Capítulo 12: O Peso da Liberdade O amanhecer trouxe uma sensação agridoce. A luz suave filtrava-se pelas cortinas da cabana, enquanto o som do rio correndo ao longe preenchia o silêncio. Yoko dormia ao meu lado, seu rosto tranquilo pela primeira vez em semanas. Observá-lo assim me trouxe uma paz momentânea, mas logo o peso das nossas decisões voltou a me assombrar.Levantei-me com cuidado para não acordá-lo e caminhei até a janela. O vilarejo, ainda envolto na névoa da manhã, parecia um lugar onde nada de mal poderia acontecer. Mas eu sabia que essa tranquilidade era apenas uma ilusão."Yeongwonhi gal su eopda" (영원히 갈 수 없다). Não podemos fugir para sempre, pensei.Yoko acordou pouco depois, encontrando-me sentada na mesa com uma xícara de chá nas mãos. Ele se aproximou e, sem dizer nada, colocou uma mão em meu ombro.— Está tudo bem? — perguntou, com um tom de preocupação que raramente usava.— Estou pensando no que deixamos para trás. Nossas famílias, nossas vidas... É difícil não se
Capítulo 13: Sombras do Passado Os dias no vilarejo continuavam calmos, mas o peso do passado se fazia sentir cada vez mais. Yoko e eu tentávamos levar uma vida normal, mas era impossível esquecer que tudo que tínhamos estava apoiado em uma mentira.Soo Min começou a frequentar mais o vilarejo, sempre com perguntas que pareciam inofensivas, mas que, para nós, soavam como sondagens. Ela era amigável, mas havia algo no olhar dela que me deixava inquieta."Geu-neun nappeun yeogiga isseo" (그녀는 나쁜 여기가 있어). Há algo suspeito nela, pensei, enquanto a observava de longe.Um pedido inesperadoEm uma tarde ensolarada, enquanto Yoko e eu trabalhávamos no pequeno jardim que tínhamos cultivado, Soo Min apareceu novamente, desta vez carregando uma cesta com frutas.— Trouxe algo para vocês — disse ela, com um sorriso largo.— Obrigado — respondeu Yoko, pegando a cesta e tentando parecer cordial.Soo Min hesitou por um momento antes de continuar.— Sabe, vocês me lembram alguém que conheci na cidade
Capítulo 14: Um Passado Que Nunca MorreOs dias que se seguiram ao jantar na casa de Soo Min foram tensos. Yoko e eu continuávamos nossas rotinas no vilarejo, mas a sensação de que estávamos sendo observados nunca desaparecia. Cada som no meio da noite parecia mais alto, cada rosto desconhecido parecia suspeito.— Precisamos decidir o que fazer — disse Yoko uma manhã, enquanto olhava para o horizonte com um semblante preocupado. — Não podemos viver assim para sempre, Hainary.Eu sabia que ele estava certo. Mas para onde iríamos? O vilarejo era o único lugar onde tínhamos encontrado paz, por menor que fosse.Uma mensagem enigmáticaNaquela tarde, enquanto eu cuidava do jardim, encontrei um pequeno envelope escondido entre as flores. Olhei ao redor, mas não havia ninguém por perto. Com as mãos trêmulas, abri o envelope.Dentro, havia uma única folha de papel com a frase:"Jigeum neol boneun jung" (지금 널 보는 중)" – Estou observando você."Meu coração disparou. Corri para dentro da cabana, o
Capítulo 15: O Jogo de Enganos O plano de Soo Min era ousado, quase suicida. Ela nos explicou em detalhes como forjaríamos nossa morte e convenceríamos tanto a máfia Yakanazay quanto os rivais da família Hikaru de que estávamos mortos. Seria necessário manipular não apenas provas físicas, mas também a percepção das pessoas ao nosso redor.— Isso precisa parecer real — disse Soo Min, espalhando mapas e documentos sobre a mesa da cabana. — Um corpo queimado, um local de explosão, algo que não deixe dúvidas.Yoko cruzou os braços, claramente desconfortável com a ideia.— E quem será o corpo?Soo Min hesitou.— Tenho contatos no hospital. Um cadáver sem identificação será usado.Meu estômago revirou com a frieza da sugestão, mas eu sabia que não havia outra escolha.A preparaçãoOs dias seguintes foram dedicados aos preparativos. Soo Min trabalhava incansavelmente, usando suas conexões para conseguir o que precisávamos: documentos falsos, materiais explosivos e até mesmo uma lista de hor
