Meses antes
- Parabéns pra você... – Sorrio ainda de olhos fechados, despertando aos poucos – nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida – Abro meus olhos, mantendo o sorriso, ao ver minha então melhor amiga, Bianca, diante da cama de casal de seu quarto, segurando um bolinho de chocolate com uma única vela acesa – Tem que fazer um pedido – diz se inclinando na minha direção, quando sento.
Encaro a vela diante de mim sem saber o quê pedir. Tinha tudo que uma garota da minha idade gostaria de ter. Não havia nada que não tivesse ainda, a não ser...
Alguém para amar.
Beijar a maioria das bocas de uma balada, havia deixado de me satisfazer, acabando por deixar um vazio dentro de mim.
Assopro a pequena vela ciente do meu pedido, não me importando com a classe social do indivíduo ou a cor de sua pele. Sendo recíproco, era o quê importava.
- Achei que não fosse levantar tão cedo – comento erguendo os olhos para Bianca. Uma loira de 1,60 de altura, corpo magro definido e que adorava uma praia para se bronzear.
Um contraste bem diferente de mim, composto por um corpo mais avantajado e cheio de curvas. Isto graças à minha descendência africana.
- Não podia perder a chance de acordar você – Ela caminha até a penteadeira rosa do outro lado do quarto, penteando os cabelos longos – Não se preocupa. Não tem açúcar – diz me olhando pelo espelho, ao notar que encarava o bolinho em minha mão.
Desde que me entendo por gente precisei aprender a lidar com aquela doença, isto depois de quase ter morrido duas vezes, por esquecer completamente de tomar a insulina.
Deixo o bolinho de lado, pegando minha bolsa num canto do quarto. Tirando de lá uma pequena bolsa térmica com insulina.
Com uma seringa, tiro um pouco do líquido do recipiente de vidro, fechando por último a bolsa térmica.
- Não sei como consegue fazer isso – Bianca comenta – Nem ferrando que iria conseguir. Tenho pavor de agulha.
No começo, também tinha. Era um escândalo para conseguir tomar a dose de insulina antes do café da manhã, porém com o tempo fui me acostumando e hoje quase não sinto mais a “picadinha".
Depois de feito isto, posso realmente começar meu dia, primeiramente me preparando para um banho, para só então, poder tomar meu café da manhã.
Saio do quarto caminhando em direção da mesa de oito cadeiras, dividindo espaço com a sala de estar.
A mãe da Bianca, Cláudia, era viciada em decoração. Toda vez que mudava a estação, ela fazia questão de mudar objetos e tudo que vinhesse no pacote.
Ela conseguia levar mais do que a sério, seu trabalho de decoradora de ambientes.
- Marcela – diz quando me aproximo, parando uma xícara perto da boca, cujos lábios estavam pintados com um batom roxo – Não sabia que estava aqui. Quer dizer, nunca sei quando você está – diz olhando para Bianca do seu lado.
- A gente foi numa balada ontem – diz Bianca.
- Saímos de lá tarde e não quis ir para casa – completo, sentando na frente de Bianca.
- Quase todos os dias vocês estão em uma festa – Claudia comenta – Não tinham que estar estudando para às provas?
Preciso me conter para não revirar os olhos.
Estávamos no segundo ano da faculdade de Medicina. No primeiro, imaginei que já aprenderia em como salvar vidas de imediato, mas não foi bem assim. Éram tantas leis, decretos e afins, que me estressava e desmotivava.
No segundo ano, as coisas ainda éram meio que parecidas, só que de vez em quando, nos ensinavam alho de útil.
Havia escolhido Medicina por acaso, numa tentativa de fugir da pressão que meus pais estavam colocando sobre mim. E consegui, só que aumentei ainda mais a pressão que eles colocam sobre mim.
- Não têm provas estes dias – Bianca dá de ombros.
- Até que poderiam inventar uma de última hora. Assim, a conta do cartão de crédito, chegaria um pouco menor este mês – Bianca mastiga devagar, mantendo os olhos fixos na mãe.
Há pouco mais de quatro meses, seus pais haviam decidido se separar bruscamente, algo que ate os dias atuais, ainda não consegui entender.
