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Capítulo 5 - Leonardo

Karina

Meu nome é Karina Oliveira, tenho 27 anos e trabalho como auxiliar administrativa em uma pequena empresa de logística. A vida nunca foi fácil, mas também nunca fui de reclamar. Apesar de ganhar pouco, consigo manter minha independência e ajudar Mariana, minha melhor amiga, que sempre pode contar comigo nos momentos difíceis. Eu a conheci há alguns anos, quando começamos a trabalhar juntas em uma antiga empresa de telemarketing. Desde então, nossa amizade se fortaleceu, e hoje sou quase uma tia para a pequena Isabela, a filha dela, que tem apenas quatro meses.

Naquela manhã, enquanto fazia minha mala para uma viagem de trabalho, meus pensamentos estavam em Mariana. A doença dela me preocupava profundamente. Eu sabia que ela estava tentando ser forte, mas era visível o quanto ela estava assustada. O tratamento contra o câncer não seria barato, e, mesmo que ela tentasse esconder, eu sabia que estava enfrentando dificuldades financeiras.

A viagem era curta, apenas dois dias em outra cidade para participar de um treinamento obrigatório. Apesar de ser algo simples, era a primeira vez que eu me afastava de Mariana desde que ela recebeu o diagnóstico. Por mais que eu quisesse ficar, não podia perder essa oportunidade. Prometi a mim mesma que voltaria o mais rápido possível e que manteria contato o tempo todo.

Assim que cheguei na cidade, fui direto para o hotel. O treinamento começaria à tarde, e eu tinha algumas horas livres. Resolvi sair para conhecer a região e, enquanto caminhava, parei em um café aconchegante no centro da cidade. Foi ali que o inesperado aconteceu.

Estava sentada, tomando um cappuccino e revisando as anotações para o treinamento, quando ouvi uma voz masculina chamando meu nome. Olhei para cima, e lá estava ele: alto, bem vestido, com um olhar surpreso e, ao mesmo tempo, curioso.

— Karina? É você?

Demorei alguns segundos para reconhecê-lo, mas então tudo fez sentido. Era Leonardo, o pai da Isabela.

— Leonardo? — perguntei, surpresa.

Ele sorriu e se aproximou. Confesso que fiquei desconfortável. Não sabia como reagir, mas também não queria causar uma cena. Ele se sentou na minha frente, sem pedir, e me olhou com aquele ar confiante que sempre me incomodou.

— Quanto tempo, hein? — ele começou. — Achei que nunca mais veria alguém daquela época.

Balancei a cabeça, tentando manter a compostura.

— Pois é... muito tempo mesmo.

A conversa inicial foi educada, mas superficial. Ele falou sobre a vida dele, sobre como estava morando naquela cidade a trabalho, e depois perguntou por Mariana. A pergunta fez meu estômago revirar.

— Mariana... como ela está? Nunca mais soube nada dela.

Eu respirei fundo antes de responder.

— Ela está doente, Leonardo. Está enfrentando um câncer.

O rosto dele mudou completamente. A expressão confiante deu lugar a algo que parecia preocupação genuína. Ele inclinou-se para frente, os olhos fixos nos meus.

— Meu Deus... ela está bem? Está se tratando?

— Está tentando. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia. — Mas o tratamento é caro, e ela está fazendo o que pode.

Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse processando a informação. Então, fez a pergunta que eu temia:

— Karina, ela teve o bebê?

Engoli em seco antes de responder.

— Teve, sim.

Os olhos dele se arregalaram, e, pela primeira vez, vi um misto de culpa e curiosidade em sua expressão.

— Então... eu sou pai?

Assenti, sem saber ao certo como ele reagiria.

— Sim, Leonardo. Você é o pai da Isabela.

Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente abalado.

— E por que ela nunca me procurou? Por que você nunca me disse nada?

Revirei os olhos, irritada.

— Porque você deixou claro, Leonardo, que não queria nada com ela. Você é casado, lembra? Mariana estava sozinha e grávida, e teve que reconstruir a vida dela do zero.

Ele suspirou, parecendo envergonhado.

— Eu sei que errei, Karina. Eu sei que fui um idiota. Mas... se eu soubesse, teria ajudado.

— Sério? Porque, naquela época, você só queria se livrar dela.

Ele ficou em silêncio novamente, mas não desistiu.

— Eu quero ajudar agora. Quero conhecer minha filha e fazer parte da vida dela.

Fiquei desconfiada. Não era fácil acreditar em suas palavras, mas a imagem de Mariana lutando para pagar o tratamento me fez hesitar.

— Leonardo, eu não sei se é uma boa ideia. Mariana está passando por muita coisa.

— Por favor, Karina. — Ele segurou minha mão, e pela primeira vez vi algo que parecia sinceridade em seus olhos. — Me dá o endereço dela. Eu só quero ajudar. Se ela não quiser me ver, eu respeito. Mas quero ajudar com as despesas da Isabela.

Eu fiquei dividida. Sabia que Mariana precisava de ajuda financeira, mas não queria trai-la de nenhuma forma. No entanto, a insistência dele parecia genuína, e a menção de Isabela mexeu comigo.

— Você tem certeza de que quer ajudar? — perguntei, tentando medir suas intenções.

— Tenho. Quero fazer o que é certo.

Depois de alguns segundos de silêncio, acabei cedendo. Peguei um pedaço de papel e escrevi o endereço de Mariana, mas antes de entregá-lo a ele, fiz questão de ser clara:

— Escuta, Leonardo. Se você aparecer na casa dela só para causar problemas, eu vou me arrepender amargamente de ter feito isso. Mariana não merece mais dores do que já tem.

Ele assentiu, pegando o papel com cuidado.

— Eu prometo, Karina. Só quero ajudar.

Não sei se fiz a coisa certa, mas, naquele momento, parecia a única opção. Leonardo parecia disposto a ajudar, e, mesmo com minhas dúvidas, torci para que ele estivesse sendo sincero. Mariana precisava de apoio, e, se ele realmente pudesse contribuir, talvez fosse um alívio para ela.

Nos despedimos ali, e eu voltei para o hotel com a mente cheia de pensamentos. A viagem mal tinha começado, e eu já me sentia esgotada. Sabia que teria que contar a Mariana o que aconteceu, mas esperava que ela entendesse minhas intenções.

À noite, enquanto estava deitada na cama do hotel, peguei o celular e mandei uma mensagem para ela:

"Mari, preciso te contar uma coisa assim que eu voltar. É sobre alguém do seu passado. Te amo e estou aqui, sempre."

Desliguei o celular e fechei os olhos, esperando que, no fim, tudo desse certo. Mariana precisava de ajuda, e eu só queria o melhor para ela e para Isabela.

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