EMMY ZACK
Observei minha mãe analisando todas nós, Denise Zack parou diante de nós, e seu olhar gelado desceu até a maçã no chão. Com um simples movimento de mão, um feixe de energia se formou ao seu redor, levantando a fruta do mármore e conduzindo-a até sua palma.
— Quem fez isso?
Madison sequer hesitou.
— Jennie. Ela sempre j**a coisas na Emmy.
Minha mãe lançou um olhar afiado para Jennie, que deu um passo para trás instintivamente. Sem desviar os olhos, mamãe apertou os dedos, e a maçã explodiu em pó entre suas mãos.
— Por hora, deixarei isso passar.
Seu tom deixava claro que não era uma concessão, e sim um aviso.
Ela se virou, seus longos cabelos negros ondulando com o movimento.
— Me sigam. Teremos visitantes na Torre. — Suas palavras ecoaram pelo corredor. — E vocês, comportem-se.
Seguimos atrás dela, mantendo a postura reta, como nos foi ensinado desde crianças.
A época não era comum para visitas. O outono trazia recolhimento. Lobos, vampiros, transmorfos e outras criaturas se isolavam em seus territórios, seguindo os ciclos naturais da estação.
— Quais serão os visitantes? — perguntei, sentindo um leve desconforto crescer em meu peito.
Mamãe hesitou um segundo antes de responder:
— As sacerdotisas de Malac’h. E junto delas, a realeza dos lobos da fronteira norte.
Senti o frio se espalhar pelo meu estômago.
Os lobos descendentes da Casa de Malac’h.
— Eles não são reclusos? — Jennie questionou, franzindo o cenho.
— São — minha mãe confirmou. — Poucos e extremamente reservados.
— O que eles fazem tão longe de casa? — Sol indagou.
Mamãe exalou devagar, a tensão visível em sua postura.
— Ainda não sabemos, querida. Mas você deve estar pronta para qualquer coisa, entendeu?
Paramos no alto da escadaria que dava acesso ao salão principal. O brasão da Divisa estava gravado nas portas maciças, e a luz fraca do outono projetava sombras longas pelo chão polido.
Mamãe nos olhou uma última vez antes de falar:
— Vocês podem se detestar, meninas… — sua voz era grave. — Mas se o inimigo se levantar contra nós guardiãs, vocês devem se lembrar de que, independentemente do sangue, são irmãs e devem proteger a Torre.
Ela ergueu a mão e acariciou minha bochecha com uma leveza incomum.
— Mesmo que custe suas vidas.
A frase foi finalizada por outra voz.
Adélia Bosckow.
Ela estava à nossa direita, os braços cruzados, seu olhar severo como sempre. As palavras eram um juramento — um lembrete de que, para as guardiãs, viver nunca foi o objetivo final.
A porta foi aberta.
A fumaça perfumada de incenso preencheu o ar.Subimos os degraus, posicionando-nos atrás de nossas mães no andar superior, um privilégio exclusivo de quem nasceu dentro da Torre. Lá de cima, tínhamos uma visão privilegiada do que acontecia no térreo.
E então, os estandartes de Malac’h adentraram a Divisa.
Um grupo de sacerdotisas vestidas de branco caminhava lado a lado, trazendo incensários que soltavam espirais de fumaça azulada. Suas feições eram serenas, mas seus passos firmes indicavam que aquela não era uma visita comum.
No meio da procissão, cinco homens.
A visão deles fez meu sangue gelar.
— Observem, meninas… — Adélia murmurou, a voz tingida de desprezo. — Aqueles monstros são filhos de Malac’h.
Jennie fez uma careta.
— São lobos…?
— Sim — Adélia confirmou. — Cinco monstros nascidos da mesma mãe. Uma sacerdotisa de Malac’h.
Um peso se instalou no meu peito.
— Mas… — minha voz falhou. — Sacerdotisas de Malac’h não deveriam permanecer puras?
Jennie e Nina riram.
— Você realmente acredita que essas mulheres, que vivem entre monstros e servem ao pai deles, não quebram seus juramentos? — Adélia me lançou um olhar carregado de julgamento.
Minha garganta secou.
— Eles são… puros? — Nina perguntou hesitante.
Mamãe interveio:
— Sim. São a realeza dos transmorfos. Os únicos lobos puros vivos em nosso mundo. Possuem o sangue do próprio Deus Malac’h.
Cheryl estreitou os olhos.
— Então eles são semideuses?
