— E como faço quando os clientes tentarem algo comigo? — Perguntei não escondendo o meu medo.
— Eles são avisados para não tocar nas domésticas daqui. — E eles o fazem? — Às vezes eles tentam algo, mas se acontecer você chuta as bolas dele e me avisa para eu tomar providências. — Certo, farei isso! — Olhe, às duas suítes serão ocupadas hoje, mas os cavaleiros vão demorar um pouco, estão em uma reunião muito importante. Um deles é muito exigente, gosta de tudo certo, então você limpa o quarto dele primeiro. — Certo! Hum! Aqui também é hotel? — Mais ou menos, a maioria dos clientes vem, faz a putaria e vai embora, mas os senhores, os clientes em questão, às vezes gostam de marcar suas reuniões de negócio aqui, então quando isso acontece, ele pede o local só para ele e seus acompanhantes. Ele sempre paga muito bem, muito bem mesmo. — Ele deve ser bem rico. — Comentei acompanhando ela que saia pela porta que entramos a pouco. O cara deve ser um velho gordo e asqueroso. Penso não freando a minha cara de nojo. Ainda bem que dona Cláudia está andando na frente e não viu. — Rico? Esse homem transborda dinheiro. — Ela para de andar e me fita. — Um gostoso que transborda dinheiro. Sei! Volto a pensar não acreditando nas palavras dela. Ela parece exagerar um pouco… Sei lá. — Qualquer dúvida você me fala, tudo bem? — Sim, senho… — Ela me encara séria e eu me calo. — Desculpa, esqueço. — Sorriu envergonhada pela quinta, décima vez? Nem sei mais. — Agradeço dona Cláudia, pela oportunidade. — Por nada menina, te ajudarei no que eu puder. Quando Lourdes me contou sobre dona Cláudia, avisou que ela é uma ótima pessoa, eu fiquei na dúvida, acredito que pelo preconceito de ela ser uma espécie de cafetina e eu assisto a muitos filmes para tirar a conclusão que essas pessoas são más, contudo paguei com a minha língua, ela não me parece uma má pessoa. Tirando a parte que ela riu de mim por ser virgem, não tenho do que reclamar. Ela prometeu tentar me ajudar e eu acredito, acredito de verdade, mesmo que ela não consiga fazer muito por mim. Afirmei com a cabeça para dona Cláudia e sorriu aliviada, sabendo que no outro dia teria dinheiro para comprar algo para Levi comer. Só esse pensamento renovou todas as minhas forças. EDWARD O que estou fazendo aqui mesmo? Pergunto-me passando as mãos em meus cabelos, me sentindo estressado. Tenho me sentido assim às vezes e por mais que eu tente me controlar, falho miseravelmente. Contudo, para ser sincero, não me importo, minha paciência tem limite! O que me parece é que as pessoas à minha volta gostam de testá-la. Eu devia estar estudando os casos em aberto que preciso resolver. Como advogado, eu me especializei em Direito contratual, penal e criminal, mas faz muito tempo que não me envolvo com direito criminal ou penal. A última vez que defendi alguém acusado de um crime que não fez, perdi muito e até hoje não superei. Sou um dos mais famosos advogados do mundo. Quando abrir a minha empresa, meu foco era defender pessoas inocentes de crimes que elas não cometeram, já fiz muitos pró bônus, pois defender pessoas ricas me rendeu muito dinheiro, algo que eu já tinha de sobra. Eu era bom nisso, porra, eu era o melhor. Suspirei pesadamente. Porém, isso foi há muito tempo. A sede de minha empresa fica em New York, mas alguns anos depois eu decidi expandir meus negócios, algumas coisas contribuíram para essa minha decisão, não me arrependo, a dor da perda, as lembranças vinham a todo momento e isso já afetava o meu trabalho. Hoje a KING Advocacia é considerada uma empresa multinacional. Claro que eu não obtive esse sucesso sozinho, Felipe foi e ainda é o meu braço direito até hoje. Conheci Felipe no colegial, estávamos no mesmo colégio interno. Nossas histórias eram parecidas, nossos pais haviam falecido quando éramos apenas duas crianças de 10 anos e meu tio, e os avós dele preferiram nos mandar para longe ao invés de cuidar de nós. O instituto Le Rosey, na Suíça, não era um lugar ruim, fizemos daquele lugar o nosso lar. Não é ruim dividir dormitórios com vários garotos. Muitos de