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Capítulo 2 - Dr. Henrique.

Mariana

O som suave da respiração de Isabela preenchia o quarto naquela manhã. Ela dormia em meu colo, com os bracinhos jogados para o lado e a boquinha ligeiramente aberta. Fiquei observando cada detalhe dela: os cílios pequenos, as bochechas rosadas e os dedos minúsculos que se moviam como se estivessem sonhando. Uma mistura de amor e angústia dominava meu coração.

Eu a segurei com cuidado, tentando não acordá-la, mas precisava me levantar. A consulta no centro oncológico seria hoje. Era um passo difícil, mas eu sabia que precisava de ajuda para enfrentar o que vinha pela frente.

— Meu amor, a mamãe vai cuidar de você... sempre que puder. — Sussurrei, beijando sua testa delicadamente.

A pequena se mexeu, abrindo os olhos e olhando para mim com aquele brilho inocente que iluminava os cantos mais escuros da minha alma. Ela sorriu e estendeu a mãozinha, tocando meu rosto.

— Você nem sabe o quanto me dá força, Isa. — Sorri, tentando disfarçar a dor que carregava.

Depois de trocar sua fralda e colocar o macacãozinho rosa com estampa de flores, sentei com ela no chão da sala. Brincávamos com seus brinquedos de pelúcia. Era um momento tão simples, mas me trazia paz. Peguei o coelhinho que ela amava e o fiz “dançar” na frente dela, arrancando risadinhas gostosas.

A risada dela era como um bálsamo, aliviando um pouco do peso que eu sentia. Por um momento, esqueci o medo, a dor e as incertezas. Só existia aquele momento, ela e eu.

Mas a realidade voltou quando Karina chegou. Minha melhor amiga era como uma irmã para mim. Ela sempre aparecia com aquele jeito prático e decidido, mas também tinha um olhar carinhoso, principalmente quando se tratava de Isabela.

— Tá pronta? — Karina perguntou, me analisando com cuidado.

— Acho que nunca vou estar pronta pra isso, Kari. — Respirei fundo, ajeitando Isabela no colo antes de entregá-la para minha amiga. — Mas vou fazer o que for preciso por ela.

Karina segurou minha mão por um instante.

— Vai dar certo, Mari. Você tem mais força do que imagina. E eu vou cuidar da Isa como se fosse minha. Vai tranquila.

Assenti, mas a cada passo até a porta, parecia que estava deixando um pedaço de mim para trás. Antes de sair, olhei para Isabela mais uma vez.

— A mamãe volta logo, tá? — disse, forçando um sorriso.

Isabela soltou um barulhinho alegre, e aquilo me deu coragem para seguir.

---

O trajeto até o centro oncológico foi silencioso. Meus pensamentos se embaralhavam, e o medo crescia a cada quilômetro percorrido. O prédio era imponente, com paredes brancas e enormes janelas de vidro. Havia pessoas entrando e saindo, cada uma com uma história diferente, mas todas carregando o mesmo olhar de luta.

Quando entrei, o ambiente era acolhedor, mas carregado de algo difícil de explicar. A sala de espera estava cheia. Olhei ao redor, observando as pessoas com olhares ansiosos, algumas acompanhadas, outras sozinhas, como eu.

Meu nome foi chamado por uma enfermeira de uniforme azul. Segui seus passos até um corredor longo e silencioso, onde ela me conduziu a uma sala com uma porta branca.

— O Dr. Henrique estará com você em alguns minutos — ela disse, antes de sair.

Sentei na cadeira estofada, tentando conter o nervosismo. Minhas mãos suavam, e a ansiedade fazia meu coração disparar. Alguns minutos depois, a porta se abriu.

Um homem alto entrou, carregando uma pasta. Seus cabelos castanhos tinham fios grisalhos que lhe davam um ar de maturidade. Ele tinha olhos claros, um azul profundo que transparecia calma e empatia. Seu jaleco estava impecável, e ele parecia equilibrar uma postura séria com uma expressão acolhedora.

— Mariana? Sou o Dr. Henrique. É um prazer conhecê-la.

Eu me levantei, apertando sua mão, que era firme, mas ao mesmo tempo suave.

— O prazer é meu, doutor.

Ele indicou a cadeira, e me sentei novamente, sentindo os olhos dele analisando minha expressão.

— Mariana, antes de falarmos sobre o seu caso, quero que saiba que estou aqui para ajudá-la da melhor forma possível. Vamos enfrentar isso juntos, ok?

Aquelas palavras foram um alívio momentâneo. Ele abriu a pasta e começou a revisar meus exames.

— Pelo que vi nos relatórios, o diagnóstico é grave, mas há algumas coisas que precisamos confirmar antes de traçar um plano de tratamento. Você terá uma equipe ao seu lado em todos os momentos.

Assenti, mas as palavras ainda pesavam. Ele percebeu meu desconforto e mudou de abordagem.

— Você tem alguém que te acompanha nesse momento? Família? Amigos?

— Tenho uma amiga que me ajuda muito... Mas, doutor, eu tenho uma filha. Ela só tem quatro meses. — Minha voz quebrou, e as lágrimas começaram a cair. — Eu só quero tempo com ela. Eu quero vê-la crescer.

Ele fez uma pausa, parecendo absorver cada palavra.

— Entendo o que você está sentindo, Mariana. E eu prometo que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para te dar esse tempo.

Houve um silêncio breve. Eu enxuguei as lágrimas, tentando me recompor.

— Como ela é? Sua filha? — ele perguntou, com um leve sorriso.

Por um momento, a dor deu lugar a um brilho nos meus olhos.

— Ela é perfeita. Tem um sorriso que ilumina o dia, e cada vez que ela segura meu dedo, eu sinto que tudo vale a pena.

Dr. Henrique ouviu atentamente, e seu semblante suavizou ainda mais.

— Parece que você tem uma grande razão para lutar. Isso é muito importante, Mariana. Vamos usar isso como nossa força.

A consulta continuou, e ele explicou sobre os próximos passos, os exames adicionais e o início do tratamento. Apesar do medo que ainda me acompanhava, havia algo na voz dele que me fazia acreditar que talvez não estivesse tão sozinha quanto imaginava.

Quando saí da sala, o peso parecia um pouco menor. O caminho seria difícil, mas pela primeira vez, senti que tinha uma chance. Eu faria de tudo para estar com Isabela, para criar memórias que ela pudesse guardar, mesmo que o tempo fosse curto.

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