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CAPÍTULO 2 - Visitantes indesejados II

EMMY ZACK

Observei minha mãe analisando todas nós, Denise Zack parou diante de nós, e seu olhar gelado desceu até a maçã no chão. Com um simples movimento de mão, um feixe de energia se formou ao seu redor, levantando a fruta do mármore e conduzindo-a até sua palma.

— Quem fez isso?

Madison sequer hesitou.

— Jennie. Ela sempre j**a coisas na Emmy.

Minha mãe lançou um olhar afiado para Jennie, que deu um passo para trás instintivamente. Sem desviar os olhos, mamãe apertou os dedos, e a maçã explodiu em pó entre suas mãos.

— Por hora, deixarei isso passar.

Seu tom deixava claro que não era uma concessão, e sim um aviso.

Ela se virou, seus longos cabelos negros ondulando com o movimento.

— Me sigam. Teremos visitantes na Torre. — Suas palavras ecoaram pelo corredor. — E vocês, comportem-se.

Seguimos atrás dela, mantendo a postura reta, como nos foi ensinado desde crianças.

A época não era comum para visitas. O outono trazia recolhimento. Lobos, vampiros, transmorfos e outras criaturas se isolavam em seus territórios, seguindo os ciclos naturais da estação.

— Quais serão os visitantes? — perguntei, sentindo um leve desconforto crescer em meu peito.

Mamãe hesitou um segundo antes de responder:

— As sacerdotisas de Malac’h. E junto delas, a realeza dos lobos da fronteira norte.

Senti o frio se espalhar pelo meu estômago.

Os lobos descendentes da Casa de Malac’h.

— Eles não são reclusos? — Jennie questionou, franzindo o cenho.

— São — minha mãe confirmou. — Poucos e extremamente reservados.

— O que eles fazem tão longe de casa? — Sol indagou.

Mamãe exalou devagar, a tensão visível em sua postura.

— Ainda não sabemos, querida. Mas você deve estar pronta para qualquer coisa, entendeu?

Paramos no alto da escadaria que dava acesso ao salão principal. O brasão da Divisa estava gravado nas portas maciças, e a luz fraca do outono projetava sombras longas pelo chão polido.

Mamãe nos olhou uma última vez antes de falar:

— Vocês podem se detestar, meninas… — sua voz era grave. — Mas se o inimigo se levantar contra nós guardiãs, vocês devem se lembrar de que, independentemente do sangue, são irmãs e devem proteger a Torre.

Ela ergueu a mão e acariciou minha bochecha com uma leveza incomum.

— Mesmo que custe suas vidas.

A frase foi finalizada por outra voz.

Adélia Bosckow.

Ela estava à nossa direita, os braços cruzados, seu olhar severo como sempre. As palavras eram um juramento — um lembrete de que, para as guardiãs, viver nunca foi o objetivo final.

A porta foi aberta.

A fumaça perfumada de incenso preencheu o ar.

Subimos os degraus, posicionando-nos atrás de nossas mães no andar superior, um privilégio exclusivo de quem nasceu dentro da Torre. Lá de cima, tínhamos uma visão privilegiada do que acontecia no térreo.

E então, os estandartes de Malac’h adentraram a Divisa.

Um grupo de sacerdotisas vestidas de branco caminhava lado a lado, trazendo incensários que soltavam espirais de fumaça azulada. Suas feições eram serenas, mas seus passos firmes indicavam que aquela não era uma visita comum.

No meio da procissão, cinco homens.

A visão deles fez meu sangue gelar.

— Observem, meninas… — Adélia murmurou, a voz tingida de desprezo. — Aqueles monstros são filhos de Malac’h.

Jennie fez uma careta.

— São lobos…?

— Sim — Adélia confirmou. — Cinco monstros nascidos da mesma mãe. Uma sacerdotisa de Malac’h.

Um peso se instalou no meu peito.

— Mas… — minha voz falhou. — Sacerdotisas de Malac’h não deveriam permanecer puras?

Jennie e Nina riram.

— Você realmente acredita que essas mulheres, que vivem entre monstros e servem ao pai deles, não quebram seus juramentos? — Adélia me lançou um olhar carregado de julgamento.

Minha garganta secou.

— Eles são… puros? — Nina perguntou hesitante.

Mamãe interveio:

— Sim. São a realeza dos transmorfos. Os únicos lobos puros vivos em nosso mundo. Possuem o sangue do próprio Deus Malac’h.

Cheryl estreitou os olhos.

— Então eles são semideuses?

— Quase isso — Adélia disse, com escárnio. — Mas herdaram muito mais o lado fera do Deus do que sua divindade.

Minha respiração falhou quando um deles olhou diretamente para mim.

Aquela cor.

Aqueles malditos olhos verde-floresta.