O pai da Bianca, Mauro, sempre se mostrou um homem bom. Não era muito de conversar, considerava ele mais... observador. Diferente de Cláudia, que onde chegava gostava de ser o centro das atenções, sempre ressaltando o trabalho magnífico que fazia.
Mas atrás disso tudo, tinha certeza de que havia algum segredo. E havia sido este segredo, que fez Mauro se separar e pagar uma pensão gorda para Bianca, que tinha o prazer de gastar cada centavo em baladas, extravagando a raiva que sentia do pai.
Cláudia respira fundo, quando um clima pesado se instala, quebrando o silêncio.
- Vão sair hoje? – Bianca e eu nos entreolhamos. Ainda não havíamos pensado em onde ir, apesar de ser meu aniversário.
Bianca solta o ar dos pulmões.
- Vamos.
Cláudia assenti em contra gosto.
- Tomem cuidado.
- A gente sobre toma – Ergo uma sobrancelha, encarando Bianca. A gente? Não era eu que sempre dava PT e precisava ser praticamente levada para fora da balada. Sempre chorosa e querendo ligar para o ex, que nem atendia as ligações que fazia.
Tomo meu café da manhã, escolhendo a dedo tudo que comeria, graças à mesa farta com quase todo tipo de fruta. Precisando evitar sempre, o consumo exagerado de açúcar nos alimentos.
Minutos mais tarde, deito de barriga para cima na cama redonda e acolchoada de Bianca, encarando o teto do quarto.
- Já sabe aonde a gente vai? – Bianca pergunta, deitando do meu lado.
- Pensei que soubesse – Viro a cabeça para olhar para ela.
- E eu pensei que tivesse uma ideia de onde queria ir no seu aniversário – Ela ri baixo.
A verdade era que não havia parado para pensar nisso. Minha vida era uma festa, sempre estava em uma. Então, para o dia do meu aniversário, não pensei em nada extravagante.
Bianca começa a mexer no seu lugar, um Iphone, o último lançamento. Volto a encarar o teto do quarto, me permitindo não pensar em nada por alguns segundos.
- Já sei aonde a gente vai – diz de repente, virando o celular na minha direção. Tem uma fotografia com alguns paredões e um amontoado de pessoas – Baile funk.
- Baile funk? – repito. Até aquele momento de nossas vidas, ainda não tínhamos ido em um baile funk. Já havia ouvido falar, sobre o fluxo constante de drogas e as músicas com palavras pesadas. Mas nunca havia ido, não tinha um motivo ainda aparente – Tem certeza? A gente pode ir a outro lugar. Deve ter alguma casa de show que irá ter uma banda ao vivo – Não me soava uma boa ideia, ir para uma favela, sem nunca termos ido.
- Ah, qual é, Marcela. Não veio problemas em a gente ir. A gente nunca foi – Ela tenta argumentar.
- É. A gente nunca foi e não sabemos bem como chegar lá.
- Pra quê existe GPS? – Como sempre, Bianca estava muito determinada em ir, levando para as cucuias minha sensatez – É bora ou vamos? – Ela sorri, mostrando os dentes brancos enfileirados.