— Quase isso — Adélia disse, com escárnio. — Mas herdaram muito mais o lado fera do Deus do que sua divindade.
Minha respiração falhou quando um deles olhou diretamente para mim.
Aquela cor.
Aqueles malditos olhos verde-floresta.
Meu peito se apertou.
— O que eles querem aqui? — perguntei, a voz quase um sussurro.
Mamãe demorou um instante para responder.
— Não sabemos… Ainda não sabemos.
E então percebi.
Não era só um.
Todos os cinco estavam olhando para mim.
Um arrepio subiu pela minha espinha.
Meus olhos se fixaram no que tinha íris verde-floresta. Seus cabelos eram escuros, curtos, e uma barba rala sombreava seu maxilar marcado. Ele usava um sobretudo pesado, de um tecido escuro e grosso, com uma pelagem densa cobrindo parte dos ombros como um manto. O cheiro de inverno parecia emanar dele. Imaginei que, de onde tivesse vindo, deveria estar nevando.
Era comum nas terras do Norte.
Ao lado dele, seu irmão tinha olhos quase cinza. Sua tonalidade era indecifrável, oscilando entre a névoa e o aço. Os cabelos eram revoltos, desalinhados como se um vento constante soprasse ao seu redor. No pescoço, uma tatuagem de um pássaro de asas abertas. Ele trajava o mesmo tipo de sobretudo, o manto de pele repousando sobre os ombros largos.
Os dois mais altos caminhavam à frente. Gêmeos. Loiros, de olhos azuis cortantes. Moviam-se em sincronia, uma presença imponente, quase sobrenatural. A semelhança entre eles era desconcertante, como se um espelho invisível refletisse cada passo.
O último, no entanto, destoava dos demais.
Tinha cabelos castanhos dourados, um pouco encaracolados, e um ar brincalhão que contrastava com a seriedade dos outros. Seus olhos castanhos eram quentes, brilhando com algo próximo de diversão. Ele parecia saber de algo que eu não sabia.
E foi ele quem sorriu primeiro.
Um sorriso largo. Quase exagerado.
— Emmy, pare de olhar. — A voz da minha mãe cortou o ar como uma lâmina.
Mas eu não conseguia desviar.
O tempo pareceu desacelerar.
Eram todos familiares para mim.
Os cinco.
Minha respiração ficou presa na garganta.
— Emmy! — mamãe repetiu, um tom de urgência na voz.
Senti quando Sol tocou meu braço, e então aconteceu.
Minha magia despertou.
Foi como um relâmpago correndo sob minha pele. O poder subiu por minha espinha, espalhou-se pelas costas e irradiou até as pontas dos meus dedos. Um calor pulsante preencheu meu peito. Meus olhos vibraram.
Eu sabia.
Eu sentia.
Eles sabiam também.
— Emmy? — Sol sussurrou ao meu lado, tensa.
Respirei fundo, e as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar:
— Deus Malac’h… tudo é seu.
O ar ao meu redor pareceu mudar.
A fumaça dos incensários dançou em redemoinhos, como se tivesse sido afetada pelo eco da minha voz.
E então vi.
O lobo de cabelos castanhos sorrindo ainda mais.
Ele inclinou a cabeça de leve, como se reconhecesse algo em mim.
Um frio cortante se instalou no fundo do meu estômago.
— Seu poder fluiu, Emmy? — A voz de Adélia me tirou do transe.
Não consegui mentir.
O sorriso nasceu sem que eu percebesse. Pequeno. Quase imperceptível.
— Sim.
O olhar de Adélia se estreitou.
— Qual deles causou isso?
A pergunta fez meu peito se apertar.
Havia algo de errado em tudo aquilo.
Eu sabia a resposta. Todos sabiam.
— Aquele… aquele ali de olhos castanhos.
Minha voz saiu como um fio de ar.
O lobo não disfarçou.
Os outros quatro tentaram. Mantiveram a postura rígida, desviaram levemente os olhares, mas ele?
Ele não.
Ele sorriu ainda mais.
E então… acenou para mim.
Como se aquilo fosse um jogo.
Como se me conhecesse.
Como se esperasse por aquele momento há muito tempo.
— Todos estão vendo. — Madison me cutucou.
Era verdade.
O salão, antes solene, agora observava.
Outras guardiãs. Aprendizes. As sacerdotisas de Malac’h.
Todos olhando para mim.
E para ele.
— Mamãe… o que está acontecendo? — minha voz saiu quase inaudível.
