Capítulo 5: Escolhas que Queimam
A tensão no ar era quase palpável quando Yoko e eu saímos do templo. Cada passo parecia ecoar mais alto do que o anterior, como se o destino estivesse nos empurrando para algo que nem podíamos imaginar.
Ele me levou para um beco escondido, longe dos olhares curiosos e das ruas movimentadas. Ali, no silêncio da noite, ele segurou meu rosto com as duas mãos, olhando-me com uma intensidade que parecia cortar a alma.
— Hainary, você precisa entender uma coisa — disse ele, sua voz baixa e carregada de emoção. — Escolher ficar ao meu lado significa abandonar tudo o que conhece. Sua família nunca aceitará isso, e a máfia não vai parar até nos destruir.
Eu sabia que ele estava certo, mas também sabia que o que sentia por ele era algo que nunca havia experimentado antes. Algo que queimava dentro de mim, como uma chama impossível de apagar.
— E você acha que eu posso simplesmente voltar para casa e fingir que você não existe? — retruquei, minha voz mais firme do que eu esperava.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Não, mas eu não quero que você pague o preço por minhas escolhas.
Na manhã seguinte, o caos parecia ter tomado conta da cidade. O Mercado das Flores, normalmente um lugar vibrante e cheio de vida, estava mais silencioso do que o normal. Rumores corriam de boca em boca: um novo confronto entre as máfias havia acontecido na madrugada.
Meu pai estava mais tenso do que nunca, dando ordens aos seus homens com uma frieza que fazia minha pele arrepiar.
— Precisamos de respostas! Quero saber quem está ajudando Yoko Hon. Ele é uma ameaça que precisa ser eliminada imediatamente!
Cada palavra sua era como uma facada no meu peito. Saber que ele estava caçando o homem que eu amava era quase insuportável. "Nae maeumi jjijeojinda." (내 마음이 찢어진다.). “Meu coração está despedaçado.”
Enquanto ele falava, senti o olhar de Kenta em mim. Ele sempre foi o mais leal ao meu pai, mas também o mais atento. E agora, parecia que ele começava a desconfiar de algo.
À noite, fui encontrar Yoko novamente, dessa vez em uma pequena doceria que ele disse ser um dos poucos lugares seguros na cidade. O cheiro de chá verde e bolinhos doces preenchia o ar, um contraste estranho com o peso da nossa conversa.
— Hainary, eles estão intensificando a busca. Precisamos fazer algo antes que seja tarde demais — disse ele, olhando-me com uma seriedade que me fez estremecer.
— O que você quer dizer? — perguntei, embora já tivesse uma ideia.
— Precisamos fugir. Deixar tudo para trás.
As palavras pairaram no ar, carregadas de promessas e incertezas. Fugir significava abandonar minha família, minha vida inteira. Mas ficar significava escolher um futuro de dor e destruição.
— Você acha que podemos escapar de tudo isso? — perguntei, minha voz cheia de dúvida.
Ele estendeu a mão, pegando a minha com delicadeza.
— Não sei. Mas prefiro tentar e falhar do que viver sem você.
Enquanto conversávamos, a porta da doceria se abriu de repente, e três homens entraram. Eles não eram clientes. Seus olhares frios e atentos eram inconfundíveis: homens da Yakanazay.
Yoko imediatamente percebeu o perigo. Ele puxou-me para uma porta dos fundos, mas antes que pudéssemos escapar, um deles gritou:
— Yoko Hon! Finalmente encontramos você!
O pânico tomou conta de mim, mas Yoko parecia preparado. Ele me empurrou para o lado, protegendo-me com o próprio corpo enquanto sacava uma pequena faca que havia escondido na cintura.
— Corram, e vocês podem viver. Se ficarem, será o fim — disse ele, sua voz tão gelada quanto o olhar.
Os homens riram, claramente subestimando-o. Mas antes que pudessem reagir, Yoko se moveu com uma agilidade impressionante, desarmando um deles e usando sua arma para ameaçar os outros.
— Saia daqui, Hainary! — ele gritou, olhando para mim por cima do ombro.
— Não vou te deixar! — respondi, minha voz cheia de desespero.
Ele me lançou um olhar intenso, um misto de raiva e amor.
— Vá agora!
Contra minha vontade, corri pela porta dos fundos, mas meu coração ficou com ele. Mesmo enquanto meus pés me levavam para longe, tudo o que eu conseguia pensar era: "Jeoldae doragago sipji anh-a." (절대 돌아가고 싶지 않아.). “Eu nunca quero deixá-lo.”
