— Edward, você sabe que não foi culpa da garota.
— Você ia gostar que alguém abocanhasse o seu pênis sem querer? — O questionei zangado. — Cardoso é o nosso melhor cliente aqui em Salvador, quase teve um infarto ontem. — Ele me encarou sério, mas não demorou muito para que ele caísse na gargalhada, eu tentei não rir, mas acabei rindo também. Olho para frente e vejo meu motorista, Paulo, rindo, mesmo não entendendo nenhuma palavra nossa, ele sabia o motivo de nossa risada, pois esse assunto é a pauta de nossas conversas desde ontem à noite. — Achou Graça, Paulo? — Imagine se fosse o seu pênis sendo mordido. — Comentei. — Deus me livre, senhor! — Riu de sua voz apavorada. Olho para o Felipe e ele nos olhava não entendo nada. Felipe às vezes tem dificuldade em aprender algumas palavras do português, e neste momento não entendeu nada que Paulo havia falado. Revirei os olhos e entortei a boca. — Cara, você precisa estudar mais o português. — Digo voltando a falar em inglês. — Como defenderá nossos clientes brasileiros se não sabe falar a língua deles? — Estou tentado. — Ele respondeu pesaroso. — Tente melhor e sem desculpas. Você escolheu o Brasil! — Jogo em sua cara. — Mas, não consigo entender algumas palavras, ou quando conversam rápido demais. — Só ouço desculpas. — Começará? Estou de férias, você não é o meu chefe aqui, você é só o meu amigo. — Diz zangado. — Hoje vim a trabalho e se você não quisesse trabalhar, não deveria ter vindo. E que férias são essas? — Trabalho pela manhã, Dudu, à noite estou de férias. — Riu sarcástico. — Não me chame assim! Você sempre vem com essas ideias quando está nessa cidade, esqueça essa idiotice e foque no trabalho. — Grosso! — Idiota! — Eu idiota? Não sou eu que está morando em uma casa suja porque não consegue ficar com uma empregada, nada está bom para o exigente Edward. — Debocha. — Não tenho culpa que são um bando de incompetentes. E quem disse que minha casa está suja? — O questionei zangado. — Eu que estou dormindo lá, lembra? Sua vida é trabalho! Quando você tem tempo de limpar a sua casa? Toda noite pedia comida, faz tempo que não come uma comida caseira. Sua vida é o trabalho! Torna a dizer. — Não sabe o que é viver! — O olhei com raiva ao ouvir as suas alfinetadas. — Você que é um insuportável Dudu. — Eu estava para responder a sua ofensa, quando Paulo Buzina tirando a minha total atenção. — O que foi, Paulo? — Tinha uma moça no caminho, buzinei para ela sair da frente, senhor. — O que ele disse? — Felipe perguntou exasperado. — Tinha uma mulher no caminho e ele buzinou para ela sair da frente. — Ah, sim! OH MY GOD! — Exclamou de repente quase gritando, assustando a mim e ao Paulo. — Edward olha que mulher gostosa. — Olhei para onde ele olhava, mas o carro já havia passado e eu não pude ver a tal mulher direito, só a silhueta e pelo traseiro é realmente gostosa. Porém, nada que eu não tenha visto. O que não falta é uma mulher gostosa nesse país. — Parece que nunca viu mulher. — Ironizei deixando de lado a nossa pequena discussão de agora a pouco. — Você fala isso porque não viu a mulher que vi, parecia uma pantera-negra, deliciosa. — Sei! — Digo enquanto Paulo estacionava o carro na vaga privativa. — Senhor, fico te esperando? — Não, vá para o hotel, ficarei por aqui mesmo. — Certo! — Nunca vi isso, as suas férias são sempre trabalhando, Dudu. — Reclama outra vez. — Não me chame assim. Esbravejo. — Já disse que não estamos de férias. — Você precisa esquecer o passado, só assim será feliz. — E quem disse que eu não sou feliz, Felipe? — O questionei saindo do carro e ele faz o mesmo. — Sou o CEO de uma empresa forte e reconhecida no mercado. — Estou falando de amor cara, chegar em casa e ser recebido por alguém. O que adianta você ter tudo isso e não ter ninguém para compartilhar? Para quem você deixará tudo isso se não tem ninguém. — Deixarei para você. — Respondo impaciente. — Estou bem do jeito que estou, Felipe, pare de se meter em minha vida. Você deveria seguir o seu próprio conselho! — Ele me encara com as sobrancelhas erguidas em desafio às minhas palavras. — Vamos à gerência, quero falar com Cláudia antes de encontrar os rapazes. — Digo mudando de assunto. — Ele afirmou em silêncio. — Encontrei alguém. — Estaquei no meio do caminho quando ouço as suas palavras ditas depois de um tempo em silêncio.— Como assim? — A conheci 3 meses atrás no aeroporto, quando voltava para New York. — No aeroporto daqui ou lá? — Daqui! Ela é brasileira, estava indo morar em New York, notei seu pavor e puxei conversa. — E você está namorando ela? — Não, ainda não, mas vou oficializar isso quando voltar, mas ela sabe que tenho interesse nela. — Engraçado... — O que tem graça? — Você parece apaixonado por uma mulher que conheceu a pouco e fode com várias mulheres. Que amor. — E quem disse que estou fodendo com várias mulheres? — Você faz questão de vim para cá. —Digo o óbvio. — Não consigo mais, não me sinto mais atraído, a menina que me acompanha, a Talita, ela só faz me ensinar o português, ou tentar. — Fico surpreso com suas palavras. — E você está 90 dias sem sexo? — Ele afirmou. — Eu não consigo, sinceramente falando, eu não consigo. — Porque você não encontrou a pessoa certa, cara. — Hum! — Respondo-lhe não acreditando em suas palavras. Eu já amei, ele sabe disso, então não tem p
