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CAPÍTULO 3 – O Filho Favorito de Malac'h

Isaac Fields

O mundo parou.

Por um instante, o tempo perdeu o significado. O ar ficou mais pesado, como se cada partícula ao meu redor estivesse absorvendo o impacto daquela visão. Meu coração martelou no peito, meu sangue cantava em um ritmo selvagem.

Céus, era ela.

Minha prometida.

Minha outra metade.

A peça que sempre esteve ausente, um vazio que eu nem sabia nomear até agora.

Ela estava ali, tão real quanto a própria vontade de Malac'h. Seus olhos azuis brilhavam como um reflexo do céu antes da tempestade, um convite e um aviso ao mesmo tempo. Havia algo neles — algo feroz, indomável — que me fez esquecer como respirar.

O destino havia nos unido. Como deveria ser. Como sempre foi escrito.

O instinto rugiu dentro de mim. A posse, a necessidade. Era visceral, inegável.

Meu corpo reconheceu antes mesmo da minha mente. O cheiro dela, a presença dela.

Tudo me chamava.

Ela era minha.

E eu nunca a deixaria escapar.

O mundo poderia desabar agora, e eu não me moveria um centímetro.

Porque ela estava ali.

Minha prometida. Minha metade perdida.

Seus cabelos dourados pareciam trançados pelo próprio sol, moldados para brilhar apenas para mim. Sua pele, tão delicada, como se os deuses a tivessem esculpido com a única intenção de acalmar minhas tempestades. E então, aquele sorriso — Malac'h nos proteja — o sorriso mais maldito e divino que já vi.

Meu coração martelou no peito, meu lobo uivou dentro de mim, uma mistura de euforia e desespero. O desejo de tomá-la para mim era avassalador, primal.

— O que está acontecendo, Isaac? — A voz grave de Matteo ressoa na minha mente, um rosnado carregado de desconfiança.

Mas eu não consigo responder de imediato. Como poderia? Meus olhos estão presos nela. No paraíso que se revela diante de mim.

— Minha mulher… — Sussurro através do elo mental que compartilho com meus irmãos.

O silêncio que se segue é quase tangível.

— Por Malac'h… — Chase murmura. Ele não vacila, pois sua rigidez não permite, mas posso sentir a tensão em sua voz.

Matteo, seu reflexo perfeito, permanece igualmente paralisado.

— Essa garota… — A voz de Zayn é apenas um sussurro, carregado de algo próximo à incredulidade. — Você disse sua mulher?

— Sim. — Minha voz não vacila. — Eu vejo nosso elo…

E ela vê também. Eu sei disso, porque seus olhos continuam cravados nos meus. Como se o universo inteiro girasse em torno desse momento.

Zayn, com seus olhos brancos como névoa, carrega um dom que nenhum de nós ousa questionar. Ele enxerga os fios do destino — de qualquer ser, mortal ou divino. Dizem que seus olhos são como os do próprio Malac'h, nosso pai.

Ele se concentra, sua expressão se tornando distante, etérea. Então, sua respiração vacila.

— Os fios dela… — Zayn sussurra. — Eles se entrelaçam e se estendem… a todos nós.

Um arrepio percorre minha espinha.

Parem de olhar… — Matteo nos alerta, a tensão evidente. — Todos já perceberam.

Mas seu aviso chega tarde demais.

Emmy exala um poder que reverbera no ar ao nosso redor. A fumaça dos incensos se retorce em espirais, como se dançasse ao seu comando. O calor emana dela como o próprio sol, e, por um breve segundo, vejo seus olhos se tornarem brancos.

A energia na sala muda instantaneamente.

As sacerdotisas nos encaram, a compreensão estampada em seus rostos. Sabem exatamente o motivo pelo qual Malac'h nos enviou a esta torre.

— Ela não é uma simples aprendiz… — Alec murmura, sua voz tingida de cautela. — É uma renascida. Seus olhos deixam isso claro.

Uma renascida.

A palavra paira no ar como um presságio.

— É uma divindade? — Chase pergunta, seu tom carregado de preocupação.

Alec balança a cabeça, hesitante.

— Ainda não consigo dizer com certeza… Mas se eu chegar um pouco mais perto, talvez…

Não.

Minha mandíbula se contrai. Minhas mãos se fecham em punhos.

