MEU COWBOY - RUDE E GATO
MEU COWBOY - RUDE E GATO
Por: GreiceSS
Capítulo 01 - Bloqueio

Frustrada.

Irritada.

Com ódio.

Gritei, enterrando o rosto no travesseiro.

O som abafado não foi suficiente para expressar toda a minha revolta, então rolei na cama e arremessei o travesseiro contra a parede. Claro que ele caiu no chão de um jeito pateticamente inofensivo, o que só me deixou ainda mais irritada.

— Como eu pude ser tão burra?! — esbravejei, sentando na cama e bagunçando ainda mais o cabelo que já estava um caos.

Respirei fundo, tentando me acalmar. Contar até dez? Esquece. Se contar até dez funcionasse, eu já estaria zen igual um monge tibetano. Mas não. Eu estava a um passo de tacar o celular na parede e me autoexilar em uma montanha distante, longe da sociedade e dos idiotas que habitam nela.

Levantei de um pulo, marchando pelo quarto como um animal enjaulado. Cada passo ecoava minha fúria.

O motivo? Simples. Eu tinha passado dias, semanas, meses construindo uma ilusão. Alimentando uma esperança idiota baseada em nada mais que mensagens bonitinhas, emojis fofos e promessas vazias. Como se um "bom dia, princesa" fosse suficiente para me convencer de que ele era diferente.

Spoiler: não era.

Peguei o celular e encarei a última mensagem. A m*****a mensagem que me fez surtar. Três palavrinhas que detonaram minha paciência:

"Foi mal, Alice."

Sério? Foi mal? FOI MAL?!

Eu podia estar exagerando? Talvez. Mas e daí? Eu tinha todo o direito de surtar. De chorar. De quebrar alguma coisa — ainda que fosse apenas minha dignidade.

Suspirei, jogando o celular na cama e me deixando cair ao lado dele. Abracei um travesseiro, encarando o teto. Talvez fosse hora de aceitar a realidade: príncipes encantados só existiam nos contos de fadas. E eu? Bem, eu estava vivendo um belo de um conto do vigarista.

E o pior de tudo? Eu não conseguia escrever uma linha sequer há mais de três meses.

Uma escritora que não escreve? Era minha sentença de morte!

Já consigo enxergar meu futuro. Alice Montenegro decaiu depois do sucesso do best-seller Amor Sob Contrato, e pra completar, levou um chute na bunda por mensagem de texto.

Em alguns meses, minha editora iria me dispensar, meu nome ia sumir das prateleiras e eu ia acabar escrevendo resenhas fakes de vibradores na internet para pagar as contas. No Twitter, meu nome viraria um daqueles exemplos tristes de "onde foi parar aquela autora mesmo?". E, para fechar com chave de ouro, meu ex provavelmente apareceria feliz e apaixonado no I*******m, enquanto eu afogava minha tristeza em um pote de sorvete.

Lindo. Perfeito. Era oficial: minha vida estava indo ladeira abaixo sem freio.

— O que você está sapateando aí, menina? — Marta, a governanta da casa, apareceu no meu quarto.

— Meu fim está próximo, Martinha — caí de volta na cama.

Marta deu uma risadinha.

— Você está enfurnada nessa casa há dias, vai dar uma volta.

— Pra onde? — murmurei, enfiando a cara no travesseiro. — Para o bar mais próximo e me afogar em uma boa e velha dose de tequila?

— Para tomar um ar! — ela retrucou, puxando as cortinas e me cegando temporariamente com a luz do dia. — Parece um morcego, menina. Precisa ver gente, se mexer, fazer alguma coisa que não envolva reclamar e comer besteira.

Bufei, me sentando de qualquer jeito.

— Mas reclamar e comer besteira são os pilares da minha existência neste momento.

Marta cruzou os braços, me encarando como se fosse minha mãe.

— Levanta. Vai tomar um banho, colocar uma roupa decente e sair. Nem que seja para andar na rua e olhar a vida alheia. Você precisa de inspiração, não precisa?

Suspirei dramaticamente, mas ela estava certa. Talvez o universo não fosse me enviar um sinal divino enquanto eu estivesse largada na cama com migalhas de biscoito na roupa. Quem sabe, sair um pouco não fosse uma ideia tão ruim assim.

*

Andei pelas ruas movimentadas de São Paulo sem um destino definido. O sol quente batia no meu rosto, e o cheiro de café fresco das padarias me fez pensar que talvez a vida ainda tivesse pequenos prazeres a oferecer.

Foi então que parei em frente a uma floricultura. Um daqueles lugares que costumava ignorar, mas que, naquele momento, me fez refletir.

Nos meus livros, minhas protagonistas sempre ganhavam flores. Sempre havia um gesto romântico, um buquê deixado na porta, um vaso colorido na mesa da cozinha. Mas na vida real? A única flor que eu já tinha ganhado foi um arranjo do meu ex quando ele esqueceu nosso aniversário e tentou se redimir.

Ridículo.

Entrei na loja, determinada. O cheiro das flores misturava notas doces e terrosas, e me fez sentir algo que eu não sentia há um tempo: carinho por mim mesma. Escolhi um buquê de girassóis, vibrantes e alegres, como se fossem pequenos raios de sol em forma de planta.

— Para presente? — a atendente perguntou, embalando as flores com delicadeza.

Sorri.

— Sim. Para mim mesma.

Talvez eu não tivesse um romance digno de livro naquele momento, mas isso não significava que eu não pudesse me tratar como uma protagonista.

Segurei o buquê e continuei caminhando, observando os detalhes da cidade ao meu redor. Pessoas apressadas, carros buzinando, crianças correndo de mãos dadas com os pais. Tudo tão cheio de vida e ao mesmo tempo tão distante de mim.

Sentei-me em um banco na pracinha próxima e encarei as flores em meu colo. Tentei transformar aquele momento em algo inspirador, imaginar uma história, um romance novo. Mas nada fluía. Nenhuma ideia fazia sentido. Tudo parecia forçado, clichê, vazio.

Suspirei, frustrada. Talvez o problema não fosse a falta de ideias. Talvez o problema fosse eu.

Balancei a cabeça. Como eu podia escrever sobre sentimentos, emoções intensas e gestos grandiosos, se eu mesma estava presa em uma bolha de exaustão e bloqueio criativo?

Talvez eu precise sentir alguma coisa nova. Talvez precisasse sair da minha cabeça, viver alguma coisa que não envolvesse apenas ficção.

Mas como? Essa era a questão.

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