Capítulo 16: Sob um Céu de Liberdade Os primeiros dias na cabana foram cheios de silêncio e adaptação. A vida nas montanhas era tranquila, mas o peso dos meses anteriores ainda pairava sobre nós. Yoko passava boa parte do tempo explorando os arredores, certificando-se de que estávamos realmente sozinhos e em segurança.Eu, por outro lado, tentava transformar a cabana em um lar. Cozinhar, arrumar os cômodos e cultivar um pequeno jardim eram formas de encontrar algum normalidade em meio à nova realidade.— Está ficando bonito aqui — disse Yoko uma tarde, enquanto me observava regar as plantas.— Bonito, mas simples — respondi com um sorriso. — Mas talvez seja disso que precisamos.Um presente inesperadoPoucos dias depois de nos estabelecermos, recebi um pacote deixado anonimamente na entrada da cabana. Quando o abri, encontrei uma gata branca com olhos brilhantes e um bilhete amarrado ao pescoço dela.O bilhete dizia:"Naneun gyeong-go hago itda" (나는 경고하고 있다) – Estou avisando."Meu co
Capítulo 17: Um Novo Destino O porto de Gwangsu era diferente de tudo que já havíamos visto. Pequeno, mas movimentado, com barcos pesqueiros e cargueiros entrando e saindo a todo momento. O cheiro de sal e peixe no ar se misturava com o som das ondas batendo contra as docas. A sensação era agridoce: estávamos mais perto da liberdade, mas cada passo parecia um risco maior.— Este é o barco — disse Soo Min, apontando para uma embarcação discreta ancorada ao lado de um grande cargueiro.O capitão nos aguardava, um homem robusto com barba grisalha e olhos desconfiados. Ele acenou levemente quando nos aproximamos, mas não disse uma palavra.— Ele não faz perguntas — explicou Soo Min. — E vocês também não devem. Apenas sigam as instruções dele.A despedida de Soo MinEra difícil acreditar que aquele seria o último momento com Soo Min, nossa aliada fiel durante toda essa jornada. Quando chegou a hora de nos despedirmos, ela nos abraçou brevemente, mas com força.— Lembrem-se, vocês têm uma
Capítulo 18: Ecos do PassadoA vida na ilha era silenciosa e serena, mas a tranquilidade era frequentemente interrompida por lembranças do que havíamos deixado para trás. Cada som do mar, cada brisa que passava pela floresta, trazia ecos do passado. Yoko parecia tranquilo na maior parte do tempo, mas eu sabia que, por trás daquele olhar sereno, ainda carregava o peso de suas decisões.Construindo um lar mais estável— Precisamos melhorar o abrigo — disse Yoko, enquanto analisava a estrutura improvisada. — Se quisermos viver aqui por muito tempo, teremos que fazer algo mais resistente.Passamos semanas trabalhando juntos. Cortamos bambu da floresta e usamos folhas grandes como cobertura. As mãos de Yoko eram habilidosas, transformando materiais simples em algo que se assemelhava a uma cabana confortável.Enquanto trabalhávamos, ele soltava comentários divertidos para aliviar o peso da tarefa.— Hainary-ssi, você acha que podemos colocar um ar-condicionado aqui? — brincou, enquanto ajus
Capítulo 19: A Tempestade O som do mar costumava ser reconfortante, mas naquela noite era diferente. Uma tempestade se formava no horizonte, trazendo consigo um prenúncio de algo maior. O vento soprava forte, arrancando folhas das árvores e agitando as ondas.— Vai ser uma longa noite — murmurei, olhando para o céu escuro.Yoko estava perto da entrada de nossa cabana, reforçando a estrutura com cordas improvisadas. Ele sempre se certificava de que tudo estivesse seguro, como se essa tarefa pudesse protegê-lo de todos os perigos, internos e externos.— Hainary-ssi, prepare as lanternas e o que sobrou da comida. Não sabemos quanto tempo isso vai durar.A tempestade era mais do que um evento natural. Parecia uma metáfora para os conflitos que ainda carregávamos dentro de nós — a luta constante para deixar o passado para trás e encontrar a paz que tanto desejávamos.Uma conversa à luz de velasQuando a chuva começou a cair, nos abrigamos na cabana. A única luz vinha de uma pequena vela q