DOIS

Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho.

  — Ciências Sociais? — Perguntei-lhe.

  — Isso! 

  — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo?

— Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio.

— Sim!

— Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas.

Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar.

— Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir.

 Troglodita.

Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva de mim por ser tão medrosa.

Eu não tenho nada contra as putas, mas eu não gosto de ser chamada assim, me parece ofensivo. 

Lourdes disse que isso é coisa da minha cabeça, ela ama ser chamada assim.

— Estamos em uma época muito careta, qualquer palavra que falamos torna-se ofensa para os mimizentos. Sou puta, uma filha puta, um dia serei mãe, vó e não deixarei de ser uma puta. — Ela disse toda orgulhosa em uma conversa que tivemos um dia desses.

Eu não sabia o que dizer, não fui ensinada assim. Aprendi que putas são mulheres prostitutas, que faz relações sexuais por dinheiro, não tem pudor, meretrizes. Eu não sou assim, nunca me vi assim!

Contudo, você também nunca imaginou que aceitaria conselhos de uma. A minha consciência me acusa.

O homem ainda me olhava como se fosse um pedaço de carne, talvez esperando uma resposta. Ele estava para falar algo, mas o grande portão ao lado foi acionado, olhei para trás e vi um carro chegando.

— É o tal ricaço, Lucas, avisa logo a Cláudia.

— Porra, espero que hoje não tenha confusão. — O que falava ao telefone, que sei agora se chamar Lucas, esbravejou.

O carro buzinou assustando a mim e deixando o segurança à minha frente com o olhar amedrontado.

— SAÍ DA FRENTE, MENINA. — Gritou me deixando mais assustada ainda. — Pensa que ele está buzinando para quem? Para mim? — Diz com grosseria. Dou um passo para o lado, quase entrando no cubículo que o tal do Lucas estar.

— Ah! Desculpa. — Respondi nervosa. Mas o idiota me ignorou completamente, só olhava para o carro que parecia andar em câmera lenta.

O carro passou por mim com as janelas fechadas, ele é todo escuro, não se podia ver nada do outro lado. Meu corpo voltou a se arrepiar, isso tem acontecido muito, mas não é uma sensação nada boa.

Seja quem for que está lá dentro, não seria uma boa pessoa. Pela forma que os dois agiram.

— Você tem sorte! — O segurança disse tirando-me de meus devaneios.

— O que disse?

— Você tem sorte de não ser uma puta, na mão desse aí, você sofreria. — Voltei a me arrepiar da cabeça aos pés. 

O que ele quer dizer com isso? Fiquei preocupada.

— O que o senhor… — Eu estava para perguntar, mas fui impedida pela voz do tal do Lucas.

— Ana Beatriz, Cláudia mandou você entrar e encontrar com ela em sua sala. Entra por aqui mesmo. — Ele apontou para a garagem.

O quê? Se eu encontrar o tal carro? Pior, se eu encontrar o dono dele?

— Vire à esquerda, você entrará por um corredor largo, segue reto que no final é a sala da gerência. — Ele finalizou alheio às minhas preocupações.

— Tá esperando o quê menina? — O grosso volta a se manifestar.

— Deixa a menina Genilson.

Genilson? Um nome feio para um homem feio.

Genilson é um homem branco, baixo, gordo e calvo, já o Lucas não era tão ruim, negão, alto, careca e forte, mas o problema é que ele é forte demais e não me atrai homens assim.

Ignorei o tal do Genilson, olhei para Lucas e sussurrei um obrigada. Respirei fundo e segui o meu caminho.

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