DAVINAO silêncio dentro do carro era ensurdecedor. A única trilha sonora era o ronco baixo do motor e o tamborilar nervoso dos meus dedos contra a perna. Gutemberg parecia tão desconfortável quanto eu, uma mão no volante e a outra descansando no câmbio, os olhos fixos na estrada à frente.Finalmente, criei coragem para romper o silêncio.– Obrigada. – Minha voz soou mais fraca do que eu queria. – Por ter libertado meu pai das mãos do KJ.Gutemberg não desviou os olhos da estrada, mas seus dedos no volante ficaram tensos.– Eu vou pagar o dinheiro de volta. Não sei como, mas vou dar um jeito.Ele soltou uma risada curta, áspera, que parecia mais um reflexo do que uma reação genuína.– Não precisa se preocupar com isso agora.A forma como ele disse aquilo, como se o assunto fosse insignificante, me irritou.– Não me preocupar? Meu pai foi sequestrado por sua causa, e agora eu tenho uma dívida com um criminoso. Claro que vou me preocupar!Bufei, cruzando os braços, enquanto ele mantinha
GUTEMBERGMe sentei na beira do colchão enquanto o peso da noite passada pairava como um nevoeiro sufocante. A boate, KJ, o caos... Tudo uma bagunça que eu sabia que acabaria em um confronto inevitável com meu pai. A madrugada tinha sido longa, e o relógio já marcava quase oito da manhã. Eu não dormi nem um minuto. Como poderia?Só que isso era o de menos. O que realmente queimava em mim era outra coisa. Pryia.KJ tinha traficado minha ex, o pior, é que havia uma chance real de meu pai estar envolvido. Não podia falar o nome dela, nem mesmo cogitar que ele soubesse sobre nossa ligação. Eu precisava descobrir se foi um golpe consciente ou apenas coincidência.Encostei na bancada da cozinha, em um dos poucos móveis que eu mesmo tinha escolhido. O esconderijo era funcional, discreto, mas nada aqui parecia meu. Fiz um café e bebi, então tomei um banho e troquei de roupa, escolhendo algo que não chamasse atenção. Olhei rapidamente para o espelho rachado do banheiro. Meus olhos estavam fund
GUTEMBERGAssim que abri a porta do apartamento, a cena que me aguardava me atingiu como um soco no estômago. Davina estava lá, no meio da sala, mas não estava sozinha.Timmy e Aaron flanqueavam os lados dela como anjos protetores. Ou talvez como demônios prontos para destruir o mundo por ela. Eles me encararam com olhares duros, como se qualquer movimento em falso fosse o suficiente para que partissem para cima de mim.Mas não eram eles que prendiam minha atenção. Era Davina.Os olhos dela estavam inchados e vermelhos, como se ela tivesse chorado a noite inteira. O cabelo despenteado caía em mechas rebeldes sobre os ombros, e as roupas que ela usava, um moletom folgado e uma blusa larga, a faziam parecer menor do que realmente era.Ela parecia... quebrada. Quebrada de uma forma que eu nunca tinha visto antes. E tão triste. Uma tristeza que parecia devorar cada parte dela, deixando só os pedaços.Por um momento, me vi sem palavras. Era difícil associar essa figura à Davina que eu con
Gutemberg (Fantasma). — Fantasma, acorde.— Alguém cutuca meu braço e pela firmeza do toque posso dizer que não é uma mulher. Murmuro alguma coisa e puxo o lençol, cobrindo metade do meu rosto.— Acorda! Aqui não é motel, não. Espere, talvez seja uma mulher. Essa voz… —Meu marido está vindo, você precisa ir!— Eu puxo o lençol para baixo, avistando um par de pernasvirado e feminino, sorte minha, subindo a captura do olhara camisa curtae entãoa comissão de frente. Foda-se! Os dois melões são então cheio que estão quase pulando na minha cara e exigindo uma mordida. Oh! Eles têm marcas de biquíni. Adoro essas marcas. —Você é casada, linda?— Abro um sorriso indecente, passando a língua entre os lábios sem me desviar do lindo par de seios. — OK… está brincando com a minha cara?— Ela diz, adquirindo uma expressão irritada que me faz querer revirar os olhos, mas permaneço neutro, apenas olhando para ela e esperando por uma resposta.— Sério?—Fala, com as duas sobrancelhas levantadas. — O
