Emmy Zack A viagem foi uma provação. Cada solavanco da carruagem parecia uma lembrança cruel do que me esperava. Não importava o quanto Isaac e Zayn tentassem me acalmar com promessas de tranquilidade — “Será uma chegada suave, Emmy, sem surpresas.” — nada poderia preparar minha mente para o caos silencioso que se erguia dentro de mim. Mas quando a carruagem finalmente desacelerou diante da ponte que levava ao Templo de Malac’h, não havia mais espaço para palavras reconfortantes. Apenas o som dos cascos contra o mármore e o rugido abafado do meu próprio coração. A ponte era uma obra digna dos próprios deuses — longa, imponente, sustentada por arcos colossais que pareciam desafiar as leis da gravidade. Além dela, a cidade sagrada se estendia como uma tapeçaria viva de pedras ancestrais, torres douradas e telhados de âmbar. No centro, como um farol arrogante, a Torre de Malac’h rasgava o céu com sua presença absoluta. Muito maior que a Divisa Guardiã. Muito mais opressora. Isaac me
Emmy Zack Havia algo desconcertante nos olhares que me atravessavam. Eles não apenas me observavam — me despiam. Como se quisessem arrancar meus segredos com os olhos. Tentei manter um sorriso sereno nos lábios, mas ele tremia. Os músicos estavam posicionados discretamente num canto do salão, tão silenciosos até então que me espantei por não tê-los notado. O ar vibrava levemente, como se o espaço entre as paredes aguardasse algo sagrado. — Animem-se — exclamou Triodh’ch, com sua voz rouca e carregada de autoridade — já faz mais de uma década desde que a deusa superior pisou entre nós. Ela ergueu a taça, o líquido cor de sangue refletindo na iluminação de sua aura. Um silêncio pesado caiu sobre o salão. Sentia-me ainda mais pequena, engolida pela imponência daquele momento. Eu não conhecia todas as histórias do continente — não ainda. Ainda não havia chegado nessa parte dos livros que Alec me dera. Estava perdida entre mitos e símbolos, caminhando às cegas entre rituais q
Alec FieldsOs olhos dela, naquela cor, devastavam qualquer lógica em mim. Emmy era uma tempestade silenciosa, e sua energia fluía pelo salão como uma onda invisível que arrancava o fôlego de todos — especialmente o meu. Ela dançava, sem ter a menor noção do quanto sua simples presença era catastrófica para criaturas menores, para almas frágeis. Seu poder escapava como perfume raro, inebriante, e ninguém ali sabia o que fazer com aquilo.Mas ela também não sabia quem era.Cresceu trancada numa torre, vigiada por olhos famintos e mentes paranoicas, todos obcecados em conter o que ela podia ser.Não era justo.Ela ainda era apenas uma menina no corpo de uma mulher, uma menina tentando entender por que o mundo parecia pequeno demais para a energia que nascia dentro dela.E mesmo assim, mesmo sem termos chegado ao ponto central — aquele ponto de ruptura onde tudo se revela ou tudo colapsa — eu já sentia a verdade cutucando meus ossos.Observei os reis de Strindor: sua alteza e a consorte
EMMY ZACKAcordei com um solavanco, caindo da cama com um estrondo surdo contra o chão frio de mármore. Meu coração disparava dentro do peito, e o suor frio escorria pela nuca. Outro pesadelo. Mais um.Madison apareceu no meu campo de visão antes que eu pudesse me recuperar. Seus cabelos dourados estavam soltos, caindo sobre os ombros como uma cortina cintilante sob a luz bruxuleante do abajur. Ela estendeu a mão, a expressão meio divertida, meio exasperada.— Você bebeu chá de hortelã antes de dormir de novo, não foi?Soltou um suspiro enquanto me puxava de volta para cima. Sua força me desequilibrou por um segundo, e eu quase tropecei.— Você sabe o que as guardiãs dizem sobre isso, Emmy.Antes que eu pudesse responder, Sol entrou no quarto, equilibrando um monte de toalhas dobradas no braço. Seu olhar deslizou rapidamente para mim, e ela franziu o cenho.— Pelos deuses menores e maiores, você precisa parar de desobedecer as guardiãs.Ela fechou a porta atrás de si com o quadril e j
