Aprendi a cozinhar, nunca fui bom nisso, mas não morro de fome. Aprendi a lavar a minha roupa, arrumar e limpar o quarto, os banheiros, trabalhei na criação dos animais, aprendi jardinagem, praticava esportes radicais, aquático, tinha bastante tempo livre para ler, praticar esgrima, judô, canoagem, música, entre outras coisas.
Tudo bem que eu preferia os meus pais por perto, mas muito do que sou hoje foi definido e aprendido no internato. Se algum dia eu tiver um filho e meu filho quiser ir, não pensaria 2 vezes. Seria os R$100,000 mais bem pago, pois sei que valeria a pena. Nos meus 19 anos eu já fazia faculdade, meus pais deixaram tudo para mim, toda a sua fortuna, talvez por isso meu tio me odiou tanto a ponto de me mandar para longe, mas hoje ele sabe que me fez um grande favor. Ele já é falecido, nunca me pediu perdão e nem eu esperava isso da parte dele. Eu não o odeio, talvez quando criança, mas hoje, não mais. Eu nem precisaria trabalhar. Meus pais tinham uma empresa que trabalha com beleza e cosméticos. Essa vida nunca foi o que almejei para mim, ainda sou o maior acionista, eu designei um advogado de confiança para cuidar da empresa de meus pais, estou sempre de olho, pois tenho a minha própria empresa de advocacia para gerenciar. Só costumo me envolver com a Cosmetic KING quando necessário. Amo o que faço, eu amo ser advogado! Foi ideia de Felipe abrir uma filial aqui no Brasil, eu queria França, pois nós já falávamos a língua e isso facilitaria a nossa vida, mas ele quis o Brasil, então decidimos no cara ou coroa e ele ganhou. A quem quero enganar? Nós dois gostamos de desafios e esse tempo tem sido assim para nós dois. Foi opção minha morar aqui no Brasil, eu precisava mudar e não achei ruim. Optei em morar um tempo nesse país acolhedor, pois foi assim que me senti quando desci do avião. Ficarei aqui não sei até quando, quem sabe um dia eu volte para New York outra vez. Quem sabe? Moro aqui já faz um pouco mais de um ano, estou aprendendo a falar português com video aulas, cada dia minha lista de clientes aumenta e meu nome é o mais procurado por grandes e pequenas empresas. Vim a Salvador para encontrar alguns clientes de uma empresa chamada Company Engenharia. Como o nome já diz, essa empresa fornece prestação de serviço na área de engenharia. O corpo de acionista é composto de velhos tarados e beberrões, nada que eu ou Felipe não saibamos lhe dar. Felipe gerencia a sede em New York e a cada 3 meses vem ao Brasil para me contar como vai à empresa. Faz 2 dias que ele chegou de viagem, e como sempre, ele me convenceu a tirar uma semana de férias, então aproveitei que já vinha para cá a trabalho e juntei o útil ao agradável. Não é a primeira vez que ele vem comigo a Salvador, talvez seja a terceira ou quarta vez. E como todas às vezes, nada melhor para ele do que vim ao melhor puteiro de Salvador. Quem olha pensa ser um hotel, mas era só fachada. Felipe tem um fascínio por essa cidade, se dependesse dele a minha filial seria por aqui, mas prefiro o frio, então escolhi Santa Catarina, lá eu me sinto em casa. — Cara, porque você marca essas reuniões tarde da noite? — Felipe perguntou me tirando dos meus devaneios. — E por que você marca as reuniões com os clientes em Prostíbulos? — Prostíbulos? Casa de Prazer soa melhor... Além disso, os clientes gostam de diversão depois do trabalho. — Então a noite é a melhor hora para putaria que os clientes gostam de praticar. — Não fale como se você não gostasse da putaria também. — Ele riu e eu o encaro com seriedade. — Gosto sim, mas não aceitarei outro episódio como ontem, se acontecer, pode esquecer esse lugar.— Edward, você sabe que não foi culpa da garota. — Você ia gostar que alguém abocanhasse o seu pênis sem querer? — O questionei zangado. — Cardoso é o nosso melhor cliente aqui em Salvador, quase teve um infarto ontem. — Ele me encarou sério, mas não demorou muito para que ele caísse na gargalhada, eu tentei não rir, mas acabei rindo também. Olho para frente e vejo meu motorista, Paulo, rindo, mesmo não entendendo nenhuma palavra nossa, ele sabia o motivo de nossa risada, pois esse assunto é a pauta de nossas conversas desde ontem à noite. — Achou Graça, Paulo? — Imagine se fosse o seu pênis sendo mordido. — Comentei. — Deus me livre, senhor! — Riu de sua voz apavorada. Olho para o Felipe e ele nos olhava não entendo nada. Felipe às vezes tem dificuldade em aprender algumas palavras do português, e neste momento não entendeu nada que Paulo havia falado. Revirei os olhos e entortei a boca. — Cara, você precisa estudar mais o português. — Digo voltando a falar em inglês. — Como
