DAVINAEstou no colo de Aaron, seu braço em torno da minha cintura me lembrando de que ele está aqui para mim. Ok, ele pode ter sussurrado isso para mim quando tentei me levantar, mas eu acredito nele. Deito minha cabeça em seu peito e permito que ele me segure,seu aperto é como uma declaração sobre suas intenções e quase posso tocar nessa promessa. Eu deveria sair daqui, correr, gritar, fazer alguma coisa. Mas estou presa nas últimas palavras de Meia noite. Aliás, o babaca arrogante acabou de se retirar para atender um telefonema e eu ganhei nossa pequena batalha infantil de mijo.Ele desviou o olhar primeiro.— Eles têm um sistema fechado. Nada é deixado ao acaso. Políticos, policiais, seguranças... é uma teia bem construída — diz Gutemberg, sua voz carregada de um cansaço que eu não quero entender.Minha mente gira. Eles estão falando de comprar minha irmã. Minha irmã. Como se ela fosse um objeto um preço.Ninguém além de Aaron parece perceber que estou a um passo de surtar.Timmy
DAVINAGutemberg também gosta de você.De onde ele tirou isso?Meu estômago se revira. Engulo em seco e tento não ficar obcecada com as palavras Gutemberg e gosta de você na mesma frase.Eu respiro fundo, soltando um bufado que soa mais irritada do que eu gostaria. Não sei se estou brava ou só tentando me convencer de que não me importo. Olho para Aaron, tentando manter a expressão neutra, mas lá no fundo... bem, lá no fundo, eu já fantasiei sobre isso. Sobre ele. Sobre o ex da minha irmã. Gutemberg Ramsey. O cara rico que se meteu numa gangue, como se isso fosse uma maneira de provar algo ao papai. Pfft. Claro, porque é exatamente isso que ele parece. Um rebelde, cheio de problemas com a autoridade, querendo ser visto como alguém importante. Se eu
DAVINAO relógio na parede faz um tique-taque irritante, como se estivesse contando os segundos para algo inevitável. Minha perna balança impaciente, o coração acelerado. Eu tento me convencer de que é só pela minha irmã, pela possibilidade de finalmente encontrá-la. Mas a verdade? Meu peito está um caos.Eu não achei que voltaria para esta casa tão cedo. Mas aqui estou eu, sentada no chão da casa de Meia-noite, cercada pelos caras que, confessaram que estão apaixonados por mim. Bem, Gutemberg não se declarou, mas Aaron colocou essa pulga atrás da minha orelha e não consigo me livrar do pensamento. E como não estaria? Gutemberg… Fantasma. Não falou comigo desde a última vez que estive aqui, ele também não disse nada desde que cheguei, mas seu olhar pesa sobre mim sempre que nos encontramos. Como agora.Ele está sentado no sofá, as pernas afastadas e o notebook equilibrado entre elas. A luz azul da tela reflete em seu rosto sério, a testa franzida. Ele veste uma blusa branca e tem o c
DAVINAO ar parecia rarefeito.O brilho frio da tela iluminava nossos rostos, destacando cada linha de tensão e cansaço. Meus dedos estavam cerrados sobre o tecido da minha blusa, tão fortes que doíam. Mas eu não soltaria. Não até Pryia estar segura.A transmissão continuava. Uma a uma, as garotas eram empurradas para o palco, expostas como mercadoria, e vendidas para os homens mascarados nas poltronas da frente ou para os covardes que enchiam a caixa de mensagem da live. Meu estômago revirava. Cada número anunciado era um pesadelo se repetindo. A garota número 6 tinha acabado de ser vendida por uma quantia absurda. E agora era a vez dela.Pryia.Ela parecia frágil debaixo das luzes implacáveis. Um vestido fino demais, expunha seu corpo como se o propósito fosse lembrá-la de que ali ela não passava de uma mercadoria bonita, uma boneca enfeitada. Mas seus olhos... seus olhos me fizeram prender o fôlego. Mesmo tremendo, mesmo apavorada, ela os mantinha erguidos, desafiando aqueles monst
DAVINAA moto rugiu na noite enquanto Gutemberg me levava para casa. Meu coração batia acelerado, mas, desta vez, não era só pela adrenalina. Eu amava estar na garupa, sentir o vento contra o rosto, o calor dele tão próximo. Poder abraçá-lo por trás.E isso era um problema.Porque eu estava sentindo coisas por três caras diferentes.Quatro, se eu contasse Meia-noite. Mas era um não enorme para isso.Quando finalmente paramos em frente à minha casa, desci, ainda sentindo o frio da ausência do corpo dele. Devolvi o capacete, mas ele empurrou de volta para mim.— Fica com ele, comprei para você.— O q-quê?— Você reclamou que o outro era frouxo.— sim, eu fiz isso. O antigo escorregava o tempo todo e eu tinha que manter uma mão na cintura dele e outra no capacete. Eu só não...— Minha reclamação não tinha segundas intenções.— Eu sei.— E também não faz sentido, não é como se eu fosse andar com você de moto o tempo todo.— Talvez você ande.Senti um incômodo no estômago. Baixei o olhar.
