CAPÍTULO 6 - Sala Lunar

EMMY ZACK

Tropecei duas ou três vezes, amaldiçoando a mim mesma por toda essa situação. Só me dei conta de como estava transtornada ao chegar a uma das salas de leitura vazia.

Tranquei a porta e deixei algumas lágrimas caírem, me perguntando o que estava acontecendo comigo.

Afinal de contas, aquele era o nosso lugar.

Meu e do Devon.

Até não significar mais nada. Mas agora, era como uma ferida aberta. Algum tipo de vergonha percorria meus poros.

Eu cedi àquele lobo… Isaac.

Naquele momento, foi como se eu respirasse através da minha pele, e minha pele pedisse por ele.

Como se ele fosse o ar necessário para me manter viva.

O cheiro dele impregnava meu vestido. Um aroma amadeirado, e fresco.

Menta.

A porta se abriu, mas continuei sentada no chão, perto da estante.

— Olá, criança… — Adélia Bosckow me analisou. — Você está bem, Emmy?

Levantei-me rapidamente, alinhando o vestido e abaixando a cabeça. Estendi as mãos à frente do corpo, levemente, em reverência a uma das guardiãs mais importantes da torre.

— Bom dia, senhora… — tentei não soar nervosa. — Eu estou bem, precisa de algo?

Adélia andou ao meu redor. Seus cabelos loiros, presos em uma trança adornada com joias, realçavam seus olhos verdes claros. As joias brilhavam, denunciando seu status na torre. O mesmo se via no vestido azul, com um manto elegante. Ela era alta, magra, e braceletes da torre enfeitavam seus pulsos.

— Preciso que seja sincera comigo, criança… — Adélia não me deu espaço. — Meu sobrinho, Devon, me falou sobre o ocorrido na horta.

Paralisei, arregalando os olhos.

— Senhora… — tentei dizer algo, mas minha voz falhou.

— Você não pôde resistir a ele, não é, criança? — ela me olhava com desprezo. — Ele deixou o cheiro dele em você. Marcou você, como os monstros fazem, Emmy.

Olhei para o chão, encarando os desenhos entalhados na madeira da estante.

— Senhora, não fomos além daquilo que Devon viu… — gaguejei. — Eu juro, ele não foi além.

Adélia continuou me rodeando, observando meu corpo trêmulo.

— E você acha que um beijo foi algo pequeno, Emmy? — Sua voz se elevou, carregada de fúria.

— Me desculpe… — sussurrei.

— Você envergonha sua casa. — Ela ergueu as mãos, e um feixe de energia me forçou a ficar de joelhos. — Suja a torre das guardiãs ao se aninhar com um monstro…

Fios de sua magia apertaram ao redor do meu braço, e a dor me fez prender a respiração.

— Eu sinto muito, senhora… — sussurrei, deixando uma lágrima escapar.

Eu me sentia suja. Mesmo sem ter feito nada, mesmo sem controle sobre aquilo.

Um dia, eu era uma fonte cristalina. No outro, me sentia manchada.

Antes que Adélia pudesse continuar sua punição, minha mãe entrou, seu andar era banhado de fúria.

— O que pensa que está fazendo com minha filha?! — Sua voz era como um trovão.

Com um único gesto, quebrou a corda de energia que me machucava.

— Pergunte a ela… — Adélia disse, com desdém.

Minha mãe olhou para mim, mas eu não me atrevia a encará-la.

— Olhe para mim, Emmy… — pediu, com a voz mais suave.

Observei seus cabelos longos e negros, que caíam em ondas até sua cintura. Joias enfeitavam as raízes do cabelo, anunciando sua realeza dentro da torre. Sua pele clara brilhava sob a luz.

Levantei os olhos.

— Me conte o que houve, Emmy… — sua voz ainda era doce, mas carregava uma firmeza inegável.

— Conte para ela, Emmy… — Adélia ironizou, cruzando os braços.

Mordi os lábios, deixando as lágrimas escorrerem.

— O lobo… Isaac. — Minha voz saiu trêmula. — Ele invadiu meu sonho esta noite, então decidi colher ervas para preparar um chá que bloqueasse isso…

Lancei um olhar para Adélia, que observava minha mãe, visivelmente furiosa.

— Ele me seguiu até lá… — continuei, sem coragem de encará-la. Olhei para o chão. — Nos beijamos, e Devon viu tudo.

Os lábios de minha mãe se contorceram de raiva.

— O sonho… — Ela se aproximou e segurou meu queixo. — Me conte o que houve no sonho, Emmy.

As lágrimas não paravam de cair. Apertei as mãos juntas à frente do corpo.

— Ele… — gaguejei. — Ele me reivindicou.

Silêncio.