EMMY ZACKObservei minha mãe analisando todas nós, Denise Zack parou diante de nós, e seu olhar gelado desceu até a maçã no chão. Com um simples movimento de mão, um feixe de energia se formou ao seu redor, levantando a fruta do mármore e conduzindo-a até sua palma.— Quem fez isso?Madison sequer hesitou.— Jennie. Ela sempre joga coisas na Emmy.Minha mãe lançou um olhar afiado para Jennie, que deu um passo para trás instintivamente. Sem desviar os olhos, mamãe apertou os dedos, e a maçã explodiu em pó entre suas mãos.— Por hora, deixarei isso passar.Seu tom deixava claro que não era uma concessão, e sim um aviso.Ela se virou, seus longos cabelos negros ondulando com o movimento.— Me sigam. Teremos visitantes na Torre. — Suas palavras ecoaram pelo corredor. — E vocês, comportem-se.Seguimos atrás dela, mantendo a postura reta, como nos foi ensinado desde crianças.A época não era comum para visitas. O outono trazia recolhimento. Lobos, vampiros, transmorfos e outras criaturas se
Isaac FieldsO mundo parou.Por um instante, o tempo perdeu o significado. O ar ficou mais pesado, como se cada partícula ao meu redor estivesse absorvendo o impacto daquela visão. Meu coração martelou no peito, meu sangue cantava em um ritmo selvagem.Céus, era ela.Minha prometida. Minha outra metade.A peça que sempre esteve ausente, um vazio que eu nem sabia nomear até agora.Ela estava ali, tão real quanto a própria vontade de Malac'h. Seus olhos azuis brilhavam como um reflexo do céu antes da tempestade, um convite e um aviso ao mesmo tempo. Havia algo neles — algo feroz, indomável — que me fez esquecer como respirar.O destino havia nos unido. Como deveria ser. Como sempre foi escrito.O instinto rugiu dentro de mim. A posse, a necessidade. Era visceral, inegável. Meu corpo reconheceu antes mesmo da minha mente. O cheiro dela, a presença dela. Tudo me chamava.Ela era minha.E eu nunca a deixaria escapar.O mundo poderia desabar agora, e eu não me moveria um centímetro.Porq
EMMY ZACKMinha pele ardia.As garras deslizavam pelo vale dos meus seios, descendo preguiçosamente até minha barriga. O toque era afiado e, ao mesmo tempo, adorável. Um arrepio percorreu minha espinha quando abri os olhos, respirando fundo.E lá estava ele.O homem de cabelos castanho-dourados, encaracolados, com a pele clara banhada pelo brilho âmbar das velas ao redor da cama. Seus olhos castanhos faiscavam, reluzindo em dourado à medida que me devoravam com a intensidade de um predador.Senti seus braços me envolverem, puxando minha cintura contra seu corpo sólido. O calor de sua pele me consumia.Então veio a dor.Uma pontada aguda, profunda. Meus lábios se entreabriram num gemido involuntário, um som que ele recebeu com um sorriso satisfeito.Uma de suas mãos deixou minha cintura e subiu até minha nuca, enredando meus cabelos entre seus dedos. Ele me puxou para si, forçando minha boca contra a dele. Seu beijo era faminto, reivindicador, como se quisesse selar algo muito além de
CHASE FIELDSOs corredores da Torre Masculina da Dívisa Guardiã eram austeros, de pedras escuras e frias, iluminadas apenas por tochas presas às paredes. Havia umidade no ar, carregada com o cheiro de pergaminhos antigos e ferro das espadas embainhadas nos cintos dos guardiões.Poucos homens eram aceitos aqui. A maioria eram maridos, filhos ou irmãos das Guardiãs, e aqueles que não tinham um vínculo de sangue ou aliança precisavam ser escolhidos a dedo para permanecer.Sete dias. Esse era o tempo que ficaríamos na torre.Sete dias até que Malac’h decidisse revelar a razão de nossa presença.Meu pai não costuma compartilhar segredos comigo. Ele não compartilha nada com ninguém.Malac’h é um Deus recluso.Ele vem e vai quando quer, passando a maior parte do tempo trancado em seus aposentos, observando em silêncio a pintura de uma deusa morta.Afasto os pensamentos ao ver Emmy Zack atravessar os portões da Torre Feminina.Os portões eram altos e imponentes, decorados com inscrições antig