Capítulo 2

Capítulo 2: Encontro no Mercado 

O Mercado das Flores estava diferente naquela manhã. Talvez fosse a chuva fina que caía, cobrindo as pétalas com pequenas gotas, ou talvez fosse o peso da memória que Yoko Hon havia deixado em mim. Eu nunca esqueci sua expressão, a maneira como falou dos lírios como se entendesse o conflito dentro de mim.

De volta àquele mesmo lugar, sentia que algo estava prestes a acontecer. Kenta, como sempre, caminhava à minha frente, olhos atentos a qualquer sinal de perigo. Mas eu não pensava nos negócios da família ou nas ordens do meu pai. Minha mente estava focada em uma única pessoa.

Enquanto supervisionava outra negociação banal, meu olhar vagava pelo mercado. E então, lá estava ele. Yoko Hon, parado ao lado de uma barraca de orquídeas, parecia tão tranquilo quanto no nosso primeiro encontro. Dessa vez, nossos olhares se encontraram por mais tempo, e ele não desviou.

Assim que a negociação terminou, eu me aproximei dele, movida por uma força que não entendia.

— Você tem o hábito de aparecer nos lugares mais improváveis — disse eu, cruzando os braços.

Ele sorriu, aquele mesmo sorriso de lado que parecia esconder mil histórias.

— E você tem o hábito de ser sempre tão direta?

— Eu não tenho tempo para jogos — respondi.

— Bom, então não vamos jogar — ele disse, estendendo a mão. — Yoko Hon.

Hesitei por um momento antes de apertar sua mão.

— Hainary Hikaru.

— Eu sei quem você é — ele disse, com uma calma desconcertante. — E sei o peso que carrega.

— O que você quer? — perguntei, tentando esconder o desconforto que suas palavras causaram.

— Talvez só entender por que alguém como você, com tudo a seus pés, parece tão... preso.

Aquelas palavras me atingiram como um golpe. Ninguém nunca havia falado comigo daquela forma. Para o mundo, eu era a filha de Hikaru Arata, poderosa e intocável. Mas ele via além disso.

— Você não me conhece — retruquei, mais como uma defesa do que uma declaração de fato.

— Ainda não — ele disse, com um tom de desafio. — Mas acho que quero.

Antes que eu pudesse responder, Kenta apareceu ao meu lado.

— Senhorita Hikaru, precisamos ir.

Olhei para Yoko mais uma vez, buscando algo em seus olhos que pudesse me explicar por que ele me deixava tão intrigada. Mas ele apenas sorriu novamente, como se soubesse que aquele não seria nosso último encontro.

Nos dias seguintes, não consegui tirá-lo da cabeça. Quem era ele, realmente? Como sabia tanto sobre mim? E por que parecia não temer o que significava se aproximar de alguém como eu?

Finalmente, a oportunidade de descobrir mais surgiu. Uma mensagem anônima chegou ao meu celular, algo que raramente acontecia graças às camadas de segurança que meu pai impunha sobre tudo.

"Quinta-feira, 20h. Restaurante Sakura. Venha sozinha."

Hesitei. Tudo em mim dizia que era perigoso, que poderia ser uma armadilha. Mas havia uma parte de mim, aquela que Yoko parecia enxergar, que gritava por liberdade. Eu precisava ir.

Naquela noite, vesti algo simples, mas elegante, e saí pela porta dos fundos da mansão. Kenta me seguiu, como sempre, mas eu já havia planejado despistá-lo. No caminho, entrei em uma loja lotada, misturando-me à multidão até ter certeza de que ele não estava mais atrás de mim.

O Restaurante Sakura era pequeno, discreto, iluminado apenas por lanternas vermelhas. Quando entrei, vi Yoko sentado em uma mesa no canto, longe dos olhares curiosos. Ele levantou os olhos assim que me viu, e aquele sorriso familiar surgiu novamente.

— Você veio — ele disse, levantando-se para me receber.

— Parece que você já sabia que eu viria — respondi, sentando-me à sua frente.

— Não sabia, mas esperava.

O silêncio se instalou por um momento, mas não era desconfortável. Parecia que ambos estávamos esperando o outro dar o primeiro passo.

— Por que me chamou aqui? — perguntei.

Ele me olhou diretamente, sua expressão séria pela primeira vez desde que o conheci.

— Porque sei o que é viver sob o controle de pessoas que acham que podem decidir tudo por você. E porque acho que você merece algo diferente.

Suas palavras me desarmaram. Não era só o que ele dizia, mas como dizia, como se realmente entendesse o que eu sentia.

— Você não sabe nada sobre minha vida — retruquei, mais por hábito do que por convicção.

— Talvez não. Mas sei que viver assim é como estar em uma gaiola de ouro. Bonita por fora, mas ainda assim uma prisão.

Antes que pudesse responder, o garçom chegou com chá e pequenos pratos de sushi. Comemos em silêncio, mas o clima entre nós era carregado, como se cada momento fosse uma negociação não verbal.

Quando a refeição terminou, Yoko olhou para mim com seriedade.

— Hainary, sei que minha presença aqui é arriscada, tanto para mim quanto para você. Mas se me der uma chance, quero te mostrar um mundo além dessas correntes que te prendem.

Suas palavras ecoaram em minha mente enquanto nos despedíamos. Eu sabia que, ao permitir que Yoko entrasse na minha vida, estaria abrindo as portas para um caos que poderia destruir tudo ao meu redor.

Mas, pela primeira vez, eu queria correr esse risco.

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