EMMY ZACK
Minha pele ardia.
As garras deslizavam pelo vale dos meus seios, descendo preguiçosamente até minha barriga. O toque era afiado e, ao mesmo tempo, adorável. Um arrepio percorreu minha espinha quando abri os olhos, respirando fundo.
E lá estava ele.
O homem de cabelos castanho-dourados, encaracolados, com a pele clara banhada pelo brilho âmbar das velas ao redor da cama. Seus olhos castanhos faiscavam, reluzindo em dourado à medida que me devoravam com a intensidade de um predador.
Senti seus braços me envolverem, puxando minha cintura contra seu corpo sólido. O calor de sua pele me consumia.
Então veio a dor.
Uma pontada aguda, profunda. Meus lábios se entreabriram num gemido involuntário, um som que ele recebeu com um sorriso satisfeito.
Uma de suas mãos deixou minha cintura e subiu até minha nuca, enredando meus cabelos entre seus dedos. Ele me puxou para si, forçando minha boca contra a dele. Seu beijo era faminto, reivindicador, como se quisesse selar algo muito além de nossa carne.
Suas investidas não eram violentas, mas intensas, e a dor deu lugar a algo mais profundo. Meu ventre o apertava, meus sentidos flutuavam entre o prazer e a vertigem.
— Isso, amor… — ele murmurou entre os beijos. — Relaxe para mim.
Minhas unhas cravaram-se em seus ombros, sentindo a pele quente sob meus dedos. Meus olhos subiram, fixando-se nos dele.
E eu vi.Vi a posse ali.
Vi o desejo bruto, primal, uma união de almas.
Minha mão se moveu por instinto, deslizando até seus cabelos, puxando-os com força.
— Meu. — Minha voz não era um sussurro. Era uma afirmação, carregada de obsessão. De certeza. — Isaac.
Ele rosnou. Um som rouco, reverberante, como um trovão dentro do peito.
— Meu nome na sua boca… — ele arfou, os lábios entreabertos, trêmulos de desejo. — É uma canção para os deuses antigos, amor.
Um sorriso selvagem brotou em seu rosto antes que ele se forçasse ainda mais contra mim.
Eu estava sobre ele, o montando, e pétalas de rosas escarlates nos cercavam, espalhadas pelos lençóis amassados. Elas se grudavam à nossa pele suada, como se fossem parte do ritual profano que estávamos consumando.
E então…
A realidade me golpeou.
Como um balde de água gelada, a lembrança veio de uma vez.
A chegada dele à Torre das Guardiãs, há um dia, me lembrei da cerimônia, do jantar e depois de vir para meu quarto sozinha.
Isaac.
Tremi. Meu peito subia e descia em uma respiração irregular. Meus olhos se arregalaram e o pânico rasgou meu peito.
Isso não podia estar acontecendo.
Me afastei dele num sobressalto, saindo de cima de seu corpo quente. Meus dedos agarraram o lençol, puxando-o contra meu corpo nu.
— Meu sonho… — murmurei, atordoada.
Mas antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, acordei.
Meu corpo se sacudiu, respirando fundo e arfante.
O quarto estava escuro, mas o calor ainda impregnava minha pele. Meus lençóis estavam encharcados de suor, colando-se ao meu corpo. Meu pijama pingava.
Mas aquilo…
Não era só um sonho.
As camas ao meu redor estavam vazias, mas o que vi me fez prender a respiração.
Pétalas de rosas vermelhas estavam espalhadas pelo colchão.
No chão.
Amassadas.
Tremi ao me levantar, sentindo os pés afundarem suavemente nas pétalas.
Isso não podia ser real.
Mordi o lábio, o terror se alojando em meu peito. Virei lentamente para o espelho no canto do quarto.
E ali, no espelho enevoado, havia um desenho.
Uma flor.
Perfeita. Simétrica.
