GUTEMBERG
Vincent balança a cabeça, parecendo divertido.
— Nós somos amigos. Nada disso é pessoal. Se eu te ajudar, vou querer algo em troca.
— Pode pegar o que quiser, Vincent.
Ele balança a cabeça.
— Um favor. No momento certo, sem perguntas.
— Tudo bem, só me diga onde ela está.
Ele fica em silêncio por um momento, o olhar analisando cada centímetro do meu rosto. Finalmente, ele se levanta, ajustando o paletó com um gesto fluido.
— Vou ver o que posso fazer. Mas lembre-se, Gutemberg, favores como esse vêm com consequências.
— Eu sei.
Vincent bufa, ajustando a gravata frouxa enquanto caminha em direção à porta. Mas antes de sair, ele para e se vira, os olhos azuis fixos nos meus, apertados como se estivessem tentando desvendar um segredo que eu me
DAVINAA chuva fina escorria pelas laterais do meu rosto, pequenas gotas frias que se misturavam ao calor da raiva fervendo sob minha pele. As luzes fracas dos postes piscavam, projetando sombras alongadas na rua vazia. Meus cotovelos descansavam sobre os joelhos dobrados, os dedos tamborilando impacientes contra a calça de couro encharcada. O batom rosa pink contrastava com a escuridão da noite, uma cor vibrante em meio ao cinza ao meu redor. Escolhi ele para parecer durona, bem, eu também precisava de algo chamativo para desviar a atenção do meu rosto de zumbi, as olheiras escuras.Havia quase um mês desde que Gutemberg soltou a bomba. Pryia havia sido traficada. Palavras que caíram como um soco no meu peito, roubando meu ar, minha sanidade. Eu tentei. Tentei ir até a delegacia, pedir ajuda, contar tudo. Mas na primeira vez, não consegui entrar. Na segunda, minhas pernas se moveram até lá, mas minha boca não conseguiu formar uma frase. Medo? Pânico? Eu não sabia. Só sabia que ningué
DAVINAA casa do Meia-noite exalava um cheiro de café forte e cigarro barato.Eu estava largada no sofá, as pernas cruzadas, torcendo meu cabelo molhado. A chuva engrossara no exato momento em que aqueles malditos assediadores decidiram aparecer, e agora eu estava ali, encharcada, rodeada por um bando de idiotas com ares de macho alfa.Timmy e Gutemberg estavam próximos ao balcão, ambos irritados e desgrenhados. O moicano perfeito de Timmy estava desfeito, e ele parecia prestes a explodir. Gutemberg, por sua vez, exibia a carranca de sempre, os punhos cerrados como se estivesse pronto para socar alguém. Talvez a mim, se tivesse chance.Tanto faz. Eu também estou além de irritada com eles.Meia-noite estava preparando café, o rosto meio oculto pela fumaça do cigarro que descansava no canto da boca.Ele claramente é uma daquelas pessoas que precisa de cafeína para continuar funcionando.Eu ignorei os três e me voltei para Aaron. Ele era o único ali que não parecia prestes a tentar me est
DAVINAEstou no colo de Aaron, seu braço em torno da minha cintura me lembrando de que ele está aqui para mim. Ok, ele pode ter sussurrado isso para mim quando tentei me levantar, mas eu acredito nele. Deito minha cabeça em seu peito e permito que ele me segure,seu aperto é como uma declaração sobre suas intenções e quase posso tocar nessa promessa. Eu deveria sair daqui, correr, gritar, fazer alguma coisa. Mas estou presa nas últimas palavras de Meia noite. Aliás, o babaca arrogante acabou de se retirar para atender um telefonema e eu ganhei nossa pequena batalha infantil de mijo.Ele desviou o olhar primeiro.— Eles têm um sistema fechado. Nada é deixado ao acaso. Políticos, policiais, seguranças... é uma teia bem construída — diz Gutemberg, sua voz carregada de um cansaço que eu não quero entender.Minha mente gira. Eles estão falando de comprar minha irmã. Minha irmã. Como se ela fosse um objeto um preço.Ninguém além de Aaron parece perceber que estou a um passo de surtar.Timmy
DAVINAGutemberg também gosta de você.De onde ele tirou isso?Meu estômago se revira. Engulo em seco e tento não ficar obcecada com as palavras Gutemberg e gosta de você na mesma frase.Eu respiro fundo, soltando um bufado que soa mais irritada do que eu gostaria. Não sei se estou brava ou só tentando me convencer de que não me importo. Olho para Aaron, tentando manter a expressão neutra, mas lá no fundo... bem, lá no fundo, eu já fantasiei sobre isso. Sobre ele. Sobre o ex da minha irmã. Gutemberg Ramsey. O cara rico que se meteu numa gangue, como se isso fosse uma maneira de provar algo ao papai. Pfft. Claro, porque é exatamente isso que ele parece. Um rebelde, cheio de problemas com a autoridade, querendo ser visto como alguém importante. Se eu
