QUATRO

— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. 

Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra.

Encarei a tal da Carla por alguns segundos,  a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez.

— Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora.

Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida.

— Agora? 

— Sim! Com urgência.

— Ok, já estou indo. — A senhora Cláudia balançou a cabeça em negativo e se levantou visivelmente irritada. — Beatriz, me aguarde uns instantes que já volto.

— Sim, senhora!

— Senhora? Melhore, viu? — Volta a rir e sai da sala ainda com o semblante aborrecido.

Assim que ela saiu com a moça chamada Carla, voltei a respirar aliviada.

Minha mãe nunca que me deixaria trabalhar aqui, nunca. Suponho que por isso a voz em minha cabeça tema em dizer ser errado. Agora, se essa voz colocasse comida na mesa para me alimentar e alimentar meu irmão, eu já teria escutado ela.

O tempo foi passando lentamente e nada da senhora Cláudia voltar. Tirei meu celular da bolsa e olhei as horas. Já era um pouco mais de uma da manhã.

Será que ela não vai me deixar trabalhar hoje?

— Meu Deus! Como voltarei para casa? Andando eu não terei condições. — Gemi angustiada com meus pensamentos negativos.

— Me perdoe pela demora Beatriz, voltei. — Dona Cláudia surge vindo de trás da estante de livro que só agora notei ser uma porta falsa. Quase pulo da cadeira pelo susto.

— Misericórdia dona Cláudia, quase morri do coração.

— Ô querida, desculpe, não foi a minha intenção te assustar. Só quis usar um atalho, não imaginei que te assustaria. Vim da cozinha e quando venho de lá para minha sala, uso esse atalho.

As palavras dela pareciam uma desculpa de última hora e me fez cogitar se a saída dela não foi uma estratégia para ela me testar, talvez julgando que eu fosse roubá-la.

Atrás da mesa dela tem um vidro enorme. Pode ser um espelho falso, em minha faculdade tem, então não duvido nada que aqui também possa ter. Minha mente fica cheia de ideias.

Ignorando os meus pensamentos, limpei a minha garganta, esperei dona Cláudia se acomodar em seu assento, só então voltei a falar.

— A senhora está bem? Parece nervosa.

— Estou sim, não se preocupe.

— Senho… Dona Cláudia?

— Sim?

— Desculpa a pergunta, mas quero muito saber se a senhora irá querer os meus serviços hoje? 

— Por quê? Não poderá ficar?

— Pelo contrário, preciso e muito dessa diária.

— Quero sim! — Ela volta a sorrir. — Contudo, antes quero conhecê-la. Já sei que você é virgem, quero saber o resto. — Sorriu envergonhada não sabendo onde enfiar a cara. 

— O que a senhora quer saber? — A questiono limpando a garganta outra vez.

— Tudo! — Ergo as minhas sobrancelhas. 

Nunca vi isso, estou fazendo uma entrevista em uma casa de prostituição e ainda tenho que contar a minha vida toda…

Aff!

— A senhora precisará perguntar, não tenho muito o que contar. — Aviso.

Sou péssima quando se trata de falar sobre mim.

— Comece me contando a sua idade e como conheceu a Lourdes.

— Ah! Sim… Bem, tenho vinte e quatro anos…

— Novinha ainda. — Ela diz recostando em sua cadeira me encarando pensativa. Ignorando a vontade de desviar os olhos, voltei a falar.

— Eu e a Lourdes fazemos aula na mesma faculdade, na UFBA. Ela Ciências Sociais e eu fisioterapia. — Entortei a boca escondendo a minha contrariedade.

— Não gosta do que faz?

— Como assim?

— Não quer ser fisioterapeuta?

— Para dizer a verdade, eu quero mesmo é estudar moda, quem sabe um dia focar na moda plus size. Observo o empenho da indústria têxtil diante a inclusão de pessoas gordas na moda, contudo, há um longo caminho a ser trilhado. Espero um dia trilhá-lo.

— Por que não faz?

Sério que ela me fez essa pergunta? Não é óbvio?

— Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App