Eu me aproximei, sentindo algo estremecer dentro de mim. Meus olhos se arregalaram quando a lembrança se infiltrou em minha mente como um veneno.
Isaac.
Vi sua mão erguendo-se no reflexo de minha memória, a unha alongada, como a garra de um lobo, riscando delicadamente a flor sobre o espelho.
Deuses…
Meu corpo inteiro tremeu.
— Isaac. — Sussurrei, e o nome saiu de meus lábios com um peso que eu não conseguia compreender.
Antes que eu pudesse processar qualquer coisa, a porta se abriu de repente.
Madison entrou apressada, já vestida com seu traje de aprendiz. Seus olhos azuis se arregalaram quando viram o estado do quarto.
— Pelos deuses… o que aconteceu aqui?! — Sua voz soou alarmada enquanto corria até mim, segurando meus braços.
Eu queria responder, mas ainda o sentia.
Isaac.
Dentro de mim.
Não apenas na lembrança.
Na minha essência.
Seu cheiro ainda estava impregnado em minha pele, sobrepondo qualquer outro aroma ao meu redor. Como um traço invisível, como uma marca… como se eu pertencesse a ele agora.
— O lobo.
Engoli em seco, e quando minha voz saiu, foi um sussurro trêmulo:
— Ele entrou nos meus sonhos, Madi… — fechei os olhos, sentindo um arrepio percorrer minha espinha. — Ele… esteve aqui.
Madison empalideceu.
— O que ele disse? — sua preocupação era evidente.
Antes que eu pudesse responder, Sol entrou no quarto.
Seus olhos pousaram no espelho.
Na flor.
— Quem fez isso? — ela praticamente gritou.
Madison girou para ela, sua expressão séria.
— Emergência, Sol. Vem aqui. Rápido.
Ela se aproximou, mas congelou quando viu as pétalas amassadas no chão.
— O lobo… — Madison começou, hesitante. — Esteve aqui. E entrou no sonho da Emmy.
O silêncio que se seguiu foi esmagador.
Até que Sol explodiu:
— O QUÊ?!
Minha garganta secou. Meu coração batia freneticamente.
E então, sem conseguir me conter, deixei escapar:
— Nós estávamos… — minha voz falhou, um tremor se espalhando por meu corpo. — Transando.
O choque se refletiu nos rostos delas.
Madison e Sol se entreolharam, os olhos arregalados.
Minha mente girava. Meu corpo ainda pulsava com as memórias do toque dele.
— O que eu faço agora? — minha voz era um fio de desespero.
Sol começou a se mover.
— Vou chamar a mamãe!
— Não! — Madison agarrou seu braço, sua voz aguda de urgência. — Você enlouqueceu?! Se contar para ela, Emmy será trancada na Sala da Lua por uma década!
O pânico se espalhou em meu peito.
Madison de voltou para mim e segurou meu rosto, seus olhos fixos nos meus.
— Não vamos contar isso para ninguém. — ela declarou, com firmeza. — Você vai fingir que nada disso aconteceu. Entendeu?
Eu assenti.
Forçando todos os meus poros a acreditar que aquilo era possível.
Mas o erro foi fechar os olhos.
Porque quando fiz isso…
Eu o vi.
E a lembrança do toque dele veio de novo.
O calor.
O desejo.
A maneira como fui reivindicada.
