GUTEMBERG
Enquanto tentava organizar meus pensamentos, um dos seguranças entrou na sala. Ele inclinou-se para KJ e sussurrou algo em seu ouvido, rápido, baixo demais para que eu conseguisse captar. KJ franziu o cenho, mas logo sua expressão mudou para algo que misturava fúria e excitação.
— Com licença, Gutemberg. Parece que algo exige minha atenção imediata. — Ele se levantou, ajeitando o terno, e saiu da sala com passos firmes.
Observei cada movimento dele, como um predador esperando pelo momento certo de atacar. Não fazia ideia do que tinha acontecido, mas a reação de KJ me dizia que era algo grande. Talvez fosse minha chance de fazer algo ali, mas o segurança que permaneceu na sala me encarava, seus olhos me analisando como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.
GUTEMBERGEu sinto as mãos de KJ apertando as minhas, afastando-as do seu pescoço enquanto ele tosse sangue, o barulho rouco cortando o ar. Não é a primeira vez que vejo um homem em desespero, mas isso não me impede de sentir uma satisfação sádica ao ver ele ali, sufocando com sua própria podridão. Mas os seguranças de KJ já estão me puxando, tentando me afastar dele, e a confusão toma conta da cena. Eles não sabem se devem me bater ou apenas ficar em silêncio. O medo deles está estampado em seus rostos.Os nossos olhares se encontram, e a tensão é palpável. Eu sinto meu corpo se aquecer de raiva enquanto encaro o bastardo, com uma fúria que ameaça transbordar, mas preciso manter o controle. Eu já cometi um erro, isso eu sei. Estou
DAVINAO carro seguia pela estrada, e o silêncio pesado era preenchido apenas pelo som abafado do motor e do pneu rasgando o asfalto molhado. A chuva tamborilava no teto do veículo, porque o clima não poderia ser gentil e oferecer uma madrugada tranquila, não, tudo tinha que terminar em uma tempestade sugestiva e esmagadora, igual quando você cria uma enorme expectativa sobre uma comida e quando finalmente prova, falta sal. O barulho dos pingos de chuva batendo contra o carro, criam uma melodia descompassada, enquanto eu me encolhia no banco do passageiro, os braços cruzados e o olhar fixo na janela. Não que houvesse algo de interessante para ver. Gotas escorriam pelo vidro, distorcendo o mundo lá fora, mas pelo menos me davam uma desculpa para não olhar para ele.Gutemberg resmungava algo sob a respiração, provavelmente para si, mas eu sabia que era sobre mim. Não era novidade. Tudo nele, da maneira como segurava o volante com firmeza demais às sobrancelhas franzidas, gritava irritaç
DAVINAEu engoli em seco, o desconforto crescendo. Estar sozinha com ele no carro já era complicado. Ir para a casa dele? Algo me dizia que as coisas estavam prestes a ficarem mais confusas.Gutemberg estacionou em frente a um prédio de fachada discreta, suas luzes piscando suavemente como se refletissem meu estado interno. Antes que eu pudesse pensar em abrir a porta e sair correndo, ele já havia contornado o carro e aberto a minha porta, sua mão segurando meu braço com firmeza, mas sem machucar. A chuva continuava batendo suavemente no teto do carro, como uma trilha sonora dramática para o que quer que fosse isso entre nós. Ele me olhou de cima a baixo, uma avaliação que fez o sangue subir ao meu rosto.— Anda logo, Davina. Não tenho o dia todo. — Sua voz era impaciente, mas havia algo mais ali, algo que me deixava inquieta.— Eu não pedi para vir até aqui. — Puxei meu braço, mas ele não cedeu.— Não pediu, mas veio mesmo assim. — Ele arqueou uma sobrancelha, aquele sorriso irritant
DAVINAEstar na casa de Gutemberg já era estranho o suficiente, mas o peso dos braços de Aaron ao meu redor tornava tudo ainda mais deslocado, principalmente pela forma como Gutemberg estava nos observando. Ele estava encostado na porta, os braços cruzados, me encarando com uma expressão indecifrável.Engoli em seco, sentindo meu rosto aquecer e tentei me desvencilhar de Aaron.O que diabos esses caras querem de mim? E que tipo de pessoa se sente atraída pelo ex da irmã? Principalmente, um ex tóxico.— O que você está fazendo aqui? — perguntei a Aaron, tentando ignorar que ele ainda não havia me soltado. Ele finalmente me largou e se jogou no pequeno sofá ao lado, um sorriso despreocupado dançando em seus lábios.— Eu segui o Fantasma. — respondeu ele, apontando com o queixo na direção de Gutemberg. — Não confio nele.Gutemberg bufou, e o som reverberou pela sala, carregado de desprezo. Mas eu me senti aliviada, quase grata por Aaron estar aqui. Um rosto familiar era exatamente o que