Ela não olhou para mim. Seu olhar estava fixo no lobo.
— Ele está manipulando você, querida. — disse firme. — Resista.
Engoli em seco.
Me forcei a desviar os olhos, focando em qualquer outra coisa.
Vi o brasão esculpido na pedra do salão. Vi as sombras das velas tremeluzindo. Vi o reflexo das guardiãs no chão polido.
Mas ainda sentia o olhar dele.
E quando, contra minha vontade, levantei os olhos de novo…
Ele ainda estava sorrindo.
De orelha a orelha.
Isaac FieldsO mundo parou.Por um instante, o tempo perdeu o significado. O ar ficou mais pesado, como se cada partícula ao meu redor estivesse absorvendo o impacto daquela visão. Meu coração martelou no peito, meu sangue cantava em um ritmo selvagem.Céus, era ela.Minha prometida. Minha outra metade.A peça que sempre esteve ausente, um vazio que eu nem sabia nomear até agora.Ela estava ali, tão real quanto a própria vontade de Malac'h. Seus olhos azuis brilhavam como um reflexo do céu antes da tempestade, um convite e um aviso ao mesmo tempo. Havia algo neles — algo feroz, indomável — que me fez esquecer como respirar.O destino havia nos unido. Como deveria ser. Como sempre foi escrito.O instinto rugiu dentro de mim. A posse, a necessidade. Era visceral, inegável. Meu corpo reconheceu antes mesmo da minha mente. O cheiro dela, a presença dela. Tudo me chamava.Ela era minha.E eu nunca a deixaria escapar.O mundo poderia desabar agora, e eu não me moveria um centímetro.Porq
EMMY ZACKMinha pele ardia.As garras deslizavam pelo vale dos meus seios, descendo preguiçosamente até minha barriga. O toque era afiado e, ao mesmo tempo, adorável. Um arrepio percorreu minha espinha quando abri os olhos, respirando fundo.E lá estava ele.O homem de cabelos castanho-dourados, encaracolados, com a pele clara banhada pelo brilho âmbar das velas ao redor da cama. Seus olhos castanhos faiscavam, reluzindo em dourado à medida que me devoravam com a intensidade de um predador.Senti seus braços me envolverem, puxando minha cintura contra seu corpo sólido. O calor de sua pele me consumia.Então veio a dor.Uma pontada aguda, profunda. Meus lábios se entreabriram num gemido involuntário, um som que ele recebeu com um sorriso satisfeito.Uma de suas mãos deixou minha cintura e subiu até minha nuca, enredando meus cabelos entre seus dedos. Ele me puxou para si, forçando minha boca contra a dele. Seu beijo era faminto, reivindicador, como se quisesse selar algo muito além de
CHASE FIELDSOs corredores da Torre Masculina da Dívisa Guardiã eram austeros, de pedras escuras e frias, iluminadas apenas por tochas presas às paredes. Havia umidade no ar, carregada com o cheiro de pergaminhos antigos e ferro das espadas embainhadas nos cintos dos guardiões.Poucos homens eram aceitos aqui. A maioria eram maridos, filhos ou irmãos das Guardiãs, e aqueles que não tinham um vínculo de sangue ou aliança precisavam ser escolhidos a dedo para permanecer.Sete dias. Esse era o tempo que ficaríamos na torre.Sete dias até que Malac’h decidisse revelar a razão de nossa presença.Meu pai não costuma compartilhar segredos comigo. Ele não compartilha nada com ninguém.Malac’h é um Deus recluso.Ele vem e vai quando quer, passando a maior parte do tempo trancado em seus aposentos, observando em silêncio a pintura de uma deusa morta.Afasto os pensamentos ao ver Emmy Zack atravessar os portões da Torre Feminina.Os portões eram altos e imponentes, decorados com inscrições antig
EMMY ZACKTropecei duas ou três vezes, amaldiçoando a mim mesma por toda essa situação. Só me dei conta de como estava transtornada ao chegar a uma das salas de leitura vazia.Tranquei a porta e deixei algumas lágrimas caírem, me perguntando o que estava acontecendo comigo.Afinal de contas, aquele era o nosso lugar.Meu e do Devon.Até não significar mais nada. Mas agora, era como uma ferida aberta. Algum tipo de vergonha percorria meus poros.Eu cedi àquele lobo… Isaac.Naquele momento, foi como se eu respirasse através da minha pele, e minha pele pedisse por ele. Como se ele fosse o ar necessário para me manter viva.O cheiro dele impregnava meu vestido. Um aroma amadeirado, e fresco.Menta.A porta se abriu, mas continuei sentada no chão, perto da estante.— Olá, criança… — Adélia Bosckow me analisou. — Você está bem, Emmy?Levantei-me rapidamente, alinhando o vestido e abaixando a cabeça. Estendi as mãos à frente do corpo, levemente, em reverência a uma das guardiãs mais import
