Matteo Fields
Não completamos nem um dia na Divisa Guardiã, e Isaac já arrumou problemas.
Observo, atônito, enquanto Chase termina de contar a última confusão em que nosso ímã de encrenca se meteu.
Zayn ri, mastigando os biscoitos que roubou da cozinha da torre. Alec permanece calado.
— O que diabos você estava pensando? — solto, indignado. — Ela é uma aprendiz de guardiã! E não qualquer uma… é filha de uma guardiã superior!
Alec percebe minha revolta e se coloca entre mim e Isaac, como sempre sendo o pacificador das nossas discussões.
— Isaac, você já passou da idade de fazer tanta merda! — perco o controle, gritando.
— O que a idade tem a ver com isso? — Zayn, o caçula resmunga.
Chase esfrega o rosto, visivelmente irritado. Nossos lobos rugem juntos, compartilhando o mesmo descontentamento.
— Ela é minha mulher. — Isaac declara com firmeza. — Não fiz isso por capricho.
Seu olhar percorre cada um de nós.
— Vocês entenderiam… se permitissem sentir. — A maneira como Isaac se entrega ao instinto assusta até mesmo a nós. — Eu a vi… e entendi por que nosso pai nos enviou para cá.
Chase chuta a cômoda. O desconforto cresce em seu rosto, e eu o sinto no estômago como se fosse meu.
Nosso elo.
Por sermos gêmeos, a ligação entre Chase e eu é mais intensa.
— Como Triodh’ch permitiu que algo assim acontecesse? — Zayn questiona, intrigado.
Nos entreolhamos. Triodh’ch, a deusa do destino, e suas sacerdotisas traçavam o curso de toda vida desde o nascimento até a morte.
— Vocês são burros? — Zayn arqueia uma sobrancelha. — Chase… que gosto tinham os lábios dela, mesmo?
Alec estreita os olhos. Seu lobo cinza ameaça emergir, e um brilho animalesco contorna sua íris verde-escura.
— E a pele dela, Alec? Como foi tocá-la? — Zayn lambe os lábios, divertindo-se com o caos que provoca.
Isaac empalidece.
Através do elo, a verdade se impõe com brutalidade.
— Todos sentiram? — Ele pergunta, olhos arregalados.
Zayn solta uma risada baixa.
— Pelos deuses maiores e menores… — Alec murmura, encostando-se na parede.
— Emmy… ou seja lá quem essa mulher for… — Zayn sorri. — Ela não pertence apenas a Isaac.
O silêncio pesa.
— Ela é nossa. — Alec diz em completo choque. — Ela é a prometida da Casa de Malac'h.
Aperto os punhos, sentindo as garras saírem e rasgarem minha carne.
— Isso é loucura… — sussurro. — As profecias de Malac'h não se concretizam há mais de duzentos anos.
Isaac ainda parece em choque.
Mas algo está errado.
Através do elo, sentimos seu lobo em agonia.
— O que foi, Isaac? — pergunto, alarmado.
Ele não responde de imediato. Seus olhos estão fixos no nada, como se enxergasse algo além de nossa percepção.
— Emmy… ela está sofrendo.
O pavor toma conta de Chase.
Nós também sentimos.
Não com a mesma intensidade que Isaac, pois seu vínculo com Emmy é direto, mas o que experimentamos agora já é perturbador.
— Você sabe o que está acontecendo com ela? — Chase pergunta, tenso.
— Dor… — Isaac murmura. — Ela sente dor. Frio. Tristeza.
Seu lobo está cabisbaixo como nunca antes.
— Deve estar sendo punida… — Zayn deduz.
— Temos que impedir isso. — Isaac se levanta. Uma lágrima solitária desliza por seu rosto.
— Não deveríamos consultar nosso pai antes de agir? — Zayn sugere.
Alec sorri, cruzando os braços.
— Se ela é a prometida da Casa de Malac'h… então ela nem mesmo é uma guardiã.
— Como assim? — Chase franze o cenho.
— Você fugiu das aulas de história, irmão? — Alec ri. — A prometida de Malac'h não poderia nascer entre as guardiãs.
— Por quê?
— Porque sua linhagem vem de uma deusa mais antiga que Malac'h. Uma deusa mais poderosa que a própria Triodh’ch.
— E uma guardiã não poderia descender dessa casa? — Chase insiste.
— Iazi’ch e essa deusa eram inimigas mortais. — Alec diz. — As seguidoras de Iazi’ch fizeram questão de apagar qualquer vestígio da inimiga da Grande Mãe.
Zayn inclina a cabeça, pensativo.
— Mas parece que a linhagem dessa deusa sobreviveu. — ele afirma.
Isaac inspira fundo. Seus olhos brilham, o choque e a revelação colidindo dentro dele.
— Emmy não é uma aprendiz entre as guardiãs… — sua voz sai quase inaudível. — Ela é uma prisioneira.
Os olhos de Chase brilham de fúria.
— Antes de qualquer coisa, precisamos confirmar isso. — Declaro, olhando diretamente para Chase, tentando acalmá-lo. — Se estivermos certos… vamos tirá-la de lá.