Dentro do carro, retocando a maquiagem, não acreditava que estava indo para o Complexo do Alemão. Bianca alternada sua atenção entre dirigir e tomar uma Heineken. Já estava na segunda, desde que havíamos saído de sua casa, enquanto eu, estava enrolando ainda com uma.- O caminho é este? – pergunto minutos mais tarde. Ela dá uma rápida olhada no celular ao lado.- Segundo o GPS, sim.- Acho que estamos andando em círculos – Bianca estava a uma hora dirigindo e nunca chegávamos.- O GPS é conhecido em dar os caminhos mais longos. Nunca os mais rápidos. Odiava GPS. E odiava ainda mais, quando
Pressiono meu corpo contra o dele, sentindo sua ereção roçar em minha barriga. Mesmo de salto, não conseguia ficar na altura dele e estava praticamente me segurando em seu pescoço, me contendo para não passar minhas penas em sua cintura e transar ali mesmo. Tinha tudo do meu lado: estava de vestido e era só colocar a calcinha de lado. Gritos me fazem me afastar do cara que beijava e interromper aquele beijo fabuloso, para olhar para duas mulheres que se atracavam. Franzo o cenho, reconhecendo uma.- Bianca! – grito me afastando do cara, indo em direção da roda que se formava ao redor dela. Ambas se revezavam
Estou com uma puta dor de cabeça e dor no estômago na manhã seguinte. Acabando por demorar mais do que deveria na cama para levantar, tendo que tirar mais alguns minutos para a aplicação da minha insulina.Era segunda-feira, o que significava que tinha aula na faculdade praticamente o dia inteiro.Praticamente me arrastando, tomo um banho, aproveitando o embalo para lavar meu cabelo que, só cheirava a cigarro e odores diferenciados.De banho tomado, não perco tempo em escolher roupa, visto a que mais iria me deixar mais confortável naquele dia de merda e saio do quarto.O cheiro de café é convidativo a medida que me ap
Mal termino de tomar meu café e preciso sair às pressas, pois já estava quase atrasada para a faculdade.Saio do elevador, andando entre os carros no estacionamento, quando meu celular começa a tocar e vejo ser o cara da outra noite.- Pensei que não iria me atender – diz ele, assim que atendo, destrancando meu HB20.- Por quê ligou? – Não tinha tempo para enrolação e as vezes precisava ser direta.- Queria ouvir sua voz.- Está ouvindo – Coloco o celular no viva-voz, em seguida o cinto de segurança e ligo o motor do carro.Ele ri baixo.- Gostei daquele beijo. Você beija bem pra cacete.Queria dizer o mesmo,
Como imaginei, Gael morava no topo do morro, ao lado de um matagal extenso.Havia pelo menos uma dúzia de carros nos dois lados da rua, fora ás motos; Precisando Bianca, deixar o carro estacionado na outra rua.Caminhamos lado a lado, conversando por olhar. Com certeza, assim como eu, ela não esperava que havia tantas pessoas.A música alta em um funk de Mc Drika, balançava os vidros da janela e tremia o portão de ferro.Algumas mulheres estavam num pequeno grupo na garagem, bebendo e dançando, enquanto conversavam. Fixando seus olhares em nós ao passar. 
Como uma pessoaansiosa, esperei que Gael me mandasse uma mensagem no Instagram à noite, mas ele não mandou.Passei mais tempo do que passava no aplicativo, olhando todos os storys que estavam disponíveis e navegando pela aba explorar, me entretendo com vídeos repetitivos e fofocas de famosos.Até meia-noite, Gael não entrou no Instagram, me fazendo acreditar que tudo não passou de um rolê aleatório com uma pessoa que ele nem conhecia.Fuço praticamente o Instagram dele, olhando cada mina que ele seguia. Sempre com alguma coisa a mais no corpo, sendo peito ou bunda, ou mesmo os dois.
- Então é aqui que faz faculdade?Estávamos no estacionamento da faculdade, dentro do meu carro.- Como me achou? - Ele dá um meio sorriso.- Aquela sua amiga lá. Bianca - Claro, ela queria ver o circo pegar fogo. Uma confusão daquelas talvez - Se ela não me dissesse onde você estava. Encontraria você de qualquer jeito.Ergo as sobrancelhas.- Tudo isto por causa de um áudio? - Fixo meu olhar num ponto dentro do carro.- Você tinha me bloqueado e achei que nunca mais iria querer falar comigo - Seus olhos vagam pelo meu rosto - Só por quê não sou muito bom com as palavras - Ergo meus olhos, encontrando os seus - Não podia terminar o sentimento tão bo
Acabou que bebemos toda a cerveja que comprei, enquanto conversávamos sobre assuntos aleatórios sobre o efeito do álcool.Passamos o restante do dia deitados sobre a areia, na maioria do tempo olhando o céu azul e na outra parte rindo de algum comentário.Estava quase anoitecendo, quando Gael levanta, olhando ao redor.- Temos que ir - diz me olhando em seguida.Suspiro.- Tenho mesmo? - pergunto com a língua enrolada.- Não tem como ficar aqui no escuro.Sento pegando minha roupa, recebendo a ajuda dele ao vestir a calça jeans.Com ás mãos no zíper da calça e os o