DAVINAO vento frio do fim da tarde me fazia apertar os braços contra o corpo, enquanto olhava ao redor da praça quase vazia.Gutemberg estava atrasado.Ele disse que se atrasaria,mas já se passou quase uma hora. Olho para o meu celular em busca de alguma mensagem, mas não tem nada.Preciso saber o que aconteceu depois que minha irmã foi leiloada como um objeto qualquer. Meu peito ainda queima de raiva só de lembrar.Assim que cheguei em casa na noite passada, exausta, excitada, confusa e me sentindo impotente, encontrei minha mãe no escuro. Ela veio até mim com um sorriso no rosto. Um sorriso. Fiquei tão sem reação quando ela ligou a luz e vi seu rosto, que quase ignorei o que ela estava falando.Ela segurava o celular com força, os olhos brilhando de uma felicidade que me fez querer gritar.— Ela entrou em contato! — minha mãe exclamou, como se aquilo fosse a melhor notícia do mundo. E deveria, se eu não tivesse assistido Pryia ser vendida. A verdade é uma cadela cruel. — Davina? —
VINCENTEu estava recostado no banco de trás da SUV blindada, os dedos tamborilando no couro enquanto observava o movimento da rua pelo vidro escurecido. A Espanha tinha um ritmo próprio, diferente do que eu estava acostumado, mas negócios de família me trouxeram até aqui. E, claro, Pryia.Gutemberg tinha feito um alvoroço insuportável sobre ela, a ponto de abrir a carteira e gastar uma pequena fortuna. Eu nunca o vi agindo de forma tão sentimental. Ele realmente a ama? Isso explicaria seu comportamento aflito e desesperado. Ele foi tão descuidado em me mostrar sua fraqueza que me irrita.Eu não era um santo, longe disso, mas tráfico de gente era o ato mais baixo que existia. Quem faz isso é escória.O pior? Foi fácil. Fácil demais. Perguntar para as pessoas certas, demonstrar interesse. Meu nome abriu portas. Em pouco tempo, eu já era um comprador VIP. Gutemberg não sabia, mas fui convidado para a festa de avaliação que acontecia um dia antes do leilão. Lá, elas eram exibidas, forçad
VINCENTA fumaça dos charutos se misturava ao ar pesado do salão, impregnando o ambiente com um cheiro espesso de tabaco e desconfiança. Eu estava cercado por homens que se consideravam intocáveis, figuras que operavam nos bastidores da política e do crime, com sorrisos afiados como lâminas e palavras tão traiçoeiras quanto facas nas costas. Cobras peçonhentas, cada uma esperando o momento certo para atacar.Na cabeceira da mesa, meu pai, mantinha-se impassível, sua presença dominando o cômodo como sempre. Os olhos astutos passavam por cada rosto, avaliando as expressões enquanto a discussão esquentava. O tópico da noite? O aumento do policiamento nas fronteiras. E, mais especificamente, por que a força policial parecia estar um passo à frente de nossos movimentos.— É curioso, não acham? — A voz de Salvatore ressoou na sala, firme e controlada. Ele era o consigliere do meu pai, filho mais velho de uma das famílias mais tradicionais da Itália. — O policiamento sempre aparece nos dias