BEATRIZ Sorrir agradecida assim que coloquei o refil com cheiro de lavanda no aromatizador do banheiro e apertei. O cheiro de lavanda tomou todo o ambiente fazendo o meu sorriso se alargar. Eu já havia limpado a suíte que o tal ricaço usaria fazia um tempo. Eu não o vi, nem a ele e nem ao rapaz que ocuparia o quarto que acabei de limpar. Se mainha me visse agora ficaria orgulhosa de mim. Peguei tudo que ela me ensinou sobre como ser uma boa camareira e apliquei nos quartos. E olhe que os quartos estavam sujos demais, a única coisa limpa eram os lençóis das grandes camas queen, mas até eles foram preciso trocar, devido à poeira que tomou todos os móveis. O quarto parecia um quarto de hotel convencional. Hotéis de rico, mas é convencional. A única diferença é que os quartos daqui não tem guarda-roupa, só uma cômoda. E que cômoda! Assim como os móveis da outra suíte, esses também são pretos, mas as cômodas diferiam em tamanhos. A do primeiro quarto que limpei a cômoda pare
Através do espelho vejo a mulher que se veste do meu corpo, que faz os mesmo gestos com as mãos, como se fosse eu. Às vezes sinto que a miserável acena para mim, me provoca e eu não posso fazer nada, porque mesmo não querendo, a mulher fraca, triste e feia que me encara, sou eu mesmo. As portas do elevador se abrem no térreo e eu volto a minha pose contínua de que tudo está bem e se não estivesse, um dia ficará. Vou em direção a área, chegando lá deixo o carrinho de materiais de limpeza, me troco no vestiário que fica entre a área de serviço e o banheiro para funcionários. No vestiário tem uns cinco armários dispostos próximo aos boxes de banho, dois boxes, na verdade. Vou ao armário que guardei as minhas coisas, tiro meu celular e a chave do armário de dentro do bolso de meu avental e abro o mesmo. Guardo meu celular dentro de minha bolsa, tiracolo e pego as minhas roupas. Tomo banho rapidamente, me arrumo e logo estou no encalço de dona Cláudia. Ela disse que eu estaria li
Salvador, Bahia!BEATRIZÉ noite e o vento forte balançava meus cabelos para todos os lados deixando os meus cachos embaraçados, o suor colava a minha calça, jeans clara e minha blusa, polo ao meu corpo me deixando desconfortável. Caminhei a passos largos pelas ruas do comércio, estava tudo tão silencioso. Alguns carros passavam e meu corpo gelou de medo. O que estou fazendo? Porque eu não dou meia volta? — Porque preciso! —Tento me convencer pela milésima vez. A vida é uma sucessão de escolhas e eu sinto, sinto em meu íntimo que vou me arrepender dessa minha escolha. Ou talvez seja só o medo falando. — Mas agora é tarde! Não dá para retroceder. Se dependesse apenas de mim eu estaria em meu quarto, estudando as matérias atrasadas da faculdade. Pensei, sentindo a tristeza nublar meus pensamentos mais uma vez, mas tão rapidamente surgiu, me obriguei a ignorá-la. Contudo, eu não posso! Não tenho dinheiro para pagar minha faculdade, não tenho dinheiro nem para pegar um ônibus
Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho. — Ciências Sociais? — Perguntei-lhe. — Isso! — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo?— Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio.— Sim!— Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas.Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar.— Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir. Troglodita.Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva de mim por se
Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim.— Puta que pariu. — Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. — Como trabalharei às 08h00 de relógio assim?Trabalhando. Penso.—Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. — Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz.Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo.Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas.Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas. Isso ele não me contou. Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa “COORDENAÇÃO”,
— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra.Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez.— Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora.Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida.— Agora? — Sim! Com urgência.
— Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu.E como uma pessoa que nem tem condições em comprar roupas decentes fará moda? Questionei-me em pensamento.Quero ser uma “design”, ditar a moda, criar roupas que todos queiram usar, mas parece um sonho tão grande para mim.Sim, eu poderia começar costurando, colocando meus desenhos em prática, mas tecido está caro, eu não tenho condições e Mainha nunca tinha o suficiente, então deixei esse sonho de lado.— Ah! Você fez pelo Enem. — Sim, não tenho condições de pagar uma faculdade. — Digo com pesar.— Entendo! — Ela fica em silêncio e eu me sinto no dever de quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós.— Eu e Lourdes fazemos... Quero dizer, fazíamos a aula de saúde pública juntas, no início eu e ela nos sentíamos deslocadas, ela por ser a mais velha e eu por ser a única negra cotista na sala. Nós meio que criamos uma proximidade e ficamos amigas. Ela só me contou ser uma… — Calo-me sem saber como con