Gutemberg (Fantasma).— Fantasma, acorde.— Alguém cutuca meu braço e pela firmeza do toque posso dizer que não é uma mulher. Murmuro alguma coisa e puxo o lençol, cobrindo metade do meu rosto.— Acorda! Aqui não é motel, não.Espere, talvez seja uma mulher.Essa voz…—Meu marido está vindo, você precisa ir!— Eu puxo o lençol para baixo, avistando um par de pernasvirado e feminino, sorte minha, subindo a captura do olhara camisa curtae entãoa comissão de frente. Foda-se! Os dois melões são então cheio que estão quase pulando na minha cara e exigindo uma mordida. Oh! Eles têm marcas de biquíni.Adoro essas marcas.—Você é casada, linda?— Abro um sorriso indecente, passando a língua entre os lábios sem me desviar do lindo par de seios.— OK… está brincando com a minha cara?— Ela diz, adquirindo uma expressão irritada que me faz querer revirar os olhos, mas permaneço neutro, apenas olhando para ela e esperando por uma resposta.— Sério?—Fala, com as duas sobrancelhas levantadas.— O que é sé
DAVINAO cheiro doce da calda de morango que a vovó fez ainda é forte quando entro na cozinha, apesar de tudo estar limpo e desinfectado. Ela disse que este é um bolo especial, pois faz parte de uma grande encomenda que recebeu, e que o dinheiro será usado para alugar um espaço comercial para abrir sua padaria. Como uma formiga atrás de um doce, sigo meu perfume favorito até rastrear o recipiente de plástico transparente, estampado com o logotipo exclusivo de sua marca. Que eu mesmo fiz no celular, na bancada de mármore que separa a parte do fogão da mesa que usamos para as refeições. Pergunto ao exagerado laço rosa que ela coloca em todos os seus pedidos e leio o nome escrito na cobertura do bolo.Amber.A irmã do meio do traficante local. Bem, não qualquer mafioso, o mais assustador que conheço.Eu sabia que ela estava fazendo aniversário hoje, fui acordada pela queima de fogos que o irmão organizou exclusivamente para a data, mas não sabia que era a vovó quem estava preparando todos
DAVINAPerdi a noção do tempo que passei olhando para a porta, mas já fazia alguns minutos. Muitos minutos.Enxuguei minhas lágrimas, peguei o bolo da Amber e fui até a casa do diabo. O medo que normalmente sinto quando passo por homens armados que guardam o caminho até a casa de Blake não estava lá como sempre, meus sentidos estavam entorpecidos pelo que minha irmã acabara de fazer. Os doces que vovó fez já haviam sido entregues, junto com os cupcakes e salgados, então não precisei fazer mais de uma viagem. Porém, a pessoa que deveria me receber não estava lá e tive que pedir ajuda ao meu amigo de infância.A última pessoa no mundo com quem eu queria conversar agora.—Você estava chorando.— Não era uma pergunta, mas neguei.—Tenho que ir. — disse assim que recebi o resto do dinheiro.—Eu conheço você, Davina— Timmy agarrou meu braço suavemente, mas com força suficiente para me fazer parar e olhar para ele.—Sua impressão.—Murmurei, já arrependido de ter pedido sua ajuda.—Duvido. Éra
GUTEMBERG (Fantasma)Todo governo tem leis.Todo crime tem um propósito.Toda sociedade tem regras.É pura lógica, estamos tão obcecados com a ideia de liberdade que não vemos o óbvio. Ainda somos os mesmos. Acontece que é muito mais. É fácil fingir que não há controle. As leis do mundo do crime são simples, mas aqui há uma coroa, espinhosa e ensanguentada, um cinto de munição embaixo da cabeça, e cada decisão é minimamente pensada para causar o menor impacto. O que também significa que as ordens do rei devem ser obedecidas.Limpo a garganta, coçando a nuca enquanto Timmy limpa sua pistola. Como se a noite passada nunca tivesse existido.—Você está bem?— ele pergunta com um sorriso provocante nos lábios, feliz o suficiente para me fazer opinar quantas vezes ele já participou de torturas. Muitos devem ser a resposta. Para alguém como Timmy, nascido e criado na pobreza, os episódios de violência surgem naturalmente. Mas não para mim.Tento não parecer que estou prestes a vomitar só de o