Ela ainda me olha.

O sorriso dela aquece algo dentro de mim, mesmo quando tenta desviar o olhar.

Mas não importa para onde tente fugir — ela já é minha.

— Não sairei desta torre sem minha mulher. — Declaro através do elo mental, minha voz carregada de uma certeza inabalável.

Meu lobo estremece dentro de mim, rosnando, impaciente.

E então, Emmy morde o lábio.

O desejo b**e em mim como um trovão.

Minha.

O sussurro ecoa em minha mente, selando meu destino.

Uma presença imponente pairava sobre o salão.

No centro da grande câmara, uma figura feminina ocupava um trono esculpido em pedra escura, entalhado com símbolos ancestrais. O ambiente era denso com o aroma de incensos e velas queimando em oferenda, a fumaça subindo em espirais preguiçosas pelo teto abobadado.

Ela não era uma rainha, mas o peso de sua autoridade tornava sua presença quase divina. Seus olhos, profundos e inabaláveis, analisavam cada um de nós. Ela não precisava se apresentar. Todos sabíamos quem era.

A representante da Grande Mãe.

A própria menção do nome de Iazi’ch fazia os ossos arrepiarem.

Uma das quatro deusas antigas.

Uma das três esposas de Malac’h.

Aquela que tentou gerar sua prole… e caiu por isso.

Iazi’ch, a deusa da maternidade, outrora doce e sensível, quebrou ao tentar dar à luz os filhos de nosso pai. Sua divindade ruiu sob o peso da selvageria que carregava no ventre. Antes mesmo de nascerem, seus filhos ansiavam por carne, e para saciar sua fome insaciável, ela devorou humanos.

O que nasceu de seu ventre não eram apenas filhos. Eram predadores. Carniceiros insaciáveis, que quase devoraram a humanidade no passado.

Horrorizada com o que havia gerado, Iazi’ch fez a única coisa que poderia conter o desastre: selou a si mesma e sua prole no abismo.

Malac’h sentiu sua dor. Perdeu sua esposa. Perdeu seus filhos. E viu o nome de Iazi’ch ser amaldiçoado pelos humanos.

Mas antes de desaparecer no esquecimento, ela criou as Guardiãs — mulheres escolhidas e marcadas por sua bênção e maldição. Protetoras que existiam para manter os descendentes dos seus filhos contidos, para impedir que a sede de sangue continuasse corroendo o mundo.

E agora, uma dessas guardiãs estava diante de nós.

— Curvem-se à representante da Grande Mãe. — A voz cortante de uma mulher de vestes verde-escuras ressoou no salão.

As sacerdotisas de Malac’h se curvaram em respeito.

Mas nós?

Nós permanecemos de pé.

Não por desrespeito, mas porque o sangue de Malac’h corria em nossas veias. Seu legado nos colocava acima das leis e exigências daquelas que serviam à sua antiga esposa.

A mulher no trono nos estudou, sem demonstrar ofensa. Então, inclinou a cabeça levemente.

— Olá, filhos de Malac’h. — Sua voz era suave, mas carregada de um peso sutil. Uma cortesia forçada, talvez. Um reconhecimento mútuo de poderes. — Eu sou Hyialia, Guardiã-chefe da Torre.

Meus olhos se voltam novamente para Emmy.

Ela continua me olhando, como se a presença de todos ao nosso redor não tivesse importância. Algo nela me puxavs como um imã. Um laço invisível que pulsa e vibra entre nós.

— O que vocês desejam tão longe de casa? — Hyialia questiona, sua gentileza soando quase como um desafio.

Chase, nosso irmão mais velho, dá um passo à frente. Sua presença comanda o espaço, como sempre.

— Viemos por ordem de Malac’h. — Sua voz ecoa forte e clara.

Hyialia estreita os olhos levemente, mas não questiona.

— E quanto tempo desejam ficar?

— Apenas uma semana. — Chase responde sem hesitação.

Uma semana.

Tempo suficiente para cumprir nosso dever.

Tempo suficiente para reivindicar o que é meu.

Emmy pisca, desviando o olhar por um breve segundo.

Mas já é tarde demais.

Ela pode tentar negar. Pode tentar fugir.

Mas eu já a vi.

Já a reconheci.

Repeti para mim mesmo:

Eu não sairei desta torre sem minha mulher.

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