Matteo FieldsNão completamos nem um dia na Divisa Guardiã, e Isaac já arrumou problemas.Observo, atônito, enquanto Chase termina de contar a última confusão em que nosso ímã de encrenca se meteu.Zayn ri, mastigando os biscoitos que roubou da cozinha da torre. Alec permanece calado.— O que diabos você estava pensando? — solto, indignado. — Ela é uma aprendiz de guardiã! E não qualquer uma… é filha de uma guardiã superior!Alec percebe minha revolta e se coloca entre mim e Isaac, como sempre sendo o pacificador das nossas discussões.— Isaac, você já passou da idade de fazer tanta merda! — perco o controle, gritando.— O que a idade tem a ver com isso? — Zayn, o caçula resmunga.Chase esfrega o rosto, visiv
Isaac FieldsAcordo sentindo um toque leve deslizar por minha bochecha. Suas unhas arranham suavemente meu queixo, e quando abro os olhos, encontro seu sorriso me acolhendo. Ela me puxa para um beijo, e o calor de seu corpo nu contra o meu me enraíza na realidade daquele momento.O quarto ao nosso redor parece grandioso, mas indistinto. Cortinas roxas envolvem a cama imensa, o veludo ondulando como sombras vivas. À frente, uma mesa ornamentada exibe cálices e ervas espalhadas ao lado de velas queimando lentamente. Símbolos solares se espalham pelas paredes de pedra clara, como se capturassem a essência de algo divino.— Está bem, amor? — sua voz chega até mim como um sussurro envolvente, seus olhos azuis cintilando com uma luz que parece própria.— Sim, minha deusa. — Respondo sem hesitação, encantado pela visão dela. Seus longos cabelos caem ao redor do rosto, uma moldura perfeita para sua beleza etérea.— Prefiro quando diz o meu nome. — Ela murmura antes de roçar os lábios em meu q
Isaac Fields"Nem acima dos céus, nem abaixo deles houve criatura tão bela quanto ela.Aquela que deu luz às estrelas." Desperto com o corpo em chamas. Cada músculo pulsa de dor, como se tivesse sido despedaçado e remontado de forma errada. O chão frio sob mim é áspero, duro. Minha respiração está pesada. Tento me mover, mas um peso invisível parece me prender. Ergo o olhar e vejo a sala ao meu redor. No centro, um pilar se ergue, irradiando uma energia densa, sufocante. Algo está errado. Há corrupção ali, algo vil, algo que me enfraquece. Então, o cheiro me atinge. Sangue. Meu coração acelera. Viro o rosto e vejo Emmy caída. O desespero me impulsiona para frente. Me arrasto, ignorando a dor que me atravessa, e alcanço seu corpo frágil. Meu peito aperta quando toco sua pele fria. — Emmy! Minha voz ecoa na sala vazia. Toco seu rosto, tentando despertá-la. Os segundos se arrastam como séculos. Então, finalmente, ela se move. Os olhos dela se abrem, confusos, nublados. — I
Chase Fields Madison chora enquanto caminha pelos corredores da torre. Ignoro. Se eu deixar que isso desperte qualquer resquício de compaixão, estarei enfraquecendo minha posição. Não quero machucá-la, nunca machucaria ninguém sem necessidade. Mas sei que não nos entregarão Emmy e Isaac de maneira voluntária. — Pare de chorar. — ordeno, sem paciência. — Diga tudo o que sabe. Ela hesita, então a pego pelo pescoço novamente, minhas garras roçando perigosamente contra sua pele frágil. — Ela está ali… atrás daquela porta. — sussurra, apontando. Meus olhos se fixam na enorme lua desenhada na porta. A energia emanando dali me arrepia a espinha. — O que tem ali? — pergunto, desconfiado. — É uma prisão lunar, feita pela deusa Iazi'ch. — sua voz treme. Minha mandíbula trava. Sei que meu rosto agora carrega uma expressão sombria e ameaçadora. — Emmy e Isaac estão dentro dessa prisão? Madison assente, hesitante. — É só isso que sei. Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, um