Um sorriso malicioso surge nos lábios de Zayn.
— Por Malac'h… isso vai ser trabalhoso.
Ele exibe as garras.
— Procurem o histórico de Emmy na torre. Preparem as sacerdotisas. — Ordeno, determinado.
Olho para o horizonte, sabendo que uma batalha será travada nesta torre, e me preocupo em como pode acabar.
— Eu vou falar com nosso pai. — Isaac declara firme.
Se alguém pode confirmar essa verdade… é ele. Todos sabemos disso.
Deixo-me envolver por uma sensação inexplicável, como se fosse um fio invisível que me puxa diretamente para a lembrança de Emmy — aquele primeiro encontro, lá em cima.
O cheiro dela… foi a primeira coisa que me atingiu. Um aroma doce, misterioso, que parecia carregar consigo todo o universo. Quando nossos olhos se encontraram, foi como sentir o sol queimando minha pele nua, como se ele tivesse, de alguma forma, iluminado todos os cantos escuros de mim.
E naquele olhar… naquele instante, senti algo em mim se completar. Não era só um desejo, não era só uma atração. Era uma sensação mais profunda, como se finalmente tivesse encontrado algo que sempre estive buscando sem saber.
Sentir ela, é sentir que estou finalmente inteiro.
Isaac FieldsAcordo sentindo um toque leve deslizar por minha bochecha. Suas unhas arranham suavemente meu queixo, e quando abro os olhos, encontro seu sorriso me acolhendo. Ela me puxa para um beijo, e o calor de seu corpo nu contra o meu me enraíza na realidade daquele momento.O quarto ao nosso redor parece grandioso, mas indistinto. Cortinas roxas envolvem a cama imensa, o veludo ondulando como sombras vivas. À frente, uma mesa ornamentada exibe cálices e ervas espalhadas ao lado de velas queimando lentamente. Símbolos solares se espalham pelas paredes de pedra clara, como se capturassem a essência de algo divino.— Está bem, amor? — sua voz chega até mim como um sussurro envolvente, seus olhos azuis cintilando com uma luz que parece própria.— Sim, minha deusa. — Respondo sem hesitação, encantado pela visão dela. Seus longos cabelos caem ao redor do rosto, uma moldura perfeita para sua beleza etérea.— Prefiro quando diz o meu nome. — Ela murmura antes de roçar os lábios em meu q
Isaac Fields"Nem acima dos céus, nem abaixo deles houve criatura tão bela quanto ela.Aquela que deu luz às estrelas." Desperto com o corpo em chamas. Cada músculo pulsa de dor, como se tivesse sido despedaçado e remontado de forma errada. O chão frio sob mim é áspero, duro. Minha respiração está pesada. Tento me mover, mas um peso invisível parece me prender. Ergo o olhar e vejo a sala ao meu redor. No centro, um pilar se ergue, irradiando uma energia densa, sufocante. Algo está errado. Há corrupção ali, algo vil, algo que me enfraquece. Então, o cheiro me atinge. Sangue. Meu coração acelera. Viro o rosto e vejo Emmy caída. O desespero me impulsiona para frente. Me arrasto, ignorando a dor que me atravessa, e alcanço seu corpo frágil. Meu peito aperta quando toco sua pele fria. — Emmy! Minha voz ecoa na sala vazia. Toco seu rosto, tentando despertá-la. Os segundos se arrastam como séculos. Então, finalmente, ela se move. Os olhos dela se abrem, confusos, nublados. — I
Chase Fields Madison chora enquanto caminha pelos corredores da torre. Ignoro. Se eu deixar que isso desperte qualquer resquício de compaixão, estarei enfraquecendo minha posição. Não quero machucá-la, nunca machucaria ninguém sem necessidade. Mas sei que não nos entregarão Emmy e Isaac de maneira voluntária. — Pare de chorar. — ordeno, sem paciência. — Diga tudo o que sabe. Ela hesita, então a pego pelo pescoço novamente, minhas garras roçando perigosamente contra sua pele frágil. — Ela está ali… atrás daquela porta. — sussurra, apontando. Meus olhos se fixam na enorme lua desenhada na porta. A energia emanando dali me arrepia a espinha. — O que tem ali? — pergunto, desconfiado. — É uma prisão lunar, feita pela deusa Iazi'ch. — sua voz treme. Minha mandíbula trava. Sei que meu rosto agora carrega uma expressão sombria e ameaçadora. — Emmy e Isaac estão dentro dessa prisão? Madison assente, hesitante. — É só isso que sei. Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, um