DAVINAO cheiro doce da calda de morango que a vovó fez ainda é forte quando entro na cozinha, apesar de tudo estar limpo e desinfectado. Ela disse que este é um bolo especial, pois faz parte de uma grande encomenda que recebeu, e que o dinheiro será usado para alugar um espaço comercial para abrir sua padaria. Como uma formiga atrás de um doce, sigo meu perfume favorito até rastrear o recipiente de plástico transparente, estampado com o logotipo exclusivo de sua marca. Que eu mesmo fiz no celular, na bancada de mármore que separa a parte do fogão da mesa que usamos para as refeições. Pergunto ao exagerado laço rosa que ela coloca em todos os seus pedidos e leio o nome escrito na cobertura do bolo.Amber.A irmã do meio do traficante local. Bem, não qualquer mafioso, o mais assustador que conheço.Eu sabia que ela estava fazendo aniversário hoje, fui acordada pela queima de fogos que o irmão organizou exclusivamente para a data, mas não sabia que era a vovó quem estava preparando todos
DAVINAPerdi a noção do tempo que passei olhando para a porta, mas já fazia alguns minutos. Muitos minutos.Enxuguei minhas lágrimas, peguei o bolo da Amber e fui até a casa do diabo. O medo que normalmente sinto quando passo por homens armados que guardam o caminho até a casa de Blake não estava lá como sempre, meus sentidos estavam entorpecidos pelo que minha irmã acabara de fazer. Os doces que vovó fez já haviam sido entregues, junto com os cupcakes e salgados, então não precisei fazer mais de uma viagem. Porém, a pessoa que deveria me receber não estava lá e tive que pedir ajuda ao meu amigo de infância.A última pessoa no mundo com quem eu queria conversar agora.—Você estava chorando.— Não era uma pergunta, mas neguei.—Tenho que ir. — disse assim que recebi o resto do dinheiro.—Eu conheço você, Davina— Timmy agarrou meu braço suavemente, mas com força suficiente para me fazer parar e olhar para ele.—Sua impressão.—Murmurei, já arrependido de ter pedido sua ajuda.—Duvido. Éra
GUTEMBERG (Fantasma)GutembergTodo governo tem leis.Todo crime tem um propósito.Toda sociedade tem regras.É pura lógica, estamos tão obcecados com a ideia de liberdade que não vemos o óbvio. Ainda somos os mesmos. Acontece que é muito mais. É fácil fingir que não há controle. As leis do mundo do crime são simples, mas aqui há uma coroa, espinhosa e ensanguentada, um cinto de munição embaixo da cabeça, e cada decisão é minimamente pensada para causar o menor impacto. O que também significa que as ordens do rei devem ser obedecidas.Limpo a garganta, coçando a nuca enquanto Timmy limpa sua pistola. Como se a noite passada nunca tivesse existido.—Você está bem?— ele pergunta com um sorriso provocante nos lábios, feliz o suficiente para me fazer opinar quantas vezes ele já participou de torturas. Muitos devem ser a resposta. Para alguém como Timmy, nascido e criado na pobreza, os episódios de violência surgem naturalmente. Mas não para mim.Tento não parecer que estou prestes a vomit
Gutemberg (Fantasma) Deslizo o ferrolho do portão lentamente, verificando por cima do ombro se alguma luz acendeu desde que tranquei a porta da frente, quando percebo que não, solto um suspiro de alívio e olho para baixo. Encaro meus pés descalços e sujos, então, cenas da noite passada explodem dentro da minha cabeça e o cheiro de sangue me atinge.O sangue está grudado na minha roupa e pele, uma nota clara do que fiz. Na minha mão direita, meu telefone vibra sem parar. Esmago a vontade de atender a ligação e jogo o aparelho fora, ele b**e na parede e cai no chão.Meus pais possuem um lugar importante na sociedade, um lugar herdado da família do meu pai, um lugar que minha mãe nunca vai abrir mão, uma posição que nunca tive a opção de negar. Para todas as pessoas importantes de San Diego, eu sou Gutemberg Ramsey, um promissor advogado com propensões para esportes perigosos, romances rápidos e ativista nato. Para a parte menos favorecida de West City, um lugar que chamamos de Colina,