Meu peito se apertou.

— O que eles querem aqui? — perguntei, a voz quase um sussurro.

Mamãe demorou um instante para responder.

— Não sabemos… Ainda não sabemos.

E então percebi.

Não era só um.

Todos os cinco estavam olhando para mim.

Um arrepio subiu pela minha espinha.

Meus olhos se fixaram no que tinha íris verde-floresta. Seus cabelos eram escuros, curtos, e uma barba rala sombreava seu maxilar marcado. Ele usava um sobretudo pesado, de um tecido escuro e grosso, com uma pelagem densa cobrindo parte dos ombros como um manto. O cheiro de inverno parecia emanar dele. Imaginei que, de onde tivesse vindo, deveria estar nevando.

Era comum nas terras do Norte.

Ao lado dele, seu irmão tinha olhos quase cinza. Sua tonalidade era indecifrável, oscilando entre a névoa e o aço. Os cabelos eram revoltos, desalinhados como se um vento constante soprasse ao seu redor. No pescoço, uma tatuagem de um pássaro de asas abertas. Ele trajava o mesmo tipo de sobretudo, o manto de pele repousando sobre os ombros largos.

Os dois mais altos caminhavam à frente. Gêmeos. Loiros, de olhos azuis cortantes. Moviam-se em sincronia, uma presença imponente, quase sobrenatural. A semelhança entre eles era desconcertante, como se um espelho invisível refletisse cada passo.

O último, no entanto, destoava dos demais.

Tinha cabelos castanhos dourados, um pouco encaracolados, e um ar brincalhão que contrastava com a seriedade dos outros. Seus olhos castanhos eram quentes, brilhando com algo próximo de diversão. Ele parecia saber de algo que eu não sabia.

E foi ele quem sorriu primeiro.

Um sorriso largo. Quase exagerado.

— Emmy, pare de olhar. — A voz da minha mãe cortou o ar como uma lâmina.

Mas eu não conseguia desviar.

O tempo pareceu desacelerar.

Eram todos familiares para mim.

Os cinco.

Minha respiração ficou presa na garganta.

Emmy! — mamãe repetiu, um tom de urgência na voz.

Senti quando Sol tocou meu braço, e então aconteceu.

Minha magia despertou.

Foi como um relâmpago correndo sob minha pele. O poder subiu por minha espinha, espalhou-se pelas costas e irradiou até as pontas dos meus dedos. Um calor pulsante preencheu meu peito. Meus olhos vibraram.

Eu sabia.

Eu sentia.

Eles sabiam também.

— Emmy? — Sol sussurrou ao meu lado, tensa.

Respirei fundo, e as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar:

— Deus Malac’h… tudo é seu.

O ar ao meu redor pareceu mudar.

A fumaça dos incensários dançou em redemoinhos, como se tivesse sido afetada pelo eco da minha voz.

E então vi.

O lobo de cabelos castanhos sorrindo ainda mais.

Ele inclinou a cabeça de leve, como se reconhecesse algo em mim.

Um frio cortante se instalou no fundo do meu estômago.

— Seu poder fluiu, Emmy? — A voz de Adélia me tirou do transe.

Não consegui mentir.

O sorriso nasceu sem que eu percebesse. Pequeno. Quase imperceptível.

— Sim.

O olhar de Adélia se estreitou.

— Qual deles causou isso?

A pergunta fez meu peito se apertar.

Havia algo de errado em tudo aquilo.

Eu sabia a resposta. Todos sabiam.

— Aquele… aquele ali de olhos castanhos.

Minha voz saiu como um fio de ar.

O lobo não disfarçou.

Os outros quatro tentaram. Mantiveram a postura rígida, desviaram levemente os olhares, mas ele?

Ele não.

Ele sorriu ainda mais.

E então… acenou para mim.

Como se aquilo fosse um jogo.

Como se me conhecesse.

Como se esperasse por aquele momento há muito tempo.

Todos estão vendo. — Madison me cutucou.

Era verdade.

O salão, antes solene, agora observava.

Outras guardiãs. Aprendizes. As sacerdotisas de Malac’h.

Todos olhando para mim.

E para ele.

— Mamãe… o que está acontecendo? — minha voz saiu quase inaudível.

Ela não olhou para mim. Seu olhar estava fixo no lobo.

— Ele está manipulando você, querida. — disse firme. — Resista.

Engoli em seco.

Me forcei a desviar os olhos, focando em qualquer outra coisa.

Vi o brasão esculpido na pedra do salão. Vi as sombras das velas tremeluzindo. Vi o reflexo das guardiãs no chão polido.

Mas ainda sentia o olhar dele.

E quando, contra minha vontade, levantei os olhos de novo…

Ele ainda estava sorrindo.

De orelha a orelha.

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