Desde que tudo aconteceu, há um mês, algumas pessoas fazem questão de perguntar como estou, mas a ausência das minhas amigas é dolorosa. Dizem ser nas dificuldades que descobrimos quem realmente se importa, mas jamais pensei que minhas próprias confidentes me abandonariam. O único que realmente tem se preocupado é Sebastian.
Hoje, como tem sido em todos esses dias, meu marido entra no quarto com uma energia que parece tentar iluminar a escuridão que me envolve. Ele abre as cortinas, cantarolando, e logo ouço seus passos se aproximando da cama. Quando escuto o som familiar da bandeja sendo colocada ao meu lado, um sorriso involuntário se forma em meus lábios.
— Bom dia, querida — Sebastian me saúda com um beijo suave. — Dormiu bem?
— Bom dia, meu amor. Sim, mas senti falta de você. Não percebi quando chegou ontem. Por que se levantou tão cedo?
— Fiquei até tarde resolvendo algumas coisas da empresa e, quando vim para o quarto, te vi dormindo tão serenamente que preferi dormir no quarto antigo para não te acordar — ele responde, sentando-se ao meu lado e colocando a bandeja no meu colo.
— Sinto muito por te dar tanto trabalho — sussurro.
— Faço isso porque te amo. Para mim, é um prazer, não um trabalho — ele responde com carinho, me dando um beijo na bochecha. Enquanto tomo o café da manhã, ele acrescenta: — Querida, falei com o Sr. Thompson sobre o que me pediu. Ele virá daqui a pouco, a urgência na empresa exige isso.
Ao ouvir suas palavras, sinto um nó se formar em minha garganta, tão intenso que dificulta engolir o café. A ideia de alguém ver minha situação atual, de ver como estou, sem que eu saiba como estou fisicamente, apenas aumenta meu desconforto.
— Eu não sei se estou pronta para… — corto minhas palavras, entregando-lhe a xícara. — … ser vista assim. Pareço um monstro cego.
— Pare com isso. Você continua linda — ele responde, mexendo na bandeja antes de colocar algo delicado em minhas mãos. — Trouxe isso para você se sentir mais confortável.
— O que é isso? — pergunto, passando os dedos pela textura suave do tecido.
— É uma faixa de renda. Acho que pode ajudá-la a se sentir mais segura — ele explica, ajustando a faixa suavemente ao redor dos meus olhos. — Pronto. — Sebastian se levanta lentamente, segurando minha mão em seguida. — Vem, agora vou ajudá-la a trocar essa roupa. Não quero que outro homem veja o que é só meu.
Sorrio diante do comentário e me levanto, aceitando sua ajuda. No mesmo momento, a governanta nos chama, avisando sobre a chegada do Sr. Thompson, o antigo advogado da minha família.
Entre comentários carinhosos e algumas palavras de encorajamento, estou pronta em alguns minutos. Com a ajuda de Sebastian, um lembrete das minhas novas limitações, caminho lentamente até o escritório.
— Evie, que bom vê-la em pé — a voz cansada e firme do Sr. Thompson soa assim que entramos no escritório. Sinto sua mão nas minhas costas, me ajudando a sentar. — Estive muito preocupado com você. Queria ter…
— Sr. Thompson — Sebastian o interrompe rapidamente, parando ao meu lado — é um prazer vê-lo aqui. Mas não acho que devemos prolongar isso. Evie precisa descansar.
— Sebastian, estou… — tento argumentar, mas o Sr. Thompson responde:
— Você está certo, Sebastian. Trouxe os documentos necessários para você assumir temporariamente, enquanto Evie se recupera — o velho senhor diz, hesitante. Ouço o barulho dos papéis sendo colocados à minha frente. Após alguns minutos, ele fala: — Droga, esqueci minha caneta. Sebastian, você teria uma?
— Claro, deixe-me procurar — Sebastian responde, com um leve tom de frustração. Ouço o barulho das gavetas sendo abertas enquanto ele procura pela caneta. Após alguns minutos, sua voz se torna mais impaciente. — Não estou encontrando nenhuma por aqui. Vou procurar fora — conclui, claramente irritado. — Não se preocupem, volto já.
— Não é irônico não haver uma única caneta aqui? — comento, tentando aliviar a tensão. O Sr. Thompson solta um suspiro profundo.
— Na verdade, eu… — Ele hesita antes de continuar. — Eu as escondi. Precisava falar com você a sós, Evie. Embora tenha cumprido seu desejo de redigir a procuração para que Sebastian assuma a empresa, tomei algumas precauções.
— Desculpe a sinceridade, Sr. Thompson, mas Sebastian nunca faria nada errado — respondo, passando a mão no braço, nervosa, enquanto me volto em direção à sua voz. — Ele é meu marido, estava administrando a Majestic comigo. Isso é um exagero!
