedaços cada vez menores.

— Amor? — Chamou ele baixinho, testando.

Susana não se moveu.

Cautelosamente, Nathan retirou a mão e saiu da cama. Seus passos eram silenciosos pelo quarto, mas a pressa com que fechou a porta denunciava sua ansiedade.

— Que tipo de foto é essa que você me manda, hein? — Sua voz soou animada do outro lado da porta. — Se prepara que amanhã você não levanta da cama.

O celular de Susana vibrou várias vezes em sequência. Era Ivana.

[Susana, será que você já ficou velha e sem graça? Nathan estava louco hoje. Passamos a tarde inteira juntos e ele ainda queria mais. Disse que esta noite vamos experimentar uma posição nova. Não é uma graça?]

[Tenho dó de você, de verdade. Eu engravidei e o Nathan não me larga um segundo. Você que tanto quer um filho e precisa de uma clínica fria e impessoal. E mesmo assim não consegue.]

Embora o quarto estivesse aquecido, um frio cortante percorreu o corpo de Susana, se instalando em seus ossos.

Com movimentos mecânicos, ela se levantou, pegou a bolsa térmica e retornou para a cama.

Por cinco longos anos, ela acreditou ter conhecido Nathan tarde demais. Agora, faltavam apenas cinco dias para ir embora. E cada segundo parecia uma eternidade.
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