Capítulo 1

Capítulo 1: Yokohama Noir 

Yokohama Noir era uma cidade de contrastes. Durante o dia, suas ruas eram tomadas por comerciantes apressados e turistas curiosos, enquanto à noite, o neon iluminava becos escuros onde segredos prosperavam. Ali, o dinheiro podia comprar quase tudo, mas a liberdade era um luxo reservado aos que não estavam presos às engrenagens invisíveis da cidade.

Para mim, liberdade era um sonho distante. Eu era Hainary Hikaru, filha de Hikaru Arata, o líder da Yakanazay, a máfia mais poderosa de Yokohama Noir. Viver sob o comando do meu pai significava que minha vida estava traçada desde o momento em que nasci. Meu destino não era meu.

Naquela manhã, o sol ainda despontava por trás das montanhas quando meu pai me chamou ao escritório. A sala era escura, com estantes repletas de livros que ele nunca lia e um ar de autoridade que sufocava qualquer um que entrasse.

— Hainary, hoje você vai supervisionar uma negociação no Mercado das Flores — disse ele, sem sequer levantar os olhos dos papéis à sua frente.

Eu sabia o que isso significava. Não era um pedido, era uma ordem. Meu pai confiava em mim para tarefas que exigiam discrição e inteligência. Mas eu também sabia que isso não era um gesto de afeto, e sim mais um lembrete do meu papel como peça no tabuleiro dele.

— Entendido — respondi, sem questionar.

O Mercado das Flores ficava no coração da cidade, um oásis de cor e vida em meio ao cinza e à brutalidade de Yokohama Noir. Apesar de sua beleza aparente, aquele lugar era palco de negócios ilegais e disputas de poder. Eu já tinha ido lá inúmeras vezes, mas naquele dia, tudo parecia diferente.

Enquanto caminhava entre os corredores repletos de flores, meu olhar foi atraído por uma figura que parecia deslocada naquele cenário. Ele estava parado perto de uma barraca de cerejeiras, com as mãos no bolso e um semblante que misturava melancolia e determinação.

Foi assim que vi Yoko Hon pela primeira vez.

Ele não parecia ter nenhuma relação com o submundo. Vestia roupas simples, e seus olhos, de um castanho profundo, pareciam observar o mundo com uma intensidade que me deixou intrigada. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante, mas aquele momento ficou gravado em minha memória.

Algo nele parecia diferente. Não era só a aparência, mas a maneira como ele se movia, como se não pertencesse àquele lugar. Havia uma calma inquietante nele, algo que eu não conseguia decifrar.

— Senhorita Hikaru, está pronta? — A voz de Kenta, um dos guarda-costas da minha família, me trouxe de volta à realidade.

A reunião correu como esperado. Homens apertaram mãos, documentos foram trocados, e eu permaneci em silêncio, observando tudo. Mas minha mente continuava voltando àquele estranho. Quem era ele? Por que estava ali?

Ao fim da negociação, enquanto me preparava para sair, vi Yoko novamente, agora mais próximo. Ele estava parado ao lado de uma barraca de lírios brancos, como se estivesse esperando algo.

— Você gosta de flores? — ele perguntou, surpreendendo-me.

Minha primeira reação foi desconfiar. Ninguém falava comigo de forma tão casual, especialmente desconhecidos. Mas havia algo na voz dele que era ao mesmo tempo desarmante e intrigante.

— Depende da flor — respondi, tentando manter a postura fria que meu pai tanto exigia de mim.

Ele sorriu de lado, um sorriso que parecia guardar segredos.

— Lírios são fascinantes. Eles representam pureza, mas também morte. Duas coisas que raramente coexistem, não acha?

Antes que eu pudesse responder, ele se afastou, desaparecendo entre as barracas. Fiquei ali, parada, tentando entender o que acabara de acontecer. Não sabia o nome dele, nem quem ele era, mas algo me dizia que aquele encontro não tinha sido por acaso.

Quando voltei para casa naquela noite, minha mente estava inquieta. Pela primeira vez em muito tempo, algo fora do controle do meu pai havia acontecido em minha vida. Eu sabia que, ao seguir o caminho daquele estranho, estaria entrando em território perigoso.

Mas talvez, pela primeira vez, eu estivesse pronta para correr o risco.

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