EMMY ZACKSegui Chase e Isaac em silêncio pelos corredores sombrios da torre. Cada passo ecoava como um presságio, uma contagem regressiva para algo que eu não conseguia evitar. O medo fazia minhas mãos tremerem, e eu tentei controlá-las, fechando os punhos ao lado do corpo. Mas quando percebi a direção que tomávamos, meu corpo inteiro começou a estremecer.O Salão dos Julgamentos.O terror subiu pela minha garganta em forma de náusea. O simples pensamento de entrar naquele lugar, de encarar o que quer que estivesse por trás dessas portas, me paralisava.— O que faremos? — perguntei, a voz fraca e trêmula.Um sorriso irônico se desenhou nos lábios de Chase.— O que foi, loirinha? — ele zombou, inclinando a cabeça. — Dá pra sentir o cheiro do seu medo daqui.Meu estômago se revirou.— O que vocês vieram fazer aqui? — as palavras escaparam num sussurro aflito, como se fossem mais uma súplica do que uma pergunta.Chase lançou um olhar para Isaac, e seu suspiro veio carregado de frustraçã
Chase FieldsAs bochechas macias de Emmy me distraíram por um breve momento. O toque dela, por mais delicado que fosse, parecia capaz de amansar a fera enjaulada dentro de mim. Era estranho, quase desconcertante. Mas não por muito tempo.— Traga Hyialia. — Ordenei a Zayn, minha voz firme como aço.O salão se encheu de murmúrios tensos. As guardiãs trocaram olhares alarmados, algumas recuaram instintivamente, mas antes que qualquer tumulto ganhasse força, uma figura atravessou o limiar da grande porta. Brysa, outra sacerdotisa de Malac’h, surgiu na porta, sua expressão impassível como mármore.— Senhor, trouxe o que pediu. — Sua voz era controlada, mas seu olhar traía a hesitação enquanto se aproximava, segurando uma caixa média.Sorri, sentindo o gosto amargo do medo delas no ar.— Oh, Brysa, bem na hora... — A antecipação dançava em minha voz enquanto deslizava os dedos pela tampa da caixa, abrindo-a com um gesto casual.O silêncio no salão se adensou como neblina quando introduzi
EMMY ZACKO manto branco desliza suavemente sobre meus ombros, e a pelagem macia parece leve como o toque de uma pena. O cheiro que emana dele é reconfortante, uma mistura sutil de ervas e algo amadeirado. Isaac ajusta o tecido ao redor do meu corpo, seus dedos firmes e hábeis, e então dá um passo para trás para me observar.Ao me virar, vejo a torre da Dívisa Guardiã erguendo-se contra o céu nublado. Um calafrio percorre minha espinha, mas a dor real começa no meu ventre, irradiando-se como lâminas quentes por todo o meu corpo, meu estômago se contrai, e fecho os olhos por um instante, respirando fundo para acalmar o turbilhão interno.— Emmy... — A voz grave de Chase me chama de volta à realidade. — Sabe montar a cavalo?O peso do seu olhar faz meu coração acelerar. Baixo os olhos, balançando a cabeça em negação.— Tudo bem... — Ele se aproxima e acaricia meu rosto com ternura, o polegar deslizando levemente sobre minha pele. — Você pode ir com um de nós.Lanço um olhar incerto às s
Emmy ZackMesmo que eu tivesse repetido diversas vezes que aguentaria mais algumas horas a cavalo até a cidade próxima, fui completamente ignorada.Não por um ou dois deles. Mas pelos cinco.A insistência deles era tão irritante quanto reconfortante. Ainda assim, me sentia exausta demais para protestar de verdade. Meu corpo já não suportava a ideia de mais uma noite ao relento, e eles sabiam disso.Quando finalmente chegamos à tal casa em Gron’harver, ergui os olhos para a enorme construção à nossa frente, as luzes douradas tremeluziam através das janelas altas, refletindo-se no mármore esculpido da fachada. O cheiro de madeira e terra úmida era forte, mas não desagradável.Estátuas de lobos flanqueavam a entrada, suas presas esculpidas em detalhes macabros. Os olhos vazios pareciam me seguir na escuridão.— Isso aqui é tipo… a casa de campo de vocês? — perguntei, ainda aninhada no colo de Chase, que se recusava a me soltar.— É, uma delas. A menor. — Ele pontuou, sua voz baixa e rouc
ISAAC FIELDS“Luz dos meus olhos..Tudo era nela, tudo sobre ela — a figura mais perfeita que ousa tocar meu rosto.Suas mãos estão limpas, pura.Radiante como um sol, queimando a minha pele.Luz dos meus olhos..”Não consigo resistir à forma como Emmy se agarra a mim — há uma urgência crua, quase desesperada, em cada toque seu, como se minha pele fosse o único abrigo em meio ao caos que a consome. Seus olhos me imploram antes que qualquer palavra escape de sua boca. Mas quando ela fala, sua voz vem quebradiça, carregada de desejo e vulnerabilidade.— Por favor… — ela sussurra, quase como uma prece.E eu a atendo. Sempre a atendo.Minha mulher nunca precisará implorar.O mundo ao nosso redor desaparece quando a tenho assim em meus braços. A noite parece conter o fôlego, cúmplice do que está por vir. As cortinas dançam ao som da brisa suave que invade o quarto, carregando consigo o aroma do jasmim do jardim, mesclando-se ao perfume de Emmy, doce e inebriante.Ela sobe o vestido com mão