Capítulo 6: Correndo Contra o Destino O som do tiro ecoou pela rua estreita enquanto eu corria, o coração batendo tão rápido que mal conseguia respirar. Não sabia o que havia acontecido com Yoko, mas o instinto me dizia para continuar. Para escapar antes que os homens da Yakanazay me encontrassem.Ao virar a esquina, tropecei e quase caí, mas me forcei a continuar. Cada passo parecia uma eternidade, e minha mente estava uma confusão de medos e suposições. "Geuneun jalhaess-eulkka?" (그는 잘했을까?). "Será que ele conseguiu escapar?"Finalmente, alcancei um pequeno parque onde crianças brincavam durante o dia, mas que agora estava deserto. Escondi-me atrás de uma árvore, tentando recuperar o fôlego. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e minha mente voltou para Yoko. Ele me mandou fugir para me proteger, mas a culpa de deixá-lo para trás era insuportável.De repente, meu telefone vibrou no bolso. Com mãos trêmulas, puxei-o e vi uma mensagem de um número desconhecido:— "Estou bem. Fique on
Capítulo 7: A Caçada RecomeçaAs vozes chegaram primeiro, distantes e quase indistinguíveis. No silêncio do armazém, no entanto, qualquer som parecia amplificado, reverberando nas paredes vazias e frias. Yoko estava em pé num instante, os olhos vasculhando o ambiente com a precisão de alguém que já sabia o que aconteceria. Ele parecia ter previsto o movimento, como se o tempo tivesse se estendido e ele já tivesse vivido aquele momento antes.— Eles nos encontraram — murmurou ele, com um tom de resignação, como se já tivesse aceitado o destino, mas ao mesmo tempo se preparando para a luta.— Como? — perguntei, minha voz saindo como um sussurro, já ciente do perigo iminente. A tensão no ar era palpável.— Não importa agora. Temos que sair daqui. — Ele me puxou pela mão, sua força transmitindo urgência, como se o tempo estivesse se esgotando rapidamente. Era como se a decisão de agir já estivesse tomada, sem espaço para mais perguntas ou hesitações. Quando começamos a correr, o som das v
Capítulo 8: Refúgio nas Sombras A cabana era menor do que eu imaginava, escondida entre as árvores densas de uma floresta que parecia engolir tudo à sua volta. Não havia trilhas visíveis ou sinais de que alguém já tivesse estado ali antes. Yoko puxou-me para dentro, fechando a porta de madeira com um baque surdo.— Estamos seguros por enquanto — disse ele, mas seu tom não era de alívio, apenas de cansaço.Olhei ao redor, tentando absorver o ambiente. Havia uma pequena mesa de madeira, duas cadeiras gastas e um colchão encostado na parede. A simplicidade do lugar contrastava com a turbulência que havíamos deixado para trás.— Você já esteve aqui antes? — perguntei, tentando quebrar o silêncio.— Algumas vezes. Preparei este lugar caso precisasse desaparecer.— Parece que você já sabia que isso aconteceria.Ele não respondeu, apenas começou a inspecionar as janelas e reforçar as trancas. Algo em seu comportamento me dizia que ele estava sempre pronto para o pior.Depois de alguns minut
Capítulo 9: Fogo CruzadoO barulho da porta sendo arrombada ecoou como um trovão dentro da cabana. Antes que eu pudesse reagir, Yoko puxou-me para trás de uma mesa de madeira improvisada como cobertura. Três homens entraram, armados e com expressões que misturavam raiva e determinação.— Yoko Hon! Sabemos que está aqui! — gritou um deles, a voz firme e carregada de ódio.— Parece que alguém está com saudades — murmurou Yoko, com um sorriso ácido, enquanto segurava a arma com firmeza.Eu estava paralisada, mas Yoko parecia completamente calmo, como se tivesse ensaiado esse momento milhares de vezes. Ele virou-se para mim e sussurrou:— Hainary, fique abaixada e não saia daqui, entendeu?Eu queria protestar, mas a urgência em seus olhos me silenciou. Ele se levantou de repente, disparando dois tiros rápidos que fizeram os homens recuarem.— Isso é tudo o que vocês têm? — gritou ele, provocando-os.Os homens começaram a disparar, os tiros ricocheteando nas paredes e atravessando os móvei