Gutemberg (Fantasma). — Fantasma, acorde.— Alguém cutuca meu braço e pela firmeza do toque posso dizer que não é uma mulher. Murmuro alguma coisa e puxo o lençol, cobrindo metade do meu rosto.— Acorda! Aqui não é motel, não. Espere, talvez seja uma mulher. Essa voz… —Meu marido está vindo, você precisa ir!— Eu puxo o lençol para baixo, avistando um par de pernasvirado e feminino, sorte minha, subindo a captura do olhara camisa curtae entãoa comissão de frente. Foda-se! Os dois melões são então cheio que estão quase pulando na minha cara e exigindo uma mordida. Oh! Eles têm marcas de biquíni. Adoro essas marcas. —Você é casada, linda?— Abro um sorriso indecente, passando a língua entre os lábios sem me desviar do lindo par de seios. — OK… está brincando com a minha cara?— Ela diz, adquirindo uma expressão irritada que me faz querer revirar os olhos, mas permaneço neutro, apenas olhando para ela e esperando por uma resposta.— Sério?—Fala, com as duas sobrancelhas levantadas. — O
DAVINAO cheiro doce da calda de morango que a vovó fez ainda é forte quando entro na cozinha, apesar de tudo estar limpo e desinfectado. Ela disse que este é um bolo especial, pois faz parte de uma grande encomenda que recebeu, e que o dinheiro será usado para alugar um espaço comercial para abrir sua padaria. Como uma formiga atrás de um doce, sigo meu perfume favorito até rastrear o recipiente de plástico transparente, estampado com o logotipo exclusivo de sua marca. Que eu mesmo fiz no celular, na bancada de mármore que separa a parte do fogão da mesa que usamos para as refeições. Pergunto ao exagerado laço rosa que ela coloca em todos os seus pedidos e leio o nome escrito na cobertura do bolo.Amber.A irmã do meio do traficante local. Bem, não qualquer mafioso, o mais assustador que conheço.Eu sabia que ela estava fazendo aniversário hoje, fui acordada pela queima de fogos que o irmão organizou exclusivamente para a data, mas não sabia que era a vovó quem estava preparando todos
DAVINAPerdi a noção do tempo que passei olhando para a porta, mas já fazia alguns minutos. Muitos minutos.Enxuguei minhas lágrimas, peguei o bolo da Amber e fui até a casa do diabo. O medo que normalmente sinto quando passo por homens armados que guardam o caminho até a casa de Blake não estava lá como sempre, meus sentidos estavam entorpecidos pelo que minha irmã acabara de fazer. Os doces que vovó fez já haviam sido entregues, junto com os cupcakes e salgados, então não precisei fazer mais de uma viagem. Porém, a pessoa que deveria me receber não estava lá e tive que pedir ajuda ao meu amigo de infância.A última pessoa no mundo com quem eu queria conversar agora.—Você estava chorando.— Não era uma pergunta, mas neguei.—Tenho que ir. — disse assim que recebi o resto do dinheiro.—Eu conheço você, Davina— Timmy agarrou meu braço suavemente, mas com força suficiente para me fazer parar e olhar para ele.—Sua impressão.—Murmurei, já arrependido de ter pedido sua ajuda.—Duvido. Éra
GUTEMBERG (Fantasma)GutembergTodo governo tem leis.Todo crime tem um propósito.Toda sociedade tem regras.É pura lógica, estamos tão obcecados com a ideia de liberdade que não vemos o óbvio. Ainda somos os mesmos. Acontece que é muito mais. É fácil fingir que não há controle. As leis do mundo do crime são simples, mas aqui há uma coroa, espinhosa e ensanguentada, um cinto de munição embaixo da cabeça, e cada decisão é minimamente pensada para causar o menor impacto. O que também significa que as ordens do rei devem ser obedecidas.Limpo a garganta, coçando a nuca enquanto Timmy limpa sua pistola. Como se a noite passada nunca tivesse existido.—Você está bem?— ele pergunta com um sorriso provocante nos lábios, feliz o suficiente para me fazer opinar quantas vezes ele já participou de torturas. Muitos devem ser a resposta. Para alguém como Timmy, nascido e criado na pobreza, os episódios de violência surgem naturalmente. Mas não para mim.Tento não parecer que estou prestes a vomit