Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho.
— Ciências Sociais? — Perguntei-lhe. — Isso! — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo? — Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio. — Sim! — Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas. Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar. — Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir. Troglodita. Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva de mim por ser tão medrosa. Eu não tenho nada contra as putas, mas eu não gosto de ser chamada assim, me parece ofensivo. Lourdes disse que isso é coisa da minha cabeça, ela ama ser chamada assim. — Estamos em uma época muito careta, qualquer palavra que falamos torna-se ofensa para os mimizentos. Sou puta, uma filha puta, um dia serei mãe, vó e não deixarei de ser uma puta. — Ela disse toda orgulhosa em uma conversa que tivemos um dia desses. Eu não sabia o que dizer, não fui ensinada assim. Aprendi que putas são mulheres prostitutas, que faz relações sexuais por dinheiro, não tem pudor, meretrizes. Eu não sou assim, nunca me vi assim! Contudo, você também nunca imaginou que aceitaria conselhos de uma. A minha consciência me acusa. O homem ainda me olhava como se fosse um pedaço de carne, talvez esperando uma resposta. Ele estava para falar algo, mas o grande portão ao lado foi acionado, olhei para trás e vi um carro chegando. — É o tal ricaço, Lucas, avisa logo a Cláudia. — Porra, espero que hoje não tenha confusão. — O que falava ao telefone, que sei agora se chamar Lucas, esbravejou. O carro buzinou assustando a mim e deixando o segurança à minha frente com o olhar amedrontado. — SAÍ DA FRENTE, MENINA. — Gritou me deixando mais assustada ainda. — Pensa que ele está buzinando para quem? Para mim? — Diz com grosseria. Dou um passo para o lado, quase entrando no cubículo que o tal do Lucas estar. — Ah! Desculpa. — Respondi nervosa. Mas o idiota me ignorou completamente, só olhava para o carro que parecia andar em câmera lenta. O carro passou por mim com as janelas fechadas, ele é todo escuro, não se podia ver nada do outro lado. Meu corpo voltou a se arrepiar, isso tem acontecido muito, mas não é uma sensação nada boa. Seja quem for que está lá dentro, não seria uma boa pessoa. Pela forma que os dois agiram. — Você tem sorte! — O segurança disse tirando-me de meus devaneios. — O que disse? — Você tem sorte de não ser uma puta, na mão desse aí, você sofreria. — Voltei a me arrepiar da cabeça aos pés. O que ele quer dizer com isso? Fiquei preocupada. — O que o senhor… — Eu estava para perguntar, mas fui impedida pela voz do tal do Lucas. — Ana Beatriz, Cláudia mandou você entrar e encontrar com ela em sua sala. Entra por aqui mesmo. — Ele apontou para a garagem. O quê? Se eu encontrar o tal carro? Pior, se eu encontrar o dono dele? — Vire à esquerda, você entrará por um corredor largo, segue reto que no final é a sala da gerência. — Ele finalizou alheio às minhas preocupações. — Tá esperando o quê menina? — O grosso volta a se manifestar. — Deixa a menina Genilson. Genilson? Um nome feio para um homem feio. Genilson é um homem branco, baixo, gordo e calvo, já o Lucas não era tão ruim, negão, alto, careca e forte, mas o problema é que ele é forte demais e não me atrai homens assim. Ignorei o tal do Genilson, olhei para Lucas e sussurrei um obrigada. Respirei fundo e segui o meu caminho.Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim.— Puta que pariu. — Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. — Como trabalharei às 08h00 de relógio assim?Trabalhando. Penso.—Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. — Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz.Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo.Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas.Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas. Isso ele não me contou. Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa “COORDENAÇÃO”,
— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra.Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez.— Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora.Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida.— Agora? — Sim! Com urgência.
— Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu.E como uma pessoa que nem tem condições em comprar roupas decentes fará moda? Questionei-me em pensamento.Quero ser uma “design”, ditar a moda, criar roupas que todos queiram usar, mas parece um sonho tão grande para mim.Sim, eu poderia começar costurando, colocando meus desenhos em prática, mas tecido está caro, eu não tenho condições e Mainha nunca tinha o suficiente, então deixei esse sonho de lado.— Ah! Você fez pelo Enem. — Sim, não tenho condições de pagar uma faculdade. — Digo com pesar.— Entendo! — Ela fica em silêncio e eu me sinto no dever de quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós.— Eu e Lourdes fazemos... Quero dizer, fazíamos a aula de saúde pública juntas, no início eu e ela nos sentíamos deslocadas, ela por ser a mais velha e eu por ser a única negra cotista na sala. Nós meio que criamos uma proximidade e ficamos amigas. Ela só me contou ser uma… — Calo-me sem saber como con
— E como faço quando os clientes tentarem algo comigo? — Perguntei não escondendo o meu medo.— Eles são avisados para não tocar nas domésticas daqui.— E eles o fazem?— Às vezes eles tentam algo, mas se acontecer você chuta as bolas dele e me avisa para eu tomar providências. — Certo, farei isso!— Olhe, às duas suítes serão ocupadas hoje, mas os cavaleiros vão demorar um pouco, estão em uma reunião muito importante. Um deles é muito exigente, gosta de tudo certo, então você limpa o quarto dele primeiro.— Certo! Hum! Aqui também é hotel?— Mais ou menos, a maioria dos clientes vem, faz a putaria e vai embora, mas os senhores, os clientes em questão, às vezes gostam de marcar suas reuniões de negócio aqui, então quando isso acontece, ele pede o local só para ele e seus acompanhantes. Ele sempre paga muito bem, muito bem mesmo.— Ele deve ser bem rico. — Comentei acompanhando ela que saia pela porta que entramos a pouco. O cara deve ser um velho gordo e asqueroso. Penso não freando
Aprendi a cozinhar, nunca fui bom nisso, mas não morro de fome. Aprendi a lavar a minha roupa, arrumar e limpar o quarto, os banheiros, trabalhei na criação dos animais, aprendi jardinagem, praticava esportes radicais, aquático, tinha bastante tempo livre para ler, praticar esgrima, judô, canoagem, música, entre outras coisas.Tudo bem que eu preferia os meus pais por perto, mas muito do que sou hoje foi definido e aprendido no internato. Se algum dia eu tiver um filho e meu filho quiser ir, não pensaria 2 vezes. Seria os R$100,000 mais bem pago, pois sei que valeria a pena. Nos meus 19 anos eu já fazia faculdade, meus pais deixaram tudo para mim, toda a sua fortuna, talvez por isso meu tio me odiou tanto a ponto de me mandar para longe, mas hoje ele sabe que me fez um grande favor. Ele já é falecido, nunca me pediu perdão e nem eu esperava isso da parte dele. Eu não o odeio, talvez quando criança, mas hoje, não mais. Eu nem precisaria trabalhar. Meus pais tinham uma empresa que
— Edward, você sabe que não foi culpa da garota. — Você ia gostar que alguém abocanhasse o seu pênis sem querer? — O questionei zangado. — Cardoso é o nosso melhor cliente aqui em Salvador, quase teve um infarto ontem. — Ele me encarou sério, mas não demorou muito para que ele caísse na gargalhada, eu tentei não rir, mas acabei rindo também. Olho para frente e vejo meu motorista, Paulo, rindo, mesmo não entendendo nenhuma palavra nossa, ele sabia o motivo de nossa risada, pois esse assunto é a pauta de nossas conversas desde ontem à noite. — Achou Graça, Paulo? — Imagine se fosse o seu pênis sendo mordido. — Comentei. — Deus me livre, senhor! — Riu de sua voz apavorada. Olho para o Felipe e ele nos olhava não entendo nada. Felipe às vezes tem dificuldade em aprender algumas palavras do português, e neste momento não entendeu nada que Paulo havia falado. Revirei os olhos e entortei a boca. — Cara, você precisa estudar mais o português. — Digo voltando a falar em inglês. — Como
— Como assim? — A conheci 3 meses atrás no aeroporto, quando voltava para New York. — No aeroporto daqui ou lá? — Daqui! Ela é brasileira, estava indo morar em New York, notei seu pavor e puxei conversa. — E você está namorando ela? — Não, ainda não, mas vou oficializar isso quando voltar, mas ela sabe que tenho interesse nela. — Engraçado... — O que tem graça? — Você parece apaixonado por uma mulher que conheceu a pouco e fode com várias mulheres. Que amor. — E quem disse que estou fodendo com várias mulheres? — Você faz questão de vim para cá. —Digo o óbvio. — Não consigo mais, não me sinto mais atraído, a menina que me acompanha, a Talita, ela só faz me ensinar o português, ou tentar. — Fico surpreso com suas palavras. — E você está 90 dias sem sexo? — Ele afirmou. — Eu não consigo, sinceramente falando, eu não consigo. — Porque você não encontrou a pessoa certa, cara. — Hum! — Respondo-lhe não acreditando em suas palavras. Eu já amei, ele sabe disso, então não tem p
BEATRIZ Sorrir agradecida assim que coloquei o refil com cheiro de lavanda no aromatizador do banheiro e apertei. O cheiro de lavanda tomou todo o ambiente fazendo o meu sorriso se alargar. Eu já havia limpado a suíte que o tal ricaço usaria fazia um tempo. Eu não o vi, nem a ele e nem ao rapaz que ocuparia o quarto que acabei de limpar. Se mainha me visse agora ficaria orgulhosa de mim. Peguei tudo que ela me ensinou sobre como ser uma boa camareira e apliquei nos quartos. E olhe que os quartos estavam sujos demais, a única coisa limpa eram os lençóis das grandes camas queen, mas até eles foram preciso trocar, devido à poeira que tomou todos os móveis. O quarto parecia um quarto de hotel convencional. Hotéis de rico, mas é convencional. A única diferença é que os quartos daqui não tem guarda-roupa, só uma cômoda. E que cômoda! Assim como os móveis da outra suíte, esses também são pretos, mas as cômodas diferiam em tamanhos. A do primeiro quarto que limpei a cômoda pare