Capítulo 10: O Recomeço nas Montanhas O céu começava a clarear quando alcançamos um pequeno vilarejo escondido nas montanhas. O lugar parecia intocado pelo tempo, com casas simples de madeira e um rio que cortava o vale como uma faixa prateada. O silêncio era quase absoluto, exceto pelo som da água corrente e os pássaros cantando ao longe.Yoko parou na entrada do vilarejo e olhou ao redor.— É aqui — disse ele, sua voz carregada de alívio.Eu observei, confusa.— Você conhece este lugar?— Meu avô viveu aqui por muitos anos. É um refúgio. Poucas pessoas sabem que este vilarejo existe.Ele começou a caminhar em direção a uma das casas, que parecia mais antiga e isolada. Eu o segui, sentindo uma estranha mistura de alívio e inquietação.A casa era pequena, mas acolhedora. Havia uma mesa de madeira com marcas do tempo, uma estante cheia de livros antigos e uma lareira que parecia ter sido usada recentemente.— Quem mora aqui agora? — perguntei.— Ninguém. Meu avô faleceu há muitos anos
Capítulo 11: O Plano Final A tensão estava no ar enquanto finalizávamos os detalhes do plano. Cada movimento precisava ser calculado, cada ação executada com precisão. Hainary e eu estávamos prestes a apostar tudo — nossas vidas, nossa liberdade e nosso amor.Na pequena mesa de madeira da cabana, espalhávamos mapas, um celular antigo e itens que dariam credibilidade à cena que estávamos criando.— O porto de Biryang (비량) será o cenário perfeito — disse Yoko, apontando no mapa. — É afastado, mas suficientemente conhecido para que as notícias se espalhem rápido.Olhei para o ponto marcado no mapa. O porto era uma área de carga frequentemente usada pelas máfias para transações ilegais. Tudo fazia sentido.— E como vamos fazer com os corpos? — perguntei, ainda tentando entender os detalhes mais sombrios do plano.— Não haverá corpos — disse Yoko, com um tom frio. — Apenas vestígios suficientes para convencer que não sobrevivemos."Keojitmal aniya" (거짓말 아니야). Não é mentira, pensei, tentan
Capítulo 12: O Peso da Liberdade O amanhecer trouxe uma sensação agridoce. A luz suave filtrava-se pelas cortinas da cabana, enquanto o som do rio correndo ao longe preenchia o silêncio. Yoko dormia ao meu lado, seu rosto tranquilo pela primeira vez em semanas. Observá-lo assim me trouxe uma paz momentânea, mas logo o peso das nossas decisões voltou a me assombrar.Levantei-me com cuidado para não acordá-lo e caminhei até a janela. O vilarejo, ainda envolto na névoa da manhã, parecia um lugar onde nada de mal poderia acontecer. Mas eu sabia que essa tranquilidade era apenas uma ilusão."Yeongwonhi gal su eopda" (영원히 갈 수 없다). Não podemos fugir para sempre, pensei.Yoko acordou pouco depois, encontrando-me sentada na mesa com uma xícara de chá nas mãos. Ele se aproximou e, sem dizer nada, colocou uma mão em meu ombro.— Está tudo bem? — perguntou, com um tom de preocupação que raramente usava.— Estou pensando no que deixamos para trás. Nossas famílias, nossas vidas... É difícil não se
Capítulo 13: Sombras do Passado Os dias no vilarejo continuavam calmos, mas o peso do passado se fazia sentir cada vez mais. Yoko e eu tentávamos levar uma vida normal, mas era impossível esquecer que tudo que tínhamos estava apoiado em uma mentira.Soo Min começou a frequentar mais o vilarejo, sempre com perguntas que pareciam inofensivas, mas que, para nós, soavam como sondagens. Ela era amigável, mas havia algo no olhar dela que me deixava inquieta."Geu-neun nappeun yeogiga isseo" (그녀는 나쁜 여기가 있어). Há algo suspeito nela, pensei, enquanto a observava de longe.Um pedido inesperadoEm uma tarde ensolarada, enquanto Yoko e eu trabalhávamos no pequeno jardim que tínhamos cultivado, Soo Min apareceu novamente, desta vez carregando uma cesta com frutas.— Trouxe algo para vocês — disse ela, com um sorriso largo.— Obrigado — respondeu Yoko, pegando a cesta e tentando parecer cordial.Soo Min hesitou por um momento antes de continuar.— Sabe, vocês me lembram alguém que conheci na cidade