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Capítulo 6 - talvez

Mariana

Eu estava sentada no sofá, tentando alimentar Isabela enquanto a cabeça fervilhava de pensamentos sobre o próximo passo no tratamento. Não era fácil. Cada nova preocupação parecia puxar outra ainda maior, como uma corrente sem fim. O barulho da chave girando na porta me tirou dos devaneios, e Karina entrou. Ela parecia apreensiva, com a bolsa pendurada no ombro e o rosto sério.

— Voltei, Mari. — Ela tentou sorrir, mas dava para ver que algo estava errado.

— Como foi a viagem? — perguntei, sem muita energia, enquanto ajustava Isabela no colo.

— Foi boa, mas... eu preciso falar com você.

Aquela frase acendeu uma bandeira vermelha na minha cabeça. Eu conhecia Karina bem o suficiente para saber que, quando ela começava assim, vinha algo que eu provavelmente não ia gostar.

— O que foi? — perguntei, endireitando a postura.

Karina sentou-se na poltrona à minha frente e respirou fundo, como se estivesse se preparando para um mergulho profundo.

— Eu encontrei alguém durante a viagem.

— Alguém quem? — Minha voz já saiu mais afiada.

— O Leonardo.

O nome dele foi como uma facada no meu peito. Meu corpo inteiro se enrijeceu, e senti Isabela se mexer no meu colo, talvez captando minha tensão.

— O Leonardo? — repeti, com incredulidade. — O pai da Isabela?

Ela assentiu, hesitante.

— Sim. Ele me reconheceu e puxou conversa.

Fechei os olhos, tentando manter a calma. O simples fato de ele ter aparecido na vida dela novamente já era o suficiente para me desestabilizar.

— E o que ele queria?

Karina hesitou antes de continuar, o que só aumentou minha irritação.

— Ele perguntou de você... e da Isabela.

— Ah, que ótimo! Agora ele resolveu se lembrar que tem uma filha? — retruquei, sarcástica.

— Mari, calma. Ele parecia sincero. Disse que quer ajudar.

Soltei uma risada seca.

— Ajudar? Ele teve a chance de ajudar quando eu disse que estava grávida, e sabe o que ele fez? Disse que era casado e que não podia se envolver. Agora, de repente, ele quer ser o pai do ano?

— Eu sei que ele errou, mas... ele insistiu muito, Mari. Disse que quer fazer parte da vida da Isabela e te ajudar com as despesas.

Senti meu coração acelerar. Não era só raiva; era um misto de frustração, medo e exaustão.

— Karina, por favor, me diz que você não deu meu endereço para ele.

O silêncio dela foi como um balde de água fria.

— Você deu meu endereço pra ele? — Minha voz subiu, e Isabela começou a chorar.

— Mari, escuta...

— Karina! Você deu meu endereço para o Leonardo?

Ela levantou as mãos, tentando me acalmar.

— Eu só pensei que ele poderia ajudar, Mari! Você está passando por um momento difícil, e ele parecia realmente preocupado.

— Preocupado? — Minha voz tremia. — Ele está preocupado agora? Depois de tudo? Karina, ele me deixou sozinha, grávida, sem nada! E agora você coloca ele de volta na minha vida sem me consultar?

Karina abaixou a cabeça, parecendo arrependida.

— Eu só queria ajudar. Eu vi o jeito como ele falou de você e da Isabela, e achei que, talvez...

— Talvez nada, Karina! — interrompi, sentindo as lágrimas subirem. — Eu não quero ele na minha vida! Não quero ele perto da minha filha!

Ela suspirou, mas não recuou.

— Mari, eu entendo a sua raiva, mas você precisa de ajuda. O tratamento é caro, e você não pode carregar esse peso sozinha.

Passei a mão pelos cabelos, tentando me acalmar, mas era impossível. Tudo estava desmoronando, e agora, com a entrada do Leonardo na equação, parecia ainda pior.

— Você não entende, Karina. Eu não quero depender dele. Eu passei os últimos meses lutando para criar a Isabela sozinha, e agora ele aparece querendo ser o herói? Isso não é justo.

— Eu sei que não é justo, mas ele é o pai da Isabela. E, por mais que você o odeie, talvez ele possa realmente fazer algo por ela... por vocês.

O choro de Isabela aumentou, e eu a embalei no colo, tentando acalmá-la. Meu coração doía, mas não podia deixar de pensar no que Karina disse. Por mais que eu detestasse admitir, ela tinha um ponto.

— Mari, só... dá uma chance para ele. Se ele realmente quiser ajudar, isso pode fazer a diferença.

Fiquei em silêncio por alguns minutos, focada em Isabela. O peso de tudo parecia esmagador, mas, no fundo, sabia que Karina não tinha feito isso para me prejudicar.

— Ele vai aparecer aqui?

— Ele disse que queria te procurar, mas só se você concordar.

Respirei fundo, tentando processar tudo.

— Eu não sei se consigo encarar ele, Karina. É muita coisa.

— Eu vou estar aqui com você, tá? Não vou te deixar sozinha.

Olhei para ela, ainda irritada, mas sabia que Karina só queria o melhor para mim.

— Só... avisa ele que, se vier aqui, é para falar de Isabela. Não quero saber de desculpas ou justificativas.

Karina assentiu, parecendo aliviada.

— Combinado.

Abracei Isabela, sentindo uma mistura de medo e esperança. Minha vida já era complicada o suficiente, e agora, com Leonardo de volta, parecia que tudo poderia ficar ainda mais confuso.

Mas, por Isabela, talvez valesse a pena tentar.

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