— Eu gostaria de acreditar nisso — ele responde, aproximando-se de mim. Acariciando meu ombro com gentileza, ele continua: — Mas além de saber que seu pai preferiria que fosse assim, simplesmente não confio em Sebastian da maneira que você confia.
Antes que eu possa retrucar, a porta do escritório se abre, e Sebastian retorna. Ele se aproxima e para ao meu lado.
— Encontrei uma, querida — ele diz, colocando a caneta em minha mão. — Está tudo bem por aqui?
— Sim, tudo está bem — Sr. Thompson responde, com um tom formal e cauteloso. — Estava apenas explicando algumas formalidades a Evie.
— Certo. Bem, vamos, querida. Vou te ajudar a assinar — Sebastian diz, guiando minha mão até a mesa.
— Evie, se achar que precisa de mais tempo para pensar sobre isso, não há problema — o Sr. Thompson diz, vendo-me hesitar. — Posso voltar outro dia, se desejar.
— Não, não quero prolongar mais isso — respondo, imaginando o olhar de reprovação do advogado. — É necessário que isso seja feito, e eu confio em você, Sebastian.
Coloco minha mão sobre a mesa novamente, e Sebastian me orienta na posição correta. Assino os documentos com uma caneta que parece pesar mais do que nunca.
— Pronto — digo, tentando afastar as palavras do Sr. Thompson da minha mente. — Está feito.
“Henry Blackwood”As cinco semanas desde meu retorno de Genebra passaram rapidamente, mas a irritação que sinto desde a apresentação da proposta da Majestic não diminuiu nem um pouco. A imagem de Evie Ashford, com seus cabelos loiros, olhos esverdeados e corpo escultural, permanece gravada em minha mente, uma lembrança de como essa jovem CEO irritante conseguiu me desafiar mais do que eu esperava.Desde então, venho me esforçando para manter a cabeça fria, torcendo para que aquela proposta tenha sido apenas uma coincidência infeliz. Mas a verdade é que a situação não me dá paz. Sempre valorizei o controle e a certeza de estar no comando. Agora, a sensação de traição e desconfiança paira sobre mim.O dia se arrasta interminavelmente, e o peso das notícias que recebo torna a rotina mais um castigo do que um dia produtivo. A página do computador aberta diante de mim tira meu fôlego. A proposta da Majestic Ashford venceu a disputa. O que me deixa irado não é apenas o fato de terem vencido
Levanto o olhar e vejo minha noiva entrando na sala com um sorriso suave nos lábios. Impecável como sempre, o vestido cinza-claro abraça suas curvas tentadoras, e o cabelo castanho cai em ondas suaves, emoldurando seu rosto delicado.— Henry, está tudo bem por aqui? — Harper pergunta, lançando um olhar curioso para os papéis espalhados sobre a mesa. A desordem contrasta com a habitual organização a que ela está acostumada.— Está tudo bem. Apenas lidando com alguns problemas do trabalho — respondo, tentando soar casual.— Você sempre resolve tudo tão bem. Tenho certeza de que logo isso passará.— Espero que sim. O que te traz aqui? — pergunto, vendo-a se aproximar. Ela me dá um beijo, senta-se no meu colo e passa os braços ao redor do meu pescoço.— Vim te lembrar que hoje é o coquetel anual da Associação Empresarial, lembra? — responde, enquanto seus dedos deslizam suavemente pelo meu pescoço. — Sabia que você se esqueceria.— Pensei que tinha deixado claro que não estava interessado
O aperto de mão entre nós dura um pouco mais do que o necessário, enquanto nossos olhares permanecem fixos. Sebastian mantém um sorriso presunçoso no rosto, como se estivesse desfrutando de uma piada interna. Meu maxilar se tensiona, mas mantenho a expressão neutra. Ao meu lado, Harper se mexe desconfortavelmente, seu olhar alternando entre mim e Sebastian, como se tentasse decifrar a estranha dinâmica que paira no ar.— Vocês… realmente se conhecem? — Harper pergunta. Solto um riso seco, desviando brevemente o olhar para ela antes de responder:— Está com algum problema auditivo, querida? — pergunto, deixando clara a ironia na minha voz. Harper pisca algumas vezes, como se processasse a pergunta, enquanto Sebastian, à minha frente, tenta esconder um sorriso.— Não precisa ser rude, Henry — ela murmura, desconfortável, soltando meu braço com um leve movimento. — Só achei… estranho.— O que há de estranho? Mas, respondendo à sua pergunta, sim, já tivemos o desprazer de nos cruzar algum