nós estávamos lá pelo mesmo motivo Foram deixados por pessoas que deviam nos proteger. Alguns garotos ficaram revoltados, outros escolheram se apoiar, criar laços, amizades, um irmão, assim como eu e Felipe. Poucos conseguem imaginar o quão divertido é...Aprendi a cozinhar, nunca fui bom nisso, mas não morro de fome. Aprendi a lavar a minha roupa, arrumar e limpar o quarto, os banheiros, trabalhei na criação dos animais, aprendi jardinagem, praticava esportes radicais, aquático, tinha bastante tempo livre para ler, praticar esgrima, judô, canoagem, música, entre outras coisas. Tudo bem que eu preferia os meus pais por perto, mas muito do que sou hoje foi definido e aprendido no internato. Se algum dia eu tiver um filho e meu filho quiser ir, não pensaria 2 vezes. Seria os R$100,000 mais bem pago, pois sei que valeria a pena. Nos meus 19 anos eu já fazia faculdade, meus pais deixaram tudo para mim, toda a sua fortuna, talvez por isso meu tio me odiou tanto a ponto de me mandar para longe, mas hoje ele sabe que me fez um grande favor. Ele já é falecido, nunca me pediu perdão e nem eu esperava isso da parte dele. Eu não o odeio, talvez quando criança, mas hoje, não mais. Eu nem precisaria trabalhar. Meus pais tinham uma empre
— Edward, você sabe que não foi culpa da garota. — Você ia gostar que alguém abocanhasse o seu pênis sem querer? — O questionei zangado. — Cardoso é o nosso melhor cliente aqui em Salvador, quase teve um infarto ontem. — Ele me encarou sério, mas não demorou muito para que ele caísse na gargalhada, eu tentei não rir, mas acabei rindo também. Olho para frente e vejo meu motorista, Paulo, rindo, mesmo não entendendo nenhuma palavra nossa, ele sabia o motivo de nossa risada, pois esse assunto é a pauta de nossas conversas desde ontem à noite. — Achou Graça, Paulo? — Imagine se fosse o seu pênis sendo mordido. — Comentei. — Deus me livre, senhor! — Riu de sua voz apavorada. Olho para o Felipe e ele nos olhava não entendo nada. Felipe às vezes tem dificuldade em aprender algumas palavras do português, e neste momento não entendeu nada que Paulo havia falado. Revirei os olhos e entortei a boca. — Cara, você precisa estudar mais o português. — Digo voltando a falar em inglês. —
— Como assim? — A conheci 3 meses atrás no aeroporto, quando voltava para New York. — No aeroporto daqui ou lá? — Daqui! Ela é brasileira, estava indo morar em New York, notei seu pavor e puxei conversa. — E você está namorando ela? — Não, ainda não, mas vou oficializar isso quando voltar, mas ela sabe que tenho interesse nela. — Engraçado... — O que tem graça? — Você parece apaixonado por uma mulher que conheceu a pouco e fode com várias mulheres. Que amor. — E quem disse que estou fodendo com várias mulheres? — Você faz questão de vim para cá. —Digo o óbvio. — Não consigo mais, não me sinto mais atraído, a menina que me acompanha, a Talita, ela só faz me ensinar o português, ou tentar. — Fico surpreso com suas palavras. — E você está 90 dias sem sexo? — Ele afirmou. — Eu não consigo, sinceramente falando, eu não consigo. — Porque você não encontrou a pessoa certa, cara. — Hum! — Respondo-lhe não acreditando em suas palavras. Eu já amei, ele sabe disso, en
BEATRIZ Sorrir agradecida assim que coloquei o refil com cheiro de lavanda no aromatizador do banheiro e apertei. O cheiro de lavanda tomou todo o ambiente fazendo o meu sorriso se alargar. Eu já havia limpado a suíte que o tal ricaço usaria fazia um tempo. Eu não o vi, nem a ele e nem ao rapaz que ocuparia o quarto que acabei de limpar. Se mainha me visse agora ficaria orgulhosa de mim. Peguei tudo que ela me ensinou sobre como ser uma boa camareira e apliquei nos quartos. E olhe que os quartos estavam sujos demais, a única coisa limpa eram os lençóis das grandes camas queen, mas até eles foram preciso trocar, devido à poeira que tomou todos os móveis. O quarto parecia um quarto de hotel convencional. Hotéis de rico, mas é convencional. A única diferença é que os quartos daqui não tem guarda-roupa, só uma cômoda. E que cômoda! Assim como os móveis da outra suíte, esses também são pretos, mas as cômodas diferiam em tamanhos. A do primeiro quarto que limpei a cômoda pare
