Chapter 4

Estou com uma p**a dor de cabeça e dor no estômago na manhã seguinte. Acabando por demorar mais do que deveria na cama para levantar, tendo que tirar mais alguns minutos para a aplicação da minha insulina.

       Era segunda-feira, o que significava que tinha aula na faculdade praticamente o dia inteiro.

        Praticamente me arrastando, tomo um banho, aproveitando o embalo para lavar meu cabelo que, só cheirava a cigarro e odores diferenciados.

       De banho tomado, não perco tempo em escolher roupa, visto a que mais iria me deixar mais confortável naquele dia de merda e saio do quarto.

       O cheiro de café é convidativo a medida que me aproximo da mesa do café da manhã, sob o olhar dos meus pais. Gisele e Ricardo.

- Ainda usamos o bom dia, Marcela – diz minha mãe, erguendo o olhar do prato.

- Bom dia, mãe – Sento com um suspiro – Bom dia, pai.

- Pelo menos lembrou que tem casa – diz meu pai, os olhos verdes fixos em mim.

         Os olhos separadamente e disfarçadamente.

         Minha era negra, assim como eu, mas deixava claro de que não queria ser. Digo isto, por sempre tratar nossas raízes com um certo desprezo, principalmente pelas religiões que viam de nós.

         Ela era aquele tipo de negro, que odiava outro negro e que endeusava o branco. Tanto, que se casou com um homem branco, loiro e de uma família tradicional.

         Não preciso nem dizer, que a família do meu pai, não gostou dessa “ideia” e que até hoje não aceita ela.

         Por quê? (Riso forçado)

          Eles são racistas. Bem racistas. Gosto de denominar eles como: a família de Hitler perdida. Para terem uma ideia, não nos vemos sempre e quando está fatalidade acontece, só sabem dizer, como indireta, como os negros sujaram as linhagens e como diversificou algo que não deveriam.

         Todos mantém uma religião específica a bastante tempo, todas as demais, para eles não são suficientes e que levam ao diabo.

          Apesar disso tudo, de ouvir “apelido" maldosos e sofrer discriminação descaradamente, minha mãe ainda se manteve firme e casou sem a bênção da minha avó, mãe do meu pai.

         Deve estar se perguntando, aonde está a família da minha mãe e como aceitaram essa situação.

       Bem, eles foram forçados a aceitar rola filha. Minha mãe acreditava que um casamento daquele, não poderia passar, e mesmo vindo de uma família simples, porém humilde, não nos víamos sempre e ela fazia questão disso. Não queria que a vissem com ela e fazia de tudo para mostrar que viera de uma família bem sucedida, rica.

       E novamente, mais uma vez, não me sentia parte daquela família. Ali todo mundo queria ser algo que não era, mesmo meu pai, querendo forçar um pai amoroso que não desvia na minha garganta.

        Samuel era o único que vivia em uma ilha. Meu irmão, que não fazia muito bem que havia se tornado delegado. O orgulho da família Matazarato.

       Não fazia questão de ser o orgulho deles, ainda bem.

- Ontem foi seu aniversário – diz minha mãe – E achávamos que passaria o com a gente.

        Meu pai a fuzila com o olhar. Era o jeito dele dizer, que estava me dando muita corda.

- Estava na casa da Bianca.

        Ele força um riso.

- Já estou vendo a hora de Cláudia nos reclamar que passa mais tempo na casa dela, do que na sua própria casa – diz sem me olhar, voltando a comer.

       Na maioria dos dias da semana, estava na casa de Bianca. Isto não era nenhuma novidade, muito menos para Cláudia.

       Viver na casa da Bianca, era mais fácil do que viver na minha própria, mesmo cercada do bom e do melhor.

       Minha mãe suspira, como sempre, incapaz de contrariar meu pai em qualquer coisa que ele diga.

- Comprei uma coisa para você – diz em seguida – Está no meu quarto – Ela se levanta é entendo que tenho que a seguir, deixando para trás meu pai carrancudo.

- Você deveria passar mais tempo em casa – comenta em seu tom baixo costumeiro – Pelo menos assim, seu pai iria parar de pagar no seu pé.

       Quando tinha menos de dezoito anos, até entendia o por quê dele ser tão controlador. Mas agora com 19, não entendo por quê ainda pega tanto em meu pé, quando não dou nenhum motivo específico para ele.

       Cumpria minhas obrigações, que se resumia em me dar bem na faculdade. Quando era finais de semana ou mesmo no meio da semana, sentia que precisava me dar uma folga, de respirar.

      Minha mãe não ligava, as vezes, quando passava “muito” tempo dentro de casa, até me incentivava a sair. Mas já meu pai...ele queria uma santa dentro de casa e até acreditava veemente ( ainda bem) que era virgem.

       Mesmo já tendo entrado num assunto sobre isto, pleno jantar, como uma forma de saber se ainda era virgem ou não.

       Minha mãe entra em seu quarto, duas vezes maior do que o meu, pegando no móvel ao lado da cama, uma caixa de veludo.

- Veja se gosta. Se não gostar, levo você até a loja e escolhe outro – diz me entregando a caixa, que abro no mesmo instante, erguendo as sobrancelhas ao encontrar uma medalhinha de ouro de Nossa Senhora das Graças – Ela concede milagres – Olho para minha mãe, tendo certeza naquele momento que aquela medalha era para ajudar a eu entrar na linha.

- Obrigada, mãe.

- Gostou? – Toco com as pontas dos dedos a medalha.

- Uhum – Ela a tira da caixa, a colocando no meu pescoço.

- Que bom que gostou – diz afagando minha cabeça como sempre fazia, quando achava que todos estavam contra mim.

Meu celular indica que chegou uma mensagem do I*******m, tirando a atenção de minha mãe, para um: Oi, princesa.

       Semicerro os olhos encarando a fotografia no chat, sem reconhecer no mesmo instante, para só depois de abrir o perfil, finalmente reconhecer quem era.

        Voltando para o chat, meus dedos figuravam rapidamente.

         Como me encontrou?

         A pergunta é visualizada e a resposta vem longo em seguida

          Foi mais fácil do que pensei. Gostei daquele beijo e queria repetir.

          Fixo meu olhar no vazio, a ficha caindo lentamente. Era o cara do último beijo. Ele havia me encontrado mais rápido do que meus pais.

 

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