EMMY ZACKSegui Chase e Isaac em silêncio pelos corredores sombrios da torre. Cada passo ecoava como um presságio, uma contagem regressiva para algo que eu não conseguia evitar. O medo fazia minhas mãos tremerem, e eu tentei controlá-las, fechando os punhos ao lado do corpo. Mas quando percebi a direção que tomávamos, meu corpo inteiro começou a estremecer.O Salão dos Julgamentos.O terror subiu pela minha garganta em forma de náusea. O simples pensamento de entrar naquele lugar, de encarar o que quer que estivesse por trás dessas portas, me paralisava.— O que faremos? — perguntei, a voz fraca e trêmula.Um sorriso irônico se desenhou nos lábios de Chase.— O que foi, loirinha? — ele zombou, inclinando a cabeça. — Dá pra sentir o cheiro do seu medo daqui.Meu estômago se revirou.— O que vocês vieram fazer aqui? — as palavras escaparam num sussurro aflito, como se fossem mais uma súplica do que uma pergunta.Chase lançou um olhar para Isaac, e seu suspiro veio carregado de frustraçã
Chase FieldsAs bochechas macias de Emmy me distraíram por um breve momento. O toque dela, por mais delicado que fosse, parecia capaz de amansar a fera enjaulada dentro de mim. Era estranho, quase desconcertante. Mas não por muito tempo.— Traga Hyialia. — Ordenei a Zayn, minha voz firme como aço.O salão se encheu de murmúrios tensos. As guardiãs trocaram olhares alarmados, algumas recuaram instintivamente, mas antes que qualquer tumulto ganhasse força, uma figura atravessou o limiar da grande porta. Brysa, outra sacerdotisa de Malac’h, surgiu na porta, sua expressão impassível como mármore.— Senhor, trouxe o que pediu. — Sua voz era controlada, mas seu olhar traía a hesitação enquanto se aproximava, segurando uma caixa média.Sorri, sentindo o gosto amargo do medo delas no ar.— Oh, Brysa, bem na hora... — A antecipação dançava em minha voz enquanto deslizava os dedos pela tampa da caixa, abrindo-a com um gesto casual.O silêncio no salão se adensou como neblina quando introduzi
EMMY ZACKO manto branco desliza suavemente sobre meus ombros, e a pelagem macia parece leve como o toque de uma pena. O cheiro que emana dele é reconfortante, uma mistura sutil de ervas e algo amadeirado. Isaac ajusta o tecido ao redor do meu corpo, seus dedos firmes e hábeis, e então dá um passo para trás para me observar.Ao me virar, vejo a torre da Dívisa Guardiã erguendo-se contra o céu nublado. Um calafrio percorre minha espinha, mas a dor real começa no meu ventre, irradiando-se como lâminas quentes por todo o meu corpo, meu estômago se contrai, e fecho os olhos por um instante, respirando fundo para acalmar o turbilhão interno.— Emmy... — A voz grave de Chase me chama de volta à realidade. — Sabe montar a cavalo?O peso do seu olhar faz meu coração acelerar. Baixo os olhos, balançando a cabeça em negação.— Tudo bem... — Ele se aproxima e acaricia meu rosto com ternura, o polegar deslizando levemente sobre minha pele. — Você pode ir com um de nós.Lanço um olhar incerto às s
Emmy ZackMesmo que eu tivesse repetido diversas vezes que aguentaria mais algumas horas a cavalo até a cidade próxima, fui completamente ignorada.Não por um ou dois deles. Mas pelos cinco.A insistência deles era tão irritante quanto reconfortante. Ainda assim, me sentia exausta demais para protestar de verdade. Meu corpo já não suportava a ideia de mais uma noite ao relento, e eles sabiam disso.Quando finalmente chegamos à tal casa em Gron’harver, ergui os olhos para a enorme construção à nossa frente, as luzes douradas tremeluziam através das janelas altas, refletindo-se no mármore esculpido da fachada. O cheiro de madeira e terra úmida era forte, mas não desagradável.Estátuas de lobos flanqueavam a entrada, suas presas esculpidas em detalhes macabros. Os olhos vazios pareciam me seguir na escuridão.— Isso aqui é tipo… a casa de campo de vocês? — perguntei, ainda aninhada no colo de Chase, que se recusava a me soltar.— É, uma delas. A menor. — Ele pontuou, sua voz baixa e rouc
