Made in Favela
Made in Favela
Por: J. C. Rodrigues Alves
Prólogo

Tiro meu braço de dentro da terra, o erguendo o mais alto que posso, até segurar na terra firme ao redor.

      Puxo meu corpo com dificuldade, tossindo quando tento respirar fundo.

      Estava escuro, a única luz que via era de postes distantes.

      Ao meu redor podia ouvir os grilos cantando, o vento balançando os topos das árvores e o mato ao redor.

      Levo minha mão para o lado direito do meu peito, notando a dor incômoda latejante. Me dando conta aos poucos do que havia acontecido.

      Minha respiração entre corta, ao tirar com dificuldade o que deveria ser meu celular do bojo do croped. Digo isto, pois havia uma bala metalizada bem no meio da tela do aparelho.

     O que me impediu de ser morta pela pessoa que amava e confiava.

    Sinto minhas pernas francas e bambas, quando levanto, olhando novamente ao redor em busca de uma saída.

      Acreditando ser a única solução, caminho em direção das luzes. Uma forte garoa começa, me deixando completamente molhada instantes depois.

     Tive que atravessar um matagal extenso, me deparando com uma espécie de barranco no final, no qual escalei com dificuldade.

     Ando pelas ruas que acreditava que conhecia tão bem, me sentindo completamente perdida. Como se não fizesse parte daquele mundo, em outras palavras, como se já não pertencesse mais aquele mundo.

      O que me fez me questionar se estava viva ou agonizando naquela cova.

- Moça, você está bem? – Pisco atordoada, procurando a voz distante.

       Uma mulher vem na minha direção hesitante, olhando para mim com os olhos arregalados.

- Está tudo bem? Quer ajuda?

      Franzo o cenho, querendo gritar tudo o que havia acontecido. Mas só consigo ficar ali parada, sentindo as lágrimas deslizar pelo meu rosto.

- Está com dor? – Assinto devagar – Meu Deus! – Ela olha ao redor desesperada – Alguém ajuda! – grita.

     Não me ajudaram quando precisei. Por quê fariam agora?, o pensamento surge de repente, trazendo uma lembrança.

     Fecho os olhos, segurando minha cabeça entre ás mãos, tentando segurar o choro. Sentindo meu corpo fraco  e suando frio.

    Havia algo de errado...

     Um casal se aproxima, a mulher conversa com ambos, me guiando pelo braço gentilmente em seguida até um carro.

     Tudo acontece muito rápido em seguida.

     Num instante estava no carro envolvida por três vozes agitadas e no outro, havia uma enfermeira em minha frente me examinando.

- Consegue me dizer o que aconteceu? – pergunta de repente, me trazendo para a realidade com variáveis sons externos – O que aconteceu? – insisti.

- Estou grávida – digo hesitante. Quando simplesmente a informação brota na minha boca.

- Certo – Ela diz devagar – Qual seu nome?

      Meu nome...

- Marcela – Tremores surgem pelo meu corpo, primeiro devagar e depois com mais intensidade.

     Estava esquecendo de alguma coisa...

- O que está sentindo, hein? – Ela me examina novamente – Merda – Resmunga baixo, quando mede a glicemia no meu sangue, saindo da pequena sala com rapidez.

      Encaro a porta aberta, tentando me manter ereta sentada em uma cadeira, sendo invadidas aos poucos por lembranças.

     Como eu falei, meu nome é Marcela. Vou contar como conheci um dos traficantes mais perigosos do Rio de Janeiro e como o amor ele me “matou".

     

 

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