Fragmentos do Amor e da Dor

Fragmentos do Amor e da DorPT

Adolescente
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Resumo
Índice

O diário de uma adolescente preta, que tem como sonho ser bailarina e que ainda pratica automutilação e tricotilomania e que no futuro descobre que tem transtorno de ansiedade, tem sim muito a contar. Uma ficção adolescente recheada de poesia e romance, Matheus da Silva, traz para cena a realidade de Maya Andrews, que, desde pequena sofre com racismo, preconceito e padrões impostos pela sociedade onde a faz descobrir ainda na adolescência que ser "fragmentada" tem a sua importância. Fragmentos do amor e da dor nos convida a entrar em uma realidade não tão distante onde a reciprocidade, empatia e a escrita servem de resposta para aderir partes que nos levam aonde sonhamos. Uma história onde pessoas que chegaram ou foram embora marcaram sim de certa forma tudo ao redor. De tal maneira todos ficaram, até aqueles que foram para não mais voltar.

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Meu lugar de narração
                        Eu sou fragmentos.                        Sim, sou, destroços.                        Sou ansiedade pura,             Sou a depressão que não tem cura,         Uma sonhadora que não para de sonhar.                                        &
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Querido Diário
                                Data: 06/12  Cá estou, sentada em minha cadeira branca, com meu diário sobre a mesa de madeira da mesma cor e um abajur para clarear as ideias. A fim de compreender tudo o que tenho a dizer, teremos que partir do início. Tentarei ser sucinta e clara. Caro diário,Aos 13 anos comecei a me ferir. Desculpa, mas é que eu não tive escolha, entende? Já não mandava em mim. Essas torturas me acalmavam, porque o que eu sentia por dentro era bem pior, era assustador.Ao ver meu sangue caindo no chão, pouco a pouco, ia me acostumando e relaxando. Isso se t
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Página 1
Respira, não é tão difícil escrever em um diário MayaRepetia para mim mesma depois da quinta bolinha de papel.                               Data: 10/01Querido diário, era vinte e seis de maio, quando tudo começou.Eu só tinha 10 anos quando ouvi aquelas duras palavras da minha própria mãe: —  Me arrependo de não ter te abandonado, sua demônia! Eu te odeio, menina! — ela estava descontrolada porque vomitei a sua bolsa preta de couro com detalhes dourados — SAIA DA MINHA FRENTE! Ler mais
Página 2
                             Data: 12/01Moro em um país lindo E preconceituoso por natureza.Moro em um país conceituadoPor escolhas erradas.Moro onde não existeIgualdade e democracia de fato.Sim, moro no Brasil!Ler mais
Página 3
Quando cheguei em casa, vi o carro do meu pai. Ao entrar, meus pais estavam na cozinha e, sim, mais uma vez estavam discutindo e por um milagre divino, o motivo não era eu. Em meio a tantas palavras e frases alteradas que ecoavam na casa comecei a ficar mais atenta:— Não tenho escolha, Catarina. — ele tentou argumentar.— É sempre assim Ricardo, você só pensa em você e na droga do seu trabalho! — ela estava furiosa — Se você quiser ir, vá! Estou cansada disso tudo. Principalmente desse fingimento. — Ela falava gritando. — Pelo menos tem alguma coisa boa nisso tudo — falou se sentando.— O que tem de bom nisso, Catarina? — Questionou franzindo a testa. Provavelmente, ele já sabia a
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Página 4
Depois de tanto chorar, fui até o andar de baixo tentar falar com minha mãe. Eu pedi, implorei, me humilhei, falei que aceitava qualquer condição, tentei argumentar de todas as formas e jeitos, porém, ela estava irredutível. — Não dá para cuidar de você e do seu irmão, você vai para os Estados Unidos com o seu pai e pare de ser mimada, sua aberração! — disse me olhando com um olhar de desprezo.Sim, ela me chamou de aberração e me doeu ouvir isso, me doeu de uma forma inimaginável. Eu saí correndo e chorando.— Tonta, tod
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Página 5
Ei, você! Sei que não está bem. E não há nada de errado Em não estar. Sei que quer desabafar. Vamos fazer o seguinte: Por mais cli
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Página 6
                           Data: 04/03Subi para meu quarto sem me exaltar, fui degrau por degrau na maior calma. Não chorei, já estava acostumada a ser tratada assim por ela. Então, para desabafar peguei meu diário e me sentei na cadeira com ele sobre a mesa.Diário, hoje minha mãe me chamou de preta suja. Como ela teve coragem de falar isso? E como ela achou que falar da minha pele iria me ofender? Eu só senti nojo dela, nojo dela ser racista, nojo dela tentar seguir um padrão deturpado e que tudo que seja diferente do mundinho banal dela, seja abominável.  Eu sinto nojo dela e acho que pela primeira vez não me senti mal por ser preta. Contudo, o que mais martela na minha cabeça é o fato dela criticar tanto a cor da minha pele, a
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Página 7
                                Data: 06/03Mas e agora? Como vai ser? Será que vou fazer amigos aqui? Esses pensamentos estavam me atormentando. Eu não conseguia controlá-los. Lá estava eu mais uma vez trancada só que dessa vez em um quarto de hotel. Olhando para o vidro da janela e sentindo raiva daquela imagem que tanto me encarando. Aquela felicidade de um dia atrás já havia acabado e aquele retrato de mim mesma, me maltratava e me humilhava demais. Eu não sabia o que fazer, eu tentava sair, mas ele me prendia e eu escutava calada, todos aqueles insultos de pensamentos. Estava me sentindo uma prisioneira. Presa em mim mesma.  Prisioneira
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Página 8
                              Data:10/03Meu pai começou a trabalhar e eu fiquei em casa com a nova funcionária que ainda não aprendi o nome, mas ela é brasileira. Ela não é como a Cecília. É bastante formal. Já a Cisa — era assim, como eu e Valentim a chamamos — Ela era a minha mãezinha. Quanta saudade! Falo todos os dias com eles, tirando a minha mãe, não nos falamos mais e honestamente não sinto falta alguma de ser humilhada. Sei que ela está muito bem e parece que está com namorado novo. Meu pai nem toca no assunto, mas ainda sinto que ele gosta dela, infelizmente.Valentim está planejando vir para cá no próximo mês. Ele não gostou do novo namorado dela e vivem discutindo. Ele desconfia que ela j&a
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