Através do espelho vejo a mulher que se veste do meu corpo, que faz os mesmo gestos com as mãos, como se fosse eu. Às vezes sinto que a miserável acena para mim, me provoca e eu não posso fazer nada, porque mesmo não querendo, a mulher fraca, triste e feia que me encara, sou eu mesmo. As portas do elevador se abrem no térreo e eu volto a minha pose contínua de que tudo está bem e se não estivesse, um dia ficará. Vou em direção a área, chegando lá deixo o carrinho de materiais de limpeza, me troco no vestiário que fica entre a área de serviço e o banheiro para funcionários. No vestiário tem uns cinco armários dispostos próximo aos boxes de banho, dois boxes, na verdade. Vou ao armário que guardei as minhas coisas, tiro meu celular e a chave do armário de dentro do bolso de meu avental e abro o mesmo. Guardo meu celular dentro de minha bolsa, tiracolo e pego as minhas roupas. Tomo banho rapidamente, me arrumo e logo estou no encalço de dona Cláudia. Ela disse que eu estaria li
O caminho até minha casa foi rápido. Está em um carro é outro nível, nem tem comparação em andar a pé. Moro no Uruguai, em um bairro considerado perigoso, mas como, todos, ele tem seu pós e contra. O bairro fica localizado na Cidade Baixa, ele faz parte da maioria dos bairros de Salvador, que tem seus problemas com tráfico de droga. A polícia tenta, com suas abordagens preventivas, radio patrulhamento, policiamento a pé, abordagens e viaturas em pontos estratégicos, mas tudo que eles fazem, não parece o suficiente. Moro aqui a dez anos, quando Mainha, grávida de Levi ganhou a sua casa no programa de habitação "Minha Casa Minha Vida" e desde então, quase não vi mudanças. O carro entrou no condomínio em que eu morava, as casas todas iguais, seria fácil alguém que nunca veio aqui se perder. Aqui é dividido por blocos, moro no térreo, no bloco "A", logo no início. - Pode parar aqui, senhor Júlio. Ele para e eu agradeço pela carona, ele pede que eu aguarde no carro, sai do veíc
- Penteei sim, do jeito que você me ensinou. - Ele diz me trazendo para a realidade. - Usei o seu borrifador para deixar molhado, depois coloquei o creme, penteei com o pente grande, não foi com o pente garfo. - Emendou rápido. - Penteei até desembaraçar, usei a minha mão para moldar os cachos e por último sacudir minha cabeça para soltar meus cachos. Ele fez direitinho. - Tá bonito? - Perguntou-me ansioso. - Está lindo. - Faço um gesto com minha boca impressionada. - Um preto muito lindo. - Elogie o fazendo sorrir orgulhoso. - Daqui a pouco não vai mais precisar de mim. - Errada, te chamei porque preciso de você Bea. - Até já sei. - Digo rindo. - Procurei pão, mas não achei, tô morto de fome. E deve está mesmo. Eu não sei como meu pretinho não engorda por comer tanta massa, já eu não tenho a mesma sorte, minha bunda parece que vive aumentando. Pretinho realmente puxou a nossa mãe Jane, já eu, puxei a meu pai Ítalo, sou a copia fiel do nosso pai, tirando a altura que p
— Como você está, Levi? — Perguntei-lhe por telefone. Seria a oitava ou a décima ligação? Nem sei mais. Eu me sentia dividida entre minhas tarefas e a preocupação, entre ser uma irmã que não fica “pegando no pé” o tempo todo e a irmã que protege em excesso. Eu nem me reconheço mais! Cadê a Ana Beatriz que vivia um dia de cada vez sem se preocupar demais? Ultimamente essa Beatriz parece ter desaparecido, só espero que não seja totalmente. Hoje é o terceiro dia que faço diária aqui no “Sensação”, meu último dia do acordo que fiz com dona Cláudia. Era umas 15h00 quando a dona Cláudia me chamou, o dia amanheceu ensolarado, então aproveitei para lavar as roupas de camas e limpar a casa. Levi estava na escola ainda, logo eu não consegui avisar-lhe, quando precisei sair às pressas para realizar a diária. Ele faz o projeto “Mais Educação” às terças, quarta e quinta-feira. Nesse caso hoje é quinta-feira, então ele ficou o dia todo na escola. Pela manhã estuda, meio-dia almoça e