— Ele me fez sua mulher… — sussurrei quase inaudivelmente. — Mas foi só um sonho, mãe. Eu juro.

— Um sonho, Emmy!? — sua voz se exaltou. — Você sabe o que isso significa?

Neguei com a cabeça.

— Que você o pertence, Emmy. — Meu coração saltou no peito. — Mesmo que ele não tenha tocado seu corpo, ele se entrelaçou à sua alma…

Algo se revirou dentro de mim. Meu ventre se torceu. Meu sangue gelou.

Esqueci como respirar por alguns segundos.

— O que eu faço? — sussurrei. Nem sei se perguntava para minha mãe ou para mim mesma.

— Você ficará de castigo na Sala Lunar. — Sua voz foi cortante.

— Mas, mãe… — tentei protestar.

— Até que esses malditos lobos deixem a torre, você ficará de castigo, Emmy! — sua decisão foi definitiva.

— É uma punição muito pequena, Denise… — Adélia disse, caminhando para a saída. — E a representante da Grande Mãe deve saber disso.

Elas trocaram olhares. Não foram simples.

Havia algo mais ali.

Preocupação. Medo. Um temor que não se escondia totalmente.

— Convoque uma reunião discreta. Estarei lá em trinta minutos. — Minha mãe decretou, observando Adélia deixar a sala. Então voltou-se para mim. — Emmy, você sabe o caminho. Me siga.

Ela me deu as costas. Esperou apenas alguns segundos enquanto eu me levantava e alinhava o vestido.

— Limpe as lágrimas. — Mamãe ordenou.

Esfreguei as mãos no rosto, apressando-me para acompanhá-la. Caminhamos pelos corredores, passamos por portas antigas e imponentes, até finalmente pararmos diante da Sala Lunar.

Ninguém esteve nesta sala tanto quanto eu.

Duzentos anos se passaram desde que a torre foi criada, e ela permaneceu ali, um lugar temido, onde a maioria das criaturas era privada de seus poderes. Até mesmo as guardiãs, abençoadas por Iazi’ch, perdiam sua força ali dentro.

Nascemos com um dom.

Mas às vezes, parecia mais uma maldição.

Destinadas a crescer dentro de torres, isoladas do mundo, seguindo regras rígidas, doutrinas que nunca fizeram sentido para mim.

A Sala Lunar era uma tortura.

Para outras aprendizes, parecia apenas uma cela comum, ou um lugar para refletir, onde seus poderes fluíam ainda melhor depois da reclusão. Para mim, era diferente.

Era frio.

O tempo ali dentro se estendia de forma doentia. Dois dias pareciam quatro. Se eu estivesse machucada, a dor aumentava.

E, ainda assim, sobrevivi a incontáveis dias naquele lugar.

Um nó se formou na minha garganta ao encarar as grandes portas adornadas com símbolos lunares. Minha respiração falhou quando vi minha mãe conjurar para abri-las.

Talvez o próprio local me rejeitasse, pois aprendizes e guardiãs conseguiam abrir a porta.

Eu, não, nunca.

O som das portas se abrindo era incômodo, quase como um lamento. Dei um passo para trás ao sentir a energia densa que vazava daquele ambiente.

No centro da sala, erguia-se um pilar.

No topo, uma réplica da lua.

Moldada com magia e poeira lunar, ela intensificava os efeitos da sala.

O coração martelava no peito.

— Serão só seis dias. — Mamãe murmurou, acariciando meu rosto. — Você sabe que é para o seu bem, querida.

Ela alisou meus cabelos.

— Você sabe que parecerão doze… — sussurrei. — Doze dias dolorosos.

— É pela sua segurança. E pela segurança da torre, Emmy. — Ela secou minhas lágrimas insistentes. — Um lobo reivindicar uma mulher nunca é algo bom, minha criança.

Fechei os olhos.

Por um momento, amaldiçoei Isaac.

Se eu pudesse moldar o tempo… voltaria alguns meses. Quando eu ainda amava Devon.

Quando tudo entre nós ainda parecia certo.

Até perceber que não éramos bons um para o outro.

Não era para ser.

Respirei fundo e juntei coragem.

Dei um passo à frente, entrando na sala.

O peso do lugar caiu sobre mim imediatamente.

Eu sabia.

Dessa vez, a Sala Lunar me quebraria.

Minha mãe conjurou o feitiço que trancava as portas.

— Voltarei mais tarde, Emmy… — sua voz foi um sussurro.

O desconforto no meu peito dobrou.

A respiração tornou-se difícil, sufocante.

Sentei-me no chão, abraçando as próprias pernas.

Refleti sobre o que fiz.

E, em silêncio, roguei aos deuses para que os dias passassem depressa.

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