— Como assim? — A conheci 3 meses atrás no aeroporto, quando voltava para New York. — No aeroporto daqui ou lá? — Daqui! Ela é brasileira, estava indo morar em New York, notei seu pavor e puxei conversa. — E você está namorando ela? — Não, ainda não, mas vou oficializar isso quando voltar, mas ela sabe que tenho interesse nela. — Engraçado... — O que tem graça? — Você parece apaixonado por uma mulher que conheceu a pouco e fode com várias mulheres. Que amor. — E quem disse que estou fodendo com várias mulheres? — Você faz questão de vim para cá. —Digo o óbvio. — Não consigo mais, não me sinto mais atraído, a menina que me acompanha, a Talita, ela só faz me ensinar o português, ou tentar. — Fico surpreso com suas palavras. — E você está 90 dias sem sexo? — Ele afirmou. — Eu não consigo, sinceramente falando, eu não consigo. — Porque você não encontrou a pessoa certa, cara. — Hum! — Respondo-lhe não acreditando em suas palavras. Eu já amei, ele sabe disso, então não tem p
BEATRIZ Sorrir agradecida assim que coloquei o refil com cheiro de lavanda no aromatizador do banheiro e apertei. O cheiro de lavanda tomou todo o ambiente fazendo o meu sorriso se alargar. Eu já havia limpado a suíte que o tal ricaço usaria fazia um tempo. Eu não o vi, nem a ele e nem ao rapaz que ocuparia o quarto que acabei de limpar. Se mainha me visse agora ficaria orgulhosa de mim. Peguei tudo que ela me ensinou sobre como ser uma boa camareira e apliquei nos quartos. E olhe que os quartos estavam sujos demais, a única coisa limpa eram os lençóis das grandes camas queen, mas até eles foram preciso trocar, devido à poeira que tomou todos os móveis. O quarto parecia um quarto de hotel convencional. Hotéis de rico, mas é convencional. A única diferença é que os quartos daqui não tem guarda-roupa, só uma cômoda. E que cômoda! Assim como os móveis da outra suíte, esses também são pretos, mas as cômodas diferiam em tamanhos. A do primeiro quarto que limpei a cômoda pare
Através do espelho vejo a mulher que se veste do meu corpo, que faz os mesmo gestos com as mãos, como se fosse eu. Às vezes sinto que a miserável acena para mim, me provoca e eu não posso fazer nada, porque mesmo não querendo, a mulher fraca, triste e feia que me encara, sou eu mesmo. As portas do elevador se abrem no térreo e eu volto a minha pose contínua de que tudo está bem e se não estivesse, um dia ficará. Vou em direção a área, chegando lá deixo o carrinho de materiais de limpeza, me troco no vestiário que fica entre a área de serviço e o banheiro para funcionários. No vestiário tem uns cinco armários dispostos próximo aos boxes de banho, dois boxes, na verdade. Vou ao armário que guardei as minhas coisas, tiro meu celular e a chave do armário de dentro do bolso de meu avental e abro o mesmo. Guardo meu celular dentro de minha bolsa, tiracolo e pego as minhas roupas. Tomo banho rapidamente, me arrumo e logo estou no encalço de dona Cláudia. Ela disse que eu estaria li
Salvador, Bahia!BEATRIZÉ noite e o vento forte balançava meus cabelos para todos os lados deixando os meus cachos embaraçados, o suor colava a minha calça, jeans clara e minha blusa, polo ao meu corpo me deixando desconfortável. Caminhei a passos largos pelas ruas do comércio, estava tudo tão silencioso. Alguns carros passavam e meu corpo gelou de medo. O que estou fazendo? Porque eu não dou meia volta? — Porque preciso! —Tento me convencer pela milésima vez. A vida é uma sucessão de escolhas e eu sinto, sinto em meu íntimo que vou me arrepender dessa minha escolha. Ou talvez seja só o medo falando. — Mas agora é tarde! Não dá para retroceder. Se dependesse apenas de mim eu estaria em meu quarto, estudando as matérias atrasadas da faculdade. Pensei, sentindo a tristeza nublar meus pensamentos mais uma vez, mas tão rapidamente surgiu, me obriguei a ignorá-la. Contudo, eu não posso! Não tenho dinheiro para pagar minha faculdade, não tenho dinheiro nem para pegar um ônibus
Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho. — Ciências Sociais? — Perguntei-lhe. — Isso! — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo?— Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio.— Sim!— Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas.Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar.— Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir. Troglodita.Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva de mim por se
Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim.— Puta que pariu. — Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. — Como trabalharei às 08h00 de relógio assim?Trabalhando. Penso.—Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. — Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz.Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo.Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas.Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas. Isso ele não me contou. Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa “COORDENAÇÃO”,
— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra.Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez.— Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora.Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida.— Agora? — Sim! Com urgência.