“Sebastian Morgan”Henry e eu começamos nossas trajetórias no mesmo nível: sem herança, sem famílias ricas. Tudo o que conquistamos foi fruto de trabalho duro e inteligência. Mas, de alguma forma, o destino sorriu mais para ele. E, claro, quando minha empresa finalmente desmoronou, ele foi o primeiro a se oferecer para comprá-la.Ver o homem que começou ao meu lado comprando o fruto do meu esforço foi devastador, mas o pior é a constante lembrança do meu fracasso. Henry nunca perde uma chance de esfregar isso na minha cara. O que ele não imagina é que os tempos ruins também começarão para ele, assim como foram para mim.Meus olhos seguem Harper enquanto ela anda pelo salão após a saída de Henry. Quando nossos olhares se encontram e ela sinaliza discretamente para o jardim, esboço um sorriso confiante.— Com licença, senhores. — digo, olhando para James antes de lançar um olhar aos outros homens que nos cercam. Tentando parecer convincente, aponto para o meu copo vazio. — Vou pegar out
“Evie Ashford” Os compromissos de Sebastian na empresa me deram a certeza de que ele chegaria tarde, como de costume. Sem nada além da companhia esporádica das empregadas, restou-me tentar ocupar a mente. Após passar o dia inteiro em silêncio, exceto pelos audiolivros que me distraíram nessas longas horas, ouvi sua voz na sala, abafada pela distância. Foi então que decidi segui-la. Com a privação da visão, meus outros sentidos parecem ter se aguçado, e a audição é um deles. Tateando as paredes enquanto caminhava pelo corredor, ouvi novamente a voz de Sebastian, agora em um sussurro. Um incômodo me atingiu no peito, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Algo parecia diferente. — Sebastian, você está aí? — pergunto, tocando a última parede. Sinto o espaço ao meu redor quando finalmente entro na sala. — Oi, meu amor — ele responde rapidamente, ofegante. Levanto a sobrancelha. Afinal, o que está acontecendo aqui? — Está tudo bem? — Sim! — meu marido diz, aproximando-se. Sinto sua mão
Sinto meu coração disparar, enquanto a raiva e o ciúme crescem dentro de mim. Com as mãos trêmulas, finalmente chego à porta da sala. Sebastian percebe minha presença e, em um instante, sua voz alegre se torna mais suave.— Bom dia, querida! — diz ele, se aproximando rapidamente. Antes que eu possa reagir, sinto seus lábios tocarem suavemente minha testa em um cumprimento. — Estava te esperando acordar. Venha, sente-se.Sem me dar tempo de protestar, ele segura meu braço e me conduz até o sofá. O incômodo dentro de mim só cresce com a presença de Kim, uma amiga íntima de Sebastian. Ele sabe o quanto minha condição me deixa desconfortável até mesmo entre conhecidos. Então, por que a trouxe aqui, sabendo que isso não me agradaria?— Oi, Evie. — ouço a voz de Kim novamente, desta vez acompanhada de um leve toque em minha mão. — Desculpe se te acordamos. Estávamos colocando a conversa em dia e acho que nos empolgamos um pouco.— O que você está fazendo aqui? — pergunto, ignorando sua desc
Já se passaram algumas semanas desde que permiti que Kim ficasse. No começo, sua presença era quase imperceptível. Se não fosse pelas refeições, eu nem notaria que havia alguém além de mim na casa. Ela respeitava meu espaço, nunca forçando sua presença enquanto eu me agarrava à minha necessidade de independência.Com o tempo, no entanto, as coisas começaram a mudar. Kim se aproximou de maneira sutil — um copo de suco aqui, um comentário sobre o clima ali. Ela descrevia o dia lá fora, mesmo sabendo que eu não podia ver. De alguma forma, isso me tocava.Agora, estamos sentadas na varanda. O ar fresco da tarde balança meus cabelos, e Kim, como de costume, descreve o céu, o brilho do sol, as nuvens preguiçosamente se movendo no horizonte. Ela faz isso com tanto cuidado que, por um instante, é como se eu pudesse enxergar novamente.— O céu está tão limpo hoje, Evie — comenta Kim. — Quase não vejo nuvens. É um daqueles dias perfeitos, sabe? Onde um banho de piscina cairia muito bem.Ela con
Fico em silêncio por um momento, com a boca entreaberta em choque. As palavras de Lily reverberam em minha mente, mas, antes que eu possa responder, balanço a cabeça, tentando entender. Sebastian disse que eu não queria vê-las? Por quê?Balanço a cabeça lentamente, tentando encontrar uma justificativa. Ele sempre quis me proteger, mesmo quando eu não pedia, mas dizer isso a elas não faz sentido.— Eu… fiquei com vergonha de me verem assim e comentei isso com Sebastian — começo, tentando encontrar uma explicação plausível. — Ele pode ter levado isso a sério demais, mas nunca impedi que vocês me procurassem.— Evie, Chloe e eu viemos aqui duas ou três vezes, mas nunca fomos recebidas — ela responde, me guiando para sentarmos. — Na última vez, depois de muito insistir, sua governanta nos disse que você estava na casa de veraneio do seu pai.— Lily… como eu disse, desde que isso aconteceu — digo, apontando para os olhos —, eu não saio de casa, muito menos de Londres. As fisioterapias, as