CHASE FIELDSOs corredores da Torre Masculina da Dívisa Guardiã eram austeros, de pedras escuras e frias, iluminadas apenas por tochas presas às paredes. Havia umidade no ar, carregada com o cheiro de pergaminhos antigos e ferro das espadas embainhadas nos cintos dos guardiões.Poucos homens eram aceitos aqui. A maioria eram maridos, filhos ou irmãos das Guardiãs, e aqueles que não tinham um vínculo de sangue ou aliança precisavam ser escolhidos a dedo para permanecer.Sete dias. Esse era o tempo que ficaríamos na torre.Sete dias até que Malac’h decidisse revelar a razão de nossa presença.Meu pai não costuma compartilhar segredos comigo. Ele não compartilha nada com ninguém.Malac’h é um Deus recluso.Ele vem e vai quando quer, passando a maior parte do tempo trancado em seus aposentos, observando em silêncio a pintura de uma deusa morta.Afasto os pensamentos ao ver Emmy Zack atravessar os portões da Torre Feminina.Os portões eram altos e imponentes, decorados com inscrições antig
EMMY ZACKTropecei duas ou três vezes, amaldiçoando a mim mesma por toda essa situação. Só me dei conta de como estava transtornada ao chegar a uma das salas de leitura vazia.Tranquei a porta e deixei algumas lágrimas caírem, me perguntando o que estava acontecendo comigo.Afinal de contas, aquele era o nosso lugar.Meu e do Devon.Até não significar mais nada. Mas agora, era como uma ferida aberta. Algum tipo de vergonha percorria meus poros.Eu cedi àquele lobo… Isaac.Naquele momento, foi como se eu respirasse através da minha pele, e minha pele pedisse por ele. Como se ele fosse o ar necessário para me manter viva.O cheiro dele impregnava meu vestido. Um aroma amadeirado, e fresco.Menta.A porta se abriu, mas continuei sentada no chão, perto da estante.— Olá, criança… — Adélia Bosckow me analisou. — Você está bem, Emmy?Levantei-me rapidamente, alinhando o vestido e abaixando a cabeça. Estendi as mãos à frente do corpo, levemente, em reverência a uma das guardiãs mais import
Matteo FieldsNão completamos nem um dia na Divisa Guardiã, e Isaac já arrumou problemas.Observo, atônito, enquanto Chase termina de contar a última confusão em que nosso ímã de encrenca se meteu.Zayn ri, mastigando os biscoitos que roubou da cozinha da torre. Alec permanece calado.— O que diabos você estava pensando? — solto, indignado. — Ela é uma aprendiz de guardiã! E não qualquer uma… é filha de uma guardiã superior!Alec percebe minha revolta e se coloca entre mim e Isaac, como sempre sendo o pacificador das nossas discussões.— Isaac, você já passou da idade de fazer tanta merda! — perco o controle, gritando.— O que a idade tem a ver com isso? — Zayn, o caçula resmunga.Chase esfrega o rosto, visiv
Isaac FieldsAcordo sentindo um toque leve deslizar por minha bochecha. Suas unhas arranham suavemente meu queixo, e quando abro os olhos, encontro seu sorriso me acolhendo. Ela me puxa para um beijo, e o calor de seu corpo nu contra o meu me enraíza na realidade daquele momento.O quarto ao nosso redor parece grandioso, mas indistinto. Cortinas roxas envolvem a cama imensa, o veludo ondulando como sombras vivas. À frente, uma mesa ornamentada exibe cálices e ervas espalhadas ao lado de velas queimando lentamente. Símbolos solares se espalham pelas paredes de pedra clara, como se capturassem a essência de algo divino.— Está bem, amor? — sua voz chega até mim como um sussurro envolvente, seus olhos azuis cintilando com uma luz que parece própria.— Sim, minha deusa. — Respondo sem hesitação, encantado pela visão dela. Seus longos cabelos caem ao redor do rosto, uma moldura perfeita para sua beleza etérea.— Prefiro quando diz o meu nome. — Ela murmura antes de roçar os lábios em meu q
