Capítulo 3
A luz do celular se extinguiu sozinha.

Com gestos suaves, Nathan envolveu Susana em seus braços, deslizando as mãos pelas suas costas num carinho protetor.

— Acalma esse coração, meu amor. — Sussurrou ele com voz embargada. — Não chora assim, cada lágrima sua é uma facada em mim. A culpa é toda minha. Jamais devia ter te exposto a isso. Minha mãe é problema meu, não seu. Se quiser descontar em mim, me xingar, até me bater, tudo bem... Só quero ver você melhor.

Durante todo o retorno, Nathan não parou de tentar confortá-la com palavras doces.

Mergulhada em seu próprio silêncio, Susana mantinha os olhos fechados, fingindo dormir enquanto sua mente fervilhava.

De tempos em tempos, notificações pipocavam no celular dele, quebrando o silêncio pesado que dominava o interior do carro. Na metade do caminho, Nathan já se dividia entre a direção e as mensagens urgentes que respondia.

Quando finalmente chegaram em casa, ele afagou os cabelos dela, hesitante.

— Olha só, meu amor. — Ele murmurou, claramente constrangido. — Surgiu uma emergência na empresa que não pode esperar. Fica aqui descansando, prometo voltar cedo, tá bom?

Sem dizer palavra, Susana desceu do veículo.

Mal o carro de Nathan sumiu na esquina, ela aceitou o pedido de amizade de Ivana e abriu seu perfil nas redes sociais.

Destacadas no topo da página, duas fotografias chamaram sua atenção imediatamente.

A primeira mostrava Nathan de costas, cuidando com ternura de um canteiro florido. Na segunda, um verdadeiro oceano de rosas azuis se estendia até o horizonte.

Abaixo das imagens, uma legenda cortante: [Por todo seu esforço em cultivar minhas adoradas rosas azuis, te perdoo desta vez. Estou aqui, esperando você vir me mimar como sempre.]

O coração de Susana se contraiu dolorosamente em seu peito.

Então era Ivana quem adorava azul. As rosas, afinal, nunca haviam sido para ela.

Com determinação nascida da dor, Susana chamou um táxi e se dirigiu diretamente à propriedade.

Ao chegar, avistou o carro esportivo preto de Nathan estacionado.

Não muito distante, diante do vasto campo de rosas azuis, ele permanecia de costas, alheio à sua presença silenciosa.

— Se a Susana pudesse ter filhos, eu jamais teria voltado para você, entende isso? — Disparou ele com frieza cortante. — Ela é meu limite, minha linha que não cruzo. E você ainda tem a audácia de aparecer na frente dela fazendo cenas?

Os olhos de Ivana brilharam, marejados de lágrimas calculadas.

— Então por que continua me procurando? — Desafiou ela com voz embargada. — Me deixa em paz de uma vez!

— Para com esse choro. — Suspirou Nathan, seu tom agora mais brando, quase rendido. — Se você poder ser boa, garanto que cuido de você pelo resto da vida.

Um sorriso vitorioso nasceu entre as lágrimas de Ivana enquanto ela se jogava nos braços dele.

— Posso ser ainda mais boazinha do que você imagina, se é isso que deseja. — Ronronou sedutoramente.

— Larguei tudo e tirei a tarde inteira só para você. O que acha que vim buscar aqui? — Ele respondeu, a voz rouca de desejo antes de erguê-la no colo com urgência mal disfarçada, a carregando para dentro da mansão.

Antes de sumir pela porta, Ivana olhou para trás, lançando um sorriso provocador diretamente para Susana. Ela havia notado sua presença há muito tempo.

Através das janelas amplas, as silhuetas dos dois se entrelaçavam em uma dança íntima.

Imóvel à beira da estrada, Susana observava a cena, sentindo o frio penetrar até seus ossos, muito além do que qualquer inverno poderia causar.

Era como se ganchos invisíveis rasgassem seu coração, abrindo feridas que nenhum tempo poderia cicatrizar.

— Também veio fotografar o momento? — Comentou uma mulher próxima, ajustando sua câmera entre risos. — O Sr. Nathan e a Sra. Fonseca continuam apaixonados como adolescentes depois de tantos anos juntos. Dá até inveja, né?

— A Sra. Fonseca deve ter salvo o universo inteiro em outra vida. — Brincou outra, suspirando. — Qual mulher não sonha com um marido dedicado como o Sr. Nathan?

Susana deixou escapar um riso amargo, enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.

— Pois é. — Ela murmurou com ironia dolorida. — Mas ela não quer mais esse sonho.

O presente que Nathan lhe havia dado, uma propriedade supostamente só para ela, se revelava agora como mero cenário para suas traições contínuas.

A mulher ao lado examinou melhor o rosto de Susana e ficou paralisada de espanto.

Era compreensível o engano que cometia.

Ivana era praticamente idêntica à Susana de quando conhecia Nathan, aos 24 anos.

— Homens são todos iguais, no final das contas... — Murmurou a mulher, desanimada. — Pensando bem, o Sr. Nathan nem é dos piores que existem por aí. Talvez ele só queira muito um filho. Até a mulher que escolhe é parecida com você.

— Por que não finge que não viu nada? Sua vida continuaria como antes.

— Não. — Respondeu Susana, sua voz baixa mas carregada de uma nova certeza. — Isso acabou.

O fato de Nathan escolher uma mulher tão parecida com ela não a fazia se sentir especial. Apenas tornava tudo infinitamente mais repulsivo.

Deixando para trás o campo de rosas azuis, Susana se dirigiu diretamente ao hospital e retirou os medicamentos pré-operatórios necessários para o procedimento de aborto.

De volta ao lar que agora parecia estranho, deixou a caixa de remédios sobre a mesa de centro e ficou contemplando por um longo tempo, se sentindo afundar num oceano de amargura.

Subitamente, a porta se escancarou com violência.

Nathan irrompeu na sala, ofegante, com a camisa desabotoada e mal ajeitada, esbarrando em uma cadeira e quase perdendo o equilíbrio.

Seu olhar percorreu Susana de cima a baixo, o rosto pálido como cera.

— Meu amor. — Balbuciou ele. — Por que você foi ao hospital?
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