DAVINA
Gutemberg também gosta de você.
De onde ele tirou isso?
Meu estômago se revira. Engulo em seco e tento não ficar obcecada com as palavras Gutemberg e gosta de você na mesma frase.
Eu respiro fundo, soltando um bufado que soa mais irritada do que eu gostaria. Não sei se estou brava ou só tentando me convencer de que não me importo. Olho para Aaron, tentando manter a expressão neutra, mas lá no fundo... bem, lá no fundo, eu já fantasiei sobre isso. Sobre ele. Sobre o ex da minha irmã. Gutemberg Ramsey. O cara rico que se meteu numa gangue, como se isso fosse uma maneira de provar algo ao papai. Pfft. Claro, porque é exatamente isso que ele parece. Um rebelde, cheio de problemas com a autoridade, querendo ser visto como alguém importante. Se eu
DAVINAO relógio na parede faz um tique-taque irritante, como se estivesse contando os segundos para algo inevitável. Minha perna balança impaciente, o coração acelerado. Eu tento me convencer de que é só pela minha irmã, pela possibilidade de finalmente encontrá-la. Mas a verdade? Meu peito está um caos.Eu não achei que voltaria para esta casa tão cedo. Mas aqui estou eu, sentada no chão da casa de Meia-noite, cercada pelos caras que, confessaram que estão apaixonados por mim. Bem, Gutemberg não se declarou, mas Aaron colocou essa pulga atrás da minha orelha e não consigo me livrar do pensamento. E como não estaria? Gutemberg… Fantasma. Não falou comigo desde a última vez que estive aqui, ele também não disse nada desde que cheguei, mas seu olhar pesa sobre mim sempre que nos encontramos. Como agora.Ele está sentado no sofá, as pernas afastadas e o notebook equilibrado entre elas. A luz azul da tela reflete em seu rosto sério, a testa franzida. Ele veste uma blusa branca e tem o c
DAVINAO ar parecia rarefeito.O brilho frio da tela iluminava nossos rostos, destacando cada linha de tensão e cansaço. Meus dedos estavam cerrados sobre o tecido da minha blusa, tão fortes que doíam. Mas eu não soltaria. Não até Pryia estar segura.A transmissão continuava. Uma a uma, as garotas eram empurradas para o palco, expostas como mercadoria, e vendidas para os homens mascarados nas poltronas da frente ou para os covardes que enchiam a caixa de mensagem da live. Meu estômago revirava. Cada número anunciado era um pesadelo se repetindo. A garota número 6 tinha acabado de ser vendida por uma quantia absurda. E agora era a vez dela.Pryia.Ela parecia frágil debaixo das luzes implacáveis. Um vestido fino demais, expunha seu corpo como se o propósito fosse lembrá-la de que ali ela não passava de uma mercadoria bonita, uma boneca enfeitada. Mas seus olhos... seus olhos me fizeram prender o fôlego. Mesmo tremendo, mesmo apavorada, ela os mantinha erguidos, desafiando aqueles monst
DAVINAA moto rugiu na noite enquanto Gutemberg me levava para casa. Meu coração batia acelerado, mas, desta vez, não era só pela adrenalina. Eu amava estar na garupa, sentir o vento contra o rosto, o calor dele tão próximo. Poder abraçá-lo por trás.E isso era um problema.Porque eu estava sentindo coisas por três caras diferentes.Quatro, se eu contasse Meia-noite. Mas era um não enorme para isso.Quando finalmente paramos em frente à minha casa, desci, ainda sentindo o frio da ausência do corpo dele. Devolvi o capacete, mas ele empurrou de volta para mim.— Fica com ele, comprei para você.— O q-quê?— Você reclamou que o outro era frouxo.— sim, eu fiz isso. O antigo escorregava o tempo todo e eu tinha que manter uma mão na cintura dele e outra no capacete. Eu só não...— Minha reclamação não tinha segundas intenções.— Eu sei.— E também não faz sentido, não é como se eu fosse andar com você de moto o tempo todo.— Talvez você ande.Senti um incômodo no estômago. Baixei o olhar.
