— Olá! Sou Maria Luíza, secretária do senhor Edward. — A mulher baixinha de sorriso fácil, olhos castanhos escuros, declarou ao se aproximar de mim e Levi. Levi se empertigou, travou o puxador de sua mochila de carrinho e fitou a mulher à nossa frente com um sorriso doce e conquistador. — Oi! — Iniciou ainda sorrindo. — Sou o Levi e essa é a Bea, a minha mana. — Sua voz me faz encarar ele rapidamente, mas logo levo meus olhos a mulher a minha frente e lhe dou um meio sorriso. — É um prazer conhecê-la, Maria Luíza. — Digo sincera estendendo minha mão direita para cumprimentá-la. — Me chame Luíza. — Ela diz ainda sorrindo. Seus olhos castanhos brilharam de alegria ao retribuir o cumprimento. — Só minha mãe me chama assim. — Ela gargalhou e seus cabelos soltos cortados em chanel balançaram e pararam a poucos centímetros de seus ombros. Nossas mães e suas manias. Imaginei ao lembrar que mainha também tinha essa mesma mania de me chamar Ana Beatriz. Assim como o senhor Edward. Record
Não esperei ela nos chamar duas vezes. Como Maria havia falado, seus filhos gêmeos, Alisson e Alice, nos esperavam no banco de trás do carro. Eles pareciam mines Maria Luíza, pois são a cópia dela. A pele clara que lembrava o leite e os olhos castanhos, com um belíssimo tom avermelhado. Maria não possui esse tom avermelhado, os olhos dela são um pouco mais claros que os meus. Alice tem os cabelos pretos em chanel como os da mãe, mas era um chanel que combinava com a franjinha reta e as pontinhas repicadas.Ela ficou linda!Já os cabelos de Alisson também são pretos, cortado curto com direito a topete, o que se destacava era o piebaldismo, uma mecha branca em uma pequena quantidade de cabelo.Galã desde pequeno.Os uniformes que eles usavam eram bem lindos. Maria me explicou que toda criança ganha agasalho próprio do Colégio, calça preta e casaco com a camiseta branca com manga curta para dias de calor ou longa para dias de frio. Bermuda preta de tactel ou microfibra, calça e jaqueta p
— Vejo que algo está te incomodando. — Maria comentou. Nós já estávamos no carro a caminho do Balneário "shopping". — Sim, algo me incomoda. — Respondi sinceramente a encarando de soslaio. — O quê? — O colégio anglo é uma escola particular? — Perguntei e a mesma me fitou com as suas sobrancelhas erguidas. — Sim, ele é, pensei que soubesse. — Ela respondeu e eu arregalei meus olhos assustados. — Eu não sabia, o senhor Edward não me disse. — Passei as mãos em meu cabelo com aparente nervosismo. — Eu mal comecei no emprego, como pagarei uma escola particular agora? — Perguntei desolada com medo de perguntar o valor da escola, imaginando que deve ser uma "facada" das grandes. — Calma. — Ela pediu estacionando na garagem do "shopping". — O senhor Edward já resolveu. — Como assim ele resolveu? — Perguntei ainda mais nervosa. — Ele pagou? — Sim, ele pagou. — Ela respondeu confirmando meu medo. Porque ele faz essas coisas? — Ele nada me disse. — Falei não conseguindo esconder minha
Salvador, Bahia! BEATRIZ É noite e o vento forte balançava meus cabelos para todos os lados deixando os meus cachos embaraçados, o suor colava a minha calça, jeans clara e minha blusa, polo ao meu corpo me deixando desconfortável. Caminhei a passos largos pelas ruas do comércio, estava tudo tão silencioso. Alguns carros passavam e meu corpo gelou de medo. O que estou fazendo? Porque eu não dou meia volta? — Porque preciso! —Tento me convencer pela milésima vez. A vida é uma sucessão de escolhas e eu sinto, sinto em meu íntimo que vou me arrepender dessa minha escolha. Ou talvez seja só o medo falando. — Mas agora é tarde! Não dá para retroceder. Se dependesse apenas de mim eu estaria em meu quarto, estudando as matérias atrasadas da faculdade. Pensei, sentindo a tristeza nublar meus pensamentos mais uma vez, mas tão rapidamente surgiu, me obriguei a ignorá-la. Contudo, eu não posso! Não tenho dinheiro para pagar minha faculdade, não tenho dinheiro nem para pegar um
Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho. — Ciências Sociais? — Perguntei-lhe. — Isso! — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo? — Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio. — Sim! — Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas. Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar. — Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir. Troglodita. Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva d
Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim. — Puta que pariu. — Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. — Como trabalharei às 08h00 de relógio assim? Trabalhando. Penso. —Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. — Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz. Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo. Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas. Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas. Isso ele não me contou. Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa
— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra. Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez. — Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora. Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida. — Agora? — Sim! Com
— Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu. E como uma pessoa que nem tem condições em comprar roupas decentes fará moda? Questionei-me em pensamento. Quero ser uma “design”, ditar a moda, criar roupas que todos queiram usar, mas parece um sonho tão grande para mim. Sim, eu poderia começar costurando, colocando meus desenhos em prática, mas tecido está caro, eu não tenho condições e Mainha nunca tinha o suficiente, então deixei esse sonho de lado. — Ah! Você fez pelo Enem. — Sim, não tenho condições de pagar uma faculdade. — Digo com pesar. — Entendo! — Ela fica em silêncio e eu me sinto no dever de quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós. — Eu e Lourdes fazemos... Quero dizer, fazíamos a aula de saúde pública juntas, no início eu e ela nos sentíamos deslocadas, ela por ser a mais velha e eu por ser a única negra cotista na sala. Nós meio que criamos uma proximidade e ficamos amigas. Ela só me contou ser uma… — Calo-me sem s