ISAAC FIELDS“Luz dos meus olhos..Tudo era nela, tudo sobre ela — a figura mais perfeita que ousa tocar meu rosto.Suas mãos estão limpas, pura.Radiante como um sol, queimando a minha pele.Luz dos meus olhos..”Não consigo resistir à forma como Emmy se agarra a mim — há uma urgência crua, quase desesperada, em cada toque seu, como se minha pele fosse o único abrigo em meio ao caos que a consome. Seus olhos me imploram antes que qualquer palavra escape de sua boca. Mas quando ela fala, sua voz vem quebradiça, carregada de desejo e vulnerabilidade.— Por favor… — ela sussurra, quase como uma prece.E eu a atendo. Sempre a atendo.Minha mulher nunca precisará implorar.O mundo ao nosso redor desaparece quando a tenho assim em meus braços. A noite parece conter o fôlego, cúmplice do que está por vir. As cortinas dançam ao som da brisa suave que invade o quarto, carregando consigo o aroma do jasmim do jardim, mesclando-se ao perfume de Emmy, doce e inebriante.Ela sobe o vestido com mão
Alec FieldsObservo Emmy de relance, enquanto ela ajeita a colcha na beirada da cama, os movimentos tensos, quase raivosos. Seu maxilar está travado, e os dedos se agarram ao tecido como se quisessem rasgá-lo. A ordem de Isaac para que ela dormisse no meu quarto claramente não lhe agradou.Ela está furiosa. Mas não comigo. Não ainda.— Ele não quis ofender você. — murmuro, ciente de que minha voz não vai aliviar sua irritação.Ela não responde. Nem me olha. Só continua arrumando tudo como se cada dobra fosse uma válvula de escape para sua frustração.— Ele só… te protegeu, Emmy. Depois de tudo o que aconteceu entre vocês… ele soube que não conseguiria se conter se vocês dividissem o mesmo quarto. Ele escolheu se afastar antes que algo mais acontecesse. Você entende isso, não entende?— Entendo. — ela responde, seca. Mas o som da palavra carrega veneno, como se engolir aquela justificativa fosse doloroso.Silêncio.Ela passa a explorar a pequena estante ao lado da cama, os dedos percor
Emmy ZackO quarto estava em silêncio.Minhas mãos se agarraram aos lençóis, o corpo suado, os músculos tremendo. Ofegante, olhei ao redor, tentando entender onde estava.Era só um sonho.Alec estava ali, ao meu lado, acordado agora, com os olhos arregalados de preocupação.— Emmy… o que está acontecendo? — sua voz era real. Era o Alec de verdade, não a versão feroz e lasciva do meu subconsciente.Levei a mão até o ventre. Doía. Ainda doía.— Você… você estava no meu sonho — sussurrei, evitando seus olhos. A vergonha se infiltrava devagar, um peso nos ombros, um nó na garganta.— Notei… você gritava meu nome — disse ele, num tom baixo, quase hesitante.— Eu estava… — tentei continuar, mas as palavras morreram antes de nascer. Como explicar aquilo? Como dizer que ele estava dentro de mim em um sonho e que parte de mim não sabia se aquilo foi só um sonho.Um som abrupto nos fez sobressaltar.Toques na porta.Secos. Determinados.E então percebi que o pesadelo talvez não tivesse terminad
ISAAC FIELDSsete dias se passaram desde que chegamos a Gron’harver — a cidade esculpida em pedra, construída por mãos colossais, eternamente envolta no sal do mar e na melancolia dos ventos antigos.Apesar da imponência acolhedora, algo paira sobre nós. Uma tensão invisível causada pelos próximos três dias de lua cheia, constante como o som do mar batendo contra os penhascos.Estamos todos tentando fingir normalidade.Zayn afoga seus pensamentos no velho salão de armas, transformando o pó em suor, cada golpe de espada como um grito contido. Alec, por outro lado, se enterrou nos arquivos da biblioteca, virando páginas como quem arranca véus da realidade, buscando respostas para perguntas que nenhum de nós teve coragem de formular.E Emmy...Ela se perdeu entre os livros de Alec. Como se a tinta das páginas pudesse apagar os sussurros na mente. Como se o cheiro de pergaminho antigo pudesse sufocar os próprios pensamentos.Mas ela ainda evita meus olhos.Não sei se é mágoa. Se é medo. O