DAVINAO vento frio do fim da tarde me fazia apertar os braços contra o corpo, enquanto olhava ao redor da praça quase vazia.Gutemberg estava atrasado.Ele disse que se atrasaria,mas já se passou quase uma hora. Olho para o meu celular em busca de alguma mensagem, mas não tem nada.Preciso saber o que aconteceu depois que minha irmã foi leiloada como um objeto qualquer. Meu peito ainda queima de raiva só de lembrar.Assim que cheguei em casa na noite passada, exausta, excitada, confusa e me sentindo impotente, encontrei minha mãe no escuro. Ela veio até mim com um sorriso no rosto. Um sorriso. Fiquei tão sem reação quando ela ligou a luz e vi seu rosto, que quase ignorei o que ela estava falando.Ela segurava o celular com força, os olhos brilhando de uma felicidade que me fez querer gritar.— Ela entrou em contato! — minha mãe exclamou, como se aquilo fosse a melhor notícia do mundo. E deveria, se eu não tivesse assistido Pryia ser vendida. A verdade é uma cadela cruel. — Davina? —
VINCENTEu estava recostado no banco de trás da SUV blindada, os dedos tamborilando no couro enquanto observava o movimento da rua pelo vidro escurecido. A Espanha tinha um ritmo próprio, diferente do que eu estava acostumado, mas negócios de família me trouxeram até aqui. E, claro, Pryia.Gutemberg tinha feito um alvoroço insuportável sobre ela, a ponto de abrir a carteira e gastar uma pequena fortuna. Eu nunca o vi agindo de forma tão sentimental. Ele realmente a ama? Isso explicaria seu comportamento aflito e desesperado. Ele foi tão descuidado em me mostrar sua fraqueza que me irrita.Eu não era um santo, longe disso, mas tráfico de gente era o ato mais baixo que existia. Quem faz isso é escória.O pior? Foi fácil. Fácil demais. Perguntar para as pessoas certas, demonstrar interesse. Meu nome abriu portas. Em pouco tempo, eu já era um comprador VIP. Gutemberg não sabia, mas fui convidado para a festa de avaliação que acontecia um dia antes do leilão. Lá, elas eram exibidas, forçad
VINCENTA fumaça dos charutos se misturava ao ar pesado do salão, impregnando o ambiente com um cheiro espesso de tabaco e desconfiança. Eu estava cercado por homens que se consideravam intocáveis, figuras que operavam nos bastidores da política e do crime, com sorrisos afiados como lâminas e palavras tão traiçoeiras quanto facas nas costas. Cobras peçonhentas, cada uma esperando o momento certo para atacar.Na cabeceira da mesa, meu pai, mantinha-se impassível, sua presença dominando o cômodo como sempre. Os olhos astutos passavam por cada rosto, avaliando as expressões enquanto a discussão esquentava. O tópico da noite? O aumento do policiamento nas fronteiras. E, mais especificamente, por que a força policial parecia estar um passo à frente de nossos movimentos.— É curioso, não acham? — A voz de Salvatore ressoou na sala, firme e controlada. Ele era o consigliere do meu pai, filho mais velho de uma das famílias mais tradicionais da Itália. — O policiamento sempre aparece nos dias
DAVINAA rua estava silenciosa, envolta pela luz fria do sol da manhã. O vento passava por nós como um sussurro espectral, mas eu não sentia nada além do calor do corpo de Pryia contra o meu. Meus braços a apertavam com força, como se quisessem fundi-la a mim, como se eu pudesse mantê-la segura apenas com o toque. Meu peito subia e descia em soluços descontrolados, e cada lágrima quente que escorria pelo meu rosto era um agradecimento mudo a Deus por tê-la de volta.— Eu achei que nunca mais ia te ver — murmurei entre os soluços, afundando meu rosto no ombro dela.— Desculpa, Davina. Me desculpa — a voz dela veio engasgada, trêmula, carregada de arrependimento. — Eu fui burra. Eu fui tão burra…Seu corpo também tremia, mas não apenas pelo frio. As palavras dela me perfuravam o peito, e eu queria dizer que não importava, que tudo estava bem agora, mas as palavras se perderam no nó da minha garganta. Eu só podia continuar segurando-a com todas as minhas forças.Foi quando ergui os olhos
DAVINAO silêncio dentro do carro de Gutemberg era tão espesso que eu podia sentir seu peso sobre mim. O motor roncava suave, um ruído baixo que se misturava ao brilho pálido dos postes passando pela janela. Minha mente, no entanto, estava longe dali. Pryia disse que não conhecia nenhum KJ. Talvez fosse verdade, mas não era impossível que ele tivesse usado outro nome. Foi por isso que pedi a Aaron que conseguisse uma foto dele. Uma prova concreta, algo que minha irmã não pudesse negar.Meu peito apertou ao lembrar que não contei sobre nosso pai. Ela não precisava saber agora. Contar seria apenas um peso desnecessário, um fio a mais de culpa para enredá-la. O relacionamento deles nunca foi bom, ma eu sei que Pryia sempre buscou aprovação. Gutemberg não disse nada desde que entramos no carro. Suas mãos estavam tensas no volante, os olhos grudados no espelho retrovisor, como se esperasse alguém.— Você acha que estamos sendo seguidos? — minha voz cortou o silêncio, seca.Ele não responde