Isaac Fields"Nem acima dos céus, nem abaixo deles houve criatura tão bela quanto ela.Aquela que deu luz às estrelas." Desperto com o corpo em chamas. Cada músculo pulsa de dor, como se tivesse sido despedaçado e remontado de forma errada. O chão frio sob mim é áspero, duro. Minha respiração está pesada. Tento me mover, mas um peso invisível parece me prender. Ergo o olhar e vejo a sala ao meu redor. No centro, um pilar se ergue, irradiando uma energia densa, sufocante. Algo está errado. Há corrupção ali, algo vil, algo que me enfraquece. Então, o cheiro me atinge. Sangue. Meu coração acelera. Viro o rosto e vejo Emmy caída. O desespero me impulsiona para frente. Me arrasto, ignorando a dor que me atravessa, e alcanço seu corpo frágil. Meu peito aperta quando toco sua pele fria. — Emmy! Minha voz ecoa na sala vazia. Toco seu rosto, tentando despertá-la. Os segundos se arrastam como séculos. Então, finalmente, ela se move. Os olhos dela se abrem, confusos, nublados. — I
Chase Fields Madison chora enquanto caminha pelos corredores da torre. Ignoro. Se eu deixar que isso desperte qualquer resquício de compaixão, estarei enfraquecendo minha posição. Não quero machucá-la, nunca machucaria ninguém sem necessidade. Mas sei que não nos entregarão Emmy e Isaac de maneira voluntária. — Pare de chorar. — ordeno, sem paciência. — Diga tudo o que sabe. Ela hesita, então a pego pelo pescoço novamente, minhas garras roçando perigosamente contra sua pele frágil. — Ela está ali… atrás daquela porta. — sussurra, apontando. Meus olhos se fixam na enorme lua desenhada na porta. A energia emanando dali me arrepia a espinha. — O que tem ali? — pergunto, desconfiado. — É uma prisão lunar, feita pela deusa Iazi'ch. — sua voz treme. Minha mandíbula trava. Sei que meu rosto agora carrega uma expressão sombria e ameaçadora. — Emmy e Isaac estão dentro dessa prisão? Madison assente, hesitante. — É só isso que sei. Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, um
EMMY ZACKSegui Chase e Isaac em silêncio pelos corredores sombrios da torre. Cada passo ecoava como um presságio, uma contagem regressiva para algo que eu não conseguia evitar. O medo fazia minhas mãos tremerem, e eu tentei controlá-las, fechando os punhos ao lado do corpo. Mas quando percebi a direção que tomávamos, meu corpo inteiro começou a estremecer.O Salão dos Julgamentos.O terror subiu pela minha garganta em forma de náusea. O simples pensamento de entrar naquele lugar, de encarar o que quer que estivesse por trás dessas portas, me paralisava.— O que faremos? — perguntei, a voz fraca e trêmula.Um sorriso irônico se desenhou nos lábios de Chase.— O que foi, loirinha? — ele zombou, inclinando a cabeça. — Dá pra sentir o cheiro do seu medo daqui.Meu estômago se revirou.— O que vocês vieram fazer aqui? — as palavras escaparam num sussurro aflito, como se fossem mais uma súplica do que uma pergunta.Chase lançou um olhar para Isaac, e seu suspiro veio carregado de frustraçã
Chase FieldsAs bochechas macias de Emmy me distraíram por um breve momento. O toque dela, por mais delicado que fosse, parecia capaz de amansar a fera enjaulada dentro de mim. Era estranho, quase desconcertante. Mas não por muito tempo.— Traga Hyialia. — Ordenei a Zayn, minha voz firme como aço.O salão se encheu de murmúrios tensos. As guardiãs trocaram olhares alarmados, algumas recuaram instintivamente, mas antes que qualquer tumulto ganhasse força, uma figura atravessou o limiar da grande porta. Brysa, outra sacerdotisa de Malac’h, surgiu na porta, sua expressão impassível como mármore.— Senhor, trouxe o que pediu. — Sua voz era controlada, mas seu olhar traía a hesitação enquanto se aproximava, segurando uma caixa média.Sorri, sentindo o gosto amargo do medo delas no ar.— Oh, Brysa, bem na hora... — A antecipação dançava em minha voz enquanto deslizava os dedos pela tampa da caixa, abrindo-a com um gesto casual.O